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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. v.10 n.2 São Paulo dez. 2008

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Satisfação com a imagem corporal e autoconceito em adolescentes

 

Body image satisfaction and self-concept in teenagers

 

Satisfacción con la imagen corporal y autoconcepto en adolescentes

 

 

Denise da Fonseca Martins; Maiana Farias Oliveira Nunes; Ana Paula Porto Noronha

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo teve como objetivo verificar a relação entre satisfação com a imagem corporal e autoconceito de adolescentes, com o propósito de investigar a diferença de médias pelo tipo de escola, idade e gênero. A imagem corporal pode ser entendida como o desenho do corpo formado mentalmente, por meio de imagens e representações, e o autoconceito é o conhecimento que o sujeito desenvolve sobre si mesmo. Ambos os construtos são importantes para a análise do bem-estar psicológico na adolescência. Participaram da pesquisa 50 jovens com idade entre 14 e 17 anos, estudantes do Ensino Médio de escolas públicas e particulares. Utilizaram-se a escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ) e a escala para Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal. As correlações entre os fatores dos testes foram, em sua maioria, significativas e positivas. Houve diferenças significativas de média em razão do gênero e do tipo de escola dos alunos, o que não ocorreu com relação à idade dos participantes.

Palavras-chave: Imagem corporal, Satisfação com a aparência, Autoconceito, Adolescentes, Auto-estima.


ABSTRACT

This study aimed at verifying the association between body image satisfaction and self-concept in teenagers, analyzing the means difference regarding school type, age and gender. Body image can be comprehended as the mental draw of the body, through images and representations, and self-concept is the knowledge that the individual develops about himself. Both constructs are important for analyzing psychological well being at teenaging. Fifty teenagers, students in high school of public and private schools, with age between 14 and 17 years old, took part on the research. It was used the “Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil” (EAC-IJ) and the “Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal”. Correlations between the test factors were, most of them, significant and positive. There were significant mean differences regarding gender and type of the student’ school, however it did not happen regarding to their age.

Keywords: Body image, Appearance satisfaction, Self-concept, Teenagers, Self-esteem.


RESUMEN

Ese estudio tuvo como objetivo verificar la relación entre satisfacción con la imagen corporal y autoconcepto de adolescentes, investigando la diferencia de medias por el tipo de escuela, edad y género. La imagen corporal puede ser entendida como el diseño del cuerpo formado mentalmente, por medio de imágenes y representaciones y el autoconcepto es el conocimiento que el sujeto desarrolla sobre si mismo. Los dos constructos son importantes para el análisis del bien-estar psicológico en la adolescencia. Participaron de la investigación 50 jóvenes con edad entre 14 y 17 años, estudiantes de la enseñanza media de escuelas públicas y particulares. Se utilizó la escala de Autoconcepto Infanto-Juvenil (EAC-IJ) y la escala para Evaluación de la Satisfacción con la Imagen Corporal. Las correlaciones entre los factores de los tests fueron en su mayoría significativas y positivas. Hubo diferencias significativas de media en función del género y del tipo de escuela de los alumnos, sin embargo lo mismo no ocurrió en función de sus edades.

Palabras clave: Imagen corporal, Satisfacción con la apariencia, Autoconcepto, Adolescentes; Auto-estima.


 

 

Introdução

Atualmente, a sociedade tem sido caracterizada por uma cultura que elege o corpo como uma fonte de identidade. Por meio da mídia, que veicula propagandas com imagens de corpos ideais, atingindo principalmente os adolescentes, começa a existir uma busca por uma figura “perfeita”, o que leva as pessoas a se afastarem cada vez mais do seu corpo real. Sob essa perspectiva, o jovem passa a acreditar que, para ser aceito pelos outros, é preciso que a sua imagem corporal esteja de acordo com os padrões estabelecidos, o que tende a gerar uma insatisfação com o corpo, além de acarretar alterações na percepção da imagem corporal (ANDRADE; BOSI, 2003; CONTI; FRUTUOSO; GAMBARDELLA, 2005). Dessa forma, torna-se presente a preocupação com o peso e a aparência. É provável que na adolescência ainda não exista a completa aceitação da aparência física, o que, de acordo com Sisto e Martinelli (2004), pode resultar em baixa auto-estima e comprometimento do autoconceito.

