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Mental
versão impressa ISSN 1679-4427
Mental vol.10 no.18 Barbacena jun. 2012
ARTIGOS
Os espaços urbanos, as práticas corporais e a saúde mental
Urban spaces, corporeal practices and mental health
Rogério Rodrigues
Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Docente da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Pesquisador do programa de Pós-graduação em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade da UNIFEI
RESUMO
O problema a ser investigado nasce de uma reflexão sobre as relações entre os espaços urbanos, as práticas corporais e a saúde mental. Tem-se como proposição teórica o campo educacional, para analisar e interpretar as questões referentes às técnicas do corpo em interface com os espaços urbanos. Parte-se da hipótese de que essa junção entre "cidade, corpo e saúde mental" tem muitas vezes suas produções pouco compreendidas, pois grande parte das chamadas teorias educativas não instrumentalizam uma reflexão que apreenda essas interfaces sobre o real educativo. O método utilizado para a realização da investigação é de inspiração filosófica, na oportunidade em que o autor se encontrava implicado com a questão da inserção do sujeito nos espaços urbanos. Os resultados possíveis dessa reflexão demonstram que a qualidade de vida mental saudável é uma ruptura da educação que disciplina o sujeito e o submete às formas de controle.
Palavras-chave: Fundamentos da educação; educação do corpo; espaços urbanos; saúde mental.
ABSTRACT
The issue to be investigated rises from a reflection on the relations between urban spaces, the bodily practices and mental health. The theoretical proposition is the educational field, to analyze and interpret issues concerning the body techniques in interface with the urban spaces. The study starts with the hypothesis that this intersection of "city, body and mental health" has, for many times, its productions under-understood, because great part of the called educative theories doesn't instrumentalize a reflection that apprehends these interfaces on the 'educative real'. The method utilized to perform the investigation has a philosophical inspiration on the opportunity the author was involved with the question of the insertion of the subject in the urban spaces. The possible results of this reflection demonstrate that a healthy quality of mental life is the rupture of the education that disciplines the subject and subjects him to forms of control.
Keywords: Fundamentals of education; education of the body; urban spaces; mental health.
1 INTRODUÇÃO
Partimos da suposição de que os espaços urbanos são os lugares nas cidades que os sujeitos podem ocupar com os seus corpos, e podem fazer os acontecimentos de sua existência em sociedade. Aqueles que se relacionam com os espaços urbanos, ao praticar exercícios em praças e ruas da cidade, encontram algumas dificuldades, qual seja, o evitamento de ser atropelado pelos automóveis. O sentimento é de que na circulação dos sujeitos pelos espaços urbanos ocorre uma disputa, entre os corpos e os automóveis.
Atualmente, quando se caminha pela cidade, fica claro que as ruas foram projetadas prioritariamente para a circulação dos automóveis, e para os pedestres resta apenas o estreitamento das calçadas esburacadas e sujas. O descaso para com os pedestres também se apresenta nas faixas destinadas à travessia da rua, onde se podem observar cenas constantes de desrespeito por parte dos motoristas. As cidades não permitem a realização do sujeito saudável, principalmente, a sua saúde mental, pois nelas o melhor é ficar parado em algum lugar seguro.
Deste modo, as cidades nos educam como sujeitos para uma diversidade de situações, que também se apresentam nas particularidades das relações familiares; no aparelho escolar, enfim, em todo um conjunto de situações que nos fazem ser o que somos.
No que diz respeito às relações entre os espaços urbanos e a educação do sujeito, esta advém diretamente do contato que se estabelece entre uns e outros com a materialidade dos espaços urbanos para a produção das cidades. O modo como elas são representadas e, principalmente, construídas, determina objetivamente a condição de vida, ou seja, a cidade imprime no sujeito uma modalidade de educação corporal que também resulta na sua saúde mental.
No inverso dessa situação, grande parte da organização das cidades e, principalmente, o modo como elas são representadas e construídas, se apresenta como resultado da expressão da cultura dos sujeitos, portanto, é a subjetividade que determina a construção das cidades1. O gerenciamento da cidade produz um modo de vida entre os sujeitos, que se organiza na materialidade da construção dos espaços urbanos como a expressão subjetiva da cultura.
Marcel Mauss (1974) afirma que cada sociedade educa determinadas técnicas de corpo que lhe são próprias, e se tratando da cultura corporal (MAUSS, 1974) e, a partir desse pressuposto, pode-se afirmar que o modo de usar tecnicamente o corpo está diretamente relacionado com a interface entre a materialidade possível da expressão da cultura e a representação desta pelos sujeitos. É neste sentido que esta análise tem como foco as relações entre os espaços urbanos, as práticas corporais e a saúde mental. Neste caso, compreende-se que os espaços urbanos nas cidades são destinados para o uso técnico do corpo, como representações específicas dos elementos da cultura que o limitam nas possibilidades de expressão das técnicas corporais (MAUSS, 1974).
