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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.13 n.1 Belo Horizonte jun. 2007

 

SEÇÃO ABERTA

 

Resumo de tese

 

Participação e consciência política: análise psicopolítica da experiência de lideranças femininas urbanas

 

Participation and political conscience: psycho-political analyzis of the urban women leadership

 

 

Betânia Diniz Gonçalves*

 

 

A partir da segunda metade do século XX, verifica-se uma crescente visibilidade das mulheres na agenda política internacional. Esse fato constitui-se em importante fenômeno e considerável conquista. No decorrer dos anos, ocorreu um aumento da presença feminina tanto em política partidária, em cargos de lideranças empresariais, quanto em movimentos sociais. A reivindicação das mulheres por um espaço próprio na estrutura de poder acarreta um redimensionamento de sua atuação, ou seja, à medida que as mulheres se tornam sujeitos, são capazes de se reposicionar e se redefinir, transformando suas identidades, suas relações, os espaços sociopolíticos e culturais em que estão inseridas etc.

Em relação à participação política, homens e mulheres não ocupam posições simétricas, do mesmo modo que os conteúdos politizados por um e por outro não são os mesmos. Ao longo da história, muitas das reivindicações das mulheres não foram consideradas. A dinâmica da atividade política, práticas e funcionamento de partidos, linguagens e valores políticos reconhecidos são feitos, com freqüência, baseados em modelos masculinos: presença de alto grau de violência verbal, valorização da competitividade em detrimento de cooperação, presença de alto nível de hiperatividade não criativa, alto grau de renúncia à intimidade e ao cotidiano. Muitas vezes se supõe que o espaço público e a vida política são próprios dos homens, enquanto que as mulheres são destinadas como proprietárias e gestoras do espaço privado. Lideranças femininas que exercem o poder de forma eficaz contribuem para a desconstrução de estereótipos negativos relativos ao exercício de poder pelas mulheres. Contudo, lideranças femininas que fracassam no exercício do poder contribuem para reforçar tais estereótipos.

No caso das mulheres, muitos são os fatores que dificultam sua participação política, por exemplo: educação sexista; a sua socialização política, que não as motivam a se candidatar para cargos políticos; ambivalência feminina acerca do êxito; a não distribuição de tarefas domésticas com o parceiro; falta de políticas públicas que atendam às necessidades das mulheres; uma divisão social de trabalho que as reafirmam como reprodutoras e cuidadoras; a sistemática exclusão da esfera pública que as coloca no âmbito do privado e, conseqüentemente, limita a sua participação na esfera política e em âmbitos de tomada de decisões. Mecanismos de ação positiva possibilitam o enriquecimento de debates públicos e de processos políticos, a promoção de desenvolvimentos de modelos de papéis sociais desejáveis, o respeito às diversidades e o alívio das tensões entre os gêneros. A paridade se faz necessária em órgãos políticos, pois cidadãos homens e mulheres querem ver representados seus interesses políticos e sociais. A incorporação de mulheres na esfera de decisões contribui para uma representação mais genuína da diversidade da sociedade e de uma maior quantidade de interesses.

A atuação política de uma liderança feminina e a forma como é valorizada por seus contemporâneos repercute sobre outras mulheres no nível político e em funções sociais. Mulheres que ocupam cargos de liderança precisam desenvolver estratégias que lhes possibilitam superar ou burlar as restrições, manipulando estereótipos tradicionais para desarmar os oponentes. Apesar de todas as restrições sociais, o êxito das mulheres como liderança política não é um fenômeno novo e há mulheres que exercem esta função com grande influência. A obtenção de poder, por parte das mulheres, desafia as definições de gênero existentes e aumenta sua visibilidade política. Deparar com a eleição de mulheres para o exercício de lideranças públicas é sinal de mudanças sociais no contexto no qual elas se inserem. A verificação do impacto dessas mulheres sobre os diversos aspectos do sistema político permite examinar quais os pontos estão institucionalizados e se mantêm constantes, e quais aspectos variam em função da identidade do representante, ou seja, o que varia a partir da eleição de um homem ou uma mulher.

As restrições à participação vividas pelas mulheres em alguns âmbitos sociais e políticos não as imobilizam, mas as despertam para criar outras formas de participação. A diferença da participação das mulheres na política se dá à medida que somam suas experiências e perspectivas às dos homens, acrescentando temáticas a serem tratadas no campo político. O diálogo entre homens e mulheres e a possibilidade do trabalho conjunto entre gêneros são diferenciais para a cena política se se considerarem a necessidade de ambos, descartando a idéia de interesses universais que visam ocultar a dominação política. A democratização de um país se constrói à medida que garantias políticas, sociais e econômicas são estendidas a todos os seguimentos da população, independente de raça, nacionalidade, gênero, religião etc. Assim, as lutas, reivindicações e conquistas das mulheres em espaços de poder integram o processo de democratização da sociedade. Ainda há muito que ser conquistado pelas mulheres para que, efetivamente, seja possível viver em uma democracia. A expansão da participação política entre mulheres é uma conquista que demandará muito tempo, mas o processo já está em curso.

 

 

*Doutora em Psicologia Social, PUC São Paulo, orientador: Prof. Dr. Salvador A. Meirelles Sandoval. E-mail: betaniadg@pucminas.br

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