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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.14 n.26 São Paulo  2009

 

ARTIGO

 

Grupo e fóruns eletrônicos

 

Group and online discussion forums

 

Grupo y forum electrónicos

 

 

Jean-Luc Rinaudo

Docente em Ciências da Educação, Université Rennes 2 (Créad) - França. jean-luc.rinaudo@uhb.fr

 

 


RESUMO

Análise clínica psicanalítica (Anzieu, Kaës, Bion, Winnicott) do funcionamento grupal em ação em três fóruns eletrônicos de discussão no interior de dispositivos de formação universitária na França.

Descritores: educação à distância; fórum de discussão, dinâmica grupal.


ABSTRACT

Clinical psychoanalytical analysis (Anzieu, Kaës, Bion, Winnicott) of the group dynamics in action in three online discussion forums inside of devices of university formation in France.

Index terms: long distance education; discussion forums; group dynamics.


RESUMEN

Análisis clínica psicoanalítica (Anzieu, Kaës, Bion, Winnicott) de la dinámica grupal en acción en tres forum electrónicos de discusión al interior de dispositivos de formación universitaria en Francia.

Palabras clave: educación a distancia; forum de discusión; dinámica de grupos.


 

 

As tecnologias da informação e da comunicação - TIC - não trouxeram, sem dúvida, a revolução que alguns vislumbraram com a chegada dos primeiros computadores nas salas de aula, mas elas provavelmente modificaram os contextos de exercício profissional dos professores e formadores. Com o desenvolvimento da internet e a convergência multimídia que agrupa texto, som, imagem fixa ou animada em um mesmo arquivo, elas ganham, pouco a pouco, um lugar sólido e importante no cenário educativo. Em particular no campo da formação profissional, uma nova ferramenta se desenvolve com freqüência cada vez maior entre os tradicionais estágios e a formação em presença: trata-se dos fóruns eletrônicos.

Desde a interrogação de Lacan sobre a cibernética (Lacan, 1955), até os trabalhos sobre os usos curativos dos jogos de vídeo (Moisy, 2004) ou à psicopatologia cotidiana das práticas ordinárias das TIC, especialmente com a análise da relação de objeto, do objeto do fantasma ao objeto da realidade e ao objeto virtual (Missonnier, 2003 & Missonnier, 2006), passando pelos questionamentos sobre a e-terapia (Roux, 2006), os psicanalistas se interessam pelas tecnologias tanto no que concerne a sua prática como para compreender os pacientes. No campo da educação, eu me dedico, há vários anos, a analisar os processos psíquicos em operação nos sujeitos, professores ou alunos, na sua relação com a informática (Rinaudo, 2002). Meu trabalho se insere na tradição clínica de orientação psicanalítica no campo da educação e da formação. Uma nota de síntese sobre os avanços das pesquisas conduzidas segundo essa tradição, publicada em 2005 na Revue Française de Pédagogie, identifica três campos de trabalho: os que se referem ao infantil, os trabalhos sobre a relação com o saber e, enfim, os trabalhos sobre as instituições, as organizações e os grupos (Blanchard-Laville, Chaussecourte, Hatchuel, Pechberty, 2005). Porque eles interrogam ao mesmo tempo questões relativas à relação com o saber e com o grupo, podemos conceber que os fóruns nos dispositivos de formação possam ser analisados nessa perspectiva.

Neste texto, tentarei mostrar em que os avanços teóricos da psicanálise, e mais particularmente os que se referem aos grupos, são pertinentes para tornar inteligível aquilo que diz respeito aos próprios sujeitos em suas práticas nos fóruns eletrônicos de formação. No entanto, meu trabalho não é uma simples aplicação de teorias psicanalíticas a um material clínico. Trata-se, antes, para mim, nesta abordagem, de interrogar o que ressoa em mim, na leitura das trocas nos fóruns ou na escuta das propostas de entrevistas.

 

Material

Este texto se apóia no conteúdo de três fóruns eletrônicos, estabelecidos pelos formadores nas formações profissionais. Conduzo esse trabalho há quatro anos, no seio do Erté Calico, dirigido por Eric Bruillart.

O primeiro fórum constitui um elemento entre outros de uma plataforma de trabalho colaborativo centrado no estudo de caso de situação profissional problemática na formação dos documentaristas do IUFM1 de Rouen e do IUFM de Caen. Ele reuniu, no curso do ano acadêmico 2003-2004 trinta e quatro estagiários que trocaram 153 mensagens durante quatro semanas.

O segundo fórum é um debate, conduzido em 2004-2005 pelos professores de inglês em formação inicial no IUFM da Bretanha, sobre a interrogação surpresa. Os vinte estagiários trocaram 46 mensagens em duas semanas.

O terceiro fórum foi estabelecido na ocasião de um estágio de quase três meses, no início do ano 2006, pelos estudantes em formação profissional de animadores multimídia na universidade. Durante oito semanas os dezessete estagiários trocaram 83 mensagens sobre suas práticas profissionais e sobre as dificuldades encontradas no estágio.

Para a análise desses três fóruns, disponho de traços de atividade do fórum: o conteúdo das trocas e as relações de conexão. Além do mais, as entrevistas foram conduzidas na época do primeiro fórum, para compreender o experimentado e a percepção que os documentaristas tinham do trabalho colaborativo.

Por comodidade, esses três fóruns serão respectivamente designados pelas denominações: "fórum de documentaristas", "fórum de inglês" e "fórum multimídia".

 

Grupo de trabalho e grupo de base

Indiquei que minha perspectiva de pesquisa é a clínica de orientação psicanalítica. Mas é necessário trazer aqui precisões teóricas mais específicas sobre o funcionamento dos grupos. Bion formulou uma abordagem psicanalítica do funcionamento dos grupos. Esta opera em dois níveis. O da tarefa comum, racional e consciente, chamada também grupo e trabalho, põe em jogo os processos secundários como o raciocínio, a percepção ou o julgamento. Por exemplo, para o fórum de inglês, Sensevy e seus colegas (2005) mostraram quais saberes se construíam sobre esse fórum debate. Nicole Clouet e Dominique Roué mostraram, de sua parte, como o estudo de caso permitia aos professores documentaristas favorecer a construção de uma postura profissional individual e coletiva (Clouet & Roué, 2007). O segundo nível - aquele que nos interessa - funciona ao mesmo tempo. Ele é articulado sobre os processos psíquicos primários e os mecanismos de defesa do eu. Assim, a cooperação consciente dos membros de um grupo requer uma circulação emocional e inconsciente entre eles que vêm paralisar ou estimular o trabalho conjunto (Anzieu, 1999). Bion reagrupa sob o nome de pressupostos de base, três estados afetivos aos quais um grupo se submete inconscientemente em sua mentalidade de grupo: a dependência, o combate fuga e o acasalamento

Apresenta-se com freqüência a dependência como a relação operando à revelia dos membros do grupo com um líder, o monitor no grupo terapêutico, o professor na classe etc. Não creio que ela opere nos fóruns que analisamos aqui. Por um lado, porque os formadores estão ausentes, ou quase, dos fóruns analisados. Por outro, porque nos grupos estudados, tendo uma existência prévia ao fórum, as questões de submissão e de liderança no grupo estão já em curso. Enfim, no material recolhido, em fóruns e entrevistas com os participantes, nada permite afirmar que os fóruns transformam profundamente essas relações intersubjetivas. No entanto, com a dependência, é a adesão ao grupo que se torna um fim em si mesma (Schmid-Kitsis,1999), e o pertencimento ao grupo mobiliza seus membros. Nesse ponto, os fóruns podem servir de revelador ou amplificar essa relação fantasmática, formando o que Anzieu designa como uma pele grupal (Anzieu,1999).

 

O fórum como pele grupal

O estudo dos dados mostra, nas três situações estudadas, que o fórum é um elemento da constituição e de reforço da pertença ao grupo. Ele permite, de todo modo, definir "os que são do grupo". Ele materializa um interior e um exterior ao grupo. Por exemplo, no fórum de inglês, as expressões na língua de Shakespeare não são poucas, nos títulos das mensagens ("unexpected tests...good or bad effects?") ou em seus fechamentos ("See you later" ou "Am I mistaken", como exemplos). Podem-se ler aqui as marcas, se não de uma identidade profissional afirmada, ao menos de um reconhecimento mútuo, signos de reconhecimento que servem de afirmação como membro do grupo. Sobre o fórum de multimídia, ainda são saudações declinadas sob múltiplas formas, graças ao jogo tipográfico dos caracteres, tamanhos, cores, mas, sobretudo, o fim das mensagens, um nome ou sobrenome, um adeus semelhante a um oi e uma pequena frase ritual, retomada e declinada sob forma de jogo ("até + no ônibus") que visam à coesão do grupo e permitem aos estagiários preservar a continuidade do grupo num momento em que ele é estilhaçado psiquicamente.

