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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.12 n.23 São Paulo dez. 2007

 

EXPERIÊNCIA INSTITUCIONAL

 

Contribuições à deficiência mental a partir da psicanálise: “El Molinet” - uma experiência institucional

 

Contributions to mental disability from the psychoanalysis: “The Molinet” - an institutional experience

 

Aportaciones a la discapacidad psíquica desde el psicoanalisis: “El Molinet” - una experiencia institucional

 

 

Roque Hernández Núñez de Arenas*; Daniela Teperman (Trad.)

Centro de Orientación Sociolaboral y Clínica “El Molinet” - Alicante, Espanha

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Tomando como referência a práxis da psicanálise, o artigo parte de algumas hipóteses teóricas sobre questões relativas à deficiência mental e aos problemas do desenvolvimento a partir de uma vertente institucional, apresenta em seguida algumas vinhetas clínicas extra ídas do trabalho desenvolvido no Centro de Orientação Sociolaboral e Clínica “O Molinet ”, centro espanhol que atende pessoas com diagnósticos de deficiência mental e psicose com mais de 16 anos.

Palavras-chave: Psicanálise, Deficiência mental, Psicose, Centro Molinet, Adolescentes.


ABSTRACT

Taking as reference the practice of psychoanalysis, this article is part of a theoretical hypothesis over questions relating to mental disability and the developmental problems from an institutional point of view, taking into account some extracted clinical research of developmental work in the Center for Social and Guidance Clinic ”El Molinet”, Spanish center which cares for people with mental disabilities and diagnoses of psychosis over 16 years.

Keywords: Psychoanalysis, Mental disability, Psychosis, Center Molinet, Teens.


RESUMEN

Tomando como referencia la práxis del psicoanálisis, el artículo parte de algunas hipótesis teóricas sobre cuestiones relativas a la discapacidad psíquica y a los problemas del desarrollo desde una vertiente institucional, tomando a continuación algunas viñetas clínicas extraídas del trabajo desarrollado en el Centro de Orientación Sociolaboral y Clínica “El Molinet”, centro español que atiende a personas con diagnósticos de discapacidad psíquica y psicosis mayores de 16 años.

Palabras clave: Psicoanálisis, Discapacidad psíquica, Psicosis, Centro Molinet, Adolescentes.


 

 

1. Questões preliminares

Aqueles que trabalham com crianças ou jovens denominados “deficientes mentais” utilizam consciente ou inconscientemente uma teoria sobre a deficiência mental, que está impregnada dos mitos íntimos e culturais de nossa época, e, a partir dessa teoria, interpretam e elaboram cada um dos acontecimentos diários dessa tarefa. Nesse sentido, nem mesmo aquele que sustenta uma teoria chamada “científica e objetiva” pode livrar-se do mais humano: a subjetividade. Esta irá acompanhá-lo em cada um de seus ditos e de seus atos.

Como a práxis psicanalítica nos possibilita pensar o trabalho institucional com crianças e jovens com problemas?

Em primeiro lugar é importante ressaltar que a teoria psicanal ítica se constrói, não a partir da observação do indivíduo com deficiência, nem como resultado de uma bateria de testes ou de questionários, mas na escuta contínua e individualizada de crianças e jovens que atravessam dificuldades diversas no processo de tornar- se sujeito1, assim como na escuta de suas famílias.

Escutar em psicanálise remete a uma rede de conceitos articulados que não desenvolveremos neste artigo, mas podemos precisar que não se deve confundir com a concepção usual desse termo, nem com as teorias da comunicação que seguem o modelo de um emissor que intercambia uma mensagem intencionada e consciente com um receptor. A psicanálise demonstra que esse modelo imagin ário é alterado pelo circuito simbólico do desejo no qual circulam o sujeito e o outro, ambos imersos em um mundo tecido pela linguagem.

O meio no qual essa escuta ocorre é a transferência. Sobre ela só vamos dizer que implica fazer-se depositário do percurso que um jovem vai construindo ao longo do tempo em que trabalhamos com ele. Fazer-se depositário do que diz, do que faz, dos acontecimentos que lhe ocorrem, de modo que pouco a pouco o sujeito possa se questionar sobre as posições que repete com seus semelhantes e que o fazem sofrer. Por exemplo, para um jovem que freqüentemente explode com agressividade, poder sentir-se implicado pelo que lhe ocorre como sujeito tem efeitos que o ajudam a mudar de posição subjetiva.

Se antes dizíamos que o meio no qual ocorre a escuta é a transferência, acrescentamos agora que o motor é a repetição; repetção de atos ou enunciados na vida de um sujeito que adquirem valor significante a partir da escuta do sujeito da enunciação na transferência (Lacan, 1987). Quer dizer, diariamente testemunhamos acontecimentos que ocorrem na vida dos sujeitos chamados “deficientes”; acontecimentos que se repetem no tempo, e, se estamos atentos, nos damos conta de que neles há algo que ocorre e que não é fruto da casualidade. Por exemplo, o menino que no centro educativo nunca sofreu nenhum “ataque epiléptico” e que depois de cada viagem em que se distancia de sua família, na noite em que chega em casa, sofre “ataques repetidos”. Em casos como esse, tornar mais clara a dimensão subjetiva permite sair da pulsão de morte.

A psicanálise, sem ignorar a importância do corpo biológico, dos problemas reais em torno do parto, do diagnóstico médico inicial, enfatiza como importantes os efeitos que o diagnóstico poderá produzir nos pais, e as operações simbólicas que se vêem compelidos a realizar. A função materna, necessária para que a criança com problemas na primeira infância possa para viver como humano, é seriamente transtornada por esse acontecimento que para alguns pais toma as dimensões de uma catástrofe.

A psicanálise assinala os efeitos negativos produzidos quando os pais identificam a “deficiência” a uma doença deficitária, uma vez que essa identificação vai predispô-los a interpretar tudo que seu filho faz em termos de “não pode”, “não chega”, “algo lhe falta”. (Cordié, 1994)

Essa carência que se instala na subjetividade dos pais desde o início como marca, os leva na maioria dos casos a acreditar que podem suprir o que em seu filho faz falta. E então se empenham para que nada lhes falte no plano da realidade material e corporal. Esse excesso de zelo, se persiste no tempo, se tem como conseqüência que a vida dos membros da família fique centrada no chamado “deficiente”, irá impedir mais que ajudá-lo a seguir adiante.

O impacto traumático que os pais recebem e a forma como afeta a subjetividade de cada um e do casal como sexuado não apenas pode transtornar a função materna, mas também a função paterna. Esta, em muitos casos, é relegada a um segundo plano, quando é de vital importância que a criança se situe em relação à diferença marcada por aquele que encarna a função paterna.

Mesmo que assinalemos que a função materna e a função paterna não se correspondem ponto por ponto com a função que realizam uma mãe e um pai respectivamente, já que ambos podem transmitir ambas as funções; na maioria dos casos, os jovens com deficiência “não saíram da barra da saia de sua mãe”, e o pai em geral não intervém como pai, não se levanta para dizer que não, não intervém como metáfora. Em nome de certa pena, os pais permitem que os jovens transgridam costumes sociais e familiares que vigoram para o resto de seus membros e não os convocam a participar das questões importantes que circulam em sua família, o que não só não os ajuda a situar-se frente a seu futuro, responsabilizando-se por ele, mas também os relega a um “mundo marginal”.

Costuma-se dizer que é uma “lei da vida” que os filhos se separem dos pais e façam sua vida. Esse ditado popular permitenos situar que, para que um sujeito se constitua, é necessário que estabeleça esse ponto de diferenciação e de separação em relação ao outro. Podemos nos remeter a momentos na história de qualquer sujeito em que isto ocorre: o desmame em relação à função materna, o processo da sexuação, as diferenças em relação às posições familiares na adolescência, etc.

Se os pais, seja por que motivo for, interrompem esse processo, se eles em primeiro lugar não podem se separar do que para cada um deles ficou impresso em seu psiquismo como marca, se não podem fazer o luto pelo filho imaginário, seu filho terá dificuldades para aceder a uma dimensão do psiquismo necessária para que se desenvolva. Para que a criança comece a movimentar- se, falar, sonhar, fantasiar, desejar, necessita que, depois de ter sido realizada a função materna, algo lhe falte na lógica do psiquismo, o que irá levá-la, não sem angústia, a buscar aquilo que lhe falta. Não é diferente do que ocorre a qualquer criança por volta dos dois anos, quando, de diversas maneiras, ela se dá conta de que sua mãe já não lhe presta a mesma atenção e se dedica a outras coisas. A partir desse momento, a criança não tem outra opção senão “despertar ”. Isto é, é preciso que algo falte para poder desejar. Esse tempo, se não ocorrem dificuldades importantes, marca grandes avanços na criança em relação ao brincar, à linguagem, à mobilidade, etc.

Muitas das dificuldades que as crianças e jovens ditos “deficientes” manifestam na escola em relação à estruturação espacial e temporal, à mobilidade, ao uso de conceitos, às dificuldades de linguagem, etc., têm uma relação direta com o fato de que não foram realizadas operações simbólicas importantes, seja no tempo da maternagem, no processo de alienação, seja no processo da separação. Referimo- nos em particular à operação de repressão e aos processos de metaforização.

Por outro lado, é importante que revelemos o preconceito que existe de que o chamado deficiente é um ser passivo. Pelo contrário, se o escutamos atentamente, descobrimos que, como todo sujeito, ele se relaciona com as pessoas que o rodeiam, procurando articular questões muito importantes para ele. Essa espontaneidade está ligada a momentos em que o jovem pode nos surpreender e nos desconcertar. Pontuo isso para que não pensemos que o futuro do jovem depende exclusivamente dos profissionais, dos pais, etc. Há um espaço privado que concerne unicamente a ele como sujeito. (Hernández, 2007)

 

2. “El Molinet”: uma experiência profissional

Que efeitos o trabalho institucional pode produzir se levamos em conta o que dissemos até agora?

Primeiramente temos que dizer que o centro onde se situa esta experiência, “O Molinet”, inscrevese na série de instituições que, a partir da psicanálise, estão se dedicando a uma investigação sobre temas tão importantes como o fracasso escolar, a debilidade mental, a psicose, o autismo, etc. Entre estas, citamos a Escola Experimental de Bonneuil em Paris, com a qual tivemos a sorte de trabalhar e que, fundada pelos psicanalistas franceses Maud Mannoni e Robert Lefort, continua a realizar um trabalho rico e produtivo desde 1969. (Mannoni, 1986)

O projeto no qual trabalhamos desde 1987 chama-se Centro de Orientação Sociolaboral e Clínica. É gerido pela Associação Intermunicipal do Valle do Vinalopó, formada pelos Municípios de Monóvar, Elda, Petrel e Sax em Alicante.

Neste projeto, temos privilegiado o acompanhamento individualizado de cada jovem no enquadre da clínica psicanalítica, no sentido a que antes nos referimos de fazer-nos depositários de um percurso realizado pelo jovem. Nesse espaço da clínica incluímos o trabalho com os pais, imprescindível para que os jovens iniciem e continuem o movimento que os leve da dependência à independência necessária para seu futuro.

Esse movimento, que implica uma passagem por processos de separação real, imaginária e simbólica, pode ser realizado no Centro de diversas maneiras, algumas das quais irei resenhar a seguir:

Entendemos o Centro como um lugar de portas abertas e um lugar de passagem, elementos simbólicos, a porta e a passagem, que apontam para questões tão importantes como o fato de que Centro não é um depósito onde esses jovens são deixados, mas um lugar do qual valer- se para aceder, em função do desejo de cada um, a atividades dentro e fora do recinto institucional; atividades com as quais cada jovem pode construir seu próprio caminho. Assim, um jovem pode escolher anualmente uma oficina onde cada dia terá um trabalho, algumas relações que o esperem; freqüentar atividades semanais relacionadas com a arte, a música, o esporte e, fora do Centro, realizar cursos de formação, educação de adultos, experiências de trabalho em empresas, experiências em uma moradia à distância da família, relações e outras. Esse movimento de um lugar a outro, dentro e fora da instituição, na presença e na ausência dela, tem efeitos subjetivos notáveis, que ajudam os jovens a posicionarem-se como diferentes e separados dos outros (seus pais, seus professores, etc.). Esses efeitos se manifestam em pontos tão importantes como a estruturação espacial e temporal, a psicomotricidade, a linguagem, a apropriação de conceitos, e até mesmo em possíveis mudanças na estrutura familiar.

Quando assinalamos que os jovens escolhem em função de seu desejo, é preciso especificar que no início nosso trabalho com um jovem é nossa espera, a função desejo de analista, o que tem como efeito que algo ocorra. Assim, jovens que no início “ficam onde os colocamos”, com o tempo começam a arriscar pequenas escolhas que preparam futuras mudanças.

Temos que precisar que não basta colocar os jovens para trabalhar ou fazer atividades. O importante não é o que se faz, nem a quantidade de coisas que se faz, mas como se faz. Para entender esse movimento realizado pelos jovens como uma operação simb ólica de presença e ausência, necessária no processo de constituição subjetiva, é imprescindível que uma pessoa se encarregue de acompanhar o percurso particular de cada jovem. Em nosso projeto, essa função que permite que um jovem possa contar para outro (um adulto) é realizada por pessoas concretas, nas quais os jovens se apóiam.

A teoria psicanalítica, como instrumento que nos permite pensar, influencia profundamente nosso fazer diário, para além das diferen ças de formação dos profissionais; e, sem ficarmos a salvo de mal-entendidos e contradições, a partir da clínica intervimos diretamente em alguns casos, e em outros articulamos uma leitura da situação de cada jovem que o ajude a continuar sua passagem.

A partir de nossa experiência, compreendemos que é importante estarmos abertos à surpresa, ao brincar, ao trabalho, e questionarmos as situações que remetem os jovens a lugares marginais. Quer dizer, não esperar os jovens lá onde eles, inconscientemente, se situam como doentes, tontos, agressivos, inibidos, etc.

Ainda que o movimento tenha sido uma característica de nosso projeto desde o início, o momento em que foram iniciadas as experiências de trabalho no exterior, em 1992, produziu uma virada importante. Alguns jovens começaram a freqüentar pequenas empresas como aprendizes, alternando essa experiência com a freqüência ao Centro.

Investir-se como trabalhador não é fácil para muitos jovens, se levamos em conta que em nosso projeto não há seleção prévia, já que sustentamos que qualquer jovem pode aceder a essas práticas, apesar de não reunir um perfil adequado nem uma demanda precisa de querer trabalhar. Temos que levar em conta que sobre muitos deles pesam como tijolos alguns determinantes que lhes negam essa possibilidade.

Para além da importância que culturalmente se dá ao trabalho, é importante avaliar como cada jovem se posiciona em relação ao trabalho fora do Centro; o que representa esse trabalho para ele e para os seus; se esse trabalho lhe dá um lugar entre seus semelhantes e de que tipo; se produz alguma mudança no lugar que ocupa na estrutura familiar; se gera mudanças em sua participação social, cultural, etc. Quer dizer, nem sempre trabalhar produz o efeito positivo desejado.

Em muitas ocasiões, quando o jovem começa a ganhar um lugar na sociedade como trabalhador, quando tem a sorte de ser contratado, ganhar um salário e fazer planos para o futuro, realiza uma fantasia desejada, distanciando-se do Centro como de um lugar que o alienava. Distanciar- se, recusar o “centro dos tontos” nesse momento é sinal de saúde. Contudo, essa recusa apresenta uma dificuldade, uma vez que o fato de terem ganhado um espaço que antes não tinham não os livra de dificuldades nas quais se encontrem sozinhos. Para essa situação criamos o Serviço de Acompanhamento, que, situado fora do Centro, pode ser usado pelo jovem ou pela família quando o necessitem.

Atualmente, dos 64 jovens com mais de dezesseis anos com os quais trabalhamos, 50 realizaram uma ou várias práticas de trabalho em empresas certificadas, cursos, Programas de Garantia Social, Escolas, Ateliês, etc. No entanto, a grande maioria continua dependendo da família para as questões mais elementares da vida diária, e muitos deles carecem de vida social fora de seu entorno familiar. É por essa razão que nos últimos anos temos articulado projetos relacionados com a moradia e a vida em sociedade, fora do enquadre do Centro.

 

3. “Não sabem o que dizem, não sabem o que fazem”: determinantes no processo de integração social e laboral

Para começar, pontuamos que entre as pessoas com dificuldades que começam a trabalhar, aquelas nas quais já existe um desejo mais ou menos firme de fazê-lo, e que recebem o reconhecimento e estímulo necessário de sua família, são as primeiras a iniciar essa caminhada, sem muitas dificuldades. São jovens geralmente diagnosticados de inteligência limite, que têm certa vida social limitada à família e poucos conhecidos ou amigos, e que, portanto, mantêm uma comunicação mínima com seus semelhantes. Em geral chegam ao Centro Ocupacional desorientados, não reconhecem o alcance de suas dificuldades, e estas se enlaçam a conflitos neuróticos que afetam a própria estrutura familiar e a cada um de seus componentes de um modo particular. Em muitos casos, o Centro possibilitou que realizassem em determinado momento um circuito de experiências laborais e pessoais fora da própria instituição, que abriram uma porta ao processo de separa ção do espaço familiar que estava obstruída e mantinha-os presos a um lugar alienante. Inicialmente, o trabalho lhes dá certa identidade normalizadora muito imaginária, um “fazer como se”, que não produz necessariamente uma mudança nas relações que mantêm com a família. O dinheiro que eles ganham e que lhes permite comprar e possuir coisas, somente mais tarde e depois de algum tempo de diferenças com a família é que vai permitir-lhes fazer as coisas que desejam. Apesar disso, esse processo costuma ser muito influenciado pelo familiar. É importante destacar que tais jovens, ao não encontrarem alternativas reais que produzam um movimento em direção à independ ência, muito facilmente caem em processos neuróticos ou psicóticos graves.

No entanto, nosso interesse neste artigo não tem por foco esse grupo de jovens, mas outro grupo com características diferentes, e que passaremos a comentar. Antes de continuar, não obstante, é importante ressaltar que os agrupamentos de que falamos obedecem unicamente a fins pedagógicos que não correspondem fielmente à realidade, na qual um jovem poderia ocupar um ou outro grupo em determinado momento de seu percurso.

