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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.21 no.52 São Paulo set./dez. 2021

 

ARTIGO

 

Docência em psicologia na formação em psicologia social comunitária

 

Teaching in psychology in the formation of community social psychology

 

Enseñanza de psicología en la formación de psicología social comunitária

 

 

Adriano Valério dos Santos AzevêdoI; Gisele Groehler GieselII

IPsicólogo. Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. E-mail: adrianoazevedopsi@yahoo.com
IIPedagoga. Mestrado em Psicologia - Universidade Tuiuti do Paraná. E-mail: gise0903@hotmail.com

 

 


RESUMO

Esta pesquisa objetivou identificar e analisar as práticas didáticas de docentes de cursos de graduação de Psicologia referentes à formação em Psicologia Social Comunitária (PSC). Participaram da pesquisa 12 docentes atuantes em quatro cursos de Psicologia de uma capital do sul do Brasil, que responderam um roteiro de entrevista semiestruturado. Verificou-se que os planos de ensino são elaborados a partir da ementa ou por meio da participação conjunta com os professores da área. Os docentes utilizam uma variedade de recursos didáticos (livros, artigos, vídeos) e estratégias para avaliação da aprendizagem (provas, seminários, avaliação processual). Um ponto em comum se refere à dinâmica para a realização de estágios por meio de etapas metodológicas (utilização de referencial teórico, familiarização no contexto e elaboração de projeto de intervenção). Os docentes demonstraram experiência na participação em projetos sociais comunitários, percebem os avanços da PSC e os investimentos realizados pelas instituições de ensino para promover uma formação que possibilite ao aluno uma visão geral dos aspectos teórico-práticos da PSC.

Palavras-chave: Psicologia social comunitária; Formação; Atuação; Psicologia Comunitária.


ABSTRACT

This research aimed to identify and analyze the didactic practices of professors of undergraduate Psychology courses related to training in Community Social Psychology (CSP). Twelve professors from four Psychology courses from a southern Brazilian capital city participated in the research, who answered a semi-structured interview script. It was found that the teaching plans are drawn up from the menu or through joint participation with teachers in the area. Teachers use a variety of didactic resources (books, articles, videos) and strategies for learning assessment (exams, seminars, procedural assessment). A common point refers to the dynamics for carrying out internships through methodological steps (use of theoretical framework, familiarization with the context and elaboration of an intervention project). The professors demonstrated experience in participating in community social projects, they perceive the advances of the CSP and the investments made by the educational institutions to promote training that allows the student to have an overview of the theoretical and practical aspects of CSP.

Keywords: Community social psychology; Training; Performance; Community psychology.


RESUMEN

Esta investigación tuvo como objetivo identificar y analizar las prácticas didácticas de profesores de cursos de pregrado en Psicología relacionados con la formación en Psicología Social Comunitaria (PSC). Doce profesores de cuatro cursos de psicología en una capital del sur de Brasil participaron de la investigación, que respondieron un guión de entrevista semiestructurada. Se encontró que los planes de enseñanza se elaboran a partir del menú o mediante la participación conjunta con los docentes del área. Los docentes utilizan una variedad de recursos de enseñanza (libros, artículos, videos) y estrategias para la evaluación del aprendizaje (pruebas, seminarios, evaluación procedimental). Un punto común se refiere a la dinámica de realización de las prácticas a través de pasos metodológicos (uso del marco teórico, familiarización con el contexto y elaboración de un proyecto de intervención). Los profesores demostraron experiencia en la participación en proyectos sociales comunitarios, perciben los avances del PSC y las inversiones realizadas por las instituciones educativas para promover una formación que permita al estudiante una visión general de los aspectos teóricos y prácticos del PSC.

Palabras-clave: Psicología social comunitaria; Capacitación; Rendimiento; Psicología comunitaria.


 

 

Introdução

A Psicologia Social Comunitária (PSC) surgiu para superar os modelos tradicionais de Psicologia Social que utilizavam pesquisas, mas não apresentavam respostas para os problemas vivenciados pela população Latino-Americana (Azevêdo, 2009; Azevêdo & Giesel, 2019; Gonçalves & Portugal, 2012; Montero, 2004). Nas décadas de 1960 e 1970, a PSC foi considerada um campo de atuação com novas práticas para o psicólogo promover a transformação social por meio da participação das pessoas (Campos, 2015; Montero, 2004). O conceito de transformação social, proposto por Montero (2004), se refere às mudanças vivenciadas pela população provenientes de lutas que repercutem em qualidade de vida, garantia de direitos e exercício da cidadania.

Neste sentido, a Psicologia Social Comunitária representa uma área de atuação comprometida com as demandas sociais Latino-Americanas e tem o objetivo de desenvolver intervenções psicossociais que possibilitem a emancipação de indivíduos e coletivos. A emancipação refere-se à capacidade de indivíduos e grupos de superar situações promovendo transformações no meio social (Azevêdo & Giesel, 2019). A PSC utiliza a perspectiva crítica para a análise de questões sociais com o propósito de fomentar a participação social para promover a cidadania, isto se refere a capacidade do sujeito perceber o seu papel na sociedade. A noção de crítica nasceu de uma proposta para a construção da Psicologia Social Latino-Americana por meio do enfoque político (Montero, 2004), o que possibilitou analisar os problemas sociais numa visão ampliada sugerindo possibilidades de práticas psicossociais.