Em contrapartida, o fórum dos documentaristas apresenta a particularidade de reunir dois grupos reais distintos. O estudo dos traços mostra a pouca interação entre os dois grupos e as entrevistas testemunham essa dificuldade. As entrevistas confirmam esses dados. Assim, a partir do enunciado da consigna que a convida a evocar como ela viveu o dispositivo de formação utilizando uma plataforma de trabalho colaborativo, uma jovem documentarista começa a entrevista precisando o seu interesse na colaboração com os colegas de um outro IUFM. Como ela pontua esse tema desde o início da entrevista, podemos levantar a hipótese de que a colaboração inter-IUFM é um problema, e deve ser questionada. Depois, bem rapidamente, ela evoca um rumor que concerne justamente a esses outros colegas: eles teriam sido favorecidos por uma apresentação mais ativa do funcionamento da plataforma de trabalho e teriam recebido um guia de instruções, mas, sobretudo, teriam sido beneficiados pelo tempo particularmente consagrado ao trabalho do fórum, durante suas jornadas de reagrupamento no IUFM: "A gente ouviu dizer" - ela precisa. Esse rumor se constrói sobre um sentimento de concorrência que gera ciúme e inveja. Na seqüência da entrevista, essa jovem designa esses colegas de um outro IUFM pela expressão "o pessoal de Caen", utilizando quase exclusivamente essa denominação, alternando, às vezes, com esta outra: "aqueles de Caen". Os termos mostram que o grupo é vivido como uma coisa sem forma, no qual os sujeitos são indiferenciados. A concorrência cede lugar a um sentimento de inquietante estranheza, os semelhantes e, contudo, diferentes tornando-se então uma massa sem forma e ameaçadora. O que só pode derivar de estratégias inconscientes de ataque/fuga, no interior do grupo, articuladas às vivências psíquicas que ameaçam destruir o grupo e, com ele, as próprias pessoas, materializadas pela crítica "o pessoal de Caen" e pela ausência de resposta às suas mensagens. O grupo alimenta aqui os fantasmas de quebra; ele corre o risco de destruir o sujeito, o que, num período de adolescência profissional (Bossard, 2001), não é sem conseqüências no processo de construção de uma identidade profissional.

Didier Anzieu (1999) propôs que se considere a delimitação entre um dentro e um fora do grupo como um dos princípios do funcionamento psíquico do aparelho grupal. Essa pele grupal pode ser vivida sob o modo de ilusão grupal, em ação quando as vivências que predominam no grupo são da ordem de: "estamos bem juntos". A adesão ao grupo, numa espécie de colagem, torna-se um fim em si mesma.

Assim, sobre o fórum multimídia, é principalmente o corpo de mensagens, testemunha de um verdadeiro rechaço das dificuldades e transformações vividas individualmente durante o estágio, que pode ser considerado nos termos "nós formamos um bom grupo". Essa parte das mensagens é, com maior frequência, escrita em primeira pessoa. Observa-se nos textos uma importante propensão a exprimir uma continuidade, uma espécie de permanência, de imutabilidade, ao longo das semanas: a rotina2 é evocada por alguns, enquanto outros constatam uma ausência de mudança ou de "nada de muito diferente". Quanto aos problemas e dificuldades evocadas, eles concernem quase sempre o público encontrado nos estágios, mas raramente o próprio estagiário. Eu proponho que se considere essa afirmação de permanência e essa recusa dos problemas como uma resposta inconsciente às transformações que inevitavelmente operam, fruto do angustiante confronto entre o ideal e a realidade profissional, ao longo do estágio. Dizer que nada muda, é, pois, de determinada maneira, gerir essa angústia e afirmar "eu não mudo". Daí o fórum pode fazer as vezes de contra-excitante para os estagiários, permitindo-lhes reafirmar o pertencimento a um grupo bom e imutável.