Tendo essa referência das relações entre os sujeitos e a cidade e o uso técnico do corpo, o objetivo deste artigo foi o de constituir uma reflexão sobre a cidade como um lugar de práticas corporais como resultado da interface com os espaços urbanos, práticas essas que se encontram balizadas por uma diversidade de elementos, entre os quais o foco foi a questão da saúde mental dos sujeitos que vivem confinados nas cidades.
A hipótese de trabalho é que a educação das práticas corporais está circunscrita por uma concepção hegemônica para a produção do "sujeito saudável" (físico e mental). No entanto, ocorre uma contradição, qual seja, as organizações dos espaços urbanos ficam fortemente vinculadas para a realização do mercado, portanto, o uso pertinente do corpo é aquele cujo movimento serve sobretudo à realização do trabalho. Isso fica em disputa com a concepção do uso técnico do corpo subordinado à saúde do físico, e pouco se analisa a questão da saúde mental do sujeito.
Na conjunção desses três elementos (cidade, corpo e saúde) é que se situa a análise do presente artigo, principalmente, no modo como os projetos de educação do corpo saudável se apresentam paradoxalmente ao gerenciamento das cidades e na utilização dos espaços urbanos e, principalmente, na ocorrência de uma falta de compreensão nos projetos de cidades que possam também favorecer a saúde mental dos sujeitos.
2 A CIDADE COMO A OPOSIÇÃO ENTRE O MUNDO DO TRABALHO E O TEMPO LIVRE: A IMPOSSÍVEL REALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA SOCIEDADE DE MERCADO
Tendo como base o conceito de saúde como "[...] o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença" (BRASIL, S.D.), é que se pode compreender as cidades como um lugar que na oposição entre o mundo do trabalho e o tempo livre corresponderia à impossível realização da saúde mental na sociedade de mercado, pois o sujeito é sequestrado na linha da produção, o que não lhe permite realizar toda a sua plenitude.
Nas cidades há, por um lado os espaços urbanos, conjunto das produções ali materializadas nas construções, e por outro, as produções das técnicas do corpo, que se encontram no imaginário possível do modo de usar o corpo no âmbito da cultura. Assim sendo, as condições de existência dos sujeitos no interior dos espaços urbanos seria a interface entre o que é oferecido nos espaços e as possíveis representações das produções das cidades.
A ideia de espaço público interfere diretamente no modo como os aparelhos são utilizados pelos sujeitos, ou seja, pode ocorrer uma relação de identificação dos espaços urbanos como sendo um local efetivamente público, e isso determina o modo como ele é utilizado pelos sujeitos2.
Parte-se da suposição de que a relação entre corpo e cidade, em termos de realização das técnicas do corpo, é algo determinado como uma imagem refletida no modo de ser sujeito na cultura, mais propriamente, em sua vida na polis. Contudo, nas produções de técnicas do corpo ocorrem algumas distorções, ou seja, a imagem de uso do corpo idealizada como o lugar da realização da felicidade não se realiza de fato, em decorrência do próprio processo de envelhecimento do sujeito. Isso estabelece uma relação de amor e ódio com o corpo, que em última instância também rompe com os determinantes da cultura no conjunto da sociedade.
A premissa de que educamos o uso do corpo como parte do treinamento corporal, como aspecto de "condicionamento físico" delimitado pelas nossas condições de existência, é muito peculiar para se pensar as relações entre os espaços urbanos e as práticas corporais, ou seja, a todo momento o nosso modo de ser é uma tentativa de pensar as relações entre as representações de uso técnico de corpo e o modo como é possível realizar as referidas técnicas de corpo no espaço urbano. O modo como se usa o próprio corpo se constitui numa tentativa consciente e inconsciente de ser sujeito.
Nas cidades, o uso técnico do corpo é uma propriedade inerente do sujeito que é corpo, como por exemplo, o seu modo de andar e sentar, e em seu uso pouco compreende ou se analisa o como "ser corpo" nas práticas sociais. Em caso específico do uso técnico do corpo presente nas práticas corporais esportivas, a compreensão do que é "ser corpo" fica limitada por uma concepção mecanicista de "homem-máquina" que se busca nos treinamentos corporais pautados em sistemas específicos, para alcançar o máximo de desempenho para obtenção de eficácia na execução do movimento corporal. Portanto, a interface entre os espaços urbanos, as práticas corporais e a saúde mental é algo minimamente compreendido em sua realização, principalmente, grande parte da educação das técnicas de corpo realizadas no cotidiano.
