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Natureza humana

versão impressa ISSN 1517-2430

Nat. hum. vol.21 no.spe São Paulo dez. 2019

 

APRESENTAÇÃO

 

Apresentação

 

 

Francisco Verardi Bocca

Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP (1985); bacharel e licenciado em Filosofia pela UNICAMP (1997); mestre em Filosofia pela UNICAMP (1994) e doutor em Filosofia pela UNICAMP (2001). Pós-doutor em Filosofia pela UFSCar (2009) e pela Universidade de Paris VII -Denis Diderot (2014). Professor Titular do Curso de Filosofia e do Programa de Mestrado e Doutorado em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atua nos seguintes temas: filosofia da história, psicanálise, literatura e ética. Compõe e coordena a linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise, Compõe e lidera o grupo de pesquisa Filosofia da Psicanálise (PUCPR) cadastrado no CNPQ. Compõe ainda os grupos de pesquisa Filosofia e Psicanálise (UFSCar) e Filosofia e Práticas Psicoterápicas (UNICAMP) cadastrados no CNPQ. No biênio de 2008 a 2009 ocupou a coordenação do G. T. Filosofia e Psicanálise da ANPOF. Membro associado da Associação Brasileira de Estudos do Século XVIII. Foi bolsista produtividade pela Fundação Araucária -PR no ano de 2013. É co-autor da obra "Ontologia sem espelhos" (Ed. CRV, 2015) (Reeditada em 2019 pela editora L'Harmattan, Paris) e autor da obra "Do Estado à Orgia" (Ed. CRV, 2016). É organizador desta edição da Natureza Humana Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise da qual é editor científico desde 2017

 

 

Em 2016 publiquei um livro intitulado Do Estado à Orgia. Apresentei-o resgatando uma consideração de Sade que encontrei em Les 120 journées de Sodeme, cujo espanto não superei desde então. Reapresento-a aqui: "Agora amigo leitor, prepara teu coração e teu espírito para o relato mais impuro já feito desde que o mundo existe, pois não há livro semelhante nem entre os antigos nem entre os modernos". Poderia tratar-se de mais uma extravagância do marquês de Sade? Cabe a cada leitor julgar, a mim não pareceu. Isto porque, na verdade, a história da produção desta obra, concluída em 1785, e da perda dos manuscritos que a compõem, assim como de sua recuperação e de sua publicação depois de mais de cento e vinte anos, somam ainda mais perplexidade à ela. Seja como for, no meu caso, o encontro com uma advertência deste vulto me produziu inquietação e a curiosidade de investigar para compreender em que condições tal obra poderia cumprir o prometido.

Naquela oportunidade declarei que investigando seu contexto me dei conta de que de um modo geral a literatura pornográfica francesa do século XVIII, especialmente depois da revolução, havia perdido parte do propósito político-militante que a animava enfraquecendo sua gravidade enquanto assumia um propósito recreativo. Não foi o caso de Sade. Longe de se transformar em algo deste tipo, sua obra literária sempre sustentou um ideal e um vigor filosófico e pedagógico que me instigou à tarefa de estudá-la e ao risco de reconhecê-la como ilustrativa de sua filosofia materialista. A entendi, deste então, como um materialismo às últimas consequências.

O fato é que de longa data, entre outras coisas, ocupei-me de investigar o sentido de sua obra. O fiz por meio de inúmeras iniciativas, uma delas a de participar de inúmeros colóquios, um deles em especial na Universidad Andrés Bello, entre a charmosa Viña del Mar e a curiosa Valparaiso. Colóquio realizado na companhia dos três primeiros autores do dossiê que gentilmente se dispuseram a disponibilizar seus textos para publicação. Somado a eles, pesquisadores brasileiros não menos generosos possibilitaram a ampliação da contextualização de Sade junto à literatura e à história da filosofia. Agradeço a todos pela colaboração e desejo boa leitura aos interessados, mas com a advertência de que o enigmático de Sade ainda está longe de ser desvelado e muito possivelmente jamais o será.

Inverno de 2019

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