 

O envelope psíquico grupal do fórum em formação

Claudine Blanchard-Laville (2001) mostrou como um professor constrói o espaço psíquico da classe, a partir da conjugação de desejos conjugados conscientes de uma autonomia dos aprendizes e inconscientes da necessidade de um aluno que, na impossibilidade de assemelhar-se ao mestre, pudesse, ao menos, sustentar o próprio narcisismo. Esse envelope psíquico se elabora através dos discursos dos professores, mas também na dimensão não verbal da inter-relação com os alunos. Ora, uma das particularidades dos fóruns analisados é que os formadores estão praticamente ausentes, pelo menos no que diz respeito às mensagens postadas e à participação nos debates. Essa presença ausência dos formadores pode ser vivida segundo modalidades diferentes.

Nos grupos em que predominam vivências persecutórias e angustiantes, a postura dos formadores presentes - mas de fato ausentes - vem reforçar o sentimento de mal-estar. Tanto mais porque aqui os fóruns em linha apelam aos mitos das tecnológias informáticas, ativando os fantasmas de submissão a uma autoridade todo poderosa e devoradora que age na sombra. Os participantes do fórum estão sob o controle dos formadores, sem que jamais possam vê-los, ouvi-los, nem lê-los, e se ressentem fortemente dessa empreitada. Testemunho disso são as estratégias de leitura com toda pressa no último dia do fórum, bem como os comentários sobre o fato de que os formadores podem talvez vigiar as atividades dos participantes nos fóruns. A toda potência do formador ausente-presente alimenta nos estagiários uma angústia arcaica de fechamento no ventre materno, cuja freqüência nos grupos já foi lembrada por René Kaës (2004).

No outro extremo, nos grupos em que o sentimento de pertença a um bom grupo é predominante, a ausência do formador pode favorecer a emergência de um sentimento de que o grupo pode existir por si mesmo, sem instituição nem formador para bancá-lo. Esse fantasma de partenogênese pode se apresentar como uma negação da formação. O grupo se faz sozinho, não há necessidade de formador e ainda menos de um tempo de formação, pois a formação não é mais um processo, mas um em si, já lá. É a passagem, aqui, de uma postura de estudante a um lugar profissional, que é negada, no que ela tem de inquietante e de perigoso. A colagem ao grupo dificulta, sem dúvida, a instauração de uma distância suficiente para que um saber se elabore.

Entre estas duas posturas extremas, há lugar para múltiplas configurações "não tóxicas", não patogênicas para os aprendizes, quer dizer, que não os encerre na toda potência totalitária do formador nem na ilusão de um grupo auto-suficiente.

 

Pensar em grupo

As temáticas de cada um dos três fóruns são questões incertas e amplas que não exigem resposta unívoca, nem boa solução, nem exercício modelo. Elas reenviam, indubitavelmente, os futuros profissionais do relacional e da formação à impossibilidade de seu ofício (Freud, 1923), pois elas são da ordem do indecidível. Ora, Kaës lembra que a investigação intelectual se funda sobre a incerteza, e que o indecidível deve ser mantido nos grupos com vistas à emergência de um pensamento verdadeiro (Kaës, 2005). Essa incerteza, que vai ao encontro do que geralmente se considera saber racional e científico, para ser vivido como serenidade exige uma tolerância à perda de referências e aos conflitos. Os jogos entre os participantes do fórum integram esse movimento psíquico. Assim, sobre o fórum de inglês, assiste-se a uma troca epistolar que vai crescendo, entre dois participantes, sob o olhar do conjunto do grupo, via fórum. Tendo opiniões opostas, Mireille e Elodie trocam durante dois dias mensagens da forma seguinte: ao "Cara Mireille" responde um "Caríssima Elodie", mais tarde seguido de um "O que diz você querida Mimi (eu posso te chamar de Mimi?)", ao qual responde um "Queridíssima Elod - você me permite chamá-la de Elod?". Sob a forma desse jogo, assiste-se a uma troca de argumentos sobre o bem-estar dos alunos e a vida da classe de interrogações escritas surpreendidas. O jogo se embala: "pequena dotada" diz uma; "geek", responde a outra, depois cai, com desculpas mútuas, após um aviso de recobrar a net-etiqueta da formadora.