Em relação aos espaços destinados para os corpos nas cidades, existem aqueles que são dedicados, principalmente, para a realização da necessidade de trânsito dos sujeitos pelas cidades, como por exemplo, as vias públicas, cuja função em grande parte é a de serem utilizadas somente para permitir o deslocamento dos sujeitos para os seus locais de produção ou para determinados lugares onde possam usufruir o consumo, inclusive como realização do tempo livre. Sendo assim, os espaços urbanos oferecem pouca variabilidade para utilização dos corpos, pois os "espaços públicos" são predeterminados em termos de gestão para o funcionamento das cidades associado ao mundo do trabalho, em oposição aos "espaços particulares" em que buscamos ordenar seu funcionamento em decorrência da vontade individual. Desta maneira, o que se estabelece em comum entre todos aqueles que circulam pela cidade em seus espaços públicos, é que esta é a intencionalidade da realização predominante da produção ou do consumo.
A construção das cidades pode ser pensada como uma oposição entre produção e consumo - como a materialização de territórios específicos para atividades em que o trabalho prevalece em grande parte como hegemônico - e os locais destinados para o tempo livre. No entanto, o próprio momento em que o tempo livre é realizado é algo que também está associado aos espaços destinados para o consumo e, portanto, mais uma vez se insere na lógica do mercado.
O tempo livre associado ao consumo perde a qualidade de "tempo livre", pois o que o caracteriza, principalmente, é a possibilidade do sujeito realizar-se na soberania em ser sujeito desejante e, portanto, a impossível realização do mesmo seria uma perda na qualidade de vida do sujeito. Nesta lógica, as práticas corporais podem ser compreendidas como técnicas destinadas a aprimorar a vida dos sujeitos nas cidades para o mundo do trabalho.
Quando se observa uma praça pública equipada com diversos aparelhos para atividade física, fica o sentimento de que seria um mecanismo de educação de corpo para condicionar o sujeito na máquina para a linha de produção. A diferença é que a alavanca na produção é para produzir coisas e na praça é para produzir o corpo saudável, mas pouco se compreende o que seria um espaço público para promoção da saúde dos sujeitos, seja no aspecto físico ou mental. Neste aspecto, a maneira como o sujeito pode se relacionar com os espaços públicos na constituição de si como sendo o sujeito saudável, deveria ser analisado como algo diverso e que os gestores públicos deveriam conceber que o papel administrativo deveria ser o daquele que também produz a diversidade na oferta dos espaços.
Paradoxalmente, é importante que grande parte do poder público deixa transparecer a falta de algum tipo de projeto que possa realizar o conceito do sujeito saudável (físico e mental) e, portanto, o que se apresenta efetivamente é o projeto da praça a realizar uma estética do espaço urbano ao instituir uma educação corporal para adequar apenas o sujeito à máquina, que seria o foco principal para a manutenção da sociedade de mercado.
Nesta intencionalidade em utilizar o corpo especificamente para a produção, observa-se o surgimento das ginásticas desenvolvidas para educar o sujeito/soldado de modo que obtivesse a disciplina de "corpos dóceis" (FOUCAULT, 1991) e, portanto, as práticas de treinamento para guerra, principalmente, uma educação subjetiva para a obediência cega que o torna apto a realizar um tipo de prontidão, ou seja, através da educação do corpo submeter à vontade do sujeito. Está presente na prática corporal realizada na ginástica um tipo de controle social e essa metodologia foi ampliada para inserir o sujeito nos espaços urbanos da vida na cidade.
No caso específico da vida na cidade e, principalmente, na disciplina fabril das linhas de produção, é preciso um uso do corpo condicionado à produção, e para tanto seria preciso estabelecer uma "educação da natureza humana", pautada num treinamento corporal que também o torne apto para o consumo. Karl Marx, em sua análise sobre o modo de produção capitalista, aponta para a tese de que não há separação entre consumo e produção, ou seja,
A produção é também imediatamente consumo. Consumo duplo, subjetivo e objetivo. Primeiro: o indivíduo, que ao produzir desenvolve suas faculdades, também as gasta, as consome, no ato da produção, exatamente como a reprodução natural é um consumo de forças vitais. Segundo: produzir é consumir os meios de produção utilizados, e gastos, parte dos quais (como na combustão, por exemplo) dissolve-se de novo nos elementos universais. Também se consome a matéria-prima, a qual não conserva sua figura e constituição naturais, esta ao contrário é consumida. O próprio ato de produção é, pois, em todos os seus momentos, também ato de consumo. (MARX, 1974, p. 114-115).
As cidades são planejadas predominantemente para o trabalho e o consumo, e isso é a materialização da não separação entre consumo e produção e, portanto, tudo aquilo que se encontra na ordem do mercado capitalista, inclusive o tempo livre, encontra-se nessa lógica do mercado. A tudo aquilo que não está diretamente relacionado com a produção ou consumo, não se atribui espaço para sua realização prática nas "cidades industriais" e, portanto, torna-se questionável a oposição entre o uso do "tempo do trabalho" ou do "tempo livre" no interior da sociedade de mercado.
