SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.14 número3A quarta edição do teste WAIS índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.14 no.3 Itatiba dez. 2015

 

 

Avaliação psicológica direcionada a populações específicas: técnicas, métodos e estratégias

 

 

Marlene Alves da Silva1

UNIGRAD

 

 


O uso da avaliação psicológica tem se expandido nos últimos tempos. Qualificá-la, dotá-la de cientificidade, ampliar seu raio de atuação implica não só o desenvolvimento de instrumentos adequados e éticos ao fazer psicológico, bem como sua interface com outras ciências. Nesse sentido, pesquisadores da área têm se debruçado no estudo e conhecimento de populações minoritárias e específicas, tais como deficientes, superdotados, atletas com alto rendimento e pessoas com quadros clínicos, dentre outras, visando adequação coerente dos instrumentos psicológicos e avaliações psicológicas não rotuladoras ou estigmatizantes.

Com vistas a abordar conceitos importantes e específicos, assim como ética, processo de construção de instrumentos psicológicos, seus usos e limitações, Carolina Rosa Campos e Tatiana de Cássia Nakano organizam os textos de modo a oferecer conhecimentos dentro da área da avaliação psicólogica focada em algumas populações específicas e estratégias de inclusão social. O livro está organizado em nove capítulos, os quais são escritos por 16 profissionais da Psicologia e da Fonoaudiologia e referem-se a estudos desenvolvidos por meio de diversos enfoques teóricos e metodológicos, caracterizados como estudos independentes, entretanto, relevantes para a compreensão mais aprofundada nas deficiências e nas altas habilidades, como nas adaptações e construções de instrumentos para a área da avaliação psicológica das minorias.

Carolina Rosa Campos e Tatiana de Cássia Nakano, por meio de visita in loco e entrevistas com a equipe multidisciplinar de duas instituições discorrem sobre Avaliação cognitiva de crianças com deficiência visual: conhecimento de recursos muldisciplinares utilizados nas instituições de atendimento, primeiro capítulo. As autoras entrevistaram psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionas e educadores físicos e constataram a importância de um trabalho conjunto com uma equipe multidisciplar em parceria com a família. Esse olhar multidisciplinar sobre as dificuldades e capacidades dessa população, assim como os materiais a serem utilizados favorecem a adequação na construção ou adaptação de instrumentos sem viés.

No segundo capítulo, Diretrizes norteadoras para a construção e adaptação de instrumentos psicológicos sob a perspectiva do desenho universal, os pesquisadores Cassandra Melo Oliveira e Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes apresentam o processo de adaptação de um instrumento informatizado que avalia a personalidade de pessoas sem e com deficiência, aplicando-se princípios de desenho universal, a saber, população de avaliação ampla e inclusiva; definição precisa do construto; itens acessíveis e não tendenciosos; testes flexíveis a acomodações; instruções e procedimentos simples, claros e intuitivos; leitura agradável e de máxima inteligibilidade e legibilidade. O texto aponta o roteiro de elaboração e as pesquisas e instrumentos desenvolvidos internacionalmente no contexto educacional, bem como as diretrizes norteadoras de construção sob essa modalidade no Brasil.

Populações com deficiência intelectual: funcionamento comportamental e adaptativo de crianças e adolescentes é tema do terceiro capítulo. As pesquisadoras Gisele da Silva Barandi e Maria Cristina Trigueiro Veloz Teixeira tratam da definição de Deficiência Intelectual – DI que, de acordo com o DSM-5, é considerada uma subcategoria diagnóstica dos Transtornos do Neurodesenvolvimento e inclui a identificação de alguns marcadores diagnósticos, como habilidades intelectuais e adapatativas. Ainda, os procedimentos diretos e indiretos da avaliação comportamental em pessoas com DI e a necessidade de uma avaliação neuropsicológica e outros procedimentos. O capítulo é finalizado com um panorama brasileiro dos instrumentos padronizados de avaliação comportamental de pessoas com transtorno do neurodesenvolvimento.

Rauni Jandé Roama Alves, Ricardo Franco de Lima e Sylvia Maria Ciasca assinam o quarto capítulo, Avaliação neuropsicológica da dislexia do desenvolvimento, em que apresenta os aspectos históricos e conceituais, ainda, os critérios diagnósticos de acordo com o CID-10 e as evidências neurobiológicas. Define dislexia como um transtorno de aprendizagem de leitura que deve ser resultante de pertubações em aptidões cognitivas fundamentais e de origem constitucional. A avaliação neuropsicológica é um procedimento que visa inferir e compreender o funcionamento cerebral por meio do desempenho comportamental e pode ser utilizada para várias finalidades. Ela requer raciocínio clínico além de outros conhecimentos. Por fim, os autores descrevem pesquisas realizadas sobre os instrumentos utilizados para a avaliação de dislexia.

No quinto capítulo, Psicomotricidade: histórico, definição e dificuldade de aprendizagem, Cíntia Alves Salgado Azoni e Mariana Coelho Carvalho abordam a psicomotricidade vista como ciência que tem como objetivo estudar o homem por meio de seu corpo em movimento e sua relação com seu mundo interno e externo. A sustentação se dá por três conhecimentos básicos, a saber, o movimento, o intelecto e o afeto. As autoras percorrem pelas funções psicomotoras, como a equilibração, a tonicidade, a lateralização, a noção de corpo, a estruturação espaço-temporal e a praxia global fina, e apresentam uma lista de instrumentos para a avaliação psicomotora. O capítulo é encerrado com a questão escolar e os transtornos do desenvolvimento apresentado pela criança em relação à psicomotricidade.

