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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. v.29 n.1 São Paulo jun. 2009

 

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

 

Contribuição ao módulo história da psicologia do sistema de ensino da BVS-Psi sobre os patronos: Oscar Freire de Carvalho; Laerte Ramos de Carvalho e Antonio Miguel Leão Bruno

 

Contributions to the history of the psychology of teaching system at BVS-Psi regarding the patrons: Oscar Freire de Carvalho; Laerte Ramos de Carvalho & Antonio Miguel Leão Bruno

 

 

Aidyl M. de Queiroz e Pérez-Ramos1

Cad.30
Universidade Estadual Paulista

 

 

Dando continuidade às contribuições da Academia na Internet através do Módulo supracitado, localizado no site www.bvs-psi.org.br/subsidio.htm e www.bvs-psi.org.br/tabvidaeobra.htm, estão disponíveis os estudos de Vida e Obra de três pioneiros da Psicologia no Brasil, consagrados Patronos por esta Academia. No quadro abaixo, são citados os nomes dessas personalidades, com referência aos seus períodos de vida (data de nascimento e de morte), os autores de seus legados e as áreas da Psicologia que mais exerceram influência. A localização dessas contribuições no Boletim completa as informações sobre os citados Patronos. A seguir, são apresentados os resumos dos aspectos mais importantes dos legados em referência:

 

 

Oscar Freire de Carvalho – Nasceu em Salvador, na Bahia, filho do advogado Manuel Freire de Carvalho e Isaura Freire de Carvalho. Precoce nas habilidades intelectuais, razão por que diplomou-se médico aos 18 anos pela Faculdade de Medicina da Bahia. Depois de breve período em cirurgia, passou a dedicar-se ao campo da Medicina Legal, em cuja área tornou-se especialista de renome. Desenvolveu esta disciplina na Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia e posteriormente na de São Paulo, ocasião em que se fundou o Departamento de Medicina Legal, nesta última Faculdade. A disciplina começou a funcionar em 1918 depois de alguns anos em prédio construído para esse fim que, em homenagem à ilustre personalidade, passou a chamar-se Instituto Oscar Freire, cuja designação mantém-se na atualidade.

Propugnava pelo valor da ciência na prática médica. Destacou-se por grande oratória, cujas palavras chegavam a ser transcritas por ilustres autores, conhecidos entre nós, como Almeida Jr., Flamínio Fávero e mais recentemente por Marco Segre. Também foi grande empreendedor, provam-no o empenho em construir o prédio para Medicina Legal, a organização dos seus programas de ação e a fundação da Sociedade de Medicina Legal e Criminologia como forma de reunir especialistas com o propósito de alcançar maiores progressos nesse campo.

Era conhecido não somente no Brasil como internacionalmente. Tais razões justificaram o título que lhe foi concedido de Membro Honorário do Instituto de Medicina Legal de la Universidad de Madrid. Pertencia a várias associações internacionais e estabelecia intercâmbio com especialistas de outros países. Foi considerado precursor da Fundação da Universidade de São Paulo, do que fazia constantemente alusões em seus discursos. Infelizmente, não conseguiu ver sua tão sonhada realidade porque faleceu precocemente, em 11 de janeiro de 1923, com 41 anos, portanto onze anos antes da fundação dessa universidade. Veio a falecer em meio a inúmeros projetos, muitos inacabados.

Além de cientista, notável professor e empreendedor, era um médico humanista, incentivador de bons princípios, idealista e amigo fiel, dedicado à família, encontrando sempre tempo para estar com a esposa e seus filhos. Para Marilda Lipp, Acadêmica que hoje ocupa a Cadeira nº. 7, cujo Patrono é a ilustre personalidade, Oscar Freire de Carvalho representa a grandeza de um cientista preocupado, acima de tudo, com o bem-estar da humanidade.

Laerte Ramos de Carvalho – Desde aluno do memorável ensino primário e secundário, foi brilhante em seu desempenho. Bem cedo escrevia para o jornal de Jaboticabal onde morava. Ao vir para São Paulo, realizou o curso de Filosofia na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), mantendo a notabilidade que o distinguia anteriormente. Realizava estudos dos filósofos da época, sempre tomando em conta o contexto histórico em que viviam. Sua tese de doutorado A formação filosófica de Farias Brito (1951) foi um exemplo desse seu posicionamento. Na época era Professor Assistente de João Cruz Costa (Patrono da Cadeira 32).