Assim sendo, os espaços urbanos destinados para os corpos nas cidades são, em grande maioria, designados para a realização da unidade entre consumo e produção e em relação às práticas do corpo a produção dos sujeitos em territórios específicos se encontra aparentemente circunscrita como "local de consumo" ou "local de trabalho".
A partir da ruptura dessa ligação entre produção e consumo é que pode efetivamente surgir o campo das "práticas de lazer", pois essas teriam outras finalidades de realização das práticas corporais, não associadas ao mercado, inclusive, a produção e o consumo da ideia do corpo saudável que tanto movimenta a indústria do esporte e as diversas lojas especializadas na venda de equipamento esportivo.
Nesta linha de argumento surgem, como exemplo, as práticas dos grafiteiros, divididas entre aquelas promovidas para embelezar o espaço urbano e aquelas marginalizadas, cujas intervenções não são toleradas nos espaços públicos. Para os primeiros, encontra-se todo um processo de solicitação que autoriza sua intervenção e os mecanismos de financiamento (BRASIL, 2011). Os segundos ocorrem como uma "invasão" realizam-se como pura forma de expressão não regulamentada, e sua forma de atuação se justifica somente por ser expressão.
Tudo aquilo que se encontra na lógica do mercado é aceito com sendo o "bom uso do tempo", e tudo aquilo que está fora dessa lógica do mercado é "perda de tempo" e não possui espaços instituídos para suas práticas nas cidades, portanto, as práticas corpóreas em interface com o conceito de saúde do sujeito, é algo que também deve estar associado ao modo de produção capitalista, ou seja, o sujeito saudável é aquele que se encontra apto para realizar sua força de trabalho e tudo com o que utiliza o corpo fora dessa lógica do mercado não possui valor.
Compreende-se que nessa estrutura, entre a produção e o consumo, as cidades concebidas para o mundo do trabalho surgem como barreiras para o "lazer e recreação" que não estejam sintonizados com a produção e o consumo. No entanto, todos aqueles que insistem em práticas corporais destituídas de valor no mercado tentam percorrer as brechas, ou mais propriamente, suas "passagens" (BENJAMIN, 2007).
De um modo geral, as cidades passam a ser a representação da hegemonia do "trabalho" na unidade entre produção e consumo, e o corpo passa também a representar isso, como aquele que se encontra disponível para transitar e ocupar os espaços do urbano, confinado para a realização de práticas corporais também alinhadas com a produção e o consumo.
Neste caso, os sujeitos, nas cidades, se dividem, basicamente, entre aqueles inseridos no mundo do "trabalho" e, portanto, aprisionados com os seus corpos em territórios que possuem os determinados "meios de produção" e os outros, fora da sociedade de mercado e destituídos de territórios.
Nesta oposição, é preciso organizar os espaços urbanos nas cidades como um conjunto de normas e situações que condicionam em grande parte o modo de ser sujeito nas "passagens" e "bloqueios", e que fazem do espaço urbano um labirinto que de um lado para o outro lado, todos buscam realizar como sujeitos produtivos, ou na falta de sentido, como sujeito do ócio que rompe com os determinantes do mundo do trabalho. Sendo assim, uma questão se apresenta quase todos os dias para aqueles que vivem nas cidades, qual seja, como transitar por elas sem os impedimentos e encontrar as passagens que permitam os fluxos dos corpos para a realização de diversas finalidades entre o trabalho ou o ócio.
Os locais de "trabalho" ou do exercício do ócio são lugares de encontro dos sujeitos, e essa aglomeração é algo que pode permitir o surgimento inesperado da massa, pois qualquer tipo de situação que escape aos mecanismos de controle pode favorecer algo que Canetti (1995) analisa como uma condição de não controle. O surgimento das massas é o movimentar-se no fluxo pelos lugares que lhe for possível e, até mesmo, abrindo novos espaços pela força que empurra seus próprios movimentos, portanto,
Um fenômeno tão enigmático quanto universal é o da massa, que repentinamente se forma onde, antes, nada havia. Umas poucas pessoas se juntam - 5, 10 ou 12, no máximo. Nada foi anunciado; nada é aguardado. De repente, o local preteja de gente. As pessoas afluem, provindas de todos os lados, e é como se as ruas tivessem uma única direção. Muitos não sabem o que aconteceu e, se perguntados, nada têm a responder; no entanto, têm pressa de estar onde a maioria está. Em seu movimento, há uma determinação que difere inteiramente da expressão da curiosidade habitual. O movimento de uns - pode-se pensar - comunica-se aos outros; mas não só isso; as pessoas têm uma meta. E ela está lá antes mesmo que se encontrem palavras para descrevê-las; a meta é o ponto mais negro - o local onde a maioria encontra-se reunida. (CANETTI, 1995, p. 14-15).