Os jovens nos quais centraremos nossa atenção formam um grupo ainda mais variado que o primeiro. Geralmente, a família ou eles mesmos nos procuram em busca de um centro onde possam estar e quase nunca formularam previamente a possibilidade de trabalhar fora do contexto dos “centros especiais”. Se alguma vez fizeram essa experiência, o saldo quase sempre foi o fracasso ou o trabalho realizado não alcançou um reconhecimento laboral. Em linhas gerais, não formam parte do grupo dos adaptados nas oficinas de um Centro Ocupacional. Como o primeiro grupo, ou são jovens cuja vida social se restringe a um grupo reduzido ou a maioria deles não sai do âmbito familiar, agravando-se a situação porque seus pais não só nunca pensaram que poderiam trabalhar ou ter uma vida social relativamente autônoma, mas acreditavam que os “maus agouros ” os acompanhariam sempre. Sempre serão como crianças, inúteis ou loucos, estigmas que selam para esses jovens as possibilidades de um futuro humano.

Quando conseguem formular um desejo de trabalhar e descobrem um lugar para fazê-lo, após um percurso anterior no qual encontram normalmente alguém em quem se apoiar, alguém que espera algo diferente deles, costumam aparecer dificuldades que muitas vezes podem levar esses jovens a pensar em “jogar a toalha”. Vêem-se, então, confrontados uma e outra vez com posições alienantes que lhes serão recordadas diante da menor dificuldade: serão lembrados de que: sempre falharam; sua saúde delicada lhes impossibilitar á superar o desafio, para que esforçar-se tanto se em casa estão melhor que em qualquer outro lugar; é preciso que se comportem bem, que não percam o controle como da última vez, etc. Por um lado, espera-se que a experiência fracasse, pois a angústia que mobilizaria no meio familiar seria proporcional ao vazio que deixaria em cada um de seus membros se mudasse de lugar e deixasse de desempenhar sua função na família. Por sua vez, o jovem não é inocente nessas jogadas; faz seu jogo inconscientemente para não perder os benefícios que sua doença lhe propicia e o lugar que lhe dá: o amor que recebe em troca de ser quem é. A seguir esboçaremos algumas vinhetas extraídas da clínica para dar conta do que foi dito até agora.

Alberto é um garoto bem apresentado, no qual não se percebe sua dificuldade, salvo quando fala, e não porque não saiba fazê-lo, mas porque vive na dúvida constante sobre o que dizer quando se dirige ao outro. Sua relação com os companheiros, quando não se mantém na complacência especular, transforma-se em uma agressividade que se torna insuportável para ele. Por isso, dirige-se aos professores, dos quais não recebe uma resposta que o satisfaça, ficando apenas confrontado à sua mãe, que lhe dirá, “de a a z”, o que tem que fazer e pensar. A seu pai dirige um ódio proporcional ao da própria mãe. Para poder pensar, Alberto precisa sair desse espaço obscuro entre o pai e a mãe. Contudo, quando algo dessa ordem se esboça no dia em que pede timidamente a sua mãe para utilizar o dinheiro de sua pensão estatal “para poder sair com garotas e tal”, recebe dela a sentença: “te dou o dinheiro, mas a partir de amanhã você sai de casa e se vira sozinho”. O que fazer ante essa contradição do amor?

Jaime vem de uma família muito numerosa, na qual se sobressaiu nos traços de identidade que eram moeda de troca em sua casa: a valentia e a pré-delinqüência. Um passado de dificuldades no corpo desde sua infância: hidrocefalia, ataques epiléticos, problemas de rins, etc. não o impediram de ser o mais malvado dos malvados, sobretudo no ambiente de sua própria família. Entre ser o doente ou o vagabundo, ele fará sempre semblante do segundo. As relações com seus companheiros transitam sempre no terreno da dominação, e com os professores e professoras no da provocação, com uma insinuação de cumplicidade. Tem que demonstrar que domina a situação, não duvidando para isso em ultrapassar qualquer limite. No fundo pensa que todos o fazem, uma vez que em sua casa não encontrou um pai que respeitasse a lei, nem uma referência que ordenasse as coisas. A cumplicidade é a de sua mãe, que se satisfaz ocultando suas pequenas maldades. As garotas são um troféu frente aos demais homens, um objeto do qual vingar-se, porque os sinais de amor são sinais de fraqueza. Em relação ao trabalho sempre dá uma de esperto e quer saber mais que seu próprio chefe ou professor. Esse jovem terá que deixar vários trabalhos, e muito pouco a pouco se tornará capaz de assumir alguma responsabilidade nisso. Costuma negar o que perdeu em cada trabalho e nos faz pagar com sua agressividade sua própria falha. Freqüentemente, esses tempos de perda são acompanhados por adoecimento. Cada trabalho perdido vem acompanhado por parte de sua família com um “vê como você não consegue ”, “está doente”, ou “você é um vagabundo, não tem educação”. Entre as duas posições nas quais se debate: a de doente ou a de vagabundo, ambas alienantes, conseguiu simbolizar, após várias experiências no tempo, algo da perda, e partilhar com humor certos afetos e reconhecimento com homens e mulheres. Na última vez em que passou por uma situação de perda pôde verbalizar que não pode tudo e identificar-se sem muita angústia com suas dificuldades. Apesar disso, não queria continuar no Centro, queria trabalhar logo, e nos deixou sem ter nada no horizonte. Recentemente conseguiu um trabalho indiretamente através de nós. O domínio do outro é a pedra de toque que o resguarda contra os determinantes tão fortes que pesam sobre ele.