Um dos aspectos psicológicos associados aos problemas de aceitação do corpo é a imagem corporal. Segundo Schilder (1994), imagem corporal é a representação mental do próprio corpo e do modo como ele é percebido pelo indivíduo, de modo que a imagem envolve os sentidos, as idéias e sentimentos referentes ao corpo. Tavares (2003) afirma que o corpo possui memória e também uma identidade, chamada de imagem corporal. Desse modo, pondera-se que a imagem corporal é um aspecto muito importante da identidade pessoal, uma vez que as questões relacionadas à imagem corporal real e ideal do adolescente contribuem para a investigação sobre a visão que este possui de si mesmo.

Ainda de acordo com Tavares (2003), o sentido dessa identidade é estabelecido a partir da integração de experiências perceptivas que englobam condições ambientais, aspectos culturais e relações afetivas. Ao lado disso, reflete a maneira como o indivíduo se relaciona com o mundo, pois é a partir da relação estabelecida com o ambiente que ele irá se conhecer melhor e desenvolver a identidade pessoal. A imagem corporal, por sua vez, abrange todos os aspectos pelos quais a pessoa vivencia e conceitua seu corpo. Essa imagem deve ser compreendida como um fator único de cada ser humano, pois reflete a história de uma vida e a trajetória de uma identidade, com suas emoções, pensamentos e representações sobre as outras pessoas. Não existe imagem corporal coletiva. Entretanto, os seres humanos estruturam a sua imagem corporal em um intercâmbio contínuo com as outras pessoas.

Em síntese, a imagem corporal é um conceito multidimensional que compreende os processos fisiológicos, cognitivos, psicológicos, emocionais e sociais em constante troca mútua. Esses processos podem ser influenciados pelo sexo, pela idade, pelos meios de comunicação e pela relação existente entre os processos cognitivos e o corpo, tais como crenças, valores e comportamentos pertencentes à cultura. Não obstante, a expressão “imagem corporal” engloba um desenho criado pela mente no qual se evidenciam o tamanho, o conceito e a forma do corpo, todos eles subsidiados pelos sentimentos (DAMASCENO et al., 2005; ALMEIDA et al., 2005; FERREIRA; LEITE, 2002).

A seguir, serão apresentados alguns estudos que investigam a relação da imagem corporal com distúrbios alimentares. Trabalhos dessa natureza são pertinentes porque, como apontam Sisto e Martinelli (2004), atualmente as pressões socioculturais estabelecem padrões corporais magros. Assim, adolescentes buscam a aparência física perfeita, trocando seus hábitos de alimentação por técnicas não-saudáveis de controle de peso, o que pode acarretar os transtornos alimentares.

Assunção (2002) concluiu, com base em seu estudo, que, para os homens, o corpo perfeito seria aquele que é forte e musculoso, representando o ideal de imagem corporal masculina. Branco, Hilário e Cintra (2006) acrescentam que o corpo musculoso tem sido desejado cada vez mais, embora existam homens que visem a um corpo esguio, caracterizando-se, mais tarde, um quadro de dismorfia muscular ou anorexia nervosa. Com vistas a compreender se alterações da imagem corporal masculina estão ligadas ao uso de anabolizantes, Kanayama et al. (2006) observaram que os homens avaliados utilizavam esses produtos não para fins atléticos, mas simplesmente para melhorar a aparência pessoal. Em síntese, os autores afirmam que o uso de anabolizantes em longo prazo pode levar a um quadro de dismorfia muscular, assim como à alteração na imagem corporal e na auto-estima.

Em seu estudo, Andrade e Bosi (2003) defendem que, para o sexo feminino, o ideal de corpo seria esguio, como o de modelos e atrizes, que estão cada vez mais magras. A mídia transmite uma imagem de corpo perfeito, o que leva as mulheres, principalmente as adolescentes, a uma busca incessante para atingir esse modelo ideal. Ao pesquisar a influência da mídia sobre o desenvolvimento de distúrbios alimentares em meninas, Field et al. (1999) concluíram que as jovens passam a ter sentimentos negativos em relação a seu corpo por conta de alguns quilos a mais e que aprendem técnicas não-saudáveis de controle de peso, tais como indução de vômitos, exercícios físicos exacerbados, uso de laxantes e dietas drásticas, para se aproximarem da aparência corporal vista na televisão, no cinema ou em revistas. De acordo com Bernardi, Cichelero e Vitolo (2005), o controle da ingestão de alimentos por meio de dietas restritivas gera comportamentos crônicos, levando a atitudes provavelmente desencadeadoras de transtornos alimentares. Além desses fatores, uma baixa auto-estima e um histórico de excesso de peso também podem acarretar distúrbios alimentares.