Para um olhar crítico, o que importa analisar nesta interface entre o uso do corpo e os espaços nas cidades, é o que os sujeitos que caminham ou correm representam em seus corpos a realização do "tempo livre" ou do "trabalho", em oposição àqueles que são os "desocupados". Assim, a cidade se desenha a partir de lugares para morar, alimentar-se, trabalhar e se divertir, enfim a produção e o consumo e de outros lugares que não possuem os desenhos da urbanidade, pois suas finalidades rompem com a ordenação da produção e do consumo, como por exemplo, os lugares ocupados por aqueles que não se enquadram na sociedade do mercado. Nessa diversidade do modo de existir nas cidades é que se analisam os tipos de uso técnico do corpo e os modos como os sujeitos se utilizam do espaço urbano para a realização das práticas corporais.
Assim sendo, partindo da hipótese de que circula no interior das cidades uma personificação nos corpos da oposição de dois tipos de sujeitos, quais sejam, aqueles inseridos no processo produtivo/consumo e os excluídos, fica a questão de saber se é possível a existência do "tempo livre" com o surgimento de outras finalidades de ocupação dos espaços destinados para o uso técnico do corpo nas cidades e no interior dos espaços urbanos.
3 O USO TÉCNICO DO CORPO E O TEMPO LIVRE: A CIDADE COMO UM LUGAR DA POSSÍVEL REALIZAÇÃO DO SUJEITO SAUDÁVEL
Tendo como premissa que ocorrem dois tipos de sujeitos circulando na cidade, que representam o trabalho e o "tempo livre", esta investigação sobre a relação entre o uso técnico do corpo e cidade está pautada, principalmente, na tese de que é possível alcançar qualidade de vida se utilizando dos espaços das cidades como lugares de práticas corporais que possam realizar o sujeito saudável. Para tanto, o referencial teórico encontra-se pautado numa área específica da educação, que trata diretamente dessas modalidades de práticas corporais em que a "recreação" apresenta-se como uma prática do sujeito recriar-se no campo das relações humanas e, portanto, utilizar o seu próprio corpo como uma modalidade de lazer e que seja também o tempo destinado para a produção criativa do sujeito, o que na nossa compreensão seria indicativo de uma efetiva expressão do sujeito saudável em seu aspecto físico e mental.
Compreende-se a cidade, principalmente, seus parques e jardins, como territórios destinados para a circulação e os cuidados com o corpo no âmbito da recreação e o do lazer. Portanto, seria possível olhar para a cidade como a contraposição entre o trabalho e o "tempo livre", ou seja, os espaços das cidades que se dividem entre aqueles que trabalham e os outros que usufruem do lazer. Muitas das vezes ocorrem determinados tipos de conflitos, pois a existência desses dois tipos distintos de sujeitos3, aqueles que se deslocam para algum lugar para fazer trabalho e os outros que se exercitam se utilizando dos espaços que se encontram disponíveis para sua utilização, apresentam um complexo antagonismo na utilização desses espaços urbanos.
Infelizmente, esse antagonismo pode se apresentar na tragédia, como por exemplo, os diversos ciclistas que se deslocam pelas cidades e acabam sendo mortos por aqueles que no trânsito fazem dos seus automóveis uma arma (BERGAMIM Jr, 2011).
Há uma determinada interface entre corpo e cidade que demonstra uma oposição do modo como os diversos tipos distintos de sujeitos se relacionam na busca da delimitação de seus espaços no interior das cidades. Parte-se do pressuposto de que a cidade é uma construção de um lugar de encontro entre os sujeitos, pois a sua invenção se retrata nos locais onde se aglomeram os sujeitos para a realização das trocas de mercadorias. Com a ampliação da economia, foi preciso atender às novas necessidades, ou seja, manter as condições necessárias de acomodação, alimentação, transporte, enfim, todo um conjunto de ações para possibilitar o funcionamento da vida em cidade. Esse tipo de planejamento é, em princípio, algo que casualmente torna as cidades verdadeiros labirintos, e o lazer e a recreação ficam subordinados a uma condição inferior no planejamento, como é facilmente observado nas histórias das cidades os pequenos espaços que são reservados para os sujeitos usufruírem o "tempo livre".
Na modernidade, com a implementação da ciência, as cidades se tornaram um lugar de estudo e planejamento, mas isso não impediu que fossem a transição do lugar destinado ao encontro para a condição do lugar do desencontro, pois em grande parte o modelo do "labirinto" prevalece como o individual no coletivo, ou seja, as cidades se tornaram um lugar da solidão na multidão. A grande diferença é que, na modernidade, as cidades passaram a ser sinalizadas, pois foi preciso determinar arbitrariamente por onde se deve seguir em seus diversos caminhos a serem percorridos no que se pode denominar um "labirinto sinalizado".