Antônio é um garoto cuja imersão no mundo do trabalho vem ocorrendo muito lentamente. O clichê de vadio pesa sobre ele como uma pedra, e nos é transmitido desde o primeiro momento, tanto por sua mãe como por seu antigo professor. Mas é um garoto engraçado e brincalhão. Sua condição de andaluz, emigrante e com síndrome de Down permite-lhe imitar outros idiomas, cantar flamengo e imitar personagens importantes da época, mas no fundo trata-se de uma tela por trás da qual se esconde a pergunta sobre sua identidade. Quem sou eu para o outro? É com seu outro lado, com um gênio forte e descontrolado, que procura se afirmar em uma identidade própria. No início não podia manter uma conversa ção pausada com outro. Diante da menor dificuldade, atuava impulsivamente agredindo objetos ou pessoas. Agora pode dizer algo. Queixa-se de que sua mãe o manipula, de que as pessoas não o levam a sério. Em relação ao trabalho, sempre preferiu ser amparado por algum amigo que trabalhava bem, ao lado do qual fingia que também trabalhava, tanto lhe custava admitir suas dificuldades. Passou por um trabalho de garçom fora do Centro, junto a um irmão que não levou a sério seu trabalho. Recentemente voltou a se apresentar uma oportunidade, mas a negativa da mãe, a desvaloriza ção desse movimento, levou-o a adoecer, o que ao mesmo tempo serviu como desculpa. A posteriori acomodou-se no negativismo. Não queria nem ouvir falar de trabalhar fora, além do mais isso não era bom para sua saúde. As uvas estavam verdes! Não valia a pena! Para essa mãe é preferível ter um filho para cuidar, a única companhia que tem na atualidade, e para ele essa situação também produz bons dividendos. Outro âmbito por onde busca certa identidade é o do namoro. Precisa exercer o domínio sobre sua garota, assegurar-se de que ela estará ali sempre que ele dela necessite, pois equivale a um objeto que o tira da angústia. Quando algo nela se mostra desejante ou algo na situação produz um desequilíbrio nesse domínio, a agressividade de Antônio se dirige para ela ou para o elemento que o produz, na falta de simbolizar a solid ão na qual vive com sua mãe.

Sônia é uma garota esperta, disposta a ajudar no que lhe pedem, habilidosa e capaz de realizar qualquer tarefa. Contudo, não formulou claramente um pedido de trabalho, apesar de todos se perguntarem por que, sendo tão esperta, continua no Centro. Essa percepção por parte dos outros faz com que sejam eles os que demandem por ela e busquem- lhe um trabalho ao qual ela responderá que sim com a palavra e que não com os atos: desaparecerá no momento de ir ao trabalho ou apresentará mil desculpas, recorrendo até mesmo à própria doença. A menor percepção de que está sendo recriminada ou responsabilizada por algo fará brotar nela a representação de uma braveza desproporcional, na qual inclui seus seres mais próximos: ela é uma pobre garota maltratada pelo desejo do outro. Inocente, se continuar assim se verá impelida a realizar qualquer loucura, inclusive tirar a própria vida. Esse folhetim fantasm ático que ela representa tem seus precedentes na própria infância: identificada à representação de um pai, amante encoberto que defenderá sem vacilar até mesmo após sua morte, recriará uma mãe má e odiosa da qual nada quer saber, o que vai comprometer seus traços de identidade sexuada. Para Sônia, perceber que algu ém deseja algo dela, ou torna-se alienante para ela, e faz com que se sinta manipulada, ou desperta nela um eco de seu próprio desejo, e sente um terror inexplicável, diante do qual adoece. Ultimamente, e após vários trabalhos em estágios e cursos, foi contratada para seu primeiro trabalho. O folhetim de seu fantasma voltou a entrar em cena, mas não está no mesmo lugar que no início. Ela quer trabalhar, percebe que sua mãe e seus professores também desejam que siga em frente; contudo, finalmente ela sabe que pode perder esse trabalho e que será ela quem mais perderá. Ela o pressente e isso a faz sofrer. O que perderia estando tão bem amparada pelos outros dos quais sente necessidade? No melhor dos casos, perderia o folhetim de seu fantasma: mas isso ainda está por ser feito. Júlio vem de uma família numerosa e humilde; dessas que sempre estão sob a tutela dos Serviços Sociais. Mora em uma casa construída sobre um subsolo de cadáveres de animais enterrados no passado e levantada em parte com o dinheiro obtido após a morte por acidente de um irmão, que desencadeará a desestabiliza ção psicótica de sua mãe. Para ela, Júlio é de sua propriedade, assim o manifestava quando seu marido era vivo; marido com o qual vivia em conflitos constantes. Nele projetará sua própria loucura.

