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Cógito

versão impressa ISSN 1519-9479

Cogito v.7  Salvador  2006

 

PSICANÁLISE E ARTE

 

A arte antes e depois da psicanálise *

 

 

Phil Moreno **

Associação de Autores Teatrais Brasileira

 

 


RESUMO

Através da evolução o homem humanizou-se a partir dos processos de criação - o seu desenvolvimento criativo marcou a história civilização- os processos simbólicos vão além das fantasias e enquanto percepção imaginária concretizaram formas, sínteses que objetivam as mais vastas teorias interpretativas.

Palavras-chave: Sensibilidade, Expressão, Síntese, Criação, Interpretação, Representatividade, Simbólico.


 

 

Uso, como partida, um único instrumento
A minha sensibilidade

 

Por sermos desejos, inclinações, impulsos para agir somos naturalmente impelidos para essa coisa importante que é a nossa ação interior.

A ação criadora é o movimento da alma para o corpo - do interno para o externo - do antes para o depois. O antes é feito de constantes aspirações, provocações interiores. O depois a consumação das ações internas explosões ininterruptas - de surtos, de desejos - movimentos contínuos de nós humanos, fluxo de nossa dinâmica interior da nossa ação criadora.

O antes - o depois - existem no universo, nas leis que regem a evolução - no desenvolvimento do indivíduo, enquanto sujeito, enquanto gente pessoa.

Antes e depois do nascer, do desenvolver, o indivíduo segue uma lei não simples. Ele é guiado e medido pelo drama que tem dentro de si a simbolizar a cada momento:

O seu impulso de vida

O seu impulso de morte.

Forças inexoráveis, determinantes de tudo e de todo da sua dinâmica física mental e emocional.

Quer ele seja menino, quer ele seja menina, estes fatores compõem o dentro e o fora, dizem das molduras e expressam a forma explícita da criação realizada, por nós humanos enquanto inconsciente.

Com a criação da imagem psíquica, o homem evoluiu através dos milênios, dos séculos, realizando nas décadas contagens significativas, marcos que definiam os processos históricos.

A partir de 30,40,50,60 e 70 e mais vigorosamente no século XXI, a psicanálise, adentrando o universo da Arte com seus estudos, se fez presença de novas avaliações. Surge uma reformulação.

O crítico de arte, o Perito, o que sempre deteve o poder, o dom do fechamento da síntese realizada pelo artista, se reformula: adentra conhecimentos outros.

Uma leitura com valores e forças interpretativas ganhou espaços. As formas, os artistas, quebraram leis, paradigmas. Livres, as expressões se fizeram marco de uma nova era: confirmam a evolução.

Para os historiadores da Arte, para os Antropólogos, Sociólogos uma nova visão "a da psicanálise" dimensiona no que diz respeito à forma criada, o tocante aos processos outros, intrínsecos às estruturas psíquicas simbólicas sem as quais significativamente não teríamos evoluído.Não seríamos Humanos.

Com a psicanálise o não verbal da compreensão da criação artística se viu interpretada.

Não mais a técnica, o sensível, a harmonia da forma.

O domínio do não visível da expressão dos artistas se tornou visível, passivo às interpretações distantes das avaliações estilísticas da obra expressa - o processo interno do artista, os seus conflitos existenciais se agigantaram. Com os conflitos os temas se sobrepuseram.

Marcando a história do homem, ela, a Arte, fala de Estilos. Estilos falam do criador, dos artistas, dos valores éticos e morais a que eles, estes artistas, pertencem ou pertenceram.

A arte é uma construção social - ela definitivamente define os momentos históricos da história da humanidade.

Os marcos transmutaram as formas, a tecnologia, o domínio do fazer artístico.-

Com a psicanálise, desenvolveu-se um novo arco-íris.

As fantasias, os textos passaram da subjetividade do seu criador para as contemplações das avaliações psicanalíticas.

Quanto maior for o domínio do saber constituído de quem observa, de quem faz a interpretação, maior o domínio dos acertos.

Assim projetado recriam a criação genuína, dando a ela um saber puramente cognitivo.

A Arte sempre tem e terá como função, meta, objetivo avaliar os sentidos de nós humanos, de nossa sensibilidade.

Ela, a Arte, antecipa, prevê, realiza os movimentos futuros.

Quando reconhecemos a Arte como realização dos processos simbólicos, assumimos juntos o quanto é pertinente que o símbolos quando conferidos sejam lidos artisticamente, sentidos.

A arte enquanto criação é o pensar junto dos humanos. É ele conceber ele próprio como um ser atemporal, universal.

Originalmente este ser, este homem vem das mãos da natureza. E é igual em todas as partes do mundo - enquanto humano enquanto mortal .

As capacidades de aperfeiçoamento traduzem as aquisições, os valores que foram adquiridos, quer ele seja um selvagem, quer pertencente às nações mais evoluídas.

As histórias da Arte, os arqueólogos - a Arqueologia, enquanto ciência, não têm deixado dúvidas do quanto a ação do homem é importante e o quanto sem ela seus processos de sobrevivência seriam menores.

O feito do homem traduz processos outros - tradutores de processos cognitivos intelectuais.

No tempo do agora as conquistas psicanalíticas se sobrepõem e o universo da criação humano é envolvido por uma nova linguagem!

Na arte a criação não é qualidade transmitida - na arte, os talentos, o gênio.

Mas, porém a corporificação é criada. Esta é definitiva e traduz uma linguagem simbólica expressa - que significa.

A humanidade segue sua evolução, construindo seus processos simbólicos. Nesta construção, a realidade do sentir deste homem, que fez que se faz e se fará contínuo na perpetuação dos seus produtos criados.

As formas, as expressões culturais de uma civilização, de um povo por mais antiga não está além da nossa capacidade de compreensão, porque nos processos criadores destas civilizações a construção artística marcou as passagens - definindo linguagens sentimentos

Pontuando essas épocas, preenchendo as lacunas, revigorando as trajetórias vindouras, a Antropologia.

Ciência Vida nos fazem reviver não somente no imaginário a realidade em que elas pertenceram.

Distantes dos inventos científicos dos estudos aprimorados, o homem não cientista, não criador segue "seus momentos significativos - E, os artesãos seguem, perpetuando as gerações, - pontuam, com aprimoramentos únicos as regiões geográficas. Definem as raças.

Na textura artesanal de um povo de uma cultura o homem se agrupa, se sobressai. Não mais como indivíduo; mais como grupo, como um ser social. Um ser que faz suas escolhas, que define territórios, que faz as guerras.

Que ama .

Que odeia.

A Humanidade, enquanto humanidade, escreveu a sua história marcando as épocas de sua evolução sócio - política, cultural com seus costumes suas necessidades existencias.

Na cultura, a criação. Com a cultura como ser singular a imagem do homem fala, dança, cria seus ditos: os simbólicos. Perpetuando assim sua trajetória neste universo distante, puramente espacial, o homem se imortaliza.

A criação é estrutura representativa

Na forma, a expressão

Na expressão, o movimento

Eis porque toda obra de arte possui uma parte objetiva e uma subjetiva.

A primeira é o complexo de imagens que apresenta, e a segunda o sentimento que encerra e transmite. Movimento é criação.

Criação é ação, é concepção de idéias, é sentimento, é representação, principalmente quando estes são marcados pelos padrões culturais de um povo.

Na criação, a arte é o conjunto de regras e princípios para a consecução de uma finalidade, é aplicação dos princípios da construção da história do homem, que ao se ver de pé, se fez humano...

Assim ereto corporificou

Emoções e imagens

Associando-as, expressou de forma única e singular os seus sentimentos.

Realizou sua condição simbólica

Tornou-se sensório

Transcendente

Pessoa

Não existe uma arte antiga

Uma arte nova

A Arte não morre

Ela, a Arte, não disse.

Ela diz.

