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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.13 no.1 São Paulo jun. 2012

 

DOCUMENTO

 

Síntese das discussões e propostas do Grupo de Trabalho: Interfaces entre a orientação profissional, educação e psicologia escolar

 

 

Maria da Conceição Coropos UvaldoI, 1; Maria Luiza Dias GarciaII; Izildinha Maria Silva MunhozIII; Maria Odília TeixeiraIV

IInstituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil
IILaços/Instituto Pierón-SP, Brasil
IIIFaculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil
IVFaculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

 

 

Este documento sintetiza a discussão e propostas de futuras ações e pesquisas realizadas pelo Grupo de Trabalho "Interfaces entre orientação profissional, educação e psicologia escolar", no I Fórum de Pesquisas em Orientação Profissional e de Carreira, promovido pela Associação Brasileira de Orientação Profissional, em 19 de julho de 2011, no Instituto de Psicologia da USP. Participaram deste grupo 34 orientadores (32 psicólogos, 1 pedagoga e 1 filósofo) e 3 estudantes de graduação em Psicologia, provenientes dos estados de Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. O grupo contou também com a importante contribuição dos professores e pesquisadores Dra. Maria Odilia Teixeira da Universidade de Lisboa (Portugal) e Dr. Jorge Luis Del Pino Calderón da Universidad de Ciencias Pedagogicas Enrique José Varona (Cuba).

 

Delimitação do eixo de discussão

O objetivo deste GT foi levantar o atual estágio de pesquisas e experiências em Orientação Profissional no ambiente escolar e, a partir deste panorama, elencar possibilidades e necessidades de pesquisas e ações para o desenvolvimento da área. Já nas apresentações iniciais dos participantes do grupo a questão primordial que norteou a discussão fica muito clara: a crescente resistência ou desinteresse da escola por Orientação Profissional. Esta afirmação mais intensamente verificada pelos participantes dos estados do Ceará, Minas Gerais e principalmente do Paraná, delineia um paradoxo importante de ser analisado, pois, afinal, a escola tem sido cada vez mais cobrada a auxiliar seus alunos na escolha profissional, como também a desenvolver competências relacionadas à administração da própria carreira. Já no Rio de Janeiro e São Paulo observa-se um interesse crescente nas escolas, sem, no entanto, em contrapartida, aumentar significativamente os trabalhos de fato realizados, bem como a contratação de orientadores especializados.

Os participantes ressaltaram o aspecto isolado e assistemático em que a Orientação Profissional ocorre nas poucas escolas em que consegue ser inserida, sendo raríssimas as escolas em que o trabalho faz parte do planejamento pedagógico. Em geral, a Orientação Profissional, descrevem os orientadores, se desenvolve como atividade opcional e/ou em horários em que nem todos os alunos possam participar. Ocorre à margem das atividades escolares, reforçando a ideia de que a Orientação Profissional é algo a mais, desligada, independente do processo ensino-aprendizagem, do desenvolvimento acadêmico e dos próprios objetivos da escola. Por outro lado, foi relatada a experiência de uma escola particular de São Paulo em que a Orientação Profissional está integrada, já há muitos anos, no projeto pedagógico. Além disso, os participantes comentaram o surgimento de atividades voltadas para o trabalho de sensibilização e preparação dos professores para trabalhar com a temática da carreira no cotidiano da escola e com a preocupação não apenas na escolha, mas também no desenvolvimento de competências básicas ao papel profissional, o que mostra tanto o interesse quanto a possibilidade de mudança no cenário da Orientação Profissional na escola.

 

As pesquisas em Orientação Profissional no contexto escolar

Os relatos dos participantes apontaram para a tendência de descrédito da escola na Orientação Profissional, resultante de um aparente desencontro do que a escola deseja ou necessita e o que é oferecido pelos orientadores, evidenciando a necessidade de se desenvolverem pesquisas para conhecer e minimizar tais diferenças. A literatura brasileira, diretamente relacionada ao tema Orientação Profissional e escola, descreve majoritariamente intervenções pontuais realizadas com alunos do ensino médio, principalmente 3ª série, como estágio de alunos do curso de Psicologia. Estes relatos se resumem a descrever os encontros de pequenos grupos de alunos, técnicas e os resultados são apresentados de forma sucinta e genérica, com afirmações como: os jovens escolheram seus cursos superiores ou que os participantes puderam ter mais informações sobre si e sobre o mundo do trabalho.

Neste sentido, a necessidade da ampliação das estratégias e questões a serem pesquisadas é fundamental para propiciar o desenvolvimento da área, bem como a proposição de políticas públicas vinculadas às Secretarias Municipais e Estaduais da Educação e ao Ministério da Educação. Embora em pequeno número, foram relatadas pesquisas desenvolvidas nos moldes da Educação para a Carreira, uma estratégia contemporânea de Orientação Profissional que se refere a um esforço de todo o sistema educativo (alunos, professores, pedagogo) e da comunidade para inserir de forma sistemática nos conteúdos escolares atividades destinadas a ajudar os alunos a: (a) estabelecerem relações entre os conteúdos das disciplinas e as exigências de diferentes ocupações/ profissões; (b) fazerem do trabalho, remunerado ou não, uma parte significativa do seu estilo de vida e (c) adquirirem competências-chave para um positivo desenvolvimento da carreira, como o autoconhecimento, o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem ao longo da vida, habilidades para tomar decisões e lidar com as transições. O professor é o elemento que tem sido mais estudado nestas pesquisas que envolvem a realização de encontros e dinâmicas para discutir as próprias escolhas e as de seus alunos.

 

Propostas de ação e de investigação

Formação do orientador

Torna-se necessário incluir na formação dos orientadores, que são em sua grande maioria psicólogos, conhecimentos sobre o funcionamento do sistema de ensino brasileiro, dos processos de aprendizagem, das linhas pedagógicas, que embasam os planejamentos das escolas, bem como aspectos da organização do próprio mundo do trabalho. Estes conhecimentos podem nortear pesquisas mais consistentes, bem como propostas de trabalho diferenciadas, que respeitem e se adequem aos valores e projeto pedagógico da escola, sem, no entanto, perder o caráter crítico que a Orientação Profissional e a Educação para a Carreira devem propiciar.

Participação nos congressos, encontros e seminários da área de educação

Sugere-se à ABOP e aos orientadores e pesquisadores da área a participação mais efetiva nas atividades científicas da área de Pedagogia e Educação, visando tornar a Orientação Profissional e a Educação para a Carreira mais presentes, além de possibilitar o desenvolvimento de pesquisas e ações de interface.

Novos modelos de intervenção na escola

Os modelos desenvolvidos no Brasil, ao contrário de outros países, como foi exemplificado pelos professores Maria Odilia Teixeira (Portugal) e Jorge Luis Del Pino Calderón (Cuba), são pontuais e focados na escolha de um curso superior. Para o desenvolvimento de novos modelos, no contexto brasileiro, alguns parâmetros foram sugeridos, elencados a seguir.

1. Ampliar o escopo da Orientação Profissional e/ou Educação para a Carreira, para compreender não apenas a escolha profissional, mas também o desenvolvimento das competências-chave requeridas na carreira, entendida como um processo que se inicia na infância e se estende ao longo da vida. Neste sentido, torna-se importante pesquisar intervenções diversificadas que possam ir além de grupos de Orientação Profissional e Feiras de Profissões, atividades mais comuns na realidade brasileira.

2. Desenvolvimento de pesquisas regionais buscando levantar as expectativas e representações sociais dos integrantes das escolas no que diz respeito à Orientação Profissional e à Educação para a Carreira, visando o delineamento do cenário nacional, diferenças e similaridades, tendo como objetivo uma maior efetividade das ações e o embasamento para proposição de políticas públicas.

3. Necessidade de buscar novas formas de intervenção, bem como de modelos teóricos em consonância com os projetos pedagógicos das escolas, como por exemplo, a Educação para a Carreira, modelo muito citado pela literatura internacional.

4. Pesquisas e intervenções que incluam, sempre que possível, todos os atores da comunidade escolar: direção, orientadores, professores, funcionários e pais, além de alunos de diversas séries e níveis de Ensino.

5. Estudo de propostas desenvolvidas por escolas e/ou políticas públicas desenvolvidas em outros países, visando colaborar na estruturação de nossos projetos e facilitar o intercâmbio de ideias e projetos de pesquisa.

 

Avaliação das intervenções em Orientação Profissional

O GT apontou como a grande vulnerabilidade dos modelos, tanto teóricos quanto práticos, desenvolvidos no Brasil, e a ausência quase que completa de avaliações sistemáticas e longitudinais, que resultam na dificuldade de entrada e permanência na escola ou ainda para o próprio desenvolvimento de políticas públicas relacionadas à educação. Ou seja, as pesquisas e proposições teóricas não respondem à questão: Qual a contribuição do processo de Orientação Profissional para o desenvolvimento do aluno e de sua futura atividade profissional? E no mesmo sentido, qual o impacto da intervenção no rendimento escolar e na inserção social dos jovens? Para responder às questões, faz-se necessário: (a) realizar pesquisas que apontem indicadores que possibilitem avaliar o resultado do trabalho de Orientação Profissional, (b) reforçar junto aos pesquisadores, orientadores de dissertações e teses, professores de disciplinas ligadas à área a importância de estabelecer critérios de avaliação das intervenções a serem realizadas, (c) incentivar o desenvolvimento de pesquisas longitudinais, por meio da formação de grupos de pesquisadores e do estímulo à apresentação e publicação de dados parciais.

 

Considerações finais

A escola está colocada no centro das atenções nacionais, responsável pela formação dos "novos profissionais" adequados às exigências do mercado de trabalho e responsabilizada pelo próprio desenvolvimento do país. Neste contexto, a Orientação Profissional deveria ter seu lugar garantido e de destaque dentro das escolas. Mas não foi este o diagnóstico deste grupo de trabalho, apontando um decrescente interesse pela área, inclusive com a retirada da disciplina nos cursos de pedagogia e psicologia. Os participantes apontaram para duas questões fundamentais que devem ser alvo de pesquisas e reflexões, formuladas a seguir.

Como tornar os modelos de intervenção oferecidos pelos orientadores adequados às necessidades da escola e da sociedade brasileira?

Em quê a Orientação Profissional pode contribuir para o desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional do aluno? Qual o contribuição da Orientação para o desenvolvimento social das famílias e da sociedade em geral? Como aferir estes propósitos? Como obter indicadores?

Estas questões devem balizar as pesquisas a serem desenvolvidas na interface escola/orientação profissional/educação para a carreira.

 

 

Sobre as autoras
Maria da Conceição Coropos Uvaldo é Doutora e Mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de São Paulo-SP; Psicóloga do Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Psicologia da USP. Presidente da ABOP (gestão 2011-2013).
Maria Luiza Dias Garcia é Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo; mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, membro de Laços/Instituto Pierón - SP, Brasil.
Izildinha Maria Silva Munhoz é Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo-RP.
Maria Odília Teixeira é Doutora em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa; Docente auxiliar na graduação e pós-graduação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa - Lisboa, Portugal.
1 Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, Av. Prof. Mello Moraes, 1721, Bloco D, sala 161 e 163, 05508-030, São Paulo-SP, Brasil. Fone: 11 30914188. Fax: 11 30914174. E-mail: mcuvaldo@usp.br

 

 

Anexo A

O GT Interfaces entre a Orientação Profissional, Educação e Psicologia Escolar foi realizado em 19 de julho de 2011, durante o I Fórum de Pesquisas em Orientação Profissional e de Carreira, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Foi coordenado por Maria da Conceição Coropos Uvaldo e Maria Luiza Dias Garcia e contou com a presença dos seguintes participantes:

  • Maria da Conceição Coropos Uvaldo (IPUSP, Sedes Sapientiae);
  • Maria Luiza Dias Garcia (Laços, Instituto Pierón);
  • Alba Benito (IPUSP);
  • Ana Lucia Ivatuik (UFPR);
  • André Meller Ordonez (UNIBAN, Colégio Oswald de Andrade);
  • Aparecida Martins (Sedes Sapientiae);
  • Arthur Hoverter Facchini (IPUSP);
  • Bruno Weiberg (SP);
  • Cecilia Vardi (Sedes Sapientiae, Colégio Oswald de Andrade);
  • Daniela Fauss (IPUSP);
  • Débora Audi (IPUSP);
  • Edelson Carlos Soler (Cólegio São Luis/SP);
  • Elaine Zanolo (IPUSP);
  • Eleusa Alves (SP);
  • Eliete de Fátima R. dos Santos;
  • Eliseu de Oliveira (Orientando/RJ);
  • Elizabeth Teixeira;
  • Fátima Távora (Universidade de Fortaleza);
  • Felipe Stephan Lisboa (Universidade Federal de Viçosa);
  • Flávia Marques (Colmeia/SP);
  • Izilda Aparecida do Nascimento;
  • Izildinha Munhoz (FFCLRP-USP/SP);
  • Joya Eliezer (consultório particular - SP);
  • Jorge Luis Pino Calderón (Universidad de Ciencias Pedagogicas Enrique Jose Varona/Cuba);
  • Julia Pimenta Nonato (IPUSP);
  • Luciana Valore (UFPR);
  • Luciana Kanaji (ETAPA/SP);
  • Luis Ricardo Vieira Gonzaga (PUC-CAMP/SP);
  • Lygia Fernanda Franco (IPUSP);
  • Magda Leal Madeira;
  • Maria Luiza Junqueira (USP- RP/SP);
  • Maria Odilia Teixeira (Universidade de Lisboa, Lisboa/Portugal);
  • Nathalia Santos Costa (UFMG);
  • Omar Calazans Pereira (IPUSP);
  • Raquel Sanches Slussaski Martins (Universidade Mackenzie);
  • Shyrleen Christieny Assunção Alves (IPUSP, UNILESTE/MG);
  • Sonia Lia Lemos Bisi (IPUSP).