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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.41 no.100 São Paulo jan./jun. 2021

 

I. TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASO

 

Representações sociais do sobrepeso e da obesidade: revisão sistemática

 

Social representations of overweight and obesity: systematic review

 

Representaciones sociales del sobrepeso y de la obesidad: revisión sistemática

 

 

Angelita CoussI; Gabrielly de Mello Prado BorbaII; Luana Martins Pinheiro da SilvaIII; Manoella Vieira de Medeiros ScopelIV; Gislei Mocelin PolliV

IEstudante de psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba – PR, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5520-1924
IIEstudante de psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba – PR, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4918-271X
IIIEstudante de psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba – PR, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7735-6708
IVEstudante de psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba – PR, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5013-1936
VProfessora Adjunta do Mestrado em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba – PR, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7254-7441

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O excesso corporal é visto de diferentes maneiras, a depender dos grupos sociais que a ele se referem. Esta revisão sistemática busca identificar como a temática das Representações Sociais do sobrepeso e obesidade vem sendo discutidas na literatura científica entre 2015 e 2019. Os dados foram coletados entre os meses de março e maio de 2020 em diferentes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana em Ciência da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PubMed), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), EBSCO, PsycNet e Web of Science, utilizando as seguintes palavras-chave: "Representações Sociais" e "obesidade" ou "sobrepeso" em português, espanhol, inglês e francês. Ao final do processo de elegibilidade dos artigos, oito trabalhos preencheram os critérios de inclusão estabelecidos. As produções basearam suas argumentações em três categorias: 1) Obesidade como doença, 2) Obesidade relacionada a transtornos psicológicos e 3) Consequências sociais da obesidade. Constatou-se que as pesquisas trouxeram as três categorias de representações sociais da obesidade em maior ou menor grau de importância, concomitantemente. Independentemente do local de realização das pesquisas, se repete a visão negativa da obesidade e da pessoa com excesso de peso, apresentado como algo a ser prevenido, e combatido, ou ainda a ser mais bem discutido, a fim de evitar a estigmatização e problemas dela decorrentes.

Palavras-chave: representações sociais; obesidade; sobrepeso.


ABSTRACT

Body excess is seen in different ways, depending on the social groups that refer to it. This systematic review seeks to identify how the theme of Social Representations of overweight and obesity has been discussed in the scientific literature between 2015 and 2019. Data were collected between March and May 2020 in different databases: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latin American Literature in Health Science (LILACS), National Library of Medicine (PubMed), Electronic Psychology Journals (PePSIC), EBSCO, PsycNet and Web of Science, using the following keywords: "Social Representations" and "obesity" or "overweight" in Portuguese, Spanish, English and French. At the end of the article eligibility process, eight papers met the established inclusion criteria. The productions based their arguments on three categories: 1) Obesity as a disease, 2) Obesity related to psychological disorders and 3) Social consequences of obesity. It was found that the research brought the three categories of social representations of obesity to a greater or lesser degree of importance, concomitantly. Regardless of the location of the research, the negative view of obesity and overweight is repeated, presented as something to be prevented, and combated, or even better discussed, in order to avoid stigmatization and problems arising from it.

Keywords: social representations; obesity; overweight.


RESUMEN

El exceso corporal es visto de diferentes formas, según los grupos sociales que se refieren a él. Esta revisión sistemática busca identificar como el tema de las Representaciones Sociales del sobrepeso y la obesidad viene siendo discutida en la literatura científica entre 2015 y 2019. Los datos fueron recolectados entre marzo y mayo de 2020 en diferentes bases de datos: ScientificEletronic Library Online (SciELO), Literatura Latinoamericana en Ciencias de la Salud (LILACS), Biblioteca Nacional de Medicina (PubMed), Revistas de Psicología Electrónica (PePSIC), EBSCO, PsycNet y Web of Science, utilizando las siguientes palabras clave: "Representaciones Sociales" y "Obesidad" o "sobrepeso" en portugués, español, inglés y francés. Al final del proceso de elegibilidad de los artículos, ocho artículos cumplieron con los criterios de inclusión establecidos. Las producciones basaron sus argumentos en tres categorías: 1) Obesidad como enfermedad, 2) Obesidad relacionada con trastornos psicológicos y 3) Consecuencias sociales de la obesidad. Se encontró que la investigación trajo las tres categorías de representaciones sociales de la obesidad en mayor o menor grado de importancia, de manera concomitante. Independientemente del local dónde se haya realizado la investigación, la visión negativa de la obesidad y el sobrepeso se repite, presentándose como algo a prevenir, combatir, o a ser discutido para evitar la estigmatización y los problemas derivados de ella.

Palabras clave: representaciones sociales; obesidad; sobrepeso.


 

 

Introdução

Atualmente o excesso de peso, que compreende o sobrepeso e a obesidade, é considerado um grave problema de saúde pública. A Organização Mundial da saúde (OMS) define a obesidade como uma doença crônica não transmissível (DCNT), multifatorial, caracterizada pelo acúmulo em quantidade de tecido adiposo, em um nível que pode ser prejudicial à saúde, acarretando riscos de enfermidades (WHO, 2000). Para o diagnóstico, são utilizados dados antropométricos como valores de corte para classificação do estado nutricional de adultos através do Índice de Massa Corporal (IMC), sendo o sobrepeso caracterizado por valores entre 25 até 30 Kg/m² e a obesidade por valores iguais ou acima de 30 Kg/m² (WHO, 2020). Em 2016, de acordo com a OMS, mais de 1,9 bilhão de adultos, com 18 anos ou mais, estavam acima do peso. Destes, mais de 650 milhões eram obesos (WHO, 2020). Estima-se que o excesso de peso colabore de maneira expressiva para a mortalidade por DCNTs a cada ano (Amann, Santos & Gigante, 2019; WHO, 2017). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde (2020) e Secretaria de Atenção Primária à Saúde, a partir dos Relatórios do Estado nutricional dos indivíduos acompanhados por período, fase do ciclo da vida e índice, no ano de 2019, adultos de ambos os sexos, em uma amostra de 12.813.769 indivíduos, apresentaram 63% de excesso de peso, sendo 34,51% sobrepeso, 18,56% obesidade grau I, 6,79% obesidade grau II e 3,14% obesidade grau III (Ministério da Saúde, 2020).

A importância deste dado se refere principalmente ao fato de que o excesso de peso se comporta como fator de risco para outras doenças. O sobrepeso e a obesidade são amplamente relacionados à diabetes mellitus tipo 2, alguns tipos de câncer, doenças cardiovasculares (WHO, 2017) e ainda a distúrbios psicológicos, incluindo a depressão, distúrbios alimentares, imagem corporal distorcida e baixa autoestima. Estudos demonstram prevalência de ansiedade e depressão de três a quatro vezes maiores entre indivíduos obesos (Lima & Oliveira, 2016; Williams, Mesidor, Winters, Dubbert & Wyatt, 2015). Além disso, muitas destas pessoas sofrem com o estigma e discriminação social (Brasil, 2011; WHO, 2017; Koelzer, Castro, Bousfield & Camargo, 2016).

Na perspectiva de Mattos e Luz (2009), a mídia ocupa um importante espaço na propagação de um olhar cultural hegemônico a respeito da estética enquanto forma física de beleza, ao passo que seleciona, enfatiza e interfere na construção dos corpos ideais, ou seja, corpos magros e saudáveis. Como consequência dessa supervalorização da magreza, a gordura torna-se indesejável, simbolizando uma falência moral ao indivíduo que a tem em excesso, tornando-o então, um indivíduo inadequado e estigmatizado na sociedade.

Mattos (2012) afirma que no século XXI existe um culto social ao corpo perfeito, um movimento que além de sustentado pela mídia, é sustentado pelo meio científico, ambos qualificam o corpo magro como ideal, belo e saudável. Nesses âmbitos, por meio de seus discursos, responsabilizam o indivíduo a desenvolver em seu corpo os valores fundamentais do conjunto "beleza, juventude e saúde". Caso não sejam capazes de alcançar esses valores, são culpabilizados pela sociedade por não serem capazes de controlar suas vontades relacionadas a comida. Mais uma vez, o indivíduo obeso tem seu estigma reforçado.

Para Araújo, Coutinho, Araújo-Morais, Simeão e Maciel (2018), o discurso da obesidade como conjuntura pandêmica induz as pessoas ao controle rigoroso de seus corpos. Justo e Camargo (2017) pontuam que a constante associação do excesso de peso com ações que visam a perda de peso, gera como consequência na sociedade a percepção de que a gordura corporal deve ser combatida, levando a conclusão de que o sobrepeso é algo temporário e que basta a força de vontade para conquistar o corpo ideal, porém, esse discurso não condiz com a realidade.

A busca pelo corpo ideal vem se mostrando cada vez mais estigmatizante àqueles que não se encaixam nos padrões socialmente impostos, vistos em muitos casos como negligentes com sua própria saúde, corroborando desta forma para rechaço e exclusão de pessoas que se encontram nessa condição (Koelzer, et al., 2016). Ao buscar esse modelo de corpo, muitos são levados a práticas degradantes para atingir esse objetivo, adotadas até mesmo por pessoas que não estão com sobrepeso ou obesidade (Alvarenga, Costa & Torre, 2015). Algumas dessas práticas se enquadram na adoção de dietas restritivas, utilização indevida de medicamentos, adesão a procedimentos cirúrgicos e exagero na prática de exercícios físicos (Mattos, 2012).