Taylor et al. (2006) avaliaram mulheres que participavam de um grupo de psicoterapia cognitivo-comportamental com o intuito de verificar se era possível prevenir distúrbios alimentares. As mulheres avaliadas relataram que se enxergam gordas e que acabam induzindo vômitos ou usando laxante para controlar o peso e emagrecer. Essas atitudes e comportamentos, de acordo com os autores, estão associados com baixa confiança e baixa auto-estima, vergonha e outros problemas psicológicos, podendo resultar em graves conseqüências físicas e psicológicas.

Faz-se necessário salientar que o presente estudo tem como objetivo avaliar a imagem corporal em adolescentes sem histórico de transtornos alimentares. Sob essa perspectiva, Conti Frutuoso e Gambardella (2005) pesquisaram a associação entre excesso de peso e insatisfação corporal em adolescentes. Verificou-se que meninas com excesso de peso estavam mais insatisfeitas com diversas áreas corporais. Em relação aos meninos, pôde-se verificar uma associação estatisticamente significativa entre excesso de peso e insatisfação corporal. Por meio dos resultados, os autores puderam concluir que a pressão da mídia e a influência social provavelmente são os grandes fatores motivadores da insatisfação corporal dos adolescentes.

Em sua pesquisa, Rosenblum e Lewis (1999) verificaram que meninos e meninas estavam insatisfeitos com seu peso corporal. Os resultados indicaram que jovens com sobrepeso e obesidade almejam emagrecer, pois concebem o excesso de peso como elemento que desfavorece a atração do sexo oposto. Já os adolescentes com baixo peso querem aumentar o tamanho corporal, principalmente os meninos, que buscam aumentar a massa muscular para terem maior satisfação com a sua imagem corporal. As meninas almejam ser mais magras, pois, de acordo com os autores, para as mulheres, a satisfação com a imagem corporal está relacionada com a percepção do peso corporal e com a aparência.

O outro construto investigado nesse estudo é o autoconceito, e, como sugerido por Sisto e Martinelli (2004), ele pode ser compreendido como o conhecimento que o próprio sujeito desenvolve sobre si, o que inclui o conhecimento de aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais, também sendo definido como um fator gerado por meio da interação que ocorre entre o indivíduo e seu meio ambiente. O autoconceito é um conceito multidimensional que pode ser dividido em três componentes básicos: o cognitivo, o afetivo e o comportamental. O componente cognitivo pode ser compreendido como um conjunto de características denominadas pela própria pessoa que rege a maneira como esta se comporta e seu jeito de ser, podendo ou não ser real ou objetivo. O aspecto afetivo engloba os sentimentos e as emoções que a pessoa tem em relação a si mesma, sendo definido, por Coopersmith (1967 apud SISTO; MARTINELLI, 2004), como auto-estima. Por fim, o aspecto comportamental diz respeito ao conceito que a pessoa possui sobre si mesma.

Para Sisto e Martinelli (2004), o autoconceito de crianças e adolescentes pode ser formado por diferentes aspectos, tais como a influência da família, a escola, o meio social, a idade, a raça, o gênero e os aspectos físicos. Pressupõe-se que, no ambiente familiar, é que ocorre o estabelecimento de vínculos que podem ser harmoniosos, afetivos e solidários ou cobertos de sentimentos maldosos e de ressentimentos. Quando a família constitui vínculos saudáveis, com uma educação que estabelece limites claros e disciplina firme, mas sem negar afeto, o desenvolvimento do autoconceito familiar do adolescente poderá ser positivo. Já o autoconceito escolar está relacionado com as capacidades, realizações e avaliações que o adolescente tem de si mesmo nesse contexto. Dessa forma, se a criança vivenciou momentos de fracasso em suas relações familiares, poderá levar essa experiência para a escola, o que lhe causará sentimentos de insegurança e falta de confiança na adolescência.