A PSC produz conhecimentos para orientar as práticas por meio de relações horizontais entre o psicólogo e as pessoas que participam dos projetos de intervenção (Wisenfeld, 2014). A teoria, a prática e a pesquisa em PSC ocorrem simultaneamente e auxiliam o desenvolvimento da área e a qualificação de profissionais. Para Freitas (2014), a articulação de aspectos teóricos e metodológicos é realizada de maneira crítica para atender os interesses das pessoas envolvidas. Trata-se de uma atuação que ocorre por meio do compromisso social com a realidade das pessoas, e o psicólogo desenvolve o papel de mediador das interações sociais comunitárias, buscando gerar problematizações para as pessoas refletirem sobre as possibilidades de enfrentamento das situações sociais.

Este enfrentamento permite desenvolver a ação coletiva para superar as relações de poder e dominação da sociedade (Montenegro, Rodriguez, & Pujol, 2014). Para que isto ocorra, é realizada uma análise crítica dos aspectos históricos, culturais, sociais e políticos para que a prática em PSC apresente congruência e permita atender as demandas emergentes da sociedade (Svartman & Galeão-Silva, 2016). Trata-se de uma atuação relativizada que considera os acontecimentos históricos e o momento atual vivenciado pelas pessoas. Esta atuação será desenvolvida por um psicólogo que apresenta competências e habilidades para a elaboração e análise de práticas psicossociais, o que ocorrerá durante o processo de formação acadêmica. Especificamente, a atuação em PSC diferencia-se de outras áreas de conhecimento pelo fato de que considera a noção de comunidade enquanto campo de produção de intersubjetividade, identidade e diversidade. Assim, a análise psicossocial, realizada de maneira interdisciplinar, enfatiza indivíduos e comunidades considerando a capacidade de protagonismo para a identificação e resolução de problemas sociais. A formação voltada para a problematização dos fenômenos sociais possibilita orientar o estudante para a utilização do compromisso social com as demandas da população, o que se espera que ocorra nos cursos de graduação em Psicologia.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) por meio da Resolução CNE/CES 5 recomendam que a a formação do psicólogo seja voltada para uma prática generalista que possibilite a atuação em diferentes contextos para que o psicólogo represente um agente transformador da sociedade (Ministério da Educação, 2004). Espera-se que a atuação contextualizada seja baseada nas DCNs para o curso de graduação em Psicologia, bem como a Lei n. 9.394, 20 de dezembro de 1996 acerca das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a qual enfatiza que o ensino deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (Ministério da Educação, 1996).

No que se refere à formação acadêmica do psicólogo social comunitário, Cruz, Freitas e Amoretti (2014) destacam a importância da discussão de políticas públicas nesta formação, bem como assuntos relacionados aos direitos humanos, assistência social e cidadania. Na formação para atuação na área da Psicologia Social Comunitária, existe o desafio de compreender os diferentes atores sociais sem que haja distorção, para que esta prática não se torne assistencialista (Freitas, 2015). Assim, uma prática que visa a mudança social integra uma visão de homem inserido em um determinado contexto com suas demandas e possibilidades de enfrentamento da realidade social. Em síntese, compreende que as ações do homem no meio social apresentam repercussões em diferentes esferas (social, política, econômica, cultural), as quais são geradoras de mudança social.

A contextualização de práticas que visam a transformação social durante o período da formação acadêmica possibilita o desenvolvimento de competências e habilidades, o que repercute na apropriação de teorias, conceitos e estratégias práticas. No que se refere a temática da formação em PSC, é possível identificar na produção científica estudos empíricos realizados com estudantes de psicologia (Azevêdo & Pardo, 2014; Zavaletta, 2012), estudos teóricos (Azevêdo & Giesel, 2019; Freitas, 2015; Gómez, 2008; Montero & Giuliani, 1999; Rodríguez, Pérez, Prieto & López, 2015), e estudos documentais (Baima & Guzzo, 2015; Batista, 2016; Rechtman & Castelar, 2011; Santos, 2017). Os estudos empíricos enfatizam a importância das articulações entre ensino, pesquisa e extensão para a preparação de estudantes; os estudos teóricos ressaltam recomendações a serem realizadas e os desafios para esta formação; e os estudos documentais analisam as ementas e conteúdos da disciplina de PSC e de disciplinas similares. Especificamente, Montero e Giuliani (1999) apresentaram reflexões referentes aos aspectos da docência para a formação em PSC, por exemplo, os autores sugerem aumento na carga horária da disciplina, e o desenvolvimento de atividades práticas que possibilitem a familiarização do estudante com o contexto de intervenção.

A formação para atuação em PSC representa um campo para exploração nas pesquisas (Azevêdo & Giesel, 2019) por considerar que permite refletir sobre aspectos que auxiliam estudantes, professores e profissionais que atuam na área para a qualificação de suas práticas. Por exemplo, resultados de pesquisas possibilitam avaliar conhecimentos e práticas, e assim propor novas estratégias durante o período de formação acadêmica. Existe a necessidade de estudos para contribuir com o desenvolvimento científico por meio da produção de materiais, por exemplo, livros e artigos, que auxiliem a formação nesta área. Numa revisão sistemática de Azevêdo e Giesel (2019), identificou-se que a produção científica na área da formação em PSC é voltada para a contextualização de aspectos teóricos (Freitas, 2015; Gómez, 2008; Rodriguez, Perez, Prieto, & López, 2015); análise documental dos cursos de graduação de Psicologia (Baima & Guzzo, 2015; Batista, 2016; Rechtman & Castelar, 2011; Santos, 2017); e pesquisas empíricas realizadas com estudantes de Psicologia (Azevêdo & Pardo, 2014; Zavaletta, 2012). Azevêdo e Giesel (2019) identificaram uma lacuna de estudos empíricos com professores de psicologia sobre a formação em PSC. Desta maneira, é relevante contextualizar as narrativas de estudantes e professores, especificamente os docentes, estes que estão transmitindo os conhecimentos e tem a missão de contribuir para uma formação que considere os pressupostos teóricos e práticos. As pesquisas realizadas com estes docentes permitem avaliar as estratégias teóricas e práticas para propor sugestões a serem implementadas pelas instituições de ensino superior. Esta pesquisa objetivou identificar e analisar as práticas didáticas de docentes de cursos de graduação de Psicologia referentes à formação em Psicologia Social Comunitária. De maneira específica, buscou-se identificar os planos de ensino e os conteúdos ministrados pelos docentes; verificar as metodologias e as formas de avaliação da aprendizagem; e descrever as estratégias utilizadas pelos docentes para atuação em Psicologia Social Comunitária.

 

Método

Delineamento

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que segundo Flick e Netz (2004) considera a inter-relação do pesquisador com o campo no qual atua, bem como a subjetividade dos envolvidos neste processo. Neste caso, os participantes da pesquisa foram os docentes de cursos de Psicologia de instituições particulares de uma capital do sul do Brasil, que ministram as disciplinas e estágios relacionados à Psicologia Social Comunitária.

Critérios de inclusão e exclusão

Nos critérios de inclusão para seleção dos docentes, procurou-se inicialmente identificar as instituições que oferecem cursos de Psicologia na região pesquisada. No site e-MEC no cadastro oficial dos cursos de ensino superior foram encontrados 11 (onze) cursos de Graduação em Psicologia, 1 curso numa instituição pública e 10 cursos em instituições particulares. Foram estabelecidos contatos com os coordenadores destes cursos, e apenas quatro instituições particulares de ensino superior autorizaram a pesquisa. Foram incluídos neste estudo os docentes de quatro instituições de cursos de graduação em Psicologia.

A pesquisa obteve a participação de 12 (doze) professores que ministram disciplinas referentes à Psicologia Social Comunitária (Psicologia Social, Psicologia Comunitária, Psicologia Social Comunitária) e que orientam estágios baseados nesta perspectiva. Os pesquisadores desta pesquisa construíram os seguintes critérios de exclusão: docentes que se encontravam em período de férias, licença, ou que estavam afastados do cargo por motivos de adoecimento, e àqueles que estavam ocupando outro cargo não participaram do estudo.

Participantes

A Tabela 1 apresenta dados sociodemográficos dos participantes referentes as quatro IES, e destaca-se o tempo de trabalho docente e a frequência de mulheres.

Instrumentos

Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada que explorou os seguintes tópicos: tempo de trabalho na instituição (Há quanto tempo trabalha na instituição?), identificação dos planos de ensino e conteúdos ministrados (Como é construído o plano de ensino? Quais conteúdos são ministrados?), recursos didáticos e avaliação da aprendizagem (Quais recursos didáticos são utilizados? Como avalia a aprendizagem?), a supervisão de estágio (Como ocorre a supervisão de estágio?), a experiência profissional e a formação para atuação em PSC (Qual sua experiência em PSC?). Utilizou-se um questionário sociodemográfico para identificar as características dos participantes.

Procedimentos

Este projeto teve início após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE: 71125316.0.0000.8040) e autorização da Diretoria das quatro Instituições de Ensino Superior Os participantes foram convidados e aqueles que aceitaram participar de forma voluntária assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para atender o que se recomenda na Resolução de Pesquisa em Ciências Humanas - CNS nº 510, de 07 de abril de 2016. As entrevistas foram realizadas numa sala reservada nas Instituições de Ensino Superior que os docentes atuavam. Um pesquisador ficou responsável pela entrevista que teve a duração média de cinquenta minutos. Utilizou-se um aparelho de gravação de áudio e posteriormente a transcrição pelos pesquisadores. Após a entrevista utilizou-se o questionário sociodemográfico.

Análise de dados

Para a realização da análise de dados foi utilizado o método de análise de conteúdo por meio da técnica de categorização temática de Bardin (2009). Após a leitura integral dos relatos buscou-se identificar as unidades de análise, em seguida iniciou-se a categorização que foi pré-definida nas questões da entrevista, logo após ocorreu o processo de codificação buscando verificar as similaridades e diferenças nos relatos utilizando o princípio da saturação. Em seguida foram apresentadas as sínteses qualitativas com trechos integrais.

 

Resultados

Os resultados integram as seguintes categorias temáticas: disciplinas e planos de ensino; recursos didáticos e avaliação da aprendizagem; estágio e supervisão, formação e experiência profissional (Tabela 2).

Planos de ensino

De acordo com o participante (E1/IES1), o plano de ensino visa atender os objetivos da disciplina: "Então a gente tem o ementário do curso, o plano de ensino tenta estar de alguma forma vinculado às disciplinas antecedentes e subsequentes, que tem ou fundamentos ou continuidade". Em relação a disciplina de Psicologia Social e Comunitária, são apresentados conteúdos relacionados aos movimentos sociais, tais como, o feminismo, o movimento negro e a inserção do psicólogo nas comunidades:

por exemplo, pessoas em situação de vulnerabilidade social, em situação de rua, crianças abrigadas em situação de adoção, idosos que estão institucionalizados, a própria decorrência do uso de substâncias psicoativas e a marginalização que os indivíduos sofrem e o próprio contexto de construção da dependência dentro da sociedade.

Na IES 1, E2 relatou a ênfase na Psicologia Social Latino-Americana:

por mais que nós tenhamos nomes que no Brasil foram importantes como Haroldo Rodrigues e a intervenção que a gente chama em meio a intervenção norte-americana, a gente já fundamenta muito mais uma condição da crítica a partir da crise da psicologia social da década de 1960-70 na América Latina e aí vem construindo essa história.

