Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Pensando familias
versão impressa ISSN 1679-494X
Pensando fam. vol.18 no.2 Porto Alegre dez. 2014
ARTIGOS
O envolvimento do pai na gestação do primeiro filho1
Father’s involvement during ihe gestation of the first child
Simoni Crochi dos Santos2, I ; Carla Meira Kreutz3, II
I Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
II Universidade Luterana do Brasil - Gravataí (ULBRA)
RESUMO
A gestação é um período que possibilita ao pai vivenciar experiências desconhecidas, rever papéis e se adaptar a um novo ciclo. Sendo assim, este artigo tem por objetivo descrever de que forma o homem vivencia a gestação do seu primeiro filho além de conhecer como consideram seu papel enquanto pai durante a gestação. Participaram deste estudo qualitativo cinco pais em que as esposas estavam grávidas, distribuídos nos três trimestres gestacionais. Realizou-se uma entrevista semi-estruturada em que as respostas foram analisadas conforme análise de conteúdo Bardin (1977). Os resultados mostraram que os pais se envolvem de diversas formas com a gestante e o bebê, dispensando apoio material e emocional. Todavia, alguns não conseguem vivenciar com facilidade esta fase, o que nos indica que a gestação ainda é um período no qual os homens estão buscando novas formas de se inteirar e explorar, uma vez que não ocorre em seu próprio corpo.
Palavras-chave: Paternidade, Primogênito, Gestação.
ABSTRACT
Pregnancy gives the father the opportunity to experience the unknown, review his roles and to adapt himself to the new cycle that begins. Thus, this article aims to describe on how men experience the pregnancy of their first child besides finding out how they consider their roles as father during the period of gestation. Took part in this qualitative research five fathers in whose wives were pregnant, distributed on the three gestational trimesters. Was performed a semi-structured interview in which the answers were analyzed according to Bardin content analysis (1977). Results showed that men are involved in several ways with their pregnant woman and the baby, excluding material and emotional support. However , some of them still cannot overcome this period easily, which points to the fact that pregnancy is yet a time where men are seeking for new ways to learn about themselves and to explore it, as it does not take place in their own bodies.
Keywords: Paternity, Firstborn, Pregnancy.
Introdução
Quando um homem decide ser pai ele passa por um período que exige uma série de adaptações e mudanças psicológicas, biológicas e sociais para assumir este novo papel em sua vida com a chegada de um filho. Para muitos, a gestação pode servir como um período de preparo, no qual se elaboram fantasias e sentimentos, o homem se recorda e revisa os papéis parentais e a sua própria infância (Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes & Tudge, 2004).
Foi a partir da década de 1970 que surgiram os estudos mais significativos a respeito da paternidade (Lamb, 2000, In Balancho, 2004). Além dos vínculos emocionais, o papel do pai é de extrema importância no que diz respeito ao desenvolvimento do filho nos aspectos social, cognitivo e linguístico. A participação do pai na gestação reflete diretamente na forma como será a sua relação com o seu filho no decorrer de diferentes momentos ao longo da vida (Parke, 1986, In Castoldi, 2002). O presente trabalho visa contextualizar de que forma o homem vivencia a gestação do seu primeiro filho além de conhecer como consideram seu papel enquanto pai durante a gestação.
Revisão de literatura
O lugar do pai ao longo da história
Historicamente e em termos gerais, a criação dos filhos era o objetivo da vida das mulheres ao serem mães, onde educavam os meninos para se tornarem independentes e bem sucedidos no mundo dos negócios, enquanto as meninas eram educadas para se tornarem dependentes, com qualidades morais, habilidades para organizar a casa e aptas a serem boas mães (Ramires, 1995). Os homens, como responsáveis pelo sustento familiar, participavam pouco da educação dos filhos e os tratavam como se fossem propriedades suas, educando de forma autoritária, rígida e quase sem demonstrações afetivas, passando a imagem de indiferença, distância e sendo modelos de poder e autoridade para as crianças (Benczik, 2011; Ramires, 1995).
A sociedade tem passado por grandes transformações nas últimas décadas, relativamente à paternidade, havendo mudanças intensas entre os séculos XIX e XX. Primeiramente, com o advento da revolução industrial, muitos pais passaram a dedicar-se mais ao trabalho fora de casa e a se envolverem menos com os cuidados dos filhos e da família (Rotundo, 1985, In Castoldi, 2002). Assim, os cuidados com as tarefas do lar e da família ficaram a cargo das mulheres. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, uma nova necessidade levou um maior número de mulheres a ingressar no mercado de trabalho para ajudar no sustento da família. Com isso, o papel do pai, que estava sendo basicamente o de provedor, começava a se modificar, pois foi preciso novamente se envolver mais com tarefas referentes ao lar e aos filhos (Castoldi, 2002).
