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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.12 n.23 São Paulo dez. 2007

 

ARTIGO

 

Além do possível: investigações acerca do originário na clínica da criança autista

 

Beyond the possible: investigations concerning the originary in the clinic of the autistic child

 

Para allá de lo posible: sobre lo originário en la clínica del niño autista

 

 

Ivan Guilherme Hamouche Abreu*; Maria Izabel Tafuri**

Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A clinica com a criança autista, envolta em tantos enigmas, repercute lá onde o alcance de nossa imaginação supõe as primeiras tramas da existência de cada um de nós. Onde pulsa a vida psíquica dessas crianças que se retiraram para o ensimesmamento? Se tal indaga ção convida o terapeuta a participar com seu corpo, sua mímica, também pode levá-lo a especular sobre o psíquico e suas marcas arcaicas, sobre a conformação auto-engendrada do corpo sensível e sobre as formas estéticas de existência. Os autores têm a intenção de visitar esses avatares do corpo em companhia de Freud e do ensino de Piera Aulagnier.

Palavras-chave: Autismo, Estética, Corpo, Psicanálise, Origens do psíquico.


ABSTRACT

The clinic with the autistic child, involved in so many enigmas, reflects the place where the reach of our imagination presumes the first plot of the existence of each one of us. Where does the psychic life of these children who had come inside themselves beat? If such investigation invites the therapist to participate with its body, its mimic one, it, too, can take him to speculate on the psychic and its archaic marks, on the self-produced conformation of the sensitive body and on the aesthetic shapes of existence. The authors have the intention to visit these metamorphoses of the body in company of Freud and of the teaching of Piera Aulagnier.

Keywords: Autism, Aesthetic, Body, Psychoanalysis, Origins of the psychic.


RESUMEN

La clínica con el niño autista, rodeada de tantos enigmas, repercute allí donde el alcance de nuestra imaginación supone las primeras tramas de la existencia de cada uno de nosotros. ¿Dónde pulsa la vida psíquica de esos niños que se retiraron hacia el ensimismamiento? Si tal indagación convida al terapeuta a participar con su cuerpo, su mímica, también puede llevarlo a especular sobre lo psíquico y sus marcas arcaicas, sobre la conformación auto-engendrada del cuerpo sensible y sobre las formas estéticas de existencia. Los autores tienen la intención de visitar esos avatares del cuerpo en compañía de Freud y de la enseñanza de Piera Aulagnier.

Palabras clave: Autismo, Astética, Cuerpo, Psicoanálisis, Orígenes de lo psíquico.


 

 

Nos espaços clínicos, sejam de crianças ou adultos, frente a um sofrimento psíquico extremo, muitas vezes se supõe que os signos de humanidade tenham sido abolidos, especialmente quando a linguagem está ausente: seja porque o sujeito não acedeu a ela, seja porque uma regressão ou defesa psíquica entrou em ação. Qual a postura clínica capaz de restaurar a crença – tantas vezes perdida – de que em algum lugar se inscreve o sujeito extraviado?

O problema que aqui se coloca faz sua aparição em diferentes dimensões da clínica, considerada em seu sentido mais ampliado e originário, qual seja, o terapeuta ao lado de um outro que exige cuidado. Entretanto, para efeito deste artigo, cabe situá-lo no âmbito da clínica psicanal ítica com a criança autista.

Essa clínica tem suscitado essas questões e revelado importantes caminhos para a compreensão daquilo que se especula que sejam as primeiras marcas do inconsciente. Essas sendas não são dadas por nenhuma evidência fácil, como de resto se faz em grande parte do campo psicopatológico. Isso é verdade especialmente para aqueles que procuram entender esse campo não como uma distorção, aberração ou erro do suposto curso normal, mas na perspectiva de que repete e é regido por funções fundamentais do psíquico – o tratamento com a criança autista tem levado a indagações que se voltam para esses albores da vida psíquica.

Freud, no seu vasto ensinamento que decorre de sua experiência clínica e de sua vocação extraordinária para a especulação teórica, fez reconhecer que tanto a atividade psíquica normal quanto a patológica são regidas pelas mesmas leis, a tal ponto que uma ensina sobre a outra; quem sabe até possamos dizer que não é pelo contraste que reconhecemos ambas, mas pela imbricação, que é mais do que vizinhança. O patológico seria uma alegoria do normal ou, para quem preferir maior subversão, a alegoria poderia estar do outro lado. De forma que quando procuramos investigar o sofrimento humano no campo psicanalítico, não raro supomos – menos freqüentemente provamos – uma vivência, uma experiência, uma atividade, enfim, um resto fragmentário qualquer indispens ável à passagem para o psíquico, à sua fundação ou constituição. Uma dor, uma falta, alguma carência ali se faz para que alcancemos a sofisticação dolorosa do psíquico. Mas note-se que o psí- quico aqui, nos termos em que falamos, não é equivalente ao simb ólico. Ele está na pré-história. Sim, porque até a história, ou melhor, a partir de alguém que se constitui como Eu e que conta a sua história poderemos retornar pelo simbólico. Contudo, antes de qualquer representação, como especular a respeito da formação da trama psíquica?

Resta então perguntar onde pulsa a vida psíquica de uma crian ça que na primeira infância retirou-se para o ensimesmamento. Estaria ela isolada ou colada às sensações das quais se vê impossibilitada de dar curso e movimento? Num espaço de vida psíquica tão estreita, onde o simbólico ainda está a longos dias de mostrar sua exuberância e suas dores, encontramos com essas crianças, muitas sem fala, mas que insistem, de algum lugar, em nos mostrar que antes mesmo de podermos representar a vida, ela já se faz apresentar em princípios tão arcaicos como aqueles que se concentram nas atividades de prazer e desprazer. Foi para esses princípios que Freud (1911/2004) de forma tão original nos alertou, deixando entrever que esse jogo polar – comprimido pela falta de tantos recursos – encerra um dos mais intrigantes e sutis esconderijos da alma humana.

Certas modalidades de sofrimento psíquico repercutem a primeir íssima dimensão da vida, cujo funcionamento se dá rente ao ambiente corporal, de onde brota toda uma vida sensível. Supomos que a clínica psicanalítica do autismo e da psicose seja plena de interpelações voltadas a esse campo de experimentação, de tão difícil acesso e compreensão para os clínicos e estudiosos. Assim, a grande dificuldade nesse domínio diz respeito a como abordar esse tempo psíquico tão arcaico, sem resvalar para o nefelibatismo.

Encontramos em Piera Aulagnier um interessante trabalho sobre essa dimensão do originário. Uma primeira definição reveste- se de importância no trato dessa questão, aquela que diz respeito à atividade de representação. Aulagnier (1979) aproxima a atividade psíquica de representação àquela que se dá no processo orgânico de metabolização.

“Podemos definir trabalho de metabolização como a função pela qual um elemento heterogêneo à estrutura celular é rejeitado ou, ao contrário, transformado num material que se torna a ela homogêneo. Esta definição pode se aplicar rigorosamente ao trabalho que efetua a psique, com uma única diferença: neste caso, o elemento absorvido e metabolizado não é um corpo físico, mas um elemento de informação” (p. 27).

Ainda que nos incomode um pouco a lembrança de um processo orgânico para falar do acontecer psíquico já que nos termos dessa analogia se revela, mais uma vez, a dificuldade de falar da vida anímica de maneira própria –, não deixa de ser intrigante pensar a produção psíquica representacional como resultado da captura de um elemento, estando ele dentro ou fora do espaço psíquico, com vistas a torná-lo um objeto comum, conformado a determinada instância de representação. A citada obra apresenta os modos de funcionamento do originário, do primário e do secund ário, cujas representações resultantes define como sendo respectivamente: a representação pictográfica ou pictograma, a representa ção fantasmática ou fantasia e a representação ideativa ou enunciado. No presente estudo, o foco de interesse incidirá sobre o funcionamento do originário e sua correspondente representação pictográfica.

Acompanhando a compreensão de Piera Aulagnier da atividade de representação e de como opera essa metabolização, temos que: “Toda representação implica numa dupla conformidade: conformidade da relação imposta aos elementos constitutivos do objeto representado aqui a met áfora do trabalho celular de metaboliza ção ainda é perfeitamente adaptada a nossa concepção – e conformidade da relação presente entre o representante e o representado. Esta última é o corolário da precedente: cabe a cada sistema representar o objeto, de maneira a que sua “estrutura molecular” se torne idêntica à do representante” (p. 29).

Vale destacar a necessidade de que o representante assuma as caracter ísticas não só do objeto representado, mas também traga, em si, o modo de funcionamento daquela inst ância que ele representa. Para o caso do originário, isso se reveste de grande importância, especialmente no esfor ço de qualificar o que nessa modalidade psíquica ocorre, quando ainda não se pode falar de um Eu constitu ído. Aqui, fazemos registrar, ainda em conformidade com o pensamento da autora, os três postulados de funcionamento do psíquico, com referência às três modalidades citadas acima:

“ todo existente é auto-engendrado pela atividade do sistema que o representa; este é o postulado do auto-engendramento, segundo o qual funciona o processo originário;

- todo existente é um efeito da onipotência do desejo do Outro; este é o postulado próprio ao funcionamento do primário;

- todo existente tem uma causa inteligível, tornada acessível pelo discurso; este é o postulado segundo o qual funciona o secundário” (p. 30). Pretendemos nos deter no processo originário. Assim, ressaltamos as duas palavras-chaves do postulado do originário: auto-engendramento e atividade.