Arte é som, é movimento, é limite, é forma, é cor, é voz, é palavra - é escuta, é ritmo, é tempo, é luz, é sombra.

Nos movimentos perpétuos das análises científicas a comprovação da não imortalidade do homem.

Na construção científica as formas são fechadas, e se a construção de novas forem admitidas, essa construção é submetida às regras e às leis já estabelecidas. Regras fechadas.

No simbólico artístico os signos transcendem, para que as novas leis se multipliquem e as metáforas tradutoras do infinito expressivo dos humanos realizem, transcendentemente, a sua imortalidade.

Na arte, várias são as linguagens: nela não existe um sistema simbólico definido.

Na Arte não existe

O porquê

Para que...

Sim, para quem

Estaos vivenciando uma época em que o espectador deixou de ser passivo. Presente todo o tempo, ele é solicitado a participar dos processos criadores da obra expressa.

Para o artista de hoje tudo é válido, tudo é permitido, tudo é passivo ou possível de acontecer. Todas as contradições são aceitas, são cabíveis de acertos. O formalismo perdeu sua razão de ser.

A Arte perde significados, fica quase significante, enquanto universal.

Ela, a arte, é o universo dos símbolos, canta o simbólico, harmoniza os significados e traduz os temas dos significantes.

Constroe em nós e no universo as leis que regem o equilíbrio dos símbolos do significado.

Na arte não existe

O porquê

O para que...

Sim, para quem

As formas realizadas constroem por vezes atividades complementares.

Por isso, arte é vida, é criação

Haverá sempre o outro, um regente, um intérprete

Com eles e a depender deles, a obra se recria.

Fiel à origem específica, ela é perpetuada

E assim nas seqüências de tons e semitons o homem preenche os intervalos.

Não se recria, não se refaz um feito artístico. Uma criação é única - singular .

A arte enquanto criação se sobrepõe ao feito que for realizado - à forma expressa -

O Artista, enquanto criador, jamais deixará dúvidas quanto ao que ele desejou ou deseja expressar.

Não se pode separar a Arte da obra de arte, o artista da forma por ele expressa, e esta, quando realizada, da época e cultura a que venha pertencer.

É preciso concluir - fechar o processo.

Arte, enquanto arte, é vida, é início, desenvolvimento e fim

Os processos científicos, os cognitivos, os do universo do saber constituído, o conhecimento, longe, muito longe estão das emoções, dos improvisos das representatividades .

No saber científico o conhecimento é adquirido, é transmitido logicamente através dos ensinos e tem que ser adquirido acertadamente. No saber científico só o conhecimento pelo conhecimento

Longe, o dentro, o fora, o fazer sentido - intuitivamente. Para a compreensão real de seus processos pertencentes ao sentido do espaço.

A arte é construção do sentimento, não é uma habilidade adquirida pela experiência pelos estudos.

Em épocas passadas foi domínio, técnicas, exercício, ofício

Falamos de Arte

Falamos dos Humanos

Sem os Humanos

O não simbólico

Sem os Humanos

A ausência das formas

Sem os Humanos, o vazio, a inexpressividade, o caos

Sem os Humanos,

A ausência da evolução.

Com os Humanos

A grandeza da Arte

As interpretações psicanalíticas.

A arte, enquanto arte, viveu antes e depois do Cristo, antes e depois da psicanálise.

Ela, a Arte, enquanto arte, é o tempo todo o todo de todo tempo.

Ela, Arte enquanto arte, conta a história não do inconsciente de nós Humanos. Mas a história dela própria, que é a criação, que é o inconsciente, que traduz, expressa, que fica e vai além.

O Homem, a humanidade seguirão com seus processos interpretativos criadores para dizer a quem chegar, que a criação pertence aos processos primários, ao antes, e ao depois.

Mas ela, a Arte, enquanto criação, deterá para sempre de forma mágica e definitiva os produtos realizados pelos artistas.

 

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* Palestra proferida na XVII Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia.
** Escritora auto didata, artista, musicista. Membro da ATRB - Associação de Autores Teatrais Brasileira.

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