As Representações Sociais (RS) do excesso corporal, segundo Stenzel (2007), são percebidas como um fenômeno psicossocial construído historicamente, que funciona como indicador de uma ideologia que considera o adoecer sobre as pessoas gordas, originado por razões sociais. A autora analisa as mudanças ocorridas nas representações da pessoa gorda através dos séculos, que levaram à descrição da obesidade como doença e não mais um problema estético. Sua análise percebe o corpo nas esferas pública e privada enquanto perpassa questões de distinção social, relações de distinção de gênero e a dicotomia entre força e fragilidade, consumo e excesso, controle e transgressão e como essas mudanças históricas impactam o nosso cotidiano.

De acordo com a autora (Stenzel, 2007), as representações do excesso corporal apresentaram mudanças em sua história e atualmente as prescrições alimentares são associadas às prescrições corporais na busca por um corpo mais equilibrado, mais humano e mais civilizado. As normas socioculturais se direcionam à construção de um ideal de "eu", na busca pelo equilíbrio. O excesso corporal, por outro lado, é a representação do oposto, estando diretamente ligado ao consumo, ao descontrole, à transgressão da norma cultural, à falta de força física e moral e à falta de equilíbrio.

A simbologia do ideal corporal e sua ligação com o desejo de saúde, longevidade, juventude e atratividade sexual são uma forte motivação contra o excesso corporal, que passou a dar forma aos discursos e práticas corporais (Contreras & Gracia, 2011). Conhecendo os pressupostos e significados simbólicos dados pelas pessoas que formam a sociedade atual, no momento histórico em que se encontra, é possível comparar e compreender de maneira ampla como o tema abordado é visto por essas pessoas e como influencia diretamente o cotidiano e seu poder na construção do real (Moscovici, 1982). O estudo das Representações Sociais da obesidade e do sobrepeso permite captar as formas e os conteúdos da construção coletiva da realidade social acerca desta temática, oferecendo um recurso valioso para explicar as práticas cotidianas e intervir sobre elas em uma perspectiva de mudança (Jodelet & Kalampalikis, 2017). A teoria das Representações Sociais, teve origem na França em 1961, através do trabalho de Serge Moscovici e surgiu do interesse em compreender as formas de organização do conhecimento leigo, bem como, o conteúdo do pensamento compartilhado socialmente (Polli & Camargo, 2015). O pressuposto das RS é tornar familiar o incomum dando sentido a novos ou desconhecidos fatos, sendo consideradas um tipo de pensamento leigo ou do senso comum (Moscovici, 2012). De acordo com Jodelet (2001) as RS são formas de conhecimento prático que conectam o sujeito a um objeto, e a aplicação desse conhecimento no que tange a experiência e aos referenciais em que ele é produzido, pois as RS são utilizadas nas ações que agem no mundo e nos outros. As RS envolvem os saberes cotidianos que se dão a partir das relações e práticas de indivíduos e grupos, atuando como vertente para a ação e leitura da realidade, na medida em que caracterizam pertenças e definem proximidades e diferenças (Jodelet, 2001). Para Moscovici (1982) elas precisam ser compreendidas como uma forma particular de adquirir conhecimentos e comunicar os que já têm sido adquiridos. Há uma necessidade de se continuar reconstruindo o senso comum, a soma de conhecimentos que constituem a essência de imagens e significados sem os quais, nenhuma coletividade pode operar.

A proposta desta revisão sistemática consiste em elaborar um levantamento com base em estudos realizados nos últimos cinco anos, que abordam temas como a obesidade e sobrepeso sob a perspectiva das Representações Sociais. Este estudo visa alcançar não somente uma exposição descritiva sobre esta temática, mas também a constituição de um trabalho crítico e reflexivo sobre o material analisado.

 

Método

O presente estudo trata de uma revisão sistemática da literatura científica, que para Costa e Zoltowski (2014), permite aumentar o potencial de uma busca de produções científicas em um assunto específico em um período pré-determinado, fornecendo uma visão geral da área estudada. Obteve-se como diretriz os procedimentos e recomendações do Relatório Preferencial para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises (PRISMA) (Galvão, Pansani & Harrad, 2015). As buscas aconteceram entre os meses de março a maio de 2020, e foram adaptadas às diferentes bases de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana em Ciência da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PubMed), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), EBSCO, PsycNet e Web of Science, utilizando as seguintes palavras chave: "representações sociais" OR "representação social" OR "social representations" OR "representaciones sociales" OR "représentations sociales" AND "obesidade" OR "obesity" OR "obesidad" OR "obésité" OR "sobrepeso" OR "Overweight" OR "surpoids". O termo OR, foi utilizado para que fossem consideradas diferentes formas de se referir às representações sociais, a obesidade e ao sobrepeso. O termo AND, foi utilizado para alcançar artigos que combinassem as RS com obesidade e sobrepeso.

O procedimento de busca utilizou como critérios de inclusão artigos publicados em periódicos científicos que tivessem como tema as RS e sobrepeso ou obesidade, por se tratar de um estudo que pretende abordar o assunto a partir de uma literatura atualizada, foram utilizados artigos publicados entre janeiro de 2015 e dezembro de 2019, em português, inglês, francês e espanhol. Como critério de exclusão foram considerados artigos cujo tema não contemplou o objetivo proposto neste estudo, bem como, pesquisas não empíricas, teses, dissertações, monografias, livros, relatórios, resenhas e outros documentos.

 

Resultados

A partir dos critérios estabelecidos para a revisão sistemática da literatura, foram identificados ao todo 28 materiais, dos quais 13 foram excluídos por duplicidade e um por se tratar de uma tese, restando 14 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, foram excluídos três textos, devido a questões como a não utilização da Teoria das Representações Sociais, citando o termo de modo abrangente, se referindo às crenças sociais, ou ainda por aplicar instrumentos incoerentes com a metodologia das RS e um destes artigos foi excluído por se tratar de um levantamento bibliográfico sobre a obesidade, não atendendo assim aos critérios de inclusão, totalizando 11 materiais para leitura integral.

Após a leitura na íntegra de cada artigo, foram excluídos três deles. O estudo de Liné, Moro, Lefrève, Thievenaz e Lachal (2016), apesar de citar no resumo as representações sociais, não utilizaram a TRS em sua metodologia, portanto, o artigo não atendeu aos critérios de inclusão nesta etapa. A pesquisa de Moreno, Almendras, Illanes e Miranda (2018), deu ênfase à percepção corporal e ao comportamento alimentar, não atendendo aos critérios de inclusão, por não tratar diretamente sobre a obesidade. O artigo de Carof, (2017), foi excluído pois não há detalhes sobre a metodologia utilizada para análise dos dados, o que dificultou a compreensão dos resultados obtidos, totalizando 8 artigos incluídos. O fluxograma a seguir demonstra estas diferentes fases da revisão sistemática

 

 

A Tabela 1 faz um apanhado com as características básicas dos artigos incluídos na revisão sistemática, trazendo informações sobre autores e data de publicação das obras, quem foram os participantes do estudo, qual o objetivo de pesquisa e os principais resultados encontrados.

 

 

O fim do processo de análise aprofundada dos oito artigos, foram elencadas três categorias: (1) Obesidade como doença, (2) Obesidade relacionada a transtornos psicológicos e (3) consequências sociais da obesidade, como pode ser observado na Tabela 2, que ilustra a divisão dos artigos incluídos por categorias.

 

 

A categoria 1 inclui três artigos, o primeiro de Werder et al. (2020), trata-se de um estudo, que teve como objetivo analisar a comunicação entre dez profissionais da área da saúde envolvidos com o tema do controle de peso ou obesidade. Buscando compreender a opinião desses profissionais, os autores utilizaram um questionário com seis perguntas abertas que envolviam obesidade, práticas de prevenção, exemplos sobre mudanças possíveis de atuação, trabalho colaborativo entre profissionais, comunicação em saúde. Parte dos profissionais analisados seguem um modelo médico educacional ou persuasivo que atua na prevenção, a fim de que essas pessoas façam escolhas saudáveis, outros percebem a necessidade da criação de políticas públicas que atuem nos aspectos do ambiente, da alimentação e na atividade física, propondo a reestruturação de ambientes escolares por exemplo. Obesidade e sobrepeso são entendidos por esses profissionais como um resultado de mudanças sociais, se utilizando de soluções pré-estabelecidas ao invés de buscar novas. O estudo sugere que tais profissionais estão presos em visões de mundo própria de suas profissões, falhando na comunicação com integrantes de outras áreas. O segundo artigo a fazer parte da categoria 1, trata-se de um estudo de Justo e Camargo (2017), que teve como objetivo investigar as RS do excesso de peso corporal difundidas na revista VEJA entre setembro de 1968 e dezembro de 2012. A pesquisa foi desenvolvida em duas fases, na primeira etapa foram analisadas as reportagens internas deste periódico, com foco em assuntos relacionados a excesso de peso corporal, na segunda etapa foram analisadas as reportagens de capa com o mesmo foco. Foi a partir dos anos 2000 que publicações sobre este tema ganharam destaque nas edições, o crescimento foi acompanhado pelo aumento de peso da população. Os autores identificaram que as representações sociais da obesidade apontam para um desvio da normalidade, deste modo constataram que as publicações foram direcionadas a busca de emagrecimento. Não são enfatizadas as condições ou estilo de vida das pessoas com sobrepeso e obesidade, apenas a necessidade de se adaptarem ao padrão corporal normativo de magreza. O discurso técnico-científico é legitimado por profissionais da saúde e estudiosos que evidenciam o prejuízo do excesso de peso à saúde. A ciência, neste caso, legitima este corpo como um objeto físico, capaz de alcançar os padrões de normalidade. O terceiro artigo que compõe a categoria 1 é de autoria de Collipal e Godoy (2015). Os autores buscaram determinar as RS da obesidade para adolescentes pré-universitários e universitários na área da saúde. A obesidade foi reconhecida como uma doença, tendo como causa a alimentação inadequada, estilo de vida sedentário, preguiça, cansaço e outros. Por outro lado, a obesidade é associada a questões sociais e suas consequências, como a depressão, ansiedade, vergonha e discriminação.