Nestes lugares sinalizados das cidades, os sujeitos são direcionados para deslocamento específico em seus espaços de "passagens". No entanto, ainda é possível tentar transgredir as regras para se deslocar como é o caso, por exemplo, do parkour que é um modo não linear de fazer as "passagens", transpondo os obstáculos encontrados na trajetória e, portanto, a transposição que apresenta assim uma forma de transgressão, por meio da realização de diversos saltos4. Essa prática rompe com a lógica do consumo e produção, até o ponto em que sua estética é utilizada na mídia cinematográfica e, portanto, também se torna inserida no modo de produção capitalista.
Em grande parte, as "passagens" nas cidades que escapam das marcas do mercado e suas determinações, se apresentam como algo inalcançável, pois somos aqueles que como tantos outros, seguem determinações e, portanto, viver em cidade é compartilhar com todos os mesmos caminhos determinados pelas calçadas, ruas, avenidas, enfim, os seus traçados que fazem um desenho e delimitam os espaços daquilo que é o urbano, mais propriamente, daquilo que é produção e consumo.
O conjunto desses traçados, que fazem da cidade um lugar por onde se pode transitar, revela toda a sua complexidade e, principalmente, a racionalidade para o seu gerenciamento, pois a compreensão dos diversos elementos que compõem toda a estrutura e as condições necessárias para seu funcionamento é muito amplo e complexo e dificulta em parte a definição das políticas efetivamente públicas, principalmente, quanto ao deslocamento daqueles que desejam ir de um lugar para outro, para o trabalho, ou daqueles que desejam utilizar-se dos espaços públicos como opção de lazer e recreação5.
Neste caso, o espaço urbano é uma construção, que ora permite as condições necessárias para a realização do sujeito e ora constitui uma barreira, impedindo a expressão de suas potencialidades. As praças e os jardins seriam bolhas que se mantém vazias para serem preenchidas pelas políticas públicas para a ocupação dos espaços públicos.
O gerenciamento das cidades é algo que se realiza no paradoxo, pois sua administração é uma contradição entre a racionalização que não se realiza em grande parte e o caos que pode se romper a qualquer momento. Portanto, compreender a cidade é um problema de gestão, no qual podemos nos aproximar, em parte, do seria o funcionamento do aglomerado de sujeitos buscando encontrar os seus meios de subsistência.
Em termos de gestão pública das cidades, o ponto a destacar é que o trabalho do pensamento buscaria reapresentar a organização, quanto à questão da ocupação dos sujeitos no espaço urbano e a oposição entre trabalho e "tempo livre", condicionada ao conceito de "corpos saudáveis" que também se encontra na lógica do mercado. Todos aqueles que aderem a esse conceito de corpo saudável, encontram-se direcionado para atender o mercado, pela manutenção da força de trabalho para o exercício da produção e o consumo de uma diversidade de coisas que lhe atribui a condição de exercitar o seu corpo6. Esse conceito de corpo saudável é pouco compreendido, pois a vida na cidade e as condições de trabalho se apresentam em contradição com a realização do sujeito saudável (físico e mental), visto que a organização das cidades torna a vida conturbada e em grande parte os locais de trabalho não apresentam as condições adequadas para o sujeito.
Ocorre na cidade e nas linhas de produção uma verdadeira modalidade de educação física condicionada por uma "práxis" dos sujeitos. A vida na cidade desenvolve uma dinâmica complexa e que pouco se compreende como funciona e como isso educa o sujeito no social. Há um conjunto de práticas corporais que definem os espaços onde se pode ou não circular com os nossos corpos e, portanto, realiza-se uma modalidade de educação física no cotidiano das cidades tanto para aqueles destinados ao trabalho quanto para os destinados ao lazer.
Estas modalidades de educação física difusas nas cidades, que produzem determinados modos de ser sujeito, mais propriamente, a produção de determinados tipos de subjetividades, implicam na construção do espaço urbano como a realização de um conjunto de teorias educativas que interferem no modo como o sujeito pensa a si mesmo no interior das cidades.
Essa análise se caracteriza por pensar uma modalidade de educação física que se realiza no sujeito, principalmente, em corpos fora do aparelho escolar, que ficam submetidos ao conjunto de condutas disciplinares que os normalizam em estereótipos sociais. Isso se apresenta como uma modalidade de educação que tradicionalmente não é compreendida pelo pensamento educacional.
Para analisar a cidade como aparelho de educação corporal, tem-se como premissa básica a reflexão de Nicoloau Sevcenko em que se observam os diversos elementos que caracterizam as práticas dos sujeitos inseridos na vida urbana como algo que também os educa, portanto:
[...] Para se tomar um único exemplo, atravessar uma avenida expressa, especialmente em horário de rush, é um ato ousado que demanda uma sofisticada combinação de instintos, reflexão, coordenação motora e disciplina de atos concatenados. Como essa combinação complexa nos é incorporada desde cedo na vida, é muito difícil por isso atentar para o quão exigente esse pequeno ritual cotidiano pode ser. Basta porém imaginar as reações dessa criatura que as metrópoles inventaram, o "caipira", para se avaliar o caos que significa alguém solto no interior da megalópole que não esteja adequadamente treinado para responder, automaticamente e sem parar para pensar, às suas solicitações de acelerações de fluxos. (SEVCENKO, 1994, p. 34).