Júlio sempre foi testemunha e cronista dos mal-estares familiares, pois somente colado ao que os outros fazem ou à detecção das variações no espaço que habita encontra alguma consistência. Em sua casa, nada permanece de acordo com alguma ordem. Ele não tem um lugar investido como próprio: da mesma forma que o colocam em um quarto, mudam-no para outro quando chega outro membro da família. Sua primeira oportunidade de trabalho é em um povoado pequeno, onde seu irmão também começou a trabalhar. A rejeição expressada abertamente por esse irmão faz com que Júlio lance o conteúdo de uma lixeira pelos ares. Ele é essa sujeira que se espalha sem nada que lhe dê consistência. É expulso e demora um bom tempo para encontrar certa estabilidade. Posteriormente trabalhará em uma fazenda onde se reproduzirá certo jogo insuportável para o fazendeiro: prende-o, corta os fios das gaiolas, excede-se em grosserias com ele e com sua família. Uma vez após outra se oferece como louco para o outro, reproduzindo assim o que foi vivido por ele no passado: habitualmente é trancado ou é usado como um objeto de prazer, o que permitiu que nos déssemos conta da importância, para esse jovem, de trabalhar junto com alguém que não respondesse a tais clichês; alguém est ável o suficiente para que seu lado louco não responda à loucura de Júlio. Para além desse panorama, Júlio é um trabalhador incansável em tarefas físicas nas quais ele se sente necess ário e útil, e isso nos incentivou a propor pela terceira vez que o contratassem em uma brigada de jardins, sendo supervisionado por seu professor, mas também não conseguiu manter esse trabalho. Caiu em uma posição catatônica e permaneceu de cama por muito tempo, coberto dos pés à cabeça, urinando-se e quase sem comer. Lá estive ao seu lado sem que me dirigisse a palavra durante bastante tempo, até que um dia, inesperadamente, saiu de seu estado e pudemos continuar o trabalho na institui ção. Em nenhum momento recebeu de sua família o reconhecimento seja pelo seu trabalho, seja pela importante contribuição econômica para sua casa. Tudo se passava em sua família como se nada de novo tivesse ocorrido. Julio continuou sendo o mesmo garoto nervoso que costuma perder a cabeça e que tem que ser levado ao médico para que o mediquem tanto para acalmá-lo como para estimulá-lo.

Quis trazer estes exemplos para tentar transmitir o que está em jogo para cada um desses jovens, por trás de uma aparência mais ou menos simples. Também quis fazê-lo para dar conta de uma experiência que afeta diretamente as pessoas que trabalham com eles. Freud (1920/1996) já afirmava que a insistência do traumático que o ser humano repete uma e outra vez ao longo de sua vida obedece à necessidade de simbolizar a angústia ligada às referidas experiências, para tanto, constrói o que puder: uma novela neurótica, um delírio psicótico, um cenário perverso, etc.

Se dizemos que suas histórias afetam as pessoas que trabalham nos centros é porque elas efetivamente despertam suas próprias angústias. Daí advém a questão da distância que é necessário manter em relação aos deficientes. Mas temos que dizer o seguinte: o que despertam em cada um de nós já estava ali e nos concerne. Ao reconhecermos isso poderemos fazer outra coisa além de resguardar-nos em nossa profissão.

Portanto, se algo mudou no percurso que esses jovens fizeram junto a nós, foi graças ao encontro com alguém que realizou um acompanhamento, alguém que esteve ali em momentos de crises importantes, servindo como interlocutor, animador, professor, etc. Alguém que, na melhor das hipóteses, não respondia com a rejeição ou o abandono, alguém que servia de suporte para que o jovem pudesse dar um sentido qualquer ao sem-sentido com o qual se deparava repetidas vezes. Evidentemente uma pessoa nunca está à altura das circunstâncias, e essa passagem está cheia de contradições e contrariedades às vezes difíceis de suportar para o profissional, que muitas vezes perde seu norte. Apesar disso, temos de acrescentar que não se pode acompanhar na aus ência; e que é importante que aquele que faz esse tipo de trabalho se sinta questionado por essas coisas e possa resolver seus próprios conflitos no lugar adequado, pois, muitas vezes, quando as coisas não são dessa maneira, o que ocorre é uma troca desordenada de afetos contrariados. Chegamos assim a assinalar a import ância de uma ética em relação à tarefa que escolhemos realizar.

As vinhetas apresentadas mostram como para alguns jovens a intervenção vai além do ensino de habilidades sociais e instrumentais. Esses jovens não constroem modelos identificatórios positivos sem voltar a viver junto a outros, de uma maneira real, sua própria história.