Para James (1890) e Cooley (1922) (apud SISTO; MARTINELLI, 2004), o autoconceito social refere-se à percepção do próprio sujeito do quanto as pessoas gostam dele e o admiram, ou seja, o autoconceito social é definido pela pessoa por meio de sua própria percepção acerca da aceitação social. O autoconceito social também diz respeito à avaliação da aceitação do indivíduo por grupos específicos de pessoas. Assim, pode-se concluir que o construto é influenciado pelas relações sociais que se estabelecem entre o indivíduo e o meio no decorrer de sua vida.

A idéia de que o autoconceito ocupa um papel importante em todas as áreas da vida do indivíduo é defendida por Simões e Meneses (2007). Atualmente, há uma preocupação e um interesse pelo autoconceito de crianças e adolescentes obesos, uma vez que existe a chance de apresentarem sintomas depressivos, assim como um baixo autoconceito e uma baixa auto-estima, fatores que alteram sua convivência social. Sob essa perspectiva, essas autoras tiveram como objetivo estudar o autoconceito de crianças com e sem obesidade. Faz-se necessário salientar que as reações e atitudes da sociedade sobre a obesidade tendem a refletir no comportamento das pessoas obesas, o que as leva a ter condutas negativas em relação a si, além de apresentar um autoconceito comprometido.

Essas autoras comprovaram que as crianças obesas apresentam dificuldades para se sentirem semelhantes às crianças não-obesas, uma vez que o excesso de peso sentido pela criança obesa gera um incômodo na maior parte de suas atividades cotidianas, contribuindo para que esta se sinta menos competente, principalmente no que se refere às atividades físicas. Além disso, a criança obesa tende a se sentir menos satisfeita com a sua aparência física, pois interioriza, desde a primeira infância, que o excesso de peso é indesejável, de tal modo que seu corpo passa a ser uma fonte de embaraço e vergonha. Os resultados obtidos podem estar relacionados com sentimentos de insatisfação e depreciação, causados pelas imposições de uma sociedade que cultiva um ideal de magreza, o que acaba por estigmatizar a criança, fazendo-a acreditar que é diferente e inferior às outras pessoas.

Ao pesquisarem o autoconceito e a imagem corporal em crianças obesas, Carvalho et al. (2005) reafirmaram que a grande preocupação com o corpo e o incômodo com a imagem corporal podem acarretar no sujeito obeso pensamentos e sentimentos negativos em relação à aparência física, bem como contribuir para uma baixa auto-estima e um autoconceito negativo, tal como já explicitado anteriormente. Considerando o momento atual, em que o corpo magro e esbelto é valorizado, esse indivíduo com obesidade passa a vivenciar sentimentos de raiva, angústia e culpa em relação a seu próprio corpo. Sob essa perspectiva, é possível verificar sinais de sofrimento psicológico, expressos por meio de alterações emocionais e comportamentais, além de um baixo autoconceito.

Valentini (1999) interessou-se por investigar a satisfação com a imagem corporal e sua correlação com o autoconceito. Os resultados da pesquisa não comprovaram haver diferenças significativas na percepção da imagem corporal nos adolescentes de diferentes sexos. Entretanto, os achados indicaram que, apesar de as meninas possuírem menos peso do que os meninos, elas querem ser ainda mais magras, mesmo estando com um peso adequado. O sexo masculino possui maior segurança em relação ao corpo, mas com o desejo de não percebê-lo gordo. Os homens não buscam uma aparência perfeita, mas gostariam de ter um corpo maior e mais forte. Em relação ao autoconceito, constatou-se que o sexo masculino e o sexo feminino diferem em alguns aspectos, porém esses aspectos não estão ligados à satisfação com a imagem corporal. Os escores totais do autoconceito não obtiveram correlação significativa com a satisfação relacionada à imagem corporal, tampouco diferiram entre os sexos. No entanto, observou-se que o sexo masculino possui autoconceito mais baixo do que o sexo feminino.

Considerando a importância da investigação do autoconceito dos indivíduos e da sua satisfação com a imagem corporal para intervenções mais apropriadas dos psicólogos e das equipes de saúde, o presente estudo teve como objetivo avaliar a satisfação de adolescentes com a sua imagem corporal e a relação desta com o autoconceito desses indivíduos, correlacionando esses construtos e verificando a possível existência de diferenças de média em função de variáveis como gênero, idade e tipo de escola.