Em algumas épocas, quando o pai transmitia ao filho o seu sobrenome, era suficiente para que a paternidade se estabelecesse. Hoje em dia, para que os pais ocupem a sua posição paternal é preciso se envolver em atividades antes vistas como apenas maternais e relacionadas com os cuidados básicos do bebê (Leff, 1997). E é interessante apontar os resultados de uma investigação de Castoldi (2002), que realizou um estudo de caso coletivo, com seis pais adultos que esperavam seu primeiro filho, para analisar o processo de construção da paternidade, desde a gestação até o primeiro ano do bebê. Verificou-se que o envolvimento paterno é muito influenciado pelos modelos familiares e que a gestante não determina o grau de engajamento do pai com o bebê, mas influencia no clima familiar. Dessa maneira, é possível entender que o envolvimento paterno está interligado a uma participação genuína do homem e não somente de uma abertura dada pela mulher.
A figura paterna vista pelos teóricos
Entre os teóricos mais estudados e referenciados na Psicologia como estudiosos dos papéis desempenhados por mães e pais, Bowlby (1984) foi o que mais próximo esteve da díade pai-bebê, pois ressaltava a importância da criança conviver com seus pais nos primeiros anos de vida, inferindo que a partir disso teria a base da construção dos seus modelos de apego e mundo interior. Para a psicanálise, a figura do pai é extremamente importante para a construção do psiquismo e do processo de subjetivação do sujeito. Através do pai é que o filho ou a filha irão entrar no Complexo de Édipo (Zimerman, 1999).
Assim como a mulher, o homem também tem um desejo universal de tornar-se pai, que lhe permite sentir-se completo e onipotente, visto que através da paternidade ele dá continuidade à sua linhagem, especialmente se for do sexo masculino (Brazelton & Cramer, 1992). De certa forma, o nascimento do primeiro filho implica em diversas mudanças na vida conjugal, nos papéis sexuais e que muitas vezes não são fáceis de enfrentar (Bee, 1997). De acordo com Cramer e Palacio-Espasa (2003), aos progenitores cabe à tarefa de se reorganizarem psiquicamente para que possa ocorrer a inclusão do bebê.
Freitas, Coelho e Silva (2007) realizaram um estudo com 10 homens para compreender a emergência do sentimento de paternidade daqueles que já tinham, pelo menos, mais de um filho com a companheira. Como resultado, a maioria, relatou que o sentimento da paternidade inicia concretamente com o nascimento do bebê, pois não se sentem parte da gestação e por isso ficam distantes no período gestacional. Por questões culturais, emocionais, religiosas e familiares, a sociedade delega o título de pai ao homem que concebeu mesmo que ele não aceite ou represente este papel. Muitas vezes, somente após o nascimento é que os homens conseguem de fato sentirem-se pais, no entanto, alguns, nem mesmo após o nascimento do filho conseguem expressar a responsabilidade ou o sentimento de paternidade que este processo implica.
Os achados sobre o exercício da paternidade até a década de 1970 pareciam não ter relevância no processo de criação das crianças, devido à escassez de estudos sobre esta temática (Ramires, 1995). A partir de então, estudos foram realizados sobre o envolvimento do pai após o nascimento do bebê, enquanto que a respeito da participação do pai na gestação ainda são minoria. No entanto, o envolvimento paterno durante a gestação tem suas peculiaridades, pois o vínculo se dá de forma indireta, através de mediações feitas pela mãe, dado este que foi encontrado em uma investigação de Piccinini et al. (2004) sobre como se dá o envolvimento paterno durante o terceiro trimestre de gestação, com 35 pais que esperavam seu primeiro filho. Os resultados apontaram que muitos pais estiveram envolvidos emocionalmente com a gestante e o bebê, no entanto, alguns ainda encontravam dificuldades na interação.
Maldonado, Dickstein e Nahoum (1997), relatam que a partir da década de 1980, pesquisas e observações do comportamento de recém-nascidos começam a mostrar que o bebê consegue perceber o pai desde os primeiros dias de vida mostrando que o pai entra muito mais cedo na vida do bebê do que se costumava presumir até então. Klaus e Klaus (2001) afirmam que a criança consegue escutar e discriminar a voz dos pais devido aos diferentes tons desde o útero. Sendo assim é possível a figura paterna criar um vínculo com o seu bebê durante a gestação. É evidente que a forma como o homem vive a gestação é diferente da mulher, pois somente a mulher irá sentir o bebê crescer dentro do seu ventre, dará a luz e irá amamentá-lo (Piccinini, Levandowski, Gomes, Lindenmeyer & Lopes, 2009). De acordo com Maldonado et al. (1997), este é um dos motivos pelos quais muitos homens, por vezes, não conseguem criar um vínculo intenso com o bebê inicialmente ou este se dá de forma mais lenta durante a gestação, fortalecendo-se após o nascimento e com o desenvolvimento da criança.
Parke, citado em um estudo por Piccinini et al. (2004), relata que uma forma de fazer referência ao envolvimento do pai na gestação é considerar que o casal fica grávido e não apenas a mulher. Segundo De Martini (1999), alguns homens se envolvem e participam tanto da gestação que desenvolvem a chamada Síndrome de Couvade, caracterizada por apresentarem sintomas semelhantes aos físicos e psicológicos pelos quais as gestantes costumam passar.
Durante o período gestacional o homem pode desenvolver uma relação com o filho, começando a ocupar seu lugar de pai, assim como acontece com a gestante com relação ao seu papel de mãe (Piccinini et al., 2009). Estimular a relação precoce pai-bebê tem sido considerado como fundamental para o desenvolvimento futuro da criança, segundo a nova perspectiva de paternidade que tem sido demonstrada em recentes estudos. O papel dos pais vem ganhando lugar na divisão de responsabilidades e participação na rotina dos bebês e crianças (Krob, Piccinini & Silva, 2009). A participação e o envolvimento paterno na gestação não estão apenas relacionados a acompanhar consultas e ecografias, mas também envolver-se emocionalmente e buscar contato com o bebê através de conversas e carinhos na barriga, ajudar nos preparativos para a chegada do novo membro da família, dar apoio emocional e instrumental à mãe, bem como lidar com as preocupações e ansiedades vivenciadas pelo casal (Piccinini et al., 2004).
Uma estratégia utilizada como facilitadora ao contato do pai com o seu bebê durante o período pré-natal é a ultrassonografia, visto que o casal compartilha da mesma imagem e informações durante o exame. Segundo Piontelli citado em estudo por Piccinini et al. (2009), a partir deste exame os pais, em sua maioria, passam a se sentir mais responsáveis pelos cuidados com a mãe e o bebê.
Este estudo justifica-se pelo fato de a sociedade estar sofrendo diversas mudanças nas últimas décadas e, consequentemente, muitos valores estão sendo alterados e outros acrescentados. Um destes valores está relacionado à paternidade e à importância que o pai tem na formação psíquica de um sujeito desde a gestação.
Ao se verificar a escassez de estudos sobre as vivências da paternidade durante a gestação, em contraste com a vasta literatura sobre as mães com relação a este período, vem a necessidade de se estudar um melhor entendimento a respeito da maneira como os homens vivenciam a gestação do seu primogênito, gerando reflexões sobre aspectos até então pouco estudados. Portanto, o presente estudo teve por objetivo descrever de que forma o homem vivencia a gestação do seu primeiro filho além de conhecer como consideram seu papel enquanto pai durante a gestação.
Método
Para a realização deste estudo, foi utilizada a metodologia qualitativa, de cunho exploratório. Neste método, a linguagem foi expressa de forma descritiva, em termos não numéricos (Cozby, 2006).
Participaram deste estudo cinco pais de primogênitos com idades entre 29 e 42 anos, em que as esposas estavam gestantes e todos residiam com as mesmas, sendo que um deles já havia perdido um bebê por aborto espontâneo em uma gestação anterior da companheira. Dentre os entrevistados, tivemos gestantes de cada um dos três trimestres gestacionais, sendo duas do terceiro, duas do segundo e uma do primeiro trimestre. Os participantes foram acessados a partir da rede de indicação das pesquisadoras e seguindo o critério de conveniência. A cidade de moradia variou entre Porto Alegre e região metropolitana. O nível de escolaridade dos entrevistados era de Ensino Médio Profissionalizante a Ensino Superior Completo.
Instrumentos
Para identificar de que forma os pais participam da gestação de seu primeiro filho utilizou-se dois instrumentos elaborados pela pesquisadora, considerando-se os objetivos do estudo e a revisão de literatura. O primeiro instrumento utilizado foi um questionário sócio demográfico para conhecimento e caracterização da amostra. O segundo instrumento consistiu em uma entrevista semi-estruturada, contendo 11 questões, as quais abordavam assuntos como de que forma ficaram sabendo da gestação, preocupações durante o período gestacional, se acompanhavam a esposa nas consultas e ecografias, que tipo de apoio era oferecido à esposa, se participaram na escolha do nome, roupas e utensílios para o bebê. O tempo médio de duração das entrevistas foi de 20 minutos, realizadas individualmente, sendo que, em alguns casos, a partir de convite do marido, a esposa esteve presente em parte do tempo.
Procedimentos de coleta e análise dos dados
Após os pais concordarem em participar deste estudo, foi agendado um encontro na residência dos mesmos ou em uma sala comercial disponibilizada pela pesquisadora e de fácil acesso aos participantes. Solicitou-se que eles fizessem a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e se discursou a respeito de dúvidas em relação ao estudo. Após este procedimento, realizou-se a gravação da entrevista sobre as formas de participação na gestação do primeiro filho. As entrevistas foram então transcritas e os dados coletados foram organizados e classificados de acordo com a análise de conteúdo sugerida por Bardin (1977) que se deu em três etapas: 1) transcrição das entrevistas; 2) demarcação de unidades de sentido e 3) geração de categorias temáticas.
Apresentação e discussão dos resultados
A seguir serão examinadas as respostas dos participantes às questões da entrevista. Nessa etapa, discutem-se os aspectos comuns e particulares das vivências e percepções dos sujeitos que estavam experimentando pela primeira vez a gestação e a paternidade.
As categorias surgiram a partir do relato dos pais, dividindo-os em diferentes temáticas que iam surgindo no decorrer das respostas, são elas: 1) Entre surpresas e confirmações; 2) Papel, escolhas e preocupações... tantas coisas novas para mim; 3) Do sentir ao sentir-se; e 4) Assistir ao parto.
1. "Entre surpresas e confirmações"
Esta categoria refere-se a todas as experiências relatadas pelos entrevistados a respeito dos sentimentos vivenciados quando receberam a notícia confirmatória da gestação. Apareceram desde sentimentos de felicidade, visto que a gravidez era muito esperada, até manifestação de surpresa e impacto, pois não imaginavam que seriam pais agora.
Apareceram sentimentos de alegria frente ao tão esperado resultado, como pode ser visto no relato a seguir.
"foi uma choradeira... Chegou a hora, bem assim... Veio, chegou a hora, deram certos os planos e aí é só alegria" (P4, 29 anos, 1º trimestre).
Outro pai em que a gravidez já era planejada há algum tempo relatou que a confirmação com o resultado positivo no exame foi repleta de sentimentos de alegria, mas referiu também ser um momento de preocupação, incluindo-se a inexperiência em cuidar de bebês, mostrando o aparecimento da responsabilidade quanto ao novo papel.
"...foi bem legal, a gente, na hora, não pensa muito, mas depois começa a vir a responsabilidade ... eu fico preocupado ... a responsabilidade me deixa um pouco ansioso ... a educação, cuidado e tudo o mais... eu não sei nem pegar uma criança no colo né..." (P3, 30 anos, 2º trimestre).
Manifestações de surpresa e impacto, concomitantes com sentimentos de alegria e contentamento ao receber a notícia da gestação apareceram entre aqueles que não tinham planejado a gravidez e podem ser exemplificadas com os relatos que seguem.
"... foi bem impactante... mas foi bem emocionante assim, deu pra correr uma lágrima do olho ... é o sentimento de alegria ... ah, eu acredito, a idade, a experiência, o tempo... vai te deixando um pouco mais receoso, né ... hoje não, tu pesa sempre uma, duas vezes antes de tomar qualquer ação ou decisão né, uma atitude, né... e... o senso de responsabilidade nessa idade é um pouco maior ... Então aí te causa um pouco mais de preocupação e tudo né..." (P1, 42 anos, 3º trimestre).
"Ah, eu fiquei surpreso, era uma coisa que eu não esperava ... Totalmente fora daquilo que a gente imaginava ... contente, é uma palavra que resume bem o que eu senti..." (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Um dos pais de 3º trimestre relatou que se recorda de suas preocupações com a saúde do bebê no 1º trimestre de gestação, visto que anterior a esta gestação a esposa teve um aborto espontâneo com oito semanas.
"a reação imediata foi mais que contente e... um pouco preocupado em função que a gente já tinha perdido o primeiro, então dessa vez foi mais preocupação... era contentamento e preocupação paralelos ... depois do terceiro, quarto mês ... eu fiquei mais tranquilo..." (P2, 34 anos, 3º trimestre).
Os relatos acima mostraram vivências semelhantes frente à notícia da gravidez entre os pais dos diferentes trimestres. A maioria deles relatou um misto de sentimentos de alegria e um senso de responsabilidade ou preocupação com o novo papel. O fato de o recebimento da notícia ser composto de sentimentos ambivalentes de alegria e preocupação vai ao encontro do que afirma Brazelton (1988), quando se refere que acompanhar o crescimento do bebê para os pais é um sentimento tão intenso quanto à responsabilidade, preocupação e ansiedade geradas a partir do nascimento, tornando-se um dos eventos mais desafiadores da vida de uma família. Esta ambivalência de sentimentos também ficou evidente nos estudos de Piccinini et al. (2004) ao investigarem como se dá o envolvimento paterno durante o terceiro trimestre de gestação, a preocupação se mostrou presente desde em se ter condições de prover o sustento do bebê até questões relacionadas à falta de habilidades com crianças.
Embora para alguns pais a gravidez tivesse sido planejada e a notícia foi recebida com muita alegria, a preocupação relacionada ao fato de ser o responsável pela educação, inclusive de limites e valores, e pelo sustento de um ser que, durante muito tempo, demandará de seus cuidados e atenção, foi um item presente nos relatos. Isto nos remete a pensar que independente da idade do pai e do desejo que se tem em ter filhos, a paternidade implica um amadurecimento psicológico natural, pois alguém irá depender permanentemente de você para ter as necessidades básicas de sobrevivência atendidas.
2. "Papel, escolhas e preocupações... tantas coisas novas para mim"
Esta categoria refere-se a todas as percepções e vivências relatadas pelos entrevistados a respeito da maneira como entendem o papel do homem na gestação, de que forma se dá a sua participação nas escolhas dos utensílios para receber o bebê e na escolha do nome. Apareceram desde relatos de pais que participam de tudo, inclusive na escolha das roupinhas até pais que não se envolvem tanto, pois acreditam que este papel é mais da mulher do que do homem. Os relatos dos pais foram divididos em alguns temas: papel do homem na gestação, participação na gestação, escolha de utensílios para o bebê (roupas, quarto, carrinho), escolha do nome do bebê e preocupações durante a gestação.
Referente à forma como percebem o papel do homem na gestação, todos os participantes relataram ser de companheirismo, suporte e apoio.
"... eu acho que tu podes participar em pequenos detalhes, primeiro, estar sempre do lado da esposa, assim é dando carinho, tranquilidade... se ela sentir qualquer coisa, tá tendo alguma dificuldade pra resolver um problema tu tá ali junto..." (P1, 42 anos, 3º trimestre).
Ao descrever sobre a forma como estavam participando da gestação, todos os pais relataram que ir às consultas e ecografias é uma forma de participar, independente do período gestacional.
"ecografias, todas... eu até gosto de ir porque eu falo certas coisas que ela [esposa] acaba não falando, que ela acaba omitindo na realidade." (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Alguns pais mostraram ir além do acompanhamento nas consultas e ecos, buscando uma interação maior com o bebê. Tivemos desde pais que já começaram a colocar músicas e contar histórias para a filha enquanto se desenvolve no ventre da mãe, até pais que buscam conversar com o bebê de alguma maneira.
"em todas as ecos eu fui, em todas as consultas... ela achava que era gases quando tava mexendo então eu fui o primeiro a dizer não, é ela que tá mexendo ...eu fui atrás de música pra tocar, pra ela [bebê] ouvir ...to lendo o Sítio do Pica-pau Amarelo pra ela... e ajudar nas coisas de casa assim... eu sempre fui, fui bem descansado agora to ajudando mais" (P2, 34 anos, 3º trimestre).
"Vamos dizer que eu converse mentalmente com ela, mas ...não [não verbaliza], até porque a mãe tá perto e tem certas coisas que eu falo e eu não quero que ela escute" (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Referente às escolhas dos utensílios para o bebê (roupinhas, carrinho, berço e preparação do quarto), tivemos relatos de pais que não fizeram questão de participar, pois acreditavam que este tipo de escolha é um momento mais da mulher do que do homem, ou que estas escolhas são precoces, pois ainda está longe de o parto ocorrer.
"eu não participei em quase nada ... por mim um berço é um berço né, um carrinho é um carrinho, não sei se, o carrinho A ou B é melhor né... eu deixo pra ti e tu escolhe, o que tu decidir pra mim tá bem decidido, né ...claro alguma coisa e outra eu opinei" (P1, 42 anos, 3º trimestre).
"aí mais é com ela mesmo, esse eu confesso que eu to bem atrasado nessa questão