Muitas vezes se pensa que pelo fato de serem deficientes não se sentem afetados pelo que os rodeia; então, não se dá nenhum valor à sua palavra, convertendo-os em irresponsáveis por seus atos. Nesse caso, não é reconhecido seu direito de perder, e muitos deles ficam resguardados dessa fantasia. Os fragmentos dessas hist órias testemunham o contrário. Como seres humanos, são diariamente confrontados à perda e ao risco de viver, e como sujeitos têm que se responsabilizar pelo que dizem e pelo que fazem. Admitir isso é dar-lhes um lugar no mundo dos mortais, reconhecê- los como sujeitos e dar-lhes o tempo de elaborar, de equivocar-se, de perder-se e de se recompor, fazendo assim sua história. Acompanhá-los é estar ali sem determinar o que há de movimento espont âneo.

Para finalizar, procurarei sintetizar algumas reflexões, apostando na idéia de que os jovens aos quais nos referimos podem realizar experiências laborais e educativas em ambientes normalizados.

No início, pareceu-nos importante cuidar para que a instituição não reproduza a patologia familiar, abrindo espaços em direção ao exterior onde a questão do porvir e, portanto, do ideal esteja aberta para os jovens que a habitam, o que servirá de base para que cada jovem realize seu próprio percurso, subjetivando-o. (Tosquelles, 1972)

Destacamos que o primeiro lugar em que se trabalha é na fantasia e no brincar, e que é importante que os jovens dos quais falamos possam passar por essas experiências de “como se” em trabalhos e situações “de verdade” antes de empreender um trabalho “sério e adaptado” que talvez não lhes confira um lugar de sujeito. Para que isso seja possível é necessário que o Estado admita o importante valor dessas experiências e possibilite que esses jovens tenham acesso a trabalhos de curta duração em setores públicos e privados diversos, que não onerem a boa disposi ção de alguns empresários, nem sejam confundidos com a mão de obra barata. É preciso ressaltar que a passagem por diversas experiências – ainda que algumas delas sejam vistas como fracassos – constitui momentos da história desses jovens; momentos que eles nunca esquecem e que se incorporam em seu percurso, cirando um espaço de transição pelo teste da realidade. (Winnicott, 1986)

Nesse caminho, é importante dar tempo e lugar aos efeitos que são produzidos no espaço familiar, e cuidar para não cair no engano de acreditar- se melhor que os pais para abordar essa aposta em nome do que é bom para o sujeito, pois na maioria das vezes isso leva a rivalidades imaginárias e à divisão da culpa; situação em que se desconhece o lugar que ocupa cada um nessa história, incluído especialmente o jovem ou a jovem de que se trata.

Reconhecer que não é fácil para o profissional fazer seu trabalho e ter a impressão de ir sempre “contra a corrente” não o exime de reconhecer o limite de sua onipotência e tentar novamente a cada nova oportunidade.

Acrescentaremos que não se trata unicamente de buscar a utilidade do jovem na engrenagem industrial, remetendo à eficácia, mas de que na sociedade atual na qual vivemos encontrem lugares que, com o acompanhamento necessário, permitam-lhes situar-se como sujeitos, o que não é dado automaticamente. (Hernández, 2006).

 

Referências

Cordié, A. (1994). Los retrasados no existen. Argentina: Nueva Visión         [ Links ]

Freud, S. (1996). Más allá del principio del placer. En S. Freud, Obras Completas. Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1920)         [ Links ]

Hernández, R. (2006). Desocupar al sujeto, una función. Analyse Freudienne Presse: los objetos y sus pasiones, 12, 45-51.        [ Links ]

________ (2007). Acto y sujeto. Analyse Freudienne Presse: el sujeto en todos sus estados, 14, 43-48.        [ Links ]

Lacan, J. (1987). Seminario, libro 11: Los cuatro conceptos fundamentales del psicoanálisis, 1964. Barcelona: Paidós        [ Links ]

Mannoni, M. (1986). Bonneuil, seize ans après. Denoël: Paris.        [ Links ]

Tosquelles, F. (1972). El maternaje terapeutico con los deficientes mentales profundos. Barcelona: Hogar del libro.         [ Links ]

Winnicott, D.W. (1986). Realidad y Juego. Barcelona: Gedisa.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: roque.hernandez@hotmail.com

Recebido em julho/ 2007
Aceito em outubro/ 2007

 

 

NOTAS

1 No texto, as palavras em itálico referem-se a conceitos da psicanálise que requerem um desenvolvimento teórico que não abordaremos neste artigo. As aspas indicam enunciados textuais e expressões socialmente utilizadas
* Psicanalista, Diretor do Centro de Orientación Sociolaboral y Clínica “El Molinet” - Alicante, Espanha

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