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Revista Mal Estar e Subjetividade
versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644
Rev. Mal-Estar Subj. v.7 n.2 Fortaleza set. 2007
EDITORIAL
Mal-estar e severidades subjetivas
Em tempos de severidades imaginárias que irrompem sob a malha de proteção simbólica do sujeito, este número da Mal-estar e Subjetividade traz à tona trabalhos que discutem e apontam, respectivamente, causas e efeitos da desorganização subjetiva que se deixam notar: pelo declínio da autoridade; na análise da realidade social que desemboca em atos de violência, segregação e falta de vergonha; na alienação do sujeito; nas afetações sobre o lugar da alteridade; nas intempéries ambientais vistas pela perspectiva física e social; nos sem-sentidos vividos pela óptica dos corpos invasivos e violentos; na melancolia no filme Cidadão Kane e na experiência e resultado terapêutico de pacientes psicóticos.
Formas de mal-estar que se apresentam mediante a incidência: de transtornos alimentares; na vontade de imagem que absolvem o sujeito da necessidade de experimentação; na visão do corpo da mulher, acompanhado da perspectiva do patriarcado à contemporaneidade; na sociedade de consumo e do trabalho e os reflexos sobre o ócio, o lazer e o tempo livre; no sofrimento do trabalhador e sua relação com o magistério superior; no sofrimento de mulheres trabalhadoras envolvidas com tarefas de limpeza urbana e sua relação com o sentimento de repetição e, finalmente, no Hino ao amor que Piaf sustenta durante sua vida como forma de subjetivar a dureza de uma constituição psíquica severa, em termos de escassez de afetividade.
É um número dedicado ao estudo do sofrimento. Sofrimento físico, sofrimento do sujeito atirado fora do laço que o faz existir, enfim, um sofrimento autenticamente psíquico, toda vez que se sabe que sofrer é uma característica subjetiva que cada um experimenta diante das indagações do discurso do Outro. Um sofrimento que pode, perfeitamente, ser tomado da poesia como possibilidade de desdobramento da différance, seguindo as vias abertas pelas primeiras facilitações na poética dos neurônios em Freud. Em última instância, o sofrer que se renova sempre que alguém tenta organizar o que tem como bases da representação subjetiva para enfrentar as intempéries que o outro, o próximo, o trabalho, o amor, entre tantas pontas de um nó, ameaçam com uma pergunta cuja reedição relembra o momento em que o sujeito se abate diante do seu reflexo e diz: o que o Outro quer de mim?
Esta resposta remete cada um a lugares mais familiares possíveis, para que, enfim, possa responder com estranheza. Resposta que se enlaça com uma experiência traumática, no sentido mais real que o termo suporta. É desse lugar que o sujeito reconhece o trabalho árduo que o afeta, isto é, que o angustia.
Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e organizador