 

Método

Participantes

Este estudo avaliou 50 adolescentes (74% do sexo feminino e 26% do sexo masculino) que possuíam entre 14 e 17 anos, com média de 15,56 e desvio padrão de 0,86. Avaliaramse alunos de duas escolas: uma particular, que contou com a participação de 40% de seus alunos, e outra pública, que contou com 60% dos discentes. Ambas localizam-se em duas cidades do interior de São Paulo. Quanto às séries escolares, 50% dos estudantes encontravam-se na 1a série do Ensino Médio, 22% na 2a série e 28% na 3a série.

Instrumentos

O instrumento utilizado para avaliar o autoconceito nos adolescentes foi a Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ), de Sisto e Martinelli (2004). A EAC-IJ foi utilizada para avaliar os diferentes níveis de autoconceito da criança e do adolescente pertencentes à faixa etária de 8 a 16 anos, em quatro contextos: social, escolar, familiar e pessoal. Partiuse do pressuposto de que o autoconceito é um construto multidimensional, no sentido de que há vários elementos importantes que o compõem.

A EAC-IJ teve sua validade atestada por meio da análise fatorial, tendo sido composta, ao final, por 20 itens, que foram distribuídos entre quatro contextos (familiar, social, escolar e pessoal), obtendo 41,09% de variância explicada. Os coeficientes de consistência interna de Cronbach variaram entre 0,59 e 0,62, e para o escore total, a precisão foi de 0,78. Para cada item da escala, o sujeito tem três alternativas: responder como ele se comporta, o que sente ou o que pensa. As opções de respostas variam em “sempre”, “às vezes” ou “nunca”.

Para avaliar a imagem corporal, foi utilizada a Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal, de Ferreira e Leite (2002). O instrumento serve para avaliar a dimensão subjetiva da imagem corporal, ou seja, o grau de satisfação do indivíduo com essa imagem.

A escala foi baseada nos seguintes instrumentos: o Questionário Multidimensional de Relações Eu-Corpo (Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire – MBSRQ), de Cash (1994), e a Escala de Estima Corporal (Body-Esteem Scale – BES), de Mendelson, White e Mendelson (1997-1998). Após a tradução destes, a Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal foi adaptada e validada para amostras brasileiras com base em dois estudos distintos. O primeiro teve como amostra mulheres universitárias, e o objetivo era analisar as características psicométricas da adaptação brasileira do instrumento em questão, verificando a validade fatorial e a consistência interna da escala. As análises fatoriais exploratórias mostraram uma solução de dois fatores: satisfação com a aparência e preocupação com o peso, as quais tiveram índices de consistência interna respectivamente de 0,90 e 0,79.

O segundo estudo atestou a validade concorrente da forma final da escala, por meio da comparação dos resultados obtidos por mulheres obesas e não-obesas, atendo-se a três diferentes critérios de classificação da obesidade. O primeiro critério fundamentou-se no índice de massa corporal (IMC), o segundo utilizou a taxa de medida em centímetros, da relação circunferência cintura-quadril (RCQ), e o terceiro usou apenas a medida de circunferência da cintura (CC), e todos os critérios tiveram pontos de corte definidos de acordo com literatura da área.

O instrumento de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal é composto de 25 itens distribuídos em dois fatores: satisfação com a aparência e preocupação com o peso. O primeiro fator apresentou média de 66,2 e desvio padrão de 12,0. Já o segundo possui média de 24,6 e desvio padrão de 7,0. As duas subescalas são corrigidas de acordo com a satisfação com a aparência. Dessa forma, quanto maior for o resultado, mais positiva será a satisfação com a própria imagem corporal.

A faixa etária da amostra do estudo variou entre 18 e 37 anos, e o instrumento pôde ser aplicado individual ou coletivamente. O sujeito indica, no questionário, o grau em que cada afirmativa aplica-se a ele. As escalas são de cinco pontos, variando de “discordo totalmente” (1) a “concordo totalmente” (5).

 

Procedimento

Após a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa de uma instituição de ensino superior e das escolas, deu-se início à coleta de dados com os estudantes que tinham o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por seus responsáveis. A aplicação foi coletiva e ocorreu em apenas um encontro. O primeiro instrumento respondido foi a EAC-IJ, e, logo em seguida, os adolescentes responderam à Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal. O tempo médio de aplicação dos dois instrumentos foi de 20 minutos.

Atuação dos contadores de histórias

Os contadores de histórias são voluntários que visitam as crianças internadas na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de segunda a quinta-feira, no período entre 19 e 21 horas, desde o ano de 1997. Eles abordam determinada criança e propõem a leitura de livros, usam jogos e oferecem papel e lápis de cor, sugerindo a pintura de desenhos.

Quando a criança está impossibilitada de sair da cama, a atuação ocorre no leito; quando há possibilidade, a criança é convidada junto com outras crianças e seus pais a desenvolver as atividades lúdicas em torno de uma mesa, localizada no corredor da enfermaria.

 

Resultado e discussão

A seguir, apresentam-se as estatísticas descritivas dos instrumentos Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal e Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ). Em seguida, os resultados da correlação entre os dois instrumentos são exibidos. Para concluir, expõem-se os resultados das diferenças de médias das escolas, de sexo e de idade.

A Tabela 1 apresenta os valores mínimos e máximos, as médias e os respectivos desvios padrão para cada um dos fatores e para o fator total do instrumento de Satisfação com a Imagem Corporal.

 

Tabela 1. Estatística descritiva do instrumento Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal

 

 

As pontuações, na Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal, poderiam variar entre 18 e 90 no fator Satisfação com a Aparência e entre 7 e 35 no fator Preocupação com o Peso. Como pode ser observado, no fator 1 a pontuação mínima obtida foi superior à indicada pelas autoras da escala, porém ficou bastante próxima do valor máximo. Isso indica que a satisfação com a imagem corporal para esse fator da amostra foi superior à da amostra de validação da escala. Já no fator 2, os pontos atingiram o valor mínimo, assim como o valor máximo.

Na Tabela 2 são apresentados os valores mínimos e máximos, bem como as médias e os respectivos desvios padrão para cada um dos fatores do instrumento Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ), além do total. Neste estudo, obteve-se o máximo das subescalas “autoconceito familiar” e “autoconceito social”, as quais têm como pontuação máxima, respectivamente, 8 e 12. Já os valores máximos do autoconceito pessoal e do autoconceito escolar (10 pontos, em ambos os casos) não foram atingidos na presente pesquisa.

 

Tabela 2. Estatística descritiva da Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ)

 

As médias de todos os fatores e do escore total aproximaram-se muito das médias descritas no manual, indicando similaridade entre as amostras. Desse modo, verifica-se que todas as médias observadas estiveram com uma distância menor do que o desvio padrão da média da amostra de validação.

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram relacionados por meio da Correlação de Pearson, como se observa na Tabela 3. Como referência, foram utilizados os níveis de significância p < 0,01 (*) ou p < 0,001 (**).

 

Tabela 3. Correlação entre os fatores da Escala de Autoconceito e da Escala de Avaliação com a Imagem Corporal

 

Observaram-se correlações significativas entre a satisfação com a aparência e alguns fatores do autoconceito, enquanto a satisfação com o peso apresentou índices significativos apenas com o autoconceito pessoal. Observando a correlação entre os escores gerais das duas escalas, obteve-se uma magnitude de correlação moderada (SISTO, 2007).

No que se refere à diferença de médias entre as variáveis “escola” e “sexo”, estas foram comparadas por meio do teste de t de Student. Para a variável “tipo de escola”, foram testados tanto os escores gerais como os dos fatores das escalas de Satisfação com Imagem Corporal e Autoconceito. Apenas a satisfação com o peso (t (48) = 2,265, p = 0,028) e o autoconceito escolar (t (48) = 2,466, p = 0,017) apresentaram diferenças de média significativas. Nos dois casos, os alunos de escolas públicas obtiveram médias mais elevadas. Quanto à análise de diferença de média por sexo, apenas o fator de autoconceito pessoal evidenciou diferenças significativas (t (48) = –2,605, p = 0,012), e os homens obtiveram médias mais elevadas.

Outra análise realizada, a título exploratório, foi a das diferenças de média em função da idade. O grupo foi dividido em dois: de um lado, ficaram os sujeitos de 14 e 15 anos (N = 28), e, de outro, os sujeitos de 16 e 17 anos (N = 22). Não foram encontradas, nesse grupo, diferenças significativas em nenhum fator da Escala de Imagem Corporal ou do Autoconceito.