A atividade de representação, em sua mais remota disposição, será uma atividade de prazer. Se melhor convier, digamos de outro jeito, é pela viv ência de prazer que a existência se abre em fragmentos singulares de formas estéticas indetermináveis, só comparáveis em sua magnitude à ilus ão, igualmente imponderável, de repetir e recriar essa beleza ancestral que, a cada vez alcançada, esfumaçase pelas linhas do corpo, não sem antes, deixar atrás de si as fendas abertas, que são o renovado apelo e esperança pelo novo.

Na mencionada obra encontrase a definição da atividade de representa ção como uma maneira de metabolizar um material heterogêneo, de forma a torná-lo adequado à instância em questão (originário, primário ou secundário), e considera que toda informação que parte do objeto e chega à psique decorre de um investimento libidinal.

“Consideramos que todo ato de representação é coexistensivo a um ato de investimento, e que todo ato de investimento é movido pela tend ência própria ao psiquismo de preservar ou de encontrar uma vivência de prazer” (Aulagnier, 1979, p. 31).

Neste ponto, chegamos a uma relação que consideramos central para os diferentes alinhavos teóricos e clínicos que conduzem este estudo: a aproximação entre representação e prazer. Prosseguindo nesse encaminhamento, encontramos que o prazer de representar o mundo é indispens ável para a constituição do próprio mundo e manutenção da vida.

Cabe lembrar, como destaca a autora, que o desprazer é o outro pólo desse jogo, e que também ele pode ser objeto de desejo: “desde o originário, a atividade psíquica forjará duas representações antinômicas da relação presente entre o representante e o representado, cada uma conforme à realização de uma das metas do desejo. Uma primeira, na qual a realiza ção do desejo comportará um estado de reunificação entre o representante e o objeto representado e será esta união que aparecerá como causa do prazer vivido. Uma segunda, na qual a meta do desejo será o desaparecimento de todo objeto que possa suscitá-lo, o que faz com que toda representação do objeto apareça como causa do desprazer do representante. Esta dualidade inerente às metas do próprio desejo pode ser ilustrada pelos dois conceitos de amor e ódio” (p. 32).

Para ilustração dessa questão, oportuno se faz consultar as anotações de Abreu (2007), referentes ao tratamento de uma criança de 5 anos, de nome Guili, com manifestações autísticas, num período em que a freq üência dele às sessões tornou-se irregular, pois dormia pela manhã, após passar parte da noite em claro. Nesse tempo, uma das sessões mostrou- se particularmente eloqüente para a caracterização da comutação abrupta de estados emocionais, não raro observada em crianças em sofrimento autístico. Propomos seguir a seqüência dessa sessão, que configura os paroxismos havidos no desenrolar desse encontro.

Quando chega, Guili vai até o bebedouro e ali permanece enchendo copos d’água que são derramados no vaso de planta da área de entrada do consultório. O terapeuta convida-o a entrar. Dada sua recusa, carrega-o sob protestos até a sala. A partir daí, o que se sucede é uma reação muito forte de Guili. Ele grita e dirige uma série de agressões contra o terapeuta. Procura enfiar as unhas, bater forte com as mãos e chutar. Faz isso ao mesmo tempo em que seus gritos são intensos e o choro incontido. Só pára de bater ao puxá- lo até a porta, renovando seus protestos. O terapeuta procura se defender, afastando-o do seu corpo ou esquivando-se dele. Por um bom tempo, ficam nesse enfrentamento cansativo. De repente, o terapeuta detém-se inconsolável ajoelhado ao chão. Guili acena com uma trégua, que se faz num gesto quase extraviado de toda aquela conturbação – sua mão levada ao rosto suado e apreensivo do terapeuta. Agora, já não era mais a mão convicta do ataque. A pequenina mão, um tanto incerta, parece imantada pelo olhar magn ético que sabe ver e fazer repousar o que via. Essa mão, estendida sobre o rosto, atravessa tantas camadas da sensibilidade do terapeuta, que não pode evitar a invasão de uma forte emoção, que o afeta de forma tão ampla, a ponto de descerrar nele outras cenas, para além daquela em que se encontravam. O que Guili encontra com sua mão desnorteia o terapeuta, que, assim, desata em lágrimas. Esse surpreendente desamparo faz do clínico o que não sabe, mas, prostrado, assim permanece. Guili não é um espectador a deduzir os próximos passos da ação. Imediatamente, e mais uma vez, ele se coloca como protagonista do que se passa, contorna o corpo do terapeuta e vai se alojar atrás dele, abraçando-o pelas costas. Por um tempo, permanecem nessa composição, que restitui certo alento para continuar.