Essa modalidade de educação física difusa no social pode ser dividida, basicamente, em dois conjuntos: aquelas que se encontram instituídas objetivamente, portanto, são estruturas arquitetônicas e espaços pelos os quais se permite o deslocamento e a ocupação dos espaços pelos corpos do sujeito, o que também acaba por definir o seu modo de existência, principalmente, se tratando no seu modo de circular nos interiores das cidades, e a outra parte, que também educa o sujeito, se caracteriza por elementos subjetivos, portanto, são práticas que se encontram relacionadas diretamente com a própria representação da existência do mesmo e como este se compreende no interior das cidades e na ocupação de seu corpo pelos diversos elementos ou daqueles poucos espaços que se pode transitar na cidade. Em relação a essa proposição, podemos ter como referência a seguinte análise da relação entre o sujeito e a cidade:
Para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava a sua dignidade de cidadão. A democracia ateniense dava à liberdade de pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez. O desnudamento coletivo a que se impunham - algo que hoje poderíamos chamar de "compromisso másculo" - reforçava os laços de cidadania. Os atenienses tomavam essa convenção tão ao pé da letra que, na Grécia antiga, a paixão erótica e o apego à cidade eram designados pelas mesmas palavras. [...] A nudez simbolizava um povo inteiramente à vontade na sua cidade, expostos e felizes, ao contrário dos bárbaros, que vagavam sem objetivo e sem a proteção da pedra. (SENNETT, 1997, p. 30-31).
Neste caso, o modo como o sujeito representa para si o uso do corpo na cidade, representa uma filosofia de vida e, no caso da Grécia antiga, um ideal político. Em face da política, vive-se em nossa modernidade uma inversão do ideal grego, pois as cidades não são mais projetadas no modelo da apropriação dos espaços pelo cidadão e sim por uma desapropriação dos espaços públicos, como se pode observar na ampliação dos muros que delimitam o espaço público e privado.
As cidades estão cada vez mais muradas, instituindo regras que impedem a circulação, e essas barreiras se encontram em cada esquina das cidades. Cabe aqui, como exemplo, citar a ida do autor deste artigo a um hospital. O carro foi estacionado na rua, nas proximidades da porta de entrada da unidade hospitalar, enquanto durou a visita. Ao sair do hospital, pela mesma entrada que aparentemente era uma "passagem livre", um vigia contratado para ficar no local dizia as seguintes palavras: "essa passagem é somente para entrada. Para sair é preciso dar a volta e sair por outro local". A informação correspondia a dar uma volta de aproximadamente um quilômetro, embora o carro estivesse a apenas alguns metros do local de entrada, e nada, além da ordem obstasse a saída, porém de nada adiantou argumentar com o vigia. Após obedecer e dar a referida volta passando novamente em frente da "passagem livre" solicitei ao vigia explicações sobre os motivos dessa interdição em sair por esse lugar. O vigia respondeu: "Eu apenas cumpro ordens da direção do hospital. Eles mandam fazer isso e apenas obedeço a ordem do diretor do hospital, pois na verdade eu também não sei por que eles pedem isso". Esse tipo de argumento é a premissa básica que organiza grande parte dos deslocamentos de nossos corpos no interior da cidade, ou seja, um tipo de racionalidade que gerencia como os fluxos dos corpos devem circular no interior das cidades e, para tanto, emprega-se um conjunto de "agentes" que fiscalizam todos os outros que cumprem determinações preestabelecidas. Portanto, somos um conjunto de corpos que vai e vem a todo o momento e que "caminha ou corre" sem muita escolha de por onde seguir no interior das cidades.
O sujeito social da antiguidade, cidadão grego, usava o corpo exposto como a realização do ideal de democracia e o sujeito social moderno usa o corpo, em grande parte interditado, como resultado da privatização dos espaços, e no caso daqueles inseridos no mundo do trabalho, interditados também no uso do tempo livre. Seria importante analisar como essas duas vertentes de relação do uso do corpo no espaço e no tempo se encontram realizadas nas cidades, e seus possíveis desdobramentos na sociedade de mercado, portanto, quais seriam os projetos de uso do corpo em que se evidenciam sua circulação ou interdição, principalmente, na oposição entre aqueles que se deslocam com o objetivo de ir de um lugar para outro para realização de trabalho daqueles que fazem do deslocamento de seus corpos no interior das cidades a realização do "sujeito saudável".
4 CONCLUSÃO
4.1 De uma cidade como um aparelho de educação dos "corpos dóceis" para a realização da unidade entre trabalho e saúde de "corpos emancipados"
Tratando-se de pensar a educação dos corpos e as relações com o mundo do trabalho, observa-se no cotidiano das cidades uma separação entre trabalho e lazer. Em grande parte, somos educados a nos comportarmos exclusivamente de modo produtivo em locais de trabalho, consumidores no "tempo livre" e dedicados aos aspectos da saúde em locais para os cuidados com o corpo. Como podemos inverter essa situação e construirmos cidades em que nos espaços urbanos ocorra a unidade entre trabalho, recreação e saúde (física e mental) na invenção de "corpos emancipados"?
As cidades são lugares em que se encontram instituídas em seus espaços a realização de determinadas tarefas, portanto, são estruturas arquitetônicas que definem uma forma de existência do sujeito no seu modo de circular nos interiores das cidades, como já afirmamos anteriormente na análise feita por Sevcenko sobre as relações entre o sujeito e a cidade (SEVCENKO, 1994). Sendo assim, os projetos arquitetônicos das cidades possuem detalhamentos que os determinam na especificidade de aparelho que no caso específico das cidades é para o controle, pois em locais de trabalho é para ser produtivo, no "tempo livre" para o consumo e na saúde o necessário para a manutenção da força de trabalho, mais propriamente, a educação dos "corpos dóceis". Para tanto, temos como referência o panótico, que se trata de um aparelho, mais propriamente:
[...] uma máquina de eficiente resultado no objetivo de querer vigiar e controlar o outro. Esse "aparelho" possui um funcionamento bem simples: "na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. [...] Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções - trancar, privar de luz e esconder - só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha. (FOUCAULT, 1991, p. 177).
Fica como elemento para conclusão que é "impossível" a construção de espaços urbanos que rompam com a "máquina de controle", panoptismo, enquanto não se romper com o poder que produz o sujeito subordinado ao modo de produção capitalista. Portanto, a invenção de um tipo de sociedade em que se viva a potencialidade na liberdade de ser sujeito deveria romper com a subordinação do sujeito em relação à sociedade de mercado. Uma praça pública efetiva seria aquela que permitiria o encontro dos sujeitos para que no social se realizassem as condições plenas do uso político do corpo. Isso já não seria uma unidade entre cidade, corpo e saúde para o surgimento de organizações sociais em que o sujeito pudesse encontrar as condições materiais para efetivar sua humanidade, e que isso seria em parte um vetor favorável para que se possa manter a saúde física e mental dos sujeitos?
REFERÊNCIAS
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______. Presidência da República. Casa Civil. (2011) Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011. Altera o art. 65 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para descriminalizar o ato de grafitar, e dispõe sobre a proibição de comercialização de tintas em embalagens do tipo aerossol a menores de 18 (dezoito) anos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12408.htm>. Acesso em: 19 ago. 2011. [ Links ]
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SEVCENKO, N. Futebol, metrópoles e desatinos. Revista da USP: dossiê futebol. São Paulo, n. 22, p. 30-37, jun. /jul. /ago.1994. [ Links ]
Endereço para correspondência:
Avenida BPS, 1303, Pinheirinho
Itajubá, MG. CEP: 37500-000
E-mail: rogerio@unifei.edu.br
Artigo recebido em: 08/03/2012
Aprovado para publicação em: 12/08/2012
1 Seria possível afirmar que a saúde mental do sujeito (arquiteto/engenheiro/operário) é também um fator determinante no modo como é projetada a construção da cidade?
2Conversando com um sujeito que faz a manutenção de uma praça pública, perguntei para ele como as pessoas deixavam seus cachorros fazerem suas fezes e não limpavam o local. Ele me respondeu que já tinha falado para essas pessoas limparem a sujeira dos seus animais e que escuta como resposta: "eu pago imposto".
3Pode-se perguntar se seriam dois tipos distintos de sujeitos ou o mesmo sujeito em situações distintas, em momentos distintos? Podemos dizer que somos múltiplos em nosso modo de existência e muitas vezes somos solicitados para sermos o mesmo.
4Para informações sobre a prática do parkour indicamos o site http://www.parkourbrazil.com. Acesso em: 28 jul. 2011.
5Na condição de praticante por diversos anos dos espaços públicos para exercício das atividades físicas é possível observar que temos serias restrições. Podemos pegar como exemplo o rio Tiete que corta municípios com uma alta densidade populacional. As margens desse rio e inclusive o próprio rio poderia ser utilizado como equipamento para treinamento corporal. No entanto, o rio Tietê é um lugar inapropriado para qualquer tipo de prática corporal e a representação que a população possui desse espaço urbano é de um lugar sujo e o que melhor seria era canalizar e passar mais uma via para automóveis.
6Existem lojas de equipamentos para as práticas esportivas que são verdadeiros supermercados em que é possível encontrar uma infinidade de coisas. No conjunto dessa infinidade de coisas, o consumo de equipamento esportivo se constitui como um produto qualquer, principalmente, o próprio evento esportivo pode ser formatado como um produto para ser consumido pelas diversos tipos de mídias.