Isto mostra a coerência teórico - metodológica, pois ao explorar o contexto Latino-Americano os alunos estão se familiarizando com a perspectiva da PSC voltada para a realidade social.

Na IES 2, E1 informou que nas reuniões pedagógicas são discutidas questões relacionadas ao aluno e calendário acadêmico, assim, os professores realizam planejamentos para que sejam abordados os conteúdos que pretendem ministrar:"a gente vai e faz um planejamento abordando os conteúdos, principalmente as metodologias ativas, então nós trabalhamos com a mudança do paradigma daquela coisa da educação bancária que o Freire define para a educação libertadora". E1 utiliza problematizações na sala de aula, pois procura inserir as metodologias ativas: aprendizagem baseada em equipes, aprendizagem baseada em problemas, dramatizações e dinâmicas.

Na IES 3, E1 relatou que na disciplina de Psicologia Comunitária e da Saúde, o plano de ensino é elaborado com o objetivo de desenvolver as habilidades para atuação na área. Este professor apresenta a história e visão de homem para falar sobre a Psicologia Comunitária e conceitos de comunidade: "Então eu vou trabalhar com método de investigação ação participante, levantamento de necessidades de comunidade, intervenção na comunidade. São textos da parte teórica da disciplina, mas já são textos que nos preparam para o trabalho de campo que seria a segunda parte da disciplina".

Na IES 4, E4 na disciplina de Psicologia Social apresenta os aspectos históricos da Psicologia Social e mostra as perspectivas americana, europeia e social crítica. Além disto, apresenta conceitos de identidade social, representação social, a importância da linguagem e do pensamento para a psicologia social, conceitos de alienação, e a diferenciação entre a psicologia social sociológica e psicologia social histórico crítica. Nesse sentido, é possível verificar que os planos de ensino integram aspectos teóricos, ontológicos e metodológicos, aspectos que representam a base para fundamentar a PSC.

Recursos didáticos e avaliação da aprendizagem

Em relação a seleção do material utilizado nas aulas, os professores afirmaram que utilizam os livros clássicos da área e artigos. E para fundamentar a intervenção utilizam artigos e relatos de experiência. Os professores utilizam os seminários, júri simulado, atividades em grupo (IES 1), dinâmicas e metodologias ativas (IES 2), aula expositiva e dialogada (IES 3,4), e por meio de vídeos (IES 2 e 3). Na IES 3, E2 utiliza jornais, fatos e situações reais para relacionar com a teoria: "O material, eu procuro sempre trazer materiais atuais porque como é um tema que constantemente vai mudando, ... então eu estou sempre atualizando nesse sentido". Na IES 3, E1 ressaltou que na disciplina de Psicologia Social é realizado um trabalho com a análise de vídeos e filmes. No primeiro bimestre são trabalhados os conceitos e no segundo bimestre procuram aplicar o conceito em uma situação hipotética, na qual realizam uma análise do filme baseado nas diferentes abordagens teóricas em Psicologia social.

Na IES 3, E2 não utiliza o quadro da sala de aula e nem power point, prefere construir o conhecimento com os alunos. Utiliza o quadro apenas para fazer algumas anotações, pois as aulas acontecem de forma dialogada com reflexões para que os alunos relacionem com o conteúdo. Inicialmente procura mobilizar, problematizar e depois contextualizar o conteúdo, para em seguida ocorrer a elaboração de um projeto de intervenção: "Também eu tenho feito aproximação de uma prática, então eles irem para a realidade, conhecerem o campo da Psicologia Social Comunitária, elaborarem um projeto de intervenção".

A avaliação da aprendizagem ocorre de maneira distinta nestas IES, pois verificou-se a utilização de provas e trabalhos (IES 1), o uso de provas, dinâmicas e metodologias ativas (IES 2), prova e avaliação processual (IES 3), e prova, seminários e metodologias ativas (IES 4). Na IES 1, E2 destacou o seguinte: "Aqui na universidade a gente trabalha nos quatro bimestres com provas individuais. O professor tem liberdade, por exemplo, para ao invés de fazer uma prova individual fazer uma prova em dupla ou criar uma outra modalidade da própria condição de prova". Na IES 2, E2 no primeiro bimestre realiza uma avaliação teórica que corresponde a 6 pontos, e trabalhos/seminários com 4 pontos. Para o segundo bimestre, a composição é feita de seminário integrado e prova, e os trabalhos são realizados de forma individual e em grupo.

Na IES 3, os professores afirmaram que a avaliação da aprendizagem ocorre de maneira processual. De acordo com E1, no primeiro bimestre a avaliação tem um peso menor, pois é realizada somente a caracterização do local (peso 3) na disciplina Psicologia Comunitária e da Saúde. No segundo bimestre o peso é maior, pois o aluno realiza trabalho de campo, planeja a intervenção e executa (peso 7). E2 segue as regras da instituição que exige duas notas, então no primeiro bimestre é realizada uma prova e trabalho; e no segundo bimestre, destinado para a etapa de prática, os alunos são avaliados em todos os encontros de maneira processual. E3 não realiza prova, a avaliação é contínua e em cada aula apresenta uma questão problematizadora para discussão, dessa forma, consegue perceber o que o aluno está compreendendo.

Na IES 4, E2 informou que a coordenação deixou livre a avaliação da aprendizagem, E3 relatou que a avaliação ocorre por meio de seminários e atividades em sala de aula, e E4 descreveu que solicita duas atividades em sala para avaliação bimestral que mesclam questões objetivas e discursivas. A variedade de recursos didáticos e de avaliação da aprendizagem indica o processo dinâmico de ensino, baseado em discussões e estratégias inovadoras, estas que possibilitam inserir o aluno no debate de temas para que seja possível a aquisição de conhecimentos.

Estágio e supervisão

No aspecto referente ao estágio e supervisão, os professores valorizam os conhecimentos teóricos da área e realizam a supervisão em grupo, indicam locais, mas os alunos têm autonomia para realizar o estágio em outros contextos. Na IES 1, E2 apresentou informações referentes a construção do relatório de estágio:

No estágio o aluno vai produzir um relatório. E nesses relatórios a gente vai trazendo exemplos, contextos e situações, outras realidades. Até em alguns momentos a gente consegue fazer com que o aluno faça uma experiência naquela realidade que ele faz estágio com uma outra realidade. Para que ele tenha a perspectiva de que todas as realidades não são iguais e que existem formas de atuação que vão qualificando o próprio papel do psicólogo.

E sobre as estratégias utilizadas no campo de estágio, os professores afirmaram que no primeiro momento os estudantes conhecem a instituição e a realidade local. Na IES 1, E1 informou que isto é realizado de forma individual, em dupla ou trio, o que depende da complexidade da atividade:

Então, por exemplo, eu tenho estágio em penitenciária, tenho estágio em alguns lugares que sozinho fica mais difícil. Com adolescentes em conflito com a lei, que orientar um trabalho com ele sozinho é muito difícil, porque interessante ter um suporte durante a administração da atividade. Já em outras comunidades de saúde, uma pessoa consegue. Então temos essa variação. Então partimos dessa caracterização dos levantamentos de necessidades, fazemos entrevista, análise documental, levantamos histórico, fazemos observação, e aí propomos um projeto de intervenção.

Na IES 1, E2 apresenta estudos de casos, filmes e documentários para que os alunos possam conhe cer e desenvolver uma noção de como ocorre o processo de intervenção, pois destacou a importância de conhecer previamente o local:

Daí a gente diz assim, antes de ter o projeto, tem que conhecer a instituição e a realidade. Como é que vai fazer um projeto de um lugar que eu não conheço. Tanto que as instituições que a gente já trabalha há um tempo aqui na "IES", ela já sabe que o aluno, ele só vai organizar o projeto de intervenção a partir do momento que ele conhecer a própria realidade, então a gente acompanha os alunos na instituição. Mostra alguns exemplos. A gente traz alunos que já fizeram estágios na área para que eles compartilhem da experiência de como que foi isso, o trabalho nessa realidade e como que isso repercutiu para eles em termos de formação. Então a gente procura sempre dar um contexto daí para que o aluno se sinta o mais adequado lá com os compromissos institucionais, a ética lá no espaço.

Na IES 2, os professores orientam os alunos para o conhecimento do campo com o objetivo de elaborar o plano de intervenção. Na IES 4, E2 mencionou que a perspectiva é que o estagiário aplique conceitos da Psicologia nos espaços institucionais. E2 informou que os estágios da Psicologia Social Comunitária têm sido realizados no décimo período, os quais são divididos em diferentes campos, por exemplo, no CAPS (atuam em duplas), no Centro Vida, no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS-AD), e na casa de apoio vinculada a um hospital. A proposta é que atuem com foco na economia solidária para fomentar a reinserção social pela via do trabalho para a geração de renda. Em um dos locais de estágio, na casa de apoio, ensinam a confecção de mini-jardins, que se trata da elaboração de vasos para serem vendidos posteriormente.

Nas estratégias utilizadas no estágio, o participante E1 da IES 1 busca inserir leituras sobre a Psicologia Social, Psicologia Social Comunitária, e posteriormente o aluno irá conhecer o contexto para construir o plano de intervenção:

Então, o que é que é a psicologia social, psicologia comunitária, e utiliza-se aquelas questões, conhecer a realidade no primeiro momento para que se possa então ter um diagnóstico para se fazer uma intervenção. Então, contextualizar primeiro, ver a demanda o que está acontecendo, o que é que o local permite que seja feito, ou pelo que não permite.

Em síntese, primeiro a teoria e posteriormente o conhecimento do campo para delimitar atividades que possam atender a necessidade local.

Na IES 3, E3 salientou que os estágios ocorrem no quinto, nono e décimo período:

A gente cobra muito os fundamentos teóricos do projeto. E no último período, o 10º, eles vão fazer intervenção. Agora a gente vai a campo também junto com eles, pelo menos umas quatro visitas a gente faz. Quando eles terminam o projeto, eles apresentam à comunidade.

Na IES 4, E3 comentou que o estágio é chamado de inter-áreas, pois os alunos buscam o campo de estágio em diferentes locais: área da saúde, comunidades terapêuticas, Organizações não-governamentais (ONGs), e lar de idosos.

Na IES 4, E5 procura direcionar os estágios na atenção primária à saúde (unidades básicas de saúde), atenção secundária da saúde na atuação no CAPS; e para a atenção terciária nos hospitais. Os alunos também escolhem outros locais de estágios. Neste aspecto de estágio e supervisão, é possível identificar nas IES o compromisso com as etapas metodológicas referentes à familiarização no campo e elaboração de plano de intervenção, congruentes com a proposta da PSC. A variedade de locais de estágio nas áreas da assistência social e saúde indica a flexibilidade das IES para que o aluno realize o estágio mediante seus interesses de atuação.

Formação e experiência profissional

E referente à formação em Psicologia Social Comunitária, os professores relataram o crescimento da área, a ampliação das práticas e os investimentos das IES para promover uma formação qualificada. Na IES 1, E2 percebe que a IES atua de forma positiva em relação a área da PSC, os professores procuram trabalhar para que o aluno tenha clareza de sua atuação:

É para entender o contexto social histórico que o indivíduo circula. E a partir daí tentar fazer um trabalho de forma sistemática adequada, em termos de transformação que o indivíduo venha a ter. E a gente percebendo que toda atuação é social. Na escola é social, no trabalho é social, na clínica é social ... levar em conta como característica que as demandas sociais, econômicas, culturais, forme os indivíduos e a perspectiva de que esses indivíduos podem se empoderar em grupo para que a cidadania seja exercida plenamente. E a gente em termos das disciplinas, propriamente dito, a gente procura sempre trazer o aluno para esse tipo de debate em que ele tenha uma compreensão de que o psicólogo tem o papel de agir na transformação da sociedade.

Na IES 2, E1 relatou que a área social é feita para a ação, uma visão social voltada para a comunidade. E2 percebe que a instituição está ampliando a visão da Psicologia Social Comunitária: 'Então a gente tem trabalhado bastante esse olhar aí. E as pessoas descobrem muitas possibilidades. A gente fala da questão de terceiro setor, de políticas públicas, todas as possibilidades de campo de atuação do psicólogo". Na IES 3, E1 afirmou que a instituição está investindo nesta formação pelo fato de que esta prática ocorre no 9º e 10º períodos. Dessa forma, os alunos ampliam a atuação nos contextos coletivos por meio da saúde coletiva.

No aspecto referente à experiência na área da PSC, foi possível identificar que os professores apresentam um histórico de práticas em projetos sociais. Os professores da IES 1 desenvolveram atuação com prostitutas, projetos voltados para horta comunitária, reciclagem, e atuação com crianças institucionalizadas. Nas IES 2, os professores têm experiência em projetos com grupos em situação de vulnerabilidade social e de prevenção à violência doméstica. Na IES 3, os professores têm experiência nos contextos da escola e da comunidade. Na IES 4 apenas um professor apresentou relatos de experiência em projetos de economia solidária, oferta de emprego para migrantes, e na prevenção da violência doméstica. Os professores percebem o desenvolvimento da PSC e o interesse das IES no oferecimento das disciplinas e estágios. A experiência dos professores nos projetos sociais representa algo que viabiliza a supervisão dos estágios.

 

Discussão

No que se refere à disciplina de PSC, a pesquisa de Batista (2016) realizou um mapeamento bibliográfico em 119 instituições de ensino superior do Sul do Brasil (45 IES no estado no Rio Grande do Sul, 36 IES do estado de Santa Catarina, e 38 IES no estado do Paraná), no qual foram analisadas 113 matrizes curriculares (48 ementas e 38 referenciais bibliográficos). Identificou-se que 23 cursos ofertavam a disciplina de PSC, e deste total, em 20 IES a disciplina é obrigatória, e em 3 IES a disciplina é eletiva. Treze IES disponibilizavam a disciplina de forma teórica, 4 IES promovem a articulação teórico-prática e 6 IES não informaram a ênfase. A autora destacou que a disciplina de Psicologia Social Comunitária não é ofertada em todos os cursos de Psicologia, pois foram identificadas disciplinas similares no currículo, por exemplo, a Psicologia Comunitária.

De acordo com Batista (2016), a inserção da disciplina de PSC possibilita ampliar o conhecimento teórico, por outro lado, identificou-se que a disciplina de Psicologia Social é uma disciplina obrigatória em 59 IES do Sul do Brasil. O estudo de Santos (2017) apresentou resultados do mapeamento de 131 cursos de graduação de Psicologia da região nordeste do Brasil, e foi possível identificar a disciplina de PSC apenas em dois cursos. Na presente pesquisa os resultados apresentam congruência, pelo fato de que a disciplina de Psicologia Social foi identificada nas quatro IES, mas apenas uma IES oferece a disciplina de PSC. E por se tratar de uma área relativamente recente, é possível que a PSC gradualmente integre a matriz curricular dos cursos de Psicologia.

No estudo de Baima e Guzzo (2015) foram identificados 449 cursos de graduação em Psicologia no Brasil, e deste total foram analisados os cursos de graduação de Psicologia de 65 instituições de ensino, de todas as regiões do Brasil, com o objetivo de verificar se a disciplina de psicologia comunitária constava na matriz curricular. Verificou-se que 25 cursos (34,46%) ofertavam a disciplina, e 3 IES (4,61%) apresentaram ênfase direta à psicologia comunitária. Ao analisar estes dados, é possível perceber que o enfoque comunitário não está presente em todas IES, mesmo diante da expansão das áreas de atuação do psicólogo por meio do compromisso social, assim, a ausência desta disciplina apresenta repercussões nos déficits da formação acadêmica, pelo fato de que o estudante não desenvolve uma noção do trabalho social em diferentes contextos. Por outro lado, nas quatro IES investigadas nesta pesquisa, existe o compromisso de uma formação que possibilita o encontro do estudante com a realidade local para o desenvolvimento de práticas transformadoras.

Em relação ao plano de ensino elaborado pelos docentes, a ementa representa o eixo norteador por meio da construção coletiva com os professores da área. No estudo de Baima e Guzzo (2015), verificou-se que os conteúdos das ementas são voltados para uma formação que favorece os aspectos metodológicos e teórico-epistemológicos em contraposição ao aspecto ontológico. De acordo com as autoras, a ausência deste terceiro elemento repercute numa formação voltada para uma prática descontextualizada, assim, se faz necessário uma prática que considere os contextos sociais para que a intervenção ocorra de maneira congruente com os pressupostos da área. Por outro lado, nas quatro IES pesquisadas identificou-se a presença de conteúdos referentes aos aspectos teóricos, metodológicos, epistemológicos e ontológicos, pelo fato de que os docentes têm o interesse de apresentar os fundamentos da área por meio de contextualizações históricas que incluem a visão de homem, os princípios metodológicos para a realização de práticas, e a definição da área e de conceitos centrais. Freitas (2015) recomenda a apropriação destes aspectos no processo de formação em PSC para que a prática ocorra por meio da participação e do compromisso do psicólogo com a comunidade.

Os professores entrevistados possuem experiência nas disciplinas, o que representa um ponto positivo para o desenvolvimento das aulas e delimitação de estratégias de ensino e aprendizagem. A experiência dos professores nas disciplinas representa um aspecto que contribui para o trabalho docente de ministrar os conteúdos articulados com a prática, o que permite desenvolver o interesse do estudante pela área. Azevêdo e Pardo (2014) objetivaram identificar a opinião de discentes de Psicologia sobre aspectos da formação e atuação em PSC, observou-se que em relação aos aspectos gerais da formação, dos 114 alunos entrevistados 55% (n=63) estavam satisfeitos, pois os estudantes avaliaram de maneira positiva a atuação dos professores. Neste sentido, Wisenfeld (2014) sugeriu a ampliação das práticas em psicologia social comunitária por meio da participação do estudante no compartilhamento de atividades na sala de aula e na presença em congressos e nas práticas comunitárias. Isto permite utilizar o conhecimento da PSC em diferentes locais para uma formação contextualizada.

No que se refere à seleção dos recursos didáticos utilizados em sala de aula, os docentes das quatro IES pesquisadas utilizam livros clássicos da área, artigos, vídeos, seminários e aulas dialogadas. A utilização de livros e artigos em sala reafirma o que revela o estudo de Batista (2016), considerando que das 99 referências utilizadas nas disciplinas de Psicologia Social Comunitária, 60 pertencem a bibliografias brasileiras, e 39 são internacionais. Entretanto, a autora destacou que destas 99 bibliografias, somente 8 correspondem a artigos científicos, sendo 91 advindas de livros. Na IES 3, foram apresentados os relatos da utilização de jornais, análise de vídeos, filmes e fatos atuais, o que representa uma proposta dinâmica que contribui para o envolvimento dos alunos na discussão de assuntos relacionados a PSC.

Verificou-se que os professores das quatro IES utilizam no processo de avaliação da aprendizagem as dinâmicas, os seminários, a prova tradicional, a avaliação processual e metodologias ativas. De acordo com a Resolução CNE/CES 5 (Ministério da Educação, 2004) que destaca as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia e direciona normas para o projeto pedagógico para a Formação de Professores de Psicologia, o artigo 18 afirma que "os eixos estruturantes do curso deverão ser decompostos em conteúdos curriculares e agrupados em atividades acadêmicas, com objetivos de ensino, programas e procedimentos específicos de avaliação" (Ministério da Educação, 2011, p. 6). Este aspecto permite ressaltar que as estratégias de avaliação utilizadas pelos professores correspondem ao que se espera dos cursos de graduação de Psicologia. A avaliação da aprendizagem de maneira processual representa um recurso importante para utilização nos cursos de Psicologia, pelo fato de que permite identificar o desempenho do aluno ao longo da disciplina, e por outro lado, possibilita ao professor utilizar uma variedade de metodologias. As estratégias de avaliação utilizadas pelos professores das IES pesquisadas são consideradas dinâmicas pelo fato de que superam os modelos tradicionais, pois em duas IES as metodologias ativas de aprendizagem foram destacadas, e também as aulas dialogadas por meio de problematizações, o que auxilia o professor nas discussões e permite construir um ambiente que convida o aluno para compartilhar conhecimentos e desenvolver uma visão crítica.

No que se refere ao estágio em PSC, os professores apresentaram pontos semelhantes: realizam a supervisão em grupo, indicam locais e aceitam sugestões dos alunos, e valorizam a etapa de caracterização do local para a elaboração do projeto de intervenção. Montero e Giuliani (1999) consideram importante a familiarização com o ambiente comunitário, pois há necessidade de conhecimento do território antes da realização do trabalho comunitário para que ocorra o diálogo de forma horizontal. Neste sentido, é possível compreender que o estágio representa uma oportunidade para o aluno desenvolver práticas e relacionar os conhecimentos da PSC. Esta experiência permite auxiliar a aprendizagem significativa pela descoberta, ao considerar que a familiarização no campo convida o aluno para refletir sobre as possibilidades de práticas. Desta forma, as instituições de ensino superior que oferecem estágio na área da PSC contribuem para a formação do aluno numa perspectiva crítica de práticas psicossociais.

No estudo de Rechtman e Castelar (2011), os autores analisaram treze cursos de graduação de Psicologia em Salvador/Bahia no Brasil, e verificou-se que dez IES ofertavam disciplinas com a denominação psicologia e comunidade, e seis ofertavam a disciplina psicologia social I e II, mas somente dois cursos ofereciam estágios para o desenvolvimento de práticas na comunidade. Para os autores, a ausência de estágios nas outras IES não atende as recomendações das diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Psicologia, assim, existe a necessidade da formação voltada para a atuação em diferentes contextos por meio de práticas comprometidas com as demandas da sociedade. A ausência de estágios de Psicologia na área social descontextualiza o que se espera de uma formação teórico-prática, assim, recomenda-se que as IES articulem as disciplinas com conhecimentos teóricos para serem utilizados nas práticas. Nas quatro IES pesquisadas existe o compromisso de desenvolver o estágio por meio de metodologia para a caracterização do local e elaboração do plano de trabalho, o que contribui para a apropriação de conceitos e técnicas nas práticas sociais.

A formação para atuação em Psicologia Social Comunitária foi investigada e os docentes relataram os avanços e investimentos das IES em disciplinas e estágios. De acordo com Cruz, Freitas e Amoretti (2014), a área da Psicologia Social Comunitária avançou nos últimos tempos e se encontra em processo de desenvolvimento, sobretudo nas relações com as políticas públicas. Neste sentido, isto contribui para desenvolver reflexões críticas nos alunos sobre o cenário atual das políticas sociais com o objetivo de auxiliar a atuação comprometida com a sociedade.

Baima e Guzzo (2015) delimitaram cinco princípios que são fundamentais para que ocorra o fortalecimento da PSC buscando promover mudanças reais no contexto social das maiorias populares: 1. A construção de uma base teórica sólida que considere o indivíduo e o social; 2. Metodologias que contemplem a participação da comunidade; 3. O psicólogo e a perspectiva voltada para a transformação social; 4. A percepção da PSC como área interdisciplinar; 5. A práxis para promover a transformação social. Na presente pesquisa foi possível identificar que estes princípios estão sendo utilizados pelas IES e principalmente nas práticas de docentes, o que mostra comprometimento com a formação acadêmica, no que se refere às disciplinas e estágios. A partir disto, Freitas (2015) apresenta recomendações básicas para o desenvolvimento da PSC: o psicólogo e sua atuação de forma oposta a uma prática psicologizante e individual; o psicólogo e sua integração nas equipes de trabalho multiprofissional; e atuação do psicólogo buscando promover a investigação dos fenômenos sociais.

E sobre a formação e experiência em Psicologia Social Comunitária dos docentes, destacou-se a experiência de prática profissional, pois os mesmos desenvolveram projetos sociais e são supervisores de estágios na área. Segundo Cruz, Freitas e Amoretti (2014), um dos desafios da área da Psicologia Social Comunitária é a articulação entre teoria e prática dos psicólogos que atuam em intervenções sociais. Neste sentido, mostra-se relevante no processo de formação a inserção de práticas que valorizem ações voltadas aos interesses da comunidade.

No processo de formação acadêmica e atuação profissional destaca-se a necessidade de relacionar teoria à prática. Pontes, Santos e Cassandre (2018) investigaram as propostas intervencionistas referentes a PSC, a partir de buscas de dados na plataforma Sucupira e sites oficiais (Ebsco, ProQuest e Scielo), o que foi possível identificar 400 pesquisas, mas somente 29 (7,25%) apresentavam propostas intervencionistas congruentes com a PSC. Desta forma, verifica-se a importância do docente em Psicologia de produzir conhecimentos que possibilitem a sustentação das disciplinas que são ministradas e das práticas de estágio, pois desta forma ocorrerá o crescimento da área da PSC e a formação qualificada para atuação profissional. Nas quatro IES pesquisadas identificou-se que as disciplinas ministradas pelos docentes representam as bases para a construção de práticas de intervenção, isto auxilia o estudante de psicologia para o desenvolvimento de projetos que valorizam as demandas sociais por meio do compromisso com a participação social.

A Tabela 3 apresenta os aspectos do ensino em PSC considerando o desenvolvimento atual e futuro. Percebe-se que há um avanço nas práticas didáticas dos docentes na construção das ementas e na maneira de transmitir os conhecimentos na sala de aula. Assim, futuramente ocorrerá a construção dos planos de ensino de maneira interdisciplinar, a articulação entre ensino, pesquisa, extensão por meio de metodologias dinâmicas e formas variadas de avaliação da aprendizagem.

 

Considerações finais

Ao analisar as práticas didáticas de docentes de Psicologia, verificou-se que as disciplinas ministradas auxiliam no processo de formação em PSC, os planos de ensino são baseados na ementa e existe uma variedade de recursos didáticos que são utilizados, o que representam aspectos positivos e congruentes com as recomendações das diretrizes curriculares dos cursos de graduação.

No que se refere à avaliação da aprendizagem, este aspecto apresentou variações nas instituições de ensino, por outro lado foi possível perceber que os professores estão utilizando modelos tradicionais e contemporâneos, por exemplo, provas bimestrais e avaliação processual. Um ponto em comum nos professores foi a dinâmica para o desenvolvimento de estágios, pois verificou-se a flexibilidade para a indicação dos locais e a utilização de metodologia adequada para o andamento dos estágios. Os professores têm experiência no desenvolvimento de projetos sociais e percebem o crescimento da área da PSC, isto repercute em práticas contextualizadas que auxiliam a atuação profissional.

Os objetivos desta pesquisa foram atingidos por considerar que a apresentação dos resultados possibilitou compreender o panorama da formação acadêmica para atuação profissional em PSC. A principal limitação relaciona-se ao fato de que apenas quatro instituições de ensino autorizaram a realização da pesquisa. Recomenda-se a utilização de pesquisas com docentes e estudantes de Psicologia para a exploração dos relatos referentes à formação acadêmica em PSC e a experiência nos estágios. Especificamente em relação aos estágios, se torna relevante identificar as práticas que estão sendo desenvolvidas e de que maneira, professores e alunos, avaliam o processo de construção das atividades, os resultados obtidos, a experiência de inserção no campo de práticas, e as repercussões para a atuação profissional.

 

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Recebido em: 25/09/2019
Aprovado em: 06/02/2020

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