Depois de tudo isso, Guili retoma toda sua inquietação. Numa das vezes, usa o recurso de bater com as mãos sobre sua cabeça. O terapeuta, por sua vez, vale-se do recurso de imitá-lo nesse gesto. Ele observa-o e cede nessa iniciativa. Numa outra fase de toda essa seqüência, Guili passa a combinar momentos de agressão com outros em que, chorando, faz todo um gestual que sinaliza a procura pelo terapeuta e pelo seu colo. Numa dessas vezes, ele é carregado e aconchegado, agarradinho, ao terapeuta. É notável verificar que permanecem por algum tempo nessa posição. Mas o terapeuta deve, segundo o que supõe, manter-se parado e em pé, com ele ao colo, pois qualquer tentativa de sentar ou andar pela sala leva à reação da criança, que se faz por mordidas à altura do pescoço. Estar assim com ele é apaziguante, tanto para o terapeuta quanto, suspeita-se, para ele. Após permanecer esse tempo ao colo, Guili volta, repentinamente, toda sua carga incontida nos mais diferentes atos. Assim, desce até a sala contígua, chuta o espelho e chega a lançar objetos violentamente. Toda essa agitação passa a fazer parte de um circuito, que inclui passar pelo colo e permanecer quieto ali, por um pouquinho de tempo que seja.

Por fim, o pequeno muda de cena. Passa a se interessar por depositar o bloco de massinha na pia do banheiro. Abre a torneira e ali permanece envolvido em lançar pedaços de massinha na água. Não quer mais largar essa atividade, e assim permanecem até o final da sessão, quando, então, com muita dificuldade, o terapeuta consegue que ele deixe o banheiro e tudo o mais para trás. Quando sai da sala, imediatamente volta ao bebedouro. Depois de receber um copo, retoma sua lida de irrigar com água mineral a planta risonha e benfazeja, que recebe, impávida, a carga potável de Guili.

Passamos a aduzir algumas considera ções a respeito do desenrolar dessas cenas. Há um ponto de inflex ão ao qual é preciso se ater; um ponto de inflexão, digamos, transferencial, e este se situa justo nessa dobradi ça que faz o terapeuta, passando da adoção de uma posição de defesa frente aos ataques de Guili à posição de inação, desolação, quando se acha prostrado e caído.

Recordamos uma vinheta clínica apresentada por Gilberto Safra narrando o encontro com um garoto autista de nome Ricardo. O autor conta as inúmeras tentativas realizadas por ele para ter acesso ao garoto ou estabelecer algum nível de comunica ção. Assim foi com os biscoitos, para os quais Ricardo tinha voltado o seu interesse desde as primeiras sess ões, os quais recebia da mão do terapeuta, para em seguida vomitar sobre ele.

“Para mim era evidente que lhe era impossível suportar que eu existisse em alteridade, sem que ele tivesse tido a oportunidade de criar-me como um objeto subjetivo. O meu gesto era vivido como intrusão, e com seus vômitos ele tornava o alimento um objeto desumanizado” (Safra, 1999, p. 27).

Após o passar dos anos, o autor comenta seu desânimo frente à ecolalia e às repetições recalcitrantes de Ricardo. Mas eis que em certo dia, ainda que tomado pela desolação, tenta mais uma intervenção com palavras, repetindo, Ricardo, como de hábito. Entretanto, uma mudança parece ter se operado nesse momento entre eles, de tal sorte que o terapeuta percebe na réplica de Ricardo não uma ecolalia, mas sim uma frase de melodia singular. Segue-se entre eles um jogo de criação e repetição de melodias. A estupefação de Gilberto Safra por ter encontrado o que ele tanto procurava pelas indicações de Winnicott, a inalienável criatividade primária de todos nós, revela-se em sua exclamação: – aí está ele, na melodia!

Algo semelhante ao estabelecimento desse campo transferencial de modulação sensorial pode ser acompanhado no desenrolar do tratamento conduzido por Izabel Tafuri, com sua paciente de nome Maria, que culminou com a relação ou comunicação denominada por ela jogo dos sons. Os grunhidos de Maria transmudaramse em balbucios; os balbucios se deslocaram às garatujas, e as garatujas trouxeram os primeiros desenhos das palavrasà boca.