 

Discussão

Considerando que os objetivos deste artigo foram verificar as associações entre satisfação com a imagem corporal e o autoconceito em um grupo de adolescentes e analisar diferenças de média por gênero, idade e tipo de escola, discutiram-se, a seguir, à luz da literatura da área, os dados encontrados. No que diz respeito às médias e aos desvios padrão observados no presente estudo, tendo como parâmetro os resultados do estudo de Ferreira e Leite (2002), no qual se avaliaram mulheres obesas e não-obesas, os resultados são compatíveis com os atuais, uma vez que as autoras tiveram, como média da Satisfação com a Aparência 66,2 e como média da Preocupação com o Peso 24,6. Em relação ao desvio padrão, houve uma pequena diferença entre o presente estudo e o de Ferreira e Leite (2002), considerando os fatores 1 e 2, observando-se que, na Satisfação com a Aparência, a variabilidade nas respostas dos participantes foi maior.

Quanto às correlações observadas, a moderada magnitude delas é distinta da dos achados de Branco, Hilário e Cintra (2006), que encontraram correlações significativas, porém baixas, entre a autopercepção e a satisfação corporal. O mesmo ocorre na comparação delas com os resultados de Valentini (1999), que não encontrou correlação significativa entre os escores totais do autoconceito e a satisfação com a imagem corporal. A diferença entre os estudos pode estar relacionada à diferença dos participantes, considerando que a amostra da última era oriunda de outra parte do País – mais especificamente do Rio Grande do Sul –, o que pode ter influenciado as observações divergentes. Além disso, não foram usados os mesmos instrumentos, o que pode ter contribuído para esses resultados. Esse dado deve ser investigado em outras pesquisas, de modo que se verifique qual o padrão mais comum ou estável da correlação entre satisfação com a imagem corporal e autoconceito.

No que diz respeito às análises de diferença de média, o resultado foi coerente com o de pesquisas anteriores. Os resultados da pesquisa de Valentini (1999) não identificaram diferenças significativas na percepção da imagem corporal, nos adolescentes, em função do sexo. Já em relação ao autoconceito, constatou-se que o sexo masculino e o sexo feminino diferem em alguns fatores, porém fatores que não estão ligados à satisfação com a imagem corporal. Os escores totais também não diferiram entre os sexos. Esses dados são coerentes com os então observados, uma vez que apenas o autoconceito pessoal apresentou diferença de média significativa.

Na mesma direção, Branco, Hilário e Cintra (2006), em estudo com adolescentes, encontraram insatisfação com a imagem corporal entre adolescentes do sexo feminino, resultado semelhante ao encontrado no presente estudo. Os resultados deste estudo coincidem também com os de Conti, Frutuoso e Gambardella (2005), que avaliaram adolescentes de 10 a 14 anos e obtiveram como resultado uma associação estatisticamente significativa de insatisfação, com média maior para o sexo feminino, e constatando ainda que as influências socioculturais afetam de modos diferentes meninos e meninas. Segundo Conti, Frutuoso e Gambardella (2005), é provável que as meninas sejam mais críticas em relação à aparência e à imagem corporal do que os meninos. Entretanto, neste estudo houve apenas uma diferença significativa entre os sexos.

 

Conclusão

Em síntese, esses dados, em conjunto, apontam para a existência de diferenças de médias dos participantes nos instrumentos que avaliam satisfação com a imagem corporal e autoconceito. Ao lado disso, foram observadas correlações positivas entre os dois construtos psicológicos, o que corrobora a literatura apresentada. No entanto, há que se ressaltar que este estudo apresentou algumas limitações, a saber, o fato de os adolescentes sujeitos da pesquisa serem de apenas um Estado brasileiro e o fato de o tamanho da amostra ser reduzido. Sugere-se, por fim, que novas investigações sejam realizadas com outros instrumentos e com amostras mais representativas.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Denise da Fonseca Martins
Rua Tamburi, 255 – Jardim Mirante
CEP 13224-500 Várzea Paulista – SP
E-mail: cdenisefmart@gmail.com

Tramitação
Recebido em março de 2008
Aceito em novembro de 2008