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Psicologia USP
versão On-line ISSN 1678-5177
Psicol. USP v.19 n.4 São Paulo dez. 2008
APRESENTAÇÃO
Dossiê: nutrição e pobreza
Ana Lydia Sawaya*
Grupo de Estudos em Nutrição e Pobreza da USP
Estes artigos são relativos a conferências ministradas na Oficina realizada em 2006: Educação para a Nutrição e Combate à Pobreza que foi organizada pelo Grupo de Estudos em Nutrição e Pobreza, do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Esta oficina procurou aprofundar uma questão que apareceu em oficinas anteriores como crucial para a melhoria das condições nutricionais e situação de pobreza no Brasil que é: o que significa EDUCAR e quando um processo educativo gera uma efetiva mudança de comportamento que dura no tempo.
Os artigos abordam três grandes temas:
Primeiro tema: O que é educar e o que é educação da pessoa?
Estes artigos procuram descrever os processos formativos, ou seja, quando a educação gera uma nova prática de vida e uma mudança de comportamento.
1. Artigo de Miguel Mahfoud aborda o tema da unidade da pessoa no âmbito da antropologia filosófica. Traz a contribuição do pensamento de Edith Stein e conclui que sem o envolvimento e a atenção para as três dimensões: corporidade, psíquica e espiritual (relativa à dimensão da liberdade e do significado) não há processo educativo.
2. Artigo de Silvia Brandão apresenta as características e desafios da sociedade contemporânea que pedem reconversão de bases educativas. Expõe o percurso formativo de jovens universitários por meio de narrativas biográficas, apontando diretrizes para o processo de formação pessoal e para geração, discernimento e protanogismo na relação com o contexto contemporâneo. A autora se baseia em propostas como o procedimento de história de vida, de Jean Pineau, Marie-Christine Josso e Pierre Dominicé. Conclui mostrando que a experiência educativa pressupõe espaços de escuta, de apropriação da experiência e de avaliação da mentalidade dominante, de modo a favorecer a identificação de vínculos significativos entre a interioridade e as demandas externas e isto só pode acontecer no encontro real entre duas humanidades: a do educador e do aluno.
3. Artigo de Marina Massimi evidencia, numa perspectiva multidisciplinar e histórica, o processo que transformou o destinatário da persuasão de sujeito ativo e crítico, em consumidor passivo do produto. A autora descreve o processo de comunicação cuja finalidade é persuadir o destinatário para dispô-lo a experimentar um certo objeto ou situação, e as reduções contemporâneas da concepção de experiência. Ela conclui o artigo, descrevendo o que gera a persuasão da pessoa concebida como sujeito do juízo e crítico separando persuasão da manipulação da pessoa; e afirma que os destinatários dos cuidados educacionais são sujeitos capazes de experiência e portadores de cultura.
Segundo tema: O processo de des-humanisação e des-educação
4. Artigo de Dulce Critelli: parte da descrição da condição humana de acordo com a filósofa Hannah Arendt e descreve quatro pressupostos: a condição humana como exercício de atividades, temporalidade, sociedade de massas e condicionamento. Conclui que o comportamento da sociedade atual é determinado pela busca da saciedade e, consequentemente, pelo círculo vicioso entre consumo saciedade falta, perdendo espaço para a experiência do agir, criar o novo e da transcendência.
5. Artigo de Maria do Carmo Brandt de Carvalho: aborda dois fatores que reduzem a eficácia da educação pública no Brasil e do combate à pobreza. O pensamento tutelar que subestima as capacidades dos desiguais de pensar, transitar com autonomia, exercer liberdades, levando ao assistencialismo, apadrinhamento e clientelismo; e a falta de integração da política de educação com a política social nacional. O artigo propõe dar ênfase em ações voltadas ao fortalecimento emancipatório e a autonomia das populações, fortalecendo vínculos relacionais.
Terceiro tema: Novas Perspectivas em Educação Alimentar e Nutricional e o Papel da Escola
6. Artigo de Sabrina de Oliveira descreve a crescente preocupação do governo federal com o tema da educação nutricional evidenciada pela criação do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) e mostra as ações interdisciplinares realizadas por estes.
7. Artigo de Semiramis Domene focaliza o ambiente escolar para promoção da saúde e educação nutricional e reforça a necessidade de colaboração e troca de conhecimento entre o âmbito da nutrição e educação, descrevendo em detalhes o papel do nutricionista na escola.
* Coordenadora do Grupo de Estudos em Nutrição e Pobreza da USP.