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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.10 no.3 Itatiba dez. 2011

 

EDITORIAL

 

 

Nas últimas duas décadas, vimos o desenvolvimento de sistemas de avaliação em larga escala para as instituições de ensino brasileiras em todos os níveis. No ensino superior, a avaliação de desempenho dos estudantes iniciou-se em 1995 com o Exame Nacional de Cursos. Em 2004 o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES) incluiu, como um de seus componentes, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e a partir de 2006 os estudantes de Psicologia passaram a respondê-lo. A elaboração do ENADE envolve uma rede complexa de atores, de sua concepção a sua execução, dentre eles a Comissão de Área de Psicologia, assessora do Ministério da Educação/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (MEC/INEP). Essa comissão tem como tarefa propor diretrizes, objetivos e outras especificações para a elaboração do ENADE e desenvolver estudos e produtos a partir dos dados obtidos desta e outras avaliações. Durante a formação das comissões de área, o INEP solicita a indicação de especialistas aos órgãos representativos da área profissional. Assim a formação da comissão de Psicologia ocorre a partir da indicação de nomes feita pelo Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB).

Uma vez constituída a comissão, a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), presidida na época pelo Dr. Marcos Ferreira, iniciou, junto com a comissão, um grupo de trabalho para realizar estudos com os dados levantados pelo ENADE. Esse grupo contou também com o apoio da Associação Nacional de Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) e do próprio INEP por meio da Diretoria de Avaliação da Educação Superior (DAES), dirigida na época pelo Dr. Dilvo Ristoff. Um primeiro debate sobre esses dados ocorreu no Seminário ABEP/INEP/CFP, realizado em dezembro de 2007, com a presença da grande maioria dos coordenadores de cursos de Psicologia.

Neste número temático da revista Avaliação Psicológica, a ABEP e o IBAP se reuniram para publicar os primeiros trabalhos resultantes das atividades desse grupo que analisou o banco de dados do primeiro ENADE, realizado em 2006. Esses estudos procuram abordar o estudante, ingressante e concluinte, compreendendo melhor seu perfil sociodemográfico, aspectos de seu contexto e do seu desempenho, aqui tomado como indicador da aquisição ou desenvolvimento das competências básicas esperadas do egresso de um curso de graduação em Psicologia. Busca-se, adicionalmente, compreender as características da prova e as competências, habilidades e conhecimentos dos estudantes avaliados por ela. Por fim, os estudos buscam compreender variáveis ligadas ao processo de formação, incluindo a diversidade de contextos institucionais em que se formam os psicólogos no Brasil. Este número contém oito artigos que buscam explorar de forma ampla o conjunto de dados gerados pela avaliação do ENADE.

"Quem é o estudante de Psicologia do Brasil?" é o primeiro artigo, de autoria de Oswaldo Hajime Yamamoto, Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e Pablo de Sousa Seixas. Nele foi discutida a tese da elitização do curso de graduação em psicologia no Brasil, com base na análise dos dados sociodemográficos dos estudantes. O artigo foi subdividido em três partes. Inicialmente, foram delineadas as características sociodemográficas dos estudantes. Em seguida, tratou-se da questão da elitização do curso de Psicologia propriamente dita, buscando identificar percursos acadêmicos possíveis mediante uma análise classificatória multidimensional de um conjunto de dados socioeconômicos selecionados. Finalmente, as características sociodemográficas dos estudantes de Psicologia e os dois principais percursos acadêmicos delineados pela análise (elitizado e não-elitizado) foram retomados e discutidos, em resposta à questão da elitização do curso de Psicologia.

A análise das características do contexto sociocultural dos estudantes de Psicologia no Brasil foi o objetivo do segundo artigo, "Estudantes de Psicologia no Brasil e o contexto sociocultural", de Neuza Maria de Fátima Guareschi, Guilherme Welter Wendt e Simone Maria Huning. Foram analisados os hábitos de leitura, bem com como o gênero de leitura mais frequente, os meios de comunicação social que os alunos utilizam na busca de informações, os motivos que levam ao uso da informática, as atividades de lazer e conhecimentos de outra língua. Segundo os autores, esses dados podem ser úteis na elaboração de projetos de ensino contextualizados e relevantes para determinada região, ao mesmo tempo em que indicam rupturas e disparidades em algumas dimensões do espectro sociocultural.

Ricardo Primi, Cláudio S. Hutz e Marjorie Cristina Rocha da Silva são os autores do terceiro artigo, "A prova do ENADE de Psicologia 2006: Concepção, Construção e Análise Psicométrica da Prova". Nele apresentam-se os procedimentos de construção da prova, uma análise psicométrica empregando a análise fatorial dos itens por informação completa e calibração dos parâmetros dos itens empregando o modelo Rasch e de créditos parciais (para as questões dissertativas). Foi elaborada uma análise dos mapas de itens, para estabelecer referências de interpretação das notas, o que permitiu realizar uma caracterização das competências e habilidades dos estudantes pesquisados, comparando-se o desempenho dos concluintes em relação aos ingressantes.

No quarto artigo, "Formação básica e profissional do psicólogo: análise do desempenho dos estudantes no ENADE-2006", de autoria de Marilene Proença Rebello de Souza, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos e Deborah Rosária Barbosa, são analisados resultados obtidos pelos estudantes quanto a dados Socioeconômicos, de História Escolar e Componentes Específicos do conhecimento psicológico. Identificou-se que os estudantes são, em sua maioria, provenientes do ensino privado e apresentam diferenças de desempenho quando comparados aos provenientes do público. Uma das constatações foi a necessidade de maior investimento na formação quanto aos conteúdos referentes a Investigações e Medidas, bem como em Fundamentos Históricos e Epistemológicos da Psicologia.

"A Formação básica e profissional do psicólogo: uma análise do desempenho das IES no ENADE-2006", quinto artigo, de autoria de Antonio Virgílio Bittencourt Bastos, Sônia Maria Guedes Gondim, Janice Aparecida Janissek de Souza e Marilene Proença Rebello de Souza, traz a análise da formação em Psicologia oferecida pelas Instituições de Ensino Superior brasileiras. Foram analisados os indicadores do desempenho geral e os relativos aos componentes específicos da prova explorando-se, sobretudo, a sua variabilidade levando em consideração o tipo e a natureza da instituição formadora. Os resultados gerais indicaram que as IES públicas (federais e estaduais) apresentaram desempenho superior em relação às instituições públicas municipais e particulares.

Mônica Lima e Monica Tomé descreveram no sexto artigo, "A Percepção dos estudantes sobre infraestrutura dos cursos de psicologia: considerações a partir do ENADE-2006", as condições de infraestrutura apresentadas pelas IES, a partir das informações do questionário socioeconômico respondido pelos estudantes. As autoras concluíram que há urgência de investimentos para melhorar as condições de infraestrutura das universidades federais e incrementos para o nordeste e norte do país em relação às situações menos favoráveis avaliadas pelos respondentes.

"O processo de ensinar em cursos de Psicologia na perspectiva dos estudantes" é o título do sétimo artigo, de Soely A. J. Polydoro e Roberta Gurgel Azzi. Nele, as autoras buscaram discutir a percepção dos estudantes de Psicologia, ingressantes e concluintes, sobre a ação docente a partir das respostas obtidas em seis questões do questionário socioeconômico do ENADE-2006. O cenário obtido foi discutido considerando-se que a percepção do estudante quanto ao ambiente educacional é relevante para seu envolvimento no processo de formação e desenvolvimento integral; e que o conhecimento sobre suas percepções e experiências contribui para o estabelecimento de políticas e práticas mais inclusivas.

No oitavo e último artigo, que Neuza Maria de Fátima Guareschi, Guilherme Welter Wendt e Gisele Dhein intitularam "As atividades de pesquisa, extensão e monitoria na formação em Psicologia", foi analisado o questionário socioeconômico que acompanhou a prova do ENADE-2006 nas atividades de iniciação científica, extensão e monitoria. A descrição de que os estudantes são, em sua maioria, oriundos de instituições privadas sem curso de pós-graduação e que residem no interior permitiu balizar as análises dos autores. Em relação ao intercâmbio efetivo entre a graduação e a pós-graduação, foi identificado um número pequeno de alunos que obtiveram a possibilidade de se envolver em projetos de pós-graduandos, estando mais envolvidos em projetos do professor orientador. Quanto às atividades de monitoria, os alunos das instituições federais foram os que mais participaram, seguidas das particulares, municipais e estaduais.

Este número temático pretende ser uma primeira iniciativa das organizações envolvidas em fomentar e apoiar a realização de pesquisas a partir das bases nacionais de avaliação em larga escala. Cabe lembrar que o INEP disponibiliza à comunidade de pesquisadores imensos bancos de dados com informações muito ricas de todos os sistemas de avaliação (ver: http://portal.inep.gov.br/web/guest/basica-levantamentos-acessar), incluindo os que foram usados nos estudos apresentados neste número.

Como sabemos, a psicometria nasce em grande parte inspirada nos problemas enfrentados pelos grandes centros de avaliação em larga escala ao produzir instrumentos e sistemas de avaliação. Em tais centros, psicólogos, educadores, estatísticos, economistas e outros profissionais colaboram para transformar os dados em informação e conhecimento.

O IBAP e a ABEP, como entidades ligadas à avaliação psicológica e ao ensino de Psicologia, se sentem realizados em sua missão ao colaborar para que a divulgação desses trabalhos seja concretizada. Assim, esperam que este produto, que permite comparação com os ENADE subsequentes, tenha um impacto importante para a área e inspire a comunidade a produzir novos trabalhos similares com a imensa quantidade de dados construída por este sistema de avaliação.

 

Acácia Aparecida Angeli dos Santos (Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica).

Antonio Virgílio Bittencourt Bastos (Comissão da Área de Psicologia, INEP/MEC).

Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni (ABEP).

Ricardo Primi (Comissão da Área de Psicologia, INEP/MEC).