A categoria 2 é formada por um artigo (Mondragon & Txertudi, 2018) que buscou investigar as RS da gordura e a resposta emocional associada ao termo indutor fatness. Fizeram parte deste estudo 200 alunos de três diferentes universidades localizadas no País Basco (Espanha), matriculados no primeiro ano, em seu primeiro mês na universidade. Respondendo à pergunta "O que você pensa e sente ao ouvir a palavra 'gordura'?".

Os resultados do estudo trazem uma visão multidimensional das RS da gordura, destacando-a como problema subjetivo e interpessoal em que as emoções permitem uma melhor compreensão do pensamento cotidiano. Respostas descritivas não refletiram o componente emocional, enquanto questões como "não caber nas roupas" tiveram o significado de "sentir-se gorda", fortemente relacionado a feiura, o que causa dor, tristeza e ansiedade entre os jovens. A gordura foi vista como um fator de marginalização pela sociedade, mais associado com pressão social do que com saúde. O estudo encontrou resultados demonstrando que as pessoas se sentem julgadas por seu peso, descrevendo efeitos diretos em sua autoestima. A figura feminina foi mais relacionada à estas questões, sugerindo maior pressão "pró-magreza" neste gênero. Foram encontrados ainda sentimentos de pena por pessoas gordas, assumindo valores de incompetência para lidar com este problema e compartilhando de uma suposição de que pessoas gordas sentem pena de si mesmas. O emagrecimento é exaltado como necessidade e como causador de grande pressão social, correlacionado com o discurso sobre doenças, como depressão, anorexia ou bulimia, em vez de um estilo de vida saudável (Mondragon & Txertudi, 2018).

A categoria 3 agrupou quatro artigos (Araújo et al., 2018; Koelzer et al., 2016; Justo et al., 2018; Pena et al., 2015). O estudo de Araújo, et al. (2018), é uma pesquisa documental com a coleta de vinte e uma matérias disponíveis na internet pelo jornal Folha de São Paulo, onde buscou-se compreender as RS do preconceito direcionado a pessoas com obesidade produzidas pela mídia impressa. A análise das RS veiculadas pelo jornal demonstrou que o preconceito associado a obesidade surgiu nas notícias como razão considerável de sofrimento psíquico e socioafetivo e como exclusão laboral. Koelzer, et al. (2016), buscaram analisar comentários na internet provenientes de uma reportagem online envolvendo fotografias, propondo-se a identificar o olhar preconceituoso. Os participantes não se posicionam de forma discriminatória em relação aos obesos, no entanto desejam se diferenciar desse grupo, cuja imagem não é socialmente aceita.

Ainda na categoria 3, o artigo de Justo et al. (2018) teve como objetivo descrever as RS associadas ao excesso de peso entre 160 adultos, homens e mulheres, com e sem excesso de peso e obesidade. Foram identificados posicionamentos distintos dos participantes, um mostrando-se contrário e o outro favorável a nova norma de estética vigente. O primeiro entende que a sociedade que impõe padrões rígidos, causando prejuízos às pessoas gordas, o segundo culpabiliza os gordos como responsáveis pela sua condição atual. Collipal e Godoy (2015) buscaram conhecer as RS da obesidade para adolescentes pré-universitários e universitários na área da saúde. A obesidade foi reconhecida como uma doença, tendo como causa a alimentação inadequada, estilo de vida sedentário, preguiça, cansaço e outros. Por outro lado, a obesidade é associada a questões sociais e suas consequências, como a depressão, ansiedade, vergonha e discriminação. Pena et al. (2015), buscaram encontrar diferenças de conteúdos representacionais e de orientação atitudinal de pessoas com e sem contato íntimo com pessoas obesas. A orientação atitudinal encontrada foi negativa em ambos os grupos e o os participantes, mesmo em contato com pessoas obesas, parecem se distanciar e se diferenciar destas. A pessoa obesa, portanto, não é integrada ao círculo fechado, uma vez que é normativamente incompatível com o sistema de pensamento da sociedade.

 

Discussão

Apesar da divisão feita a efeito de estudo, a maioria das pesquisas trouxe as três categorias de Representações Sociais da obesidade em maior ou menor grau de importância. Independentemente do local de realização das pesquisas (Brasil, Espanha, Chile, França e Austrália), se repete a visão negativa da obesidade e da pessoa com excesso de peso.

Na primeira categoria, intitulada "obesidade como doença", os resultados encontrados nos artigos trouxeram a representação da obesidade enquanto patologia ou enquanto causadora de outras doenças associadas, com dizeres descritivos e distanciados. É um consenso entre os participantes das pesquisas que pessoas com excesso de peso tenham, ou venham a ter, agravos à saúde, causados pelos maus hábitos que culminam no excesso de tecido adiposo. A exemplo disso, o estudo de Collipal e Godoy (2015) sugere um reconhecimento da população pesquisada (estudantes universitários e pré-universitários) sobre a obesidade enquanto doença, em que as palavras "doença, alimentação, gordura, problema e sedentarismo" apresentaram alto valor semântico, passando a ideia principal de que a obesidade seria uma doença causada pelo sedentarismo e alimentação inadequada. Porém, é preciso se atentar para a complexidade do tema e multifatorialidade das causas. Para muito além da autodisciplina e responsabilidade pessoal, a regulação do peso corporal não está apenas sob o controle volitivo. Questões de ordem genética, epigenética, biológica e ambiental também devem ser consideradas (Rubino, et al. 2020).

Já no estudo de Justo e Camargo (2017), que faz uma análise da abordagem do tema obesidade na mídia impressa, de 1968 até 2012 na revista brasileira "Veja", os resultados demonstram como foi aumentando, ao longo dos anos, o número de publicações sobre o sobrepeso e sempre se associando à necessidade de eliminar este elemento. Rotular a obesidade como doença tem implicações para o tratamento e desenvolvimento de políticas públicas e pode contribuir para promover ou mitigar o estigma aos indivíduos afetados, correndo o risco de se tornar iatrogênico (Araújo, Freitas & Pena, 2015). Se faz necessária, desta forma, a utilização de critérios mais significativos para diagnóstico da obesidade enquanto doença (Rubino et al., 2020).

Outra questão importante é a generalização da narrativa da obesidade na mídia, em campanhas de saúde pública e no discurso científico atribuindo a responsabilização pessoal como relação causal, que tem importante papel no estigma, contribuindo para danos psicológicos e reforçando estereótipos (Rubino, et al., 2020). Além disso, existe um desencontro das mensagens de saúde passadas por diferentes profissionais ligados diretamente ao tema. É o que foi encontrado no estudo de Werder et al., (2020) que destacam o fato da compreensão diferente das causas da obesidade e manutenção da saúde na população pode gerar tensões entre as bases de conhecimento teórico e empírico no campo da prevenção. Seus resultados demonstram uma dificuldade de comunicação entre diferentes profissionais acerca do tema, devido às diferentes visões de mundo, e sugere que especialistas em comunicação em saúde facilitem o sentimento de inclusão e realização das pessoas através de uma linguagem comum e estrutura conceitual capaz de reunir as equipes profissionais. Nesse mesmo sentido, Lopes e Almeida (2019) explicam que a comunicação em saúde é imprescindível para que se possa melhor interpretar e usar a informação em saúde, sendo a comunicação o instrumento básico através do qual o profissional e o paciente se relacionam e tentam atingir os objetivos terapêuticos.

Na categoria dois, o artigo de Mondragon e Txertudi, (2018), revelou uma grande pressão social sobre a gordura, relacionando o estar gordo a problemas na ordem do emocional. Foi identificado entre os estudantes sentimentos de ansiedade, dor, tristeza, pena, além de julgamentos que afetam a autoestima. Tais evocações, trazem prejuízos e levam algumas pessoas a desenvolver transtornos psicológicos ao invés de investir em hábitos saudáveis. Segundo manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V) (APA, 2014), os transtornos alimentares são marcados por comportamentos disfuncionais relacionados à ingestão inadequada de alimentos, comprometendo o bem-estar físico, social e psicológico, seja por evitação, restrição ou compulsão alimentar. Doenças como anorexia, bulimia ou compulsão alimentar são algumas das patologias que se enquadram como transtornos alimentares descritos no manual.

Um estudo semelhante foi desenvolvido no Brasil por Polli et al. (2018), onde buscaram compreender as RS da anorexia (AN). As autoras discutem o advento da doença a padrões socialmente impostos entre estudantes universitários, concluiu-se que a insatisfação corporal é um fator de risco para a manifestação da AN, prevalecendo o ideal de culto ao corpo, corroborando com as RS identificadas no estudo de Mondragon e Txertudi (2018). Há muitos anos sobrepeso e obesidade são relacionados a transtornos psiquiátricos, como sugerem Costa, Bandeira, Trentini, Brilmann, Friedman e Nunes (2009), esse estudo retrata a importância da avaliação psicológica como forma de prevenção de psicopatologias advindas da obesidade.

A categoria três reúne quatro artigos que descrevem as RS que estão associadas ao excesso de peso e práticas de controle de peso, abrangendo o preconceito direcionado a pessoas com obesidade, questões ligadas a autoimagem e imagem ideal, bem como o entendimento do significado da obesidade e as representações e atitudes frente a essa condição. Entre os estudos que compõem esta categoria, está o artigo de Araújo et al. (2018), que tem por objetivo identificar o preconceito direcionado a pessoas com obesidade, a análise das RS veiculadas pelo jornal certifica que a obesidade é propagada como doença e associada a sofrimento psíquico e socioafetivo e, que na tentativa de se enquadrar em um padrão ditado pelas mídias e pela ciência o indivíduo, por sentir-se excluído, empreende recursos até econômicos na busca por um corpo socialmente valorizado. Sabe-se que as pessoas cedem à pressão social para serem aceitas e não sofrerem punições e, segundo Rodrigues, Assmar e Jeblonski (2015, p. 170) em "consequência de atitudes preconceituosas fazem parte, de forma implícita ou explícita, das regras do jogo social, tendemos a corroborá-las em nosso dia a dia".

Tais considerações levam ao papel desempenhado pela mídia na perpetuação de preconceitos e estereótipos, como um subproduto do modo como se processa psicologicamente as informações e que leva a construção de estereótipos negativos, sendo o alicerce da categorização social, em função disto, o preconceito e as discriminações seriam consequências quase que inevitáveis dentro de um processo cognitivo normal e natural (Rodrigues et al., 2015). A conceitualização de estigma como uma situação em que o indivíduo é incapaz de ser aceito socialmente refere-se à categorização das pessoas pela sociedade, onde o diagnóstico social da obesidade aponta para a separação do corpo adequado e o que tem gordura, o obeso é rejeitado pela sociedade devido o olhar estético que recai sobre ele, na atualidade a imagem corporal requer uma padronização que se encaixe no olhar médico e no padrão estético difundido pela mídia (Araújo et al., 2015).

