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Psicologia USP
versão On-line ISSN 1678-5177
Psicol. USP v.20 n.2 São Paulo jun. 2009
EDITORIAL
Psicologia USP tem se empenhado para cumprir sua proposta editorial, não só de favorecer as contribuições da diversidade de temas e de referenciais teóricos presentes em seu campo, como de expandir os limites do exercício interdisciplinar. Esse perfil editorial se concretiza em números temáticos e em fascículos de maior abrangência de conteúdos que ilustram as produções recentes do amplo espectro de objetos e métodos pertinentes à essa área multifacetada denominada Psicologia. Desse modo,entendemos que é fundamental cuidar para que as várias psicologias tenham sua legitimidade garantida no periódico oficial do Instituto de Psicologia da USP.
Este número apresenta duas contribuições alinhadas à pesquisa psicanalítica de inspiração francesa, um trabalho germinado em solo filosófico, duas pesquisas que utilizam o método experimental na interface da Psicologia com outras áreas e mais dois trabalhos inseridos nos territórios da Psicologia Social e da Psicologia do Desenvolvimento.
O conceito de fantasia é trabalhado no primeiro artigo,em sua relação com os contextos teóricos freudiano e lacaniano, nos quais são destacados os três tempos da fantasia elaborados por Freud e as duas operações lógicas, a alienação e a separação, fundamentais no matema da fantasia proposto por Lacan. O próximo artigo investiga as organizações-limite, traça um panorama desse quadro psicopatológico em termos de sua delimitação clássica e das correntes contemporâneas psicodinâmicas, prioriza as especificidades teóricas dos estudos psicanalíticos de língua francesa relativos ao trabalho com crianças, adolescentes e adultos e destaca as ressonâncias das modificações psicossociais e culturais nas expressões psicopatológicas contemporâneas.
O próximo trabalho gravita em torno das idéias dos filósofos Henri Bergson e Maurice Merleau-Ponty, em suas críticas às abordagens materialistas da questão corpo-mente,em que se destaca como essas perspectivas se articulam ao ideário cientificista atrelado ao advento da modernidade, que impunha uma leitura homogênea da diversidade dos fenômenos, por meio de um único padrão explicativo. Também é discutido o legado filosófico do primeiro no pensamento do segundo e são assinaladas algumas críticas desse último à obra do seu antecessor.
O artigo seguinte se insere na área de neuropsicologia e relata os resultados de uma pesquisa que investigou as habilidades cognitivas da Memória de Trabalho em crianças e adolescentes com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, por meio da aplicação do Teste Infantil de Habilidades Cognitivas, em que se observaram diferenças de desempenho de crianças com esse transtorno nas provas de memória visual e de memória auditiva. O estudo do autoconceito, do coping e da saúde mental de adolescentes com paralisa cerebral é o objeto de interesse do próximo trabalho, que dá ênfase à pouca atenção que tem merecido essa população por parte dos estudiosos da área e assinala a contribuição que pesquisas desse tipo podem dar a esses jovens, no manejo de situações adversas com as quais se defrontam.
A questão do desenraizamento e da perda dos referenciais identificatórios na experiência de migrantes e imigrantes, fenômeno recorrente de confronto de diversidades culturais observados com proeminência nas grandes metrópoles, é o foco de interesse do penúltimo trabalho, articulado a uma pesquisa com crianças nordestinas em escolas paulistas, em que foi possível observar o papel desempenhado pela linguagem regional no preconceito e na humilhação que se dirigem a essa população.
O último estudo teve por objetivo investigar a experiência da transição para a paternidade, por meio da análise de entrevistas com um grupo de homens casados, primíparos, na faixa etária de 20 a 40 anos, tendo como foco a compreensão das expectativas e sentimentos desses pais no período compreendido entre a gestação e o segundo mês de vida do bebê.
Ana Maria Loffredo