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Revista da SPAGESP
versão impressa ISSN 1677-2970
Rev. SPAGESP v.7 n.2 Ribeirão Preto dez. 2006
EDITORIAL
O grupo em nós: incursões por caminhos e cenários contemporâneos
Manoel Antônio dos Santos1
É com enorme satisfação que saudamos a edição do segundo fascículo do sétimo volume da Revista da SPAGESP. Mantemos, assim, a periodicidade semestral e prosseguimos com nosso propósito de ampliar os esforços para tornar esse periódico conhecido em todo o território nacional, buscando dar visibilidade à produção de conhecimento sobre grupos em seus diferentes contextos de aplicação e abordagens.
A Revista da SPAGESP apresenta nesse número artigos que discutem teoria e técnica de grupos em cenários variados, trazendo contribuições originais para as áreas de saúde e educação. Os trabalhos mostram a diversidade de enfoques e focos de estudos, bem como a amplitude de discussões no cenário contemporâneo, sem descuidar dos aspectos éticos inerentes à atividade de grupo.
Jozelia Regina Díaz Olmos e Wilma Magaldi Henriques nos oferecem percepções agecem percepções agreflexão realizado com educadores que cuidam de adolescentes que cumprem medida sócio-educativa de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade, encaminhados pelo Poder Judiciário. Esse trabalho revela uma possibilidade fecunda de trabalho na interface da psicologia com o judiciário, que em escala crescente tem nos convidado a colaborar na edificação de um processo reeducativo que leve em consideração valores e direitos humanos, sobretudo de indivíduos em desenvolvimento que encontram sérias dificuldades para prosseguir em seu percurso rumo à idade adulta. O artigo oferece pistas importantes que nos permitem compreender as limitações do trabalho dos educadores, que passa a ser frustrante e a ter pouco alcance social, na medida em que reproduzem relações de dominação que legitimam os processos de exclusão social.
E por falar em processos de exclusão-inclusão e da inserção do profissional no campo da psicologia clínica comunitária e preventiva, Cristiane Reberte de Marque e Isabel Cristina Gomes apresentam um estudo em que destacam, de maneira cuidadosa, uma proposta interventiva que leve em consideração a possibilidade de uma criança transitar em contextos familiares diferentes daquele representado pela família de origem. As autoras buscam desenvolver recursos que funcionem como novas balizas teóricas para fundamentar o enfoque psicoterapêutico nessas condições, colocando em questão a necessidade de refletir sobre o modelo de atendimento mais adequado, que assegure a permanência do vínculo terapêutico em um ambiente instável e inseguro.
Na seqüência Ruffato compartilha reflexões sobre o trabalho de orientação em grupo para pais de crianças gravemente perturbadas. O autor engrossa o coro das investigações que buscam caminhos e estratégias assistenciais efetivas para atender as necessidades contemporâneas de saúde da população, conferindo clareza a um campo & saúde mental infantil & onde convivem diferentes concepções de intersubjetividade. Das reflexões empreendidas resulta um trabalho consistente que se opõe às posições conservadoras sustentadas por convicções organicistas e positivistas.
Questões de inclusão-exclusão também permeiam a escolha da orientação teórica que sustenta nossa prática. Nesse sentido, o artigo de Alexandre Mantovani abre uma perspectiva alentadora ao propor uma curiosa aproximação intelectual entre Lacan e Bion, dois analistas que nos habituamos a ver em campos teóricos totalmente distintos e até mesmo rivais. O autor tece considerações sobre a possibilidade de colocar em diálogo contribuições psicanalíticas do trabalho com grupos desenvolvido pela escola inglesa com o pensamento da escola francesa de psicanálise. Esta, em sua vertente lacaniana, introduziu um tipo específico de configuração grupal, denominado de “cartel”, como instrumento para a transmissão da psicanálise.
Guiando-se por uma postura inovadora na área das ciências humanas, o construcionismo social, o artigo de Emerson Fernando Rasera e suas alunas da Universidade Federal de Uberlândia mostra com precisão de detalhes como se constrói um estágio em psicoterapia de grupo junto a um curso de graduação em Psicologia. Nessa perspectiva teórica prioriza-se a análise do processo social de construção dos sentidos, que parte de uma postura de não-saber e de co-construção do processo conversacional entre terapeuta e cliente. Os autores salientam a originalidade da construção de uma nova perspectiva em terapia de grupo.
O artigo de Fábio Scorsolin-Comin e colaboradores remete a um contexto de intervenção bastante original, abordando casais que se encontravam em processo de preparação psicológica para a adoção. A proposta metodológica é construída na sustentação de processos dialógicos que colocam em questão a oferta do apoio mútuo em um contexto de dificuldades e a busca de alternativas construtivas para a solução dos entraves enfrentados pelo grupo, cujos participantes enfrentam as vicissitudes de um longo processo de espera até a chegada da criança.
Finalmente, o artigo de Maria Amélia Andréa aborda os conceitos de transferência e contratransferência como ferramentas de trabalho complementares na psicoterapia psicanalítica. A autora valoriza a escuta do aqui-e-agora para a compreensão do significado inconsciente das comunicações do paciente no interior da relação vivida em cada momento específico. Para tanto, propõe que o terapeuta precisa entrar em contato com seu próprio estado de mente, bem como integrar os planos da sensação e da ação para que possa utilizar plenamente a potencialidade oferecida pela instalação da transferência.
O psicoterapeuta, o profissional de áreas afins e o aluno interessado na aplicação de grupos certamente encontrarão nesse rico rol de publicações uma fonte de inspiração para seu trabalho, explorando as especificidades de cada contexto que solicitam recursos e técnicas particulares. A Revista da SPAGESP espera, assim, poder facilitar a divulgação do conhecimento produzido, tornando-o acessível e abrangente, estimulando o intercâmbio e o debate de idéias entre os profissionais dedicados às questões da grupalidade no Brasil, nos países da língua oficial portuguesa e em toda a região das Américas.
Por essa razão a Revista da SPAGESP se propõe a funcionar como um mostruário de relevantes contribuições teórico-clínicas para a constituição dos saberes e fazeres psicológicos, lembrando a todos os interessados em submeter seus trabalhos que a Revista encontra-se indexada nas bases LILACS/BIREME e IndexPsi.
Antes de concluir, desejamos deixar consignado nossos sinceros agradecimentos a todos que colaboraram com esse número da Revista: autores, revisores, tradutores e equipe de redação, assim como à diretoria da SPAGESP, imbuída do espírito inovador que sempre a distinguiu, pelo apoio incondicional em todos os momentos e pela confiança depositada em nosso trabalho.
Terminamos convencidos de que estamos dando um passo a mais na direção de consolidar esse periódico como um importante veículo de discussão no meio acadêmico e no contexto profissional. Aproveitamos a oportunidade para ressaltarmos nosso interesse em ampliar os intercâmbios e parcerias com todos aqueles que apostam no potencial transformador da produção e circulação do saber, entendido como via para o aprimoramento permanente do espírito humano. Desejamos a todos uma boa leitura.
1Editor da Revista da SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, e-mail: masantos@ffclrp.usp.br