Dito assim, tudo parece simples, seqüencial, progressivo. Mas aqui tamb ém, quando acompanhamos atentamente o depoimento da autora, encontramos seus próprios balbucios, mas não nos referimos apenas às repetições em espelho das produções sonoras de Maria. O que queremos destacar precisamente é que a capacidade de brincar com os sons emergiu em meio às desilusões, hesitações e medos da parte da analista, assaltada pelos basculamentos repentinos da menina que iam do ensimesmamento prazeroso ao ensimesmamento sofrido; termos esses empregados pela autora para qualificar cenas clínicas tal como a narrada a seguir:

“Houve uma sessão em que ela evidenciou como a exploração do meu corpo estava associada a uma relação afetiva. Eu tinha acabado de encontrá-la em um de seus esconderijos. Dessa vez ela ficou irritada e me mordeu o braço. Afastei-me, senteime no chão e esperei que ela se acalmasse. Ela se aproximou, sentou-se entre minhas pernas e começou a passar as mãos em cima das marcas dos dentes que haviam sido cravados no meu braço. Eu fiquei muito emocionada. Não consegui segurar as lágrimas. Tentei me recompor e fiquei com ela no colo, por um longo período. A partir dessa época, Maria começou a chupar as costas das minhas mãos e a brincar de “morder”: ela colocava os lábios em meus braços e ia apertando até encostar os dentes. Aí, me olhava, sorria e soltava” (Tafuri, 2003, p. 63).

Em prosseguimento às reflexões suscitadas a partir da matéria clínica exposta, cumpre debruçarmo-nos mais especificamente sobre a quest ão da representação na instância do originário. Se fazemos a escolha por Piera Aulagnier para assistir-nos nas intrigas dessa jornada, é porque ela recua seu desenvolvimento teórico até a vida psíquica do lactente, vida essa essencialmente mantida por uma atividade de auto-regulação – tudo o que se possa dizer nesses termos está embebido pelas fontes freudianas.

Onde, então, procurar o psíquico desses tempos, o inconsciente e o Eu que aí se esboçam? Seria desacautelado aceitar que a tópica psíquica repousa no corpo energético e libidinal?

Quando somos levados a pensar na vida mais primitiva dos humanos – aquela das primeiras vivências de prazer/desprazer –, uma superfí cie multiforme vem a nossa imagina ção, que resulta desse encontro entre uma mãe e seu bebê: seio, boca, cheiros, órgãos dos sentidos, estímulos e receptores ativos; o som, a voz, um comprimento de onda; superfícies em contato, o contato das superfícies; o ar que entra e que sai, os barulhos intestinais, de um, de outro, os odores intestinais; uma penumbra, um gesto, um esboço de gesto, o gesto adiado de um, recusado de outro, imitado; o tecido da pele, o tecido da roupa, a tecedura do outro, além do que, a tessitura, essa sim, uma contextura, um encadeamento, enfim, uma organização anárquica. Vida escorrendo, vida avançando, vida se fechando, se atando, se abrindo, se enlaçando. Uma variedade incomensurável de formas. Eis o que pode ser dito acerca do psíquico: que ele deriva dessa estética imprevisível, saturada pela repetição, pela experimentação, pela atividade, mais tarde prestes a explodir no corpo, a se imiscuir na palavra, a se desvelar no sintoma.

Toda atividade psíquica desse tempo, do encontro da boca com o seio, plasma uma modalidade de representação, apoiada na atividade sensorial corpórea, na qual o representado se dá à psique como a apresentação de si próprio (Aulagnier, 1979, p. 43). Nessa representação pictográfica, estabelece-se uma zona difusa indiferenciada entre a representação que acompanha a amamentação e a representação dessa experiência na ausência do seio. Contudo, considera a autora que a diferença entre essas experiências se fará pelo acréscimo desse fator diferencial trazido nos termos de um a mais de prazer, no momento da satisfação real. Então, supomos, esse prazer cola-se à representação e estabelece uma modalidade de satisfação que ultrapassa a necessidade.

A atividade de representação pode ser entendida, nos termos acima postos, como visando a uma recompensa de prazer, que se faz, de forma original, quando o bebê aciona a capacidade que tem de reeditar, em seu próprio corpo, sensações prazerosas outrora gratificantes. Quem sabe pudéssemos dizer, de forma mais ampla, que a própria fundação do psíquico se apóia nessa constatação? Assim, o psíquico se constituiria como o fator superveniente de excitações que originariamente brotam no corpo próprio do bebê, que, em sua condição de desamparo, aciona mecanismos de regulação dessas tensões, em forma de dispositivo que, ora rejeita, ora absorve informações, estímulos, objetos, sejam como forem, todos marcados libidinalmente. Assim, podemos pensar nessa organiza ção defensiva primitiva do lactente como estando na base da constituição psíquica.

O postulado do originário, afirma a autora em tela, situa-se antes do estágio do espelho de Jacques Lacan. Assim, ela constata que na origem da atividade psíquica encontra-se um fenômeno de especularização. Ou seja, aquilo que resulta da criação da atividade psíquica é um reflexo da sua própria imagem, mas essa imagem se constitui tendo como base o modelo sensorial, o que ela denomina imagem da coisa corporal ou imagem do objeto-zona complementar.

“O agente representante vê na representação o fruto de seu trabalho autônomo e aí contempla o engendramento de sua própria imagem. A representação é, portanto, apresentação para a psique, auto-encontro entre uma atividade originária e um produto também originário, que se dá como apresentação do ato de representar para o agente da representação. A característica essencial do representado é dada pela sua sobredeterminação e sobressignificação” (Aulagnier, 1979, p. 43).

Pois bem, quando examinamos essas passagens clínicas, vemos que, pelo trabalho de análise, a criança é levada a produzir uma representação originária na qual ela possa contemplar seu próprio reflexo. Então, toda mímica da parte do outro, analista, terapeuta, toda repetição de sons, gestos ou qualquer outra dimensão sensível promove o campo de experimentações favoráveis à eclos ão desse efeito humanizante e libertador, qual seja, tornar sua criação o próprio corpo sensível refletido no desejo do outro. O som emitido por Ricardo e Maria, a tatilidade de Guili passam a ter existência quando eles são capazes de se apropriar de uma réplica criativa de si mesmos, que tem lugar nessa zona, nesse intervalo especular definido entre o corpo próprio e o outro. O mundo, o não-eu, o outro, só são conhecidos a partir desse trânsito, de um grunhido, por exemplo, que, partindo da criança, percorre uma trajetória na qual encontra a resposta especular do outro e retorna como estímulo até ela, com a chance de ser metabolizado e convertido em um signo original. Numa última palavra, nós diríamos que a representação pictográfica conta a história dessa trajetória, que é a história auto-engendrada por um sujeito em seu tempo sensível.

Agora, essa dimensão representativa se realiza num plano de influência das experiências de prazer e desprazer, conforme postuladas por Freud. Se a atividade de representação visa a uma recompensa de prazer, pode ocorrer também que esse representante seja fonte de desprazer, conforme já mencionado anteriormente, e daí se impor o desejo de auto-aniquilação. O que na situação de prazer é percebido como complementaridade entre a zona e o objeto, na versão do desprazer pode ser tomado como um atrelamento aniquilador, cujo resultado é a rejeição mútua entre a zona e o objeto. Nas palavras de Aulagnier (1979): “o desejo de destruir o objeto se acompanha sempre, no originário, do desejo de destruir uma zona erógena e sensorial e a atividade que tem como sede esta zona” (p. 54).

Algo sugere que, no mais das vezes, para que o prazer se converta numa satisfação apaziguadora, certas condições precisam ser atendidas. Na passagem apresentada, quando está no colo do terapeuta, numa determinada posição e mantendo um determinado encaixe, Guili não permite que o terapeuta faça nenhum gesto ou movimento. É como se para estar apaziguado tal composição necessitasse ser congelada, evitando qualquer perturbação que a desarranjasse, de tal forma que esse ajuste entre o objeto e a zona sugere ser, nesses casos, muito mais delicado.

Para acrescentar mais uma reflexão, vamos iniciá-la pela introdu ção de uma pausa, um descanso, uma imprecisão que só a poesia é capaz de prover. Um pensamento atribuído ao poeta Carlos Drummond de Andrade (1983) segue por aí, vazado nestas palavras: “eu tropeço no possível, e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível”.

Em que tempo ou lugar os terapeutas puderam vivenciar a dimens ão sensorial dos sons de Ricardo e Maria? Quando pôde a mão cálida de Guili levantar-se estendida sobre a sensibilidade do terapeuta? Quando foi possível se surpreender com o singular, espantar-se com o tom que destoava, desconcertar-se e dizer: – aí está ele! Aí está ela!?

O encontro com o impossível se deu justo quando os terapeutas de Ricardo, Maria e Guili tropeçaram no descabido, na desrazão, no nonsense. Justo quando se achavam tão isolados em seus saberes e vulneráveis em suas ações: desolados, desanimados e desiludidos.

Esse ponto de inflexão na conduta analítica lembra a mãe que para se habilitar a acompanhar e sustentar seu bebê necessita, não raro, mergulhar em seu próprio desamparo infantil. Caso contrário, se ela não se deixa imergir no seu próprio inconsciente, mais difícil será acompanhar o bebê no seu isolamento. Se as sensa ções do corpo da criança forem espelhadas no corpo do terapeuta, maiores possibilidades a criança terá para se organizar em sua própria ang ústia e até circular por fora de seu isolamento.

Resta em tudo isso uma estrondosa verdade clínica, que não se deixa traduzir em nenhum ensinamento, pois a coisa que aqui faz sua aparição em nada se conforma a uma disciplina. O terapeuta que é capaz de tropeçar em tudo aquilo que está ao seu alcance as convicções teóricas, a sua experiência, os seus próprios pensamentos, as suas filiações, etc. acaba por esbarrar na casca do impossível, lá onde mora o irreconhecível sujeito, aquele mesmo interrogado nas primeiras linhas do texto. Talvez nenhuma experiência clínica pareça tomar isso de forma tão radical quanto aquela com a criança autista. Pensamos que a situação transferencial constitui-se no ponto em que as efrações do sujeito encontram-se com o terapeuta abandonado a sua própria sensorialidade, prazerosa ou sofrida, fonte da mais refinada criatividade.

Mas é na presença do outro, do terapeuta, que se efetiva um campo de experimentações favoráveis às modulações estéticas e eróticas do corpo. Assim, destacamos o papel da mímica que o outro realiza dos gestos, dos sons, do corpo da criança, enfim, de suas produções. A repetição mímica, assim entendida, está a serviço da criação. É como se na mímica pudesse estar o complemento da figura que ainda não se apresenta fechada como produção estética singular. Quer dizer, lá pela tantas, a criança se torna capaz de apropriar- se do corpo sensível que, refletido pelo desejo do outro, é a imagem especular de seu próprio corpo e fruto de sua criação. O corpo passa a ser próprio, erótico, quando a criança se apropria de uma réplica criativa desse corpo. A repetição da criança e a repetição do terapeuta podem favorecer o aparecimento de um signo original metabolizado nessa relação; pictograma que marca o estabelecimento do campo transferencial. Campo transferencial que, aqui, é atualização, reedição criativa do corpo sensível da criança nascido nessas sondagens.

O mundo que resulta desse ato de criação é a própria imagem da coisa representada. E o que está por ser representado desliza como eletricidade estática na superfície do corpo erógeno tensão, excitação, sensação. O modelo que a representação pictogr áfica cria reproduz essa experiência sensível. O que se cria é a silhueta da vivência sensível. A operação consiste em dar a ver o que já está lá, embora, estando lá, só venha a ter existência pelo ato de criação. A relação entre pictograma e especularização é assim comentada: “Se admitimos que nesta fase o mundo “o extra-psique” não tem existência senão através da representação pictográfica que o originário se forja, concluímos que a psique encontra o mundo como um fragmento de superfície especular, na qual ela mira seu próprio reflexo. Do “não-eu”, a psique começa por conhecer apenas o que pode se apresentar como imagem de si, e o si mesmo se apresenta a si próprio como fruto desta atividade e deste poder que engendraram o fragmento do “não-eu”, que se apresenta como espelho de si” (Aulagnier, 1979, p. 50).

Mais adiante, a autora dirá ainda que é sobre o “vetor sensorial” que se apóia o pulsional (p. 50). Sim, primeiro uma experiência sensível – gosto, odor, toque, visão, etc. –, fonte de prazer que se associa à satisfação de uma necessidade. Depois, o trabalho de auto-engendrar as marcas deixadas por esses fragmentos do sensível, com a correspondente metabolização que visa reunificar o que será auto-engendrado com a experiência primeira havida na presença do objeto, de onde decorre a reedição do estado de prazer. Por último, a produção de uma imagem que recobre a zona sensorial e o objeto-causa de excitação. Essa imagem é o pictograma, que reflete a identidade entre a atividade psíquica e o extra-psique, o mundo. O que aqui sugere uma forma seriada de efeito didático convém ser pensado como trama sincrônica e justaposta. Essa concomitância se estende para o que Aulagnier (1979) aponta como sendo uma totalidade sincrônica da excitação das zonas (p. 52). A excitação que envolve a experiência da amamentação estende-se da boca para outras zonas erógenas do corpo, antecedente indispensável ao que virá depois como imagem integrada do corpo.

Oportuno se faz dizer que, num ato como a amamentação, por exemplo, revela-se a integração das diferentes sensações nascidas nas zonas do corpo. A representação pictográfica, tratada até aqui, sugerimos entend ê-la, numa de suas dimensões, como essa capacidade de integração desses diferentes elementos parciais dos objetos, sejam eles, voz, cheiro, paladar, o leite que inaugura a boca, toda uma vida sensível que brota nos orifícios, superfícies e diferentes quadrantes internos e externos ao corpo. Assim, entendemos que essa miríade de estímulos convoca o pequenino ser a se desdobrar na forma psíquica capaz de chegar a alguma regulação que propicie a experiência inaugural ou repetida do prazer, que, nesse plano de acontecimentos, é também um prazer cenestésico. Nessa experiência arcaica, encontramos a capacidade de um bebê de ser afetado pelas sensações que brotam do próprio corpo e, imerso nelas, manter-se em estado de fruição e prazer sem que isso equivalha a um aumento ou diminuição da tensão, cujo sentido é o de desfrutar. Trazemos mais um trecho da lavra de Aulagnier (1979) nessa tentativa de articulação da geografia psíquica que se desenha nesse semblante estético do corpo. Desta vez, referindo-se ao seio, ela nos fala desse que consideramos um ícone da transitoriedade humana.

“O seio deve ser considerado, neste estágio, como um fragmento do mundo que tem a particularidade de ser simultaneamente audível, táctil, olfativo, nutritivo e, portanto, dispensador da totalidade dos prazeres. Devido a sua presença, este fragmento desencadeia a atividade do sistema sensorial e a parte do sistema muscular necessária ao ato de sucção. A partir daí, a psique vai estabelecer uma identidade entre o que é realmente efeito de uma atividade muscular (que absorve um elemento exterior e assim satisfaz uma necessidade) e o que resulta da excitação sensorial a qual, por sua vez, poderíamos dizer, “ingere” o prazer que a psique experimenta durante a excitação. Eis porque a boca tornar-se- á o representante pictográfico e metonímico das atividades do conjunto das zonas, representante que autocria por ingestão a totalidade dos atributos de um objeto – o seio – que será representado como fonte global e única dos prazeres sensoriais” (p. 53).

O uso da expressão ingere o prazer evoca a coalescência entre a zona sensorial, o objeto que a estimula e o ato criativo e ilusório que vai talhar uma imagem idêntica a esse conjunto que será representado. Assim, essa complementaridade entre a zona e o objeto torna-se, pelo efeito da ilusão, superfície contínua e indissociável. Se nesse registro da ilusão a zona pode autocriar atributos do objeto que lhe sejam adequados – audibilidade, tactilidade, visibilidade, por outro lado, quando isso não é possível, ou mesmo por falta ou excesso do objeto, a zona sensorial pode constituir-se numa região de ausência, lacuna insondável onde o desprazer faz sua marca.

Alaugnier afirma que “no registro pictográfico a indissociabilidade da zona e do objeto continua a ser total, ter-se-á a figuração de uma impossível separação, de um dilaceramento violento e rec íproco, que se perpetua entre zona e objeto: uma boca tentando arrancar um seio, um seio tentando se desprender da boca. O pictograma representará uma mesma unidade “objeto-zona” como lugar de um duplo desejo de destruição, lugar onde se desenvolve um conflito mortífero e interminável” (Aulagnier, 1979, p. 54).

Ao dissertar sobre o encontro do bebê com o seio, procuramos mostrar, por esse viés, como um elemento real externo, uma informação, alcança o sujeito e, a partir da estimulação do sistema perceptual, recebe tratamento na esfera do aparelho psíquico; aparelho cujo dispositivo predominante de regulação se funda nos estados de prazer/desprazer, processamento esse que inaugura a atividade arcaica de representação que é uma auto-imagem, ou a própria imagem do representado, reapresentada à psique – esse que vem a ser o pictograma.

Faz-se mister dizer que o corpo erógeno é um corpo adjeto, que pede um adjetivo, uma qualificação, portanto, não é um corpo substantivo. Necessita de algo que venha se juntar, que venha se acrescentar a ele para se converter num corpo próprio. Esse corpo não tem tradução imediata, e mesmo a tradução mediada que se faz dele, supomos, não é completa, nem integral. Esse é o domínio da vida est ética e de sensações, remoto em suas configurações imprevisíveis e irrepresent áveis ou, de outra forma, enigma estético não decifrável por inteiro, não obstante presente no alvorecer da vida psíquica.

Em suma, o que qualifica o corpo que temos é a ação de criá-lo em linhas que são imagens de si mesmo. Esculpindo uma réplica sensível do próprio corpo, renovamos a afirmação de linhas acima, damos a ver o que já está lá, embora, estando lá, só venha a ter existência pelo ato singular de nossa criação pelo menos essa é a interpretação que colhemos do ensino de Piera Aulagnier para a leitura da clínica psicanalítica com as crianças em sofrimento autístico. Nós trazemos essa capacidade arcaica. O corpo de cada um de nós, para ter existência humanizada, precisa resultar de nossa atividade repetitiva de autoengendramento estético. A clínica psicanalítica com a criança autista revela este intrigante paradoxo: o novo, o idiossincrásico ergue-se da atividade repetitiva, repetição que se por um lado leva ao fechamento e ao desarvoramento da criança, por outro, é em si potência capaz de engendrar criação humanizante.

 

Referências

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Aulagnier, P. (1979). A violência da interpretação: Do pictograma ao enunciado (M. C. Pellegrino, trad.). Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

Andrade, C. D. (1983). Procurar o quê, boitempo III. In C. D. de Andrade, Nova Reunião 19 livros de poesia (pp.733-742)). Rio de Janeiro: J. Olympio/INL.        [ Links ]

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Tafuri, M. I. (2003). Dos sons à palavra: Explora ções sobre o tratamento psicanalítico da criança autista. Brasília: ABRAFIPP.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: mitafuri@unb.br
E-mail: teferca@psi.puc-rio.br

Recebido em outubro/2007
Aceito em novembro/2007

 

 

* Psicólogo clínico, doutorando do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília
** Professora Adjunta de Psicologia Clínica e coordenadora do Laboratório de Psicopatologia e Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília

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