Além de suas funções na Universidade, escrevia para o jornal O Estado de São Paulo, defendendo a escola pública, em cujo periódico foi um produtivo editorialista. Por concurso, ocupou a Cadeira de História e Filosofia da Educação, após acirradas contendas por não tê-la frequentado em sua formação universitária. Na vida acadêmica, exerceu funções importantes inclusive a de Reitor da Universidade de Brasília, em plena crise universitária dos anos 60. Apesar da complicada situação, ainda conseguiu fundar, naquela instituição, a Escola de Comunicações, nos moldes da existente na Universidade de São Paulo.

Ao retornar a São Paulo, reassumiu a Cadeira na USP que ocupara antes. Posteriormente, tornou-se Diretor da Faculdade de Educação na referida universidade. Faleceu prematuramente antes de completar 50 anos (1972), deixando uma produção científica incontestável, tendo sempre como meta a investigação dos problemas brasileiros em sua realidade educacional. Destacavase pelo rigor metodológico que marcou os seus trabalhos.

Surpreendente foi a sua intensa produção científica em tão pouco tempo de vida e, além disso, vivendo conturbadas crises universitárias que o atingiam diretamente. Destacou-se na formação de discípulos, hoje personalidades de vários sodalícios como as da Academia Paulista de Psicologia, continuadores do seu posicionamento científico.

António Miguel Leão Bruno – Sua formação profissional foi bem abrangente. Graduou-se primeiramente em Medicina, em 1928, sendo a 11ª Turma da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Não contente com sua formação considerada apenas na área biológica, oito anos depois formou-se em Direito, podendo com essas bases de conhecimento produzir a intensa e abrangente publicação, em autoria própria ou em coautoria. Dentre as principais áreas do conhecimento, incluía a Psicologia, sendo esta ciência objeto de sua predileção. Propôs nova área do saber com um grupo de colegas, isto é, a de Medicina Forense, unindo assim os seus conhecimentos de Medicina aos de Direito.

Mas as suas publicações foram, neste sentido, centralizadas em Psicologia Forense, Psicopatologia Judiciária e Criminológica, particularmente em psicodiagnóstico, com especial ênfase na Técnica de Rorschach. Para sentirse seguro no que escrevia e no utilizar clinicamente dessa técnica, mantinha contato permanente com eminentes especialistas no ramo. No Brasil, cita-se, entre outros, Aníbal Silveira Santos (Patrono da Cadeira 14) e, no exterior, com o próprio Rorschach, Halpern, Bergaman, Beck e Klopfer, entre outros considerados pontuais na técnica Rorschach na época (anos 50 e 60).

Escreveu muito sobre essa matéria, foi colaborador na organização da Sociedade Rorschach de São Paulo e membro atuante da Sociedade de Psicologia de São Paulo, hoje Associação de Psicologia de São Paulo.

Sua grande produção científica ao lado dos longos anos de docência em Medicina Legal na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e na chefia da Seção de Psicologia Experimental no Instituto Oscar Freire justificaram plenamente o Prêmio Oscar Freire que recebeu. O seu reconhecimento internacional também se fazia sentir ao receber o título de membro Honorário do Círculo de Médicos Legistas de Rosário (Argentina) entre outros troféus que lhe foram outorgados.

Faleceu aos 94 anos, ao final de uma vida longa e bem produtiva. Do seu legado, deixou um vasto acervo de livros estimado em 9.000 obras, incluindo publicações raras e material iconográfico de importante valor histórico. Sua biblioteca está sendo organizada pela família e colocada na Internet para domínio público.

Pode-se concluir que os referidos pioneiros, Patronos de nossa Academia, são exemplos de legados em importantes enfoques: de Oscar Freire, as bases de uma ciência nascente, de Leão Bruno, uma aproximação mais direta com o saber psicológico e de Laerte Ramos de Carvalho, a intensa produtividade efetuada em tão pouco tempo e o rigor científico com que enfrentava os problemas brasileiros.

 

 

Recebido em: 10/11/2008
Aceito em: 20/03/2009

 

 

1 Contato: Rua Pelágio Lobo 107, Perdizes - CEP 05009-020 – São Paulo, SP. Tel. (11) 3862-1087 / Tel/Fax: (11) 3675-8889. E-mail: juanaidyl@uol.com.br

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