Os autores Koelzer et al. (2016) discorrem sobre o olhar preconceituoso frente a obesidade, onde analisam comentários na internet em uma reportagem online envolvendo uma mulher obesa, os participantes evitaram falar sobre a prática discriminatória, onde a obesidade foi vista como algo indesejável. Campos, Ferreira, Carvalho, Kraemer e Seixas (2016) afirmam que o ideal do corpo está relacionado a um corpo-produto que corresponde aos padrões exigidos pelo mercado, definido como um produto que está sendo transformado em objeto de desejo, onde se pode customizá-lo para que se encaixe, transformando o corpo em uma linha de montagem determinada pelo mercado. Os autores ainda afirmam que é neste contexto que as ideias de estigmatização se enraízam, portanto, não se trata apenas de entender a estigmatização como um processo de compadecimento, mas sim de não reduzir a pessoa a condições negativas da característica estigmatizada. A pesquisa de Justo et al. (2018) revela duas dimensões normativas distintas sobre o sobrepeso e o controle de peso, RS que de um lado consideram como premissa o padrão de corpo socialmente imposto, considerado extremamente rígido, configurando prejuízo às pessoas gordas, pois estes discursos são legitimados pela medicina. Desta forma, o sobrepeso se define pela comparação com estes padrões, não pelo peso em si, mas pautada em normas descritivas e subjetivas, as quais se ligam diretamente a uma pressão externa sobre o corpo desejável. De outro lado, as pessoas gordas são responsabilizadas por seu corpo, considerados problemáticos que geram mais problemas devido a sua condição atual. Esta dimensão se refere a uma norma pessoal, internalizada pelo próprio indivíduo, dependendo menos da pressão externa. Nesse sentido, o julgamento acontece em relação ao próprio corpo, que quando ultrapassa um limite de peso, gera desconforto. Novaes (2006) aponta que o corpo é o centro do cotidiano social, no qual cultivar a beleza, a boa forma e a saúde são sinônimos de um verdadeiro estilo de viver bem. A autora pontua que as mídias ensinam qual o corpo ideal a se ter e desejar, e ainda, como atingir esse ideal e utilizá-lo. Tornando o corpo o passaporte para a felicidade, bem-estar e realização pessoal. Goldenberg e Ramos (2002) apontam que nem todos conseguem se enquadrar nesse padrão sociocultural e o descontentamento com o corpo crescem, sendo esse "fracasso estético" associado ao fracasso na vida cotidiana. Para Mattos e Luz (2009), a ideia de magreza gera sofrimento físico, social, afetivo e moral para as pessoas gordas. Paim e Kovaleski (2020) citam alguns julgamentos direcionados a pessoas acima do peso, a sociedade pressupõe que a pessoa gorda é deprimida, sem controle, descuidada e fracassada. Tais afirmações corroboram para a desvalorização e estigmatização desse grupo. Esses preconceitos estão tão naturalizados que o próprio indivíduo se apropria dessa imagem discriminatória e patologizante de si.

O estudo de Pena et al. (2015) evidencia que pessoas obesas não são integradas a círculos fechados por serem incompatíveis com os padrões sociais, pois ao falarem sobre pessoas gordas, os participantes se distanciam e se diferem desse grupo, não utilizam "nós" englobando ambos os grupos, se referenciam utilizando "nós e eles". Justo, Camargo e Bousfield (2020), observam o mesmo fenômeno em sua pesquisa, na qual os participantes, incluindo os gordos, embora entendam que a obesidade é prejudicial à saúde, não se notam em risco, visto que o risco está sempre atribuído ao outro, uma vez que repetidamente o gordo é apontado como outra categoria social (eles). Araújo et al. (2015) se propuseram a entender o sofrimento e preconceito sofrido por profissionais da nutrição obesas, e observam o estranhamento da obesidade no outro e em si. As participantes, assim como nos demais estudos, se distanciam do problema para falar da obesidade, referindo-se a pessoas obesas como "o obeso, eles".

A partir dos resultados encontrados através da análise dos artigos, é perceptível a complexidade do tema e a conotação negativa dada ao objeto de pesquisa nos diferentes contextos apresentados. Percebe-se um predomínio das representações sociais da obesidade pensadas em três eixos principais: a obesidade enquanto doença, a obesidade como causadora de outras doenças, com ênfase aos transtornos psicológicos e o preconceito voltado às pessoas gordas, tanto de maneira velada, quanto explícita.

 

Considerações finais

A proposta deste estudo foi realizar um levantamento das pesquisas a respeito das Representações Sociais da Obesidade nos últimos cinco anos, a fim de compreender o que as pessoas pensam sobre essa condição. Foi possível perceber que a obesidade tem uma conotação negativa na sociedade, este fenômeno pode estar relacionado a adoção de práticas inadequadas de controle de peso associada a busca de emagrecimento. Os estudos evidenciam um olhar negativo para o corpo gordo, indivíduos que se encontram nessa condição são culpabilizados, sendo considerados doentes e desleixados por estarem fora dos padrões normalizados pela sociedade através do discurso biomédico, em grande parte, disseminado pela mídia, o qual evidencia a gordura como um inimigo da saúde, devendo ser prevenida, combatida e erradicada. Colaborando então, para o adoecimento de pessoas que se encontram em tal condição.

Uma das fraquezas encontradas na elaboração deste estudo está relacionada ao número de base de dados utilizadas para pesquisa, quanto maior o número de base de dados, maior o número de artigos encontrados, desta forma, fortalecendo a amplitude das análises. Outros estudos são necessários sobre a temática em questão utilizando-se da TRS para entender as práticas de controle de peso adotadas pelas pessoas em busca do emagrecimento, para que diante do saber alcançado seja possível entender as condições em que essas pessoas se encontram, a fim de criar um olhar mais humanizado da sociedade para com este grupo, bem como na elaboração de políticas públicas que não fortaleçam o estigma voltado à população com sobrepeso e obesidade.

 

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Recebido: 11.11.20
Corrigido: 02.02.21
Aprovado: 22.02.21

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