As mensagens indicam, parece-me, uma dificuldade profissional ou, ao menos, o testemunho de uma incerteza, de uma dúvida que se instala com o debate sobre as questões de ordem profissional que os participantes do fórum não tinham se colocado e que não exigem respostas definitivas. O jogo que se instala entre os participantes, tanto autores quanto leitores de mensagens, torna possível a elaboração dessa dúvida, autorizando a passagem de um pensamento articulado a um modo de troca conhecido - a correspondência por carta. O jogo opera como um objeto transicional, num processo de transformação da angústia em pensamento, na condição de que os participantes possam sair do jogo, tomar distância dele. Caso contrário, vão se fechar numa relação fantasmática de acasalamento na qual o prazer do jogo com o outro torna-se superior ao prazer de pensar e na qual será a relação primária ao outro que primará sobre a relação de objeto secundária em direção ao saber.

Bion prossegue sua análise do trabalho nos grupos e insiste na luta que deve conduzir o grupo de trabalho "contra a invasão constante das moções pulsionais que o colocam em perigo" (Schmid-Kitsimis, 1999). Naqueles nos quais predomina a dependência, é o ódio da aprendizagem pela experiência que domina, sendo o saber um em si-mesmo, total, adquirido sem aprendizagem, sem processo. Como na imagem da mãe que acolhe e metaboliza as projeções negativas da criança, o formador deve mostrar-se sensível a esses fenômenos psíquicos em ação nos grupos, nos fóruns. Em particular, compete-lhe estar atento aos enquistamentos nas auto-satisfações do grupo, onde o que predomina é estar no grupo, nas situações de fuga, de evitação da tarefa, ou ainda de acasalamento. Ele não deve ser nem terrivelmente potente, como o professor do "A lição" de Ionesco, nem totalmente ausente, mas se situar em um entre-dois, num bom lugar, ser - diria Winnicott - um "formador suficientemente bom", confrontado à sua capacidade de estar só em presença de outro.

 

Para concluir

Espero ter mostrado aqui como a abordagem clínica de orientação psicanalítica pode, ao lado de outras abordagens - sociológica, didática, ergonômica... -, propor chaves para analisar aquilo que para os sujeitos implicados nos fóruns de discussão se põe em jogo no seio de seu dispositivo de formação. Parece-me, com efeito, que há todo um interesse em identificar, desvelar, compreender os processos grupais em ação nos fóruns, visto que eles podem entravar ou favorecer a construção de um saber. Em outros termos, seria, sem dúvida, uma pena para a compreensão dessas práticas de formação mediadas pelos fóruns eletrônicos não contar com a análise dos processos grupais inconscientes.

No entanto, é necessário lembrar aqui os limites de nosso trabalho. Este trabalho clínico não tem por pretensão explicar o que se passa em todas as comunicações na rede ou em todos os tipos de fóruns. Os três fóruns estudados se desdobraram com pessoas diferentes, em instituições diferentes e em momentos também diferentes, mas apresentam, todavia, certo número de traços comuns.

No início, esses fóruns congregaram grupos restritos e fechados, nos quais a vida social preexiste aos fóruns estudados. Eles se desdobram no quadro de uma formação profissional e são os fóruns para os quais a participação poderia ser qualificada de pressionada, uma vez que são propostos pelos formadores, mas não pela iniciativa dos aprendizes. Ademais, os participantes estavam todos habituados à utilização de uma plataforma digital de formação, sendo os fóruns, aliás, um dos elementos dessa plataforma. É preciso notar, do mesmo modo, que os objetos sobre os quais figuram os debates não aceitam solução unívoca e são muito mais da ordem de situações indecidíveis: em cada um dos três fóruns, a tarefa advém de uma questão incerta. Ela é retomada, ao fim das trocas no fórum, de foram presencial, nos centros de formação. Enfim, para cada um dos fóruns, os formadores praticamente não intervêm nas discussões, a não ser para relembrar a consigna.

Esses pontos de semelhança entre os três fóruns marcam bem o limite da proposta. Mas postulo que as configurações psíquicas grupais particulares desses três grupos podem ser reencontradas, de modo mais ou menos marcado, em outros grupos da mesma natureza.

 

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NOTAS

1 N. do T. IUFM: Instituto Universitário de Formação de Professores.

2 N.do T. No original: "le  train train quotidien".

 

 

Recebido em agosto/2008.
Aceito em novembro/2008.

 

 

Tradução: Rinaldo Voltolini e Leandro de Lajonquière

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