Larissa Botelho Graça e Orlando Francisco Amodeo Bueno decorrem sobre a Avaliação neuropsicológica em epilepsia do lobo temporal mesial, no sexto capítulo. Epilepsia é uma condição neurológica que consiste em interrupções imprevisíveis e recorrentes do funcionamento elétrico normal do cérebro. O impacto da crise de epilepsia na qualidade de vida do paciente está relacionado a problemas para encontrar e manter-se em um emprego, estresse, baixa autoestima, isolamento social, discriminação e estigma. As autoras analisam como prejuízos na qualidade de vida podem afetar os diversos tipos de memórias: de longo prazo, episódica, semântica, implícita, de curto prazo e operacional e, ainda, a atenção, as funções executivas e a capacidade intelectual. O capítulo é fechado descrevendo as limitações da avaliação e as personalidades históricas que conviveram com essa doença.

Avaliação dos transtornos da personalidade no Brasil: o Inventário Dimensional Clínico de Personalidade é o tema do sétimo capítulo elaborado por Lucas de Francisco Carvalho. Ele inicia definindo personalidade que, de acordo com um consenso geral, é uma inferência abstrata, um conceito, um constructo, e não um fenômeno tangível. Portanto, pode ser entendida como a combinação de diferentes sistemas relacionados aos atributos psicológicos. O autor descreve a teoria que sustenta o Inventário Dimensional dos Transtornos da Personalidade – IDTP e seus estudos psicométricos. Ainda, o autor refere que o instrumento apresentou algumas limitações nos primeiros estudos, gerando um novo instrumento. Relata a evolução dos estudos realizados, descreve as etapas dessa revisão e aponta as perspectivas futuras, além de enfatizar que o instrumento continua em estudos avaliativos.

Walquíria de Jesus Ribeiro contribui com o oitavo capítulo para a obra com Discussões atuais da temática das altas habilidades/superdotação: a questão da nomenclatura/conceituação e sua avaliação. A autora reporta as leis educacionais editadas no Brasil sobre esse tema desde 1970. Ao fazer essa narrativa, aponta as diversas nomenclaturas e conceitos, sendo que atualmente usa-se superdotação/altas habilidades. Apesar disso, não há consenso em relação aos termos. A revisão das terminologias utilizadas no Brasil no período de 2002-2011 detecta apenas 43 artigos, sendo que os termos mais usados são “superdotação”, “talento” e “altas habilidades”. Os modelos teóricos explicativos para cada termo são apresentados e a conclusão é que há controvérsias no que tange ao uso da nomenclatura para designar as altas habilidades/superdotação.

Fechando a obra, Evandro Morais Peixoto e Tatiana de Cássia Nakano apresentam os Problemas e perspectivas na utilização dos testes psicológicos em psicologia do esporte, nono capítulo. Os autores discutem sobre a importância da criação de instrumentos válidos para a avaliação psicológica no contexto esportivo, em especial, a avaliação de atletas de alto rendimento e habilidade. Declaram que essa avaliação alicerça-se nas mesmas premissas que a Psicologia Geral, ou seja, observação, entrevista, experimentos em laboratório, experimentos pedagógicos e testes psicológicos. Relata sobre as exigências do Conselho Federal de Psicologia para o desenvolvimento de instrumentos psicológicos para a aprovação e utilização no Brasil. Perpassa pelos tipos de referências para interpretação dos escores, apresentando os métodos mais utilizados e as consequências da testagem em Psicologia do Esporte.

Trata-se de uma obra que reúne importantes pensamentos de alguns estudiosos em temáticas da área de avaliação psicológica em contextos poucos pesquisados, assim como as várias formas de aferição em que ressaltam a importância da normatização adequada à população atendida e que sejam verificadas as limitações do teste psicológico, assim como os propósitos para os quais foram criados. Ademais, traçam um caminho da construção de um inventário que avalia a personalidade e a interlocução com outras ciências para o entendimento de alguns distúrbios. Em síntese, o livro tem uma linguagem clara e de fácil compreensão, as referências são atuais e os temas diversificados, portanto, de suma importância para os profissionais que atuam com essa tarefa exclusiva da Psicologia. A leitura é recomendada aos graduandos de Psicologia e aos psicólogos, pois aponta e embasa novas áreas de atuação profissional com vistas à inclusão social do avaliando, com significativo respeito às diferenças das populações específicas e questões éticas que pautam a Psicologia.

 

Referências

Campos, C. R., & Nakano, T. C. (2014). Avaliação psicológica direcionada a populações específicas: técnicas, métodos e estratégias. São Paulo: Vetor Editora.         [ Links ]

 

 

recebido em março de 2015
reformulado em setembro de 2015
aprovado em setembro de 2015

 

 

Sobre a autora

Marlene Alves da Silva: é psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo e doutorada em Psicologia pela Universidade São Francisco. Atualmente é professora convidada na UNIGRAD Pós-graduação e Extensão, Psicóloga/Diretora da Clínica Fênix Ltda e da Orient Consultoria e Diretora Científica de Psicologia da Associação Bahiana de Clínicas de Trânsito.


1Endereço para correspondência: Av. Otávio Santos, 261, sala 06, Centro Médico Edilson Pontes, 45020-750, Vitória da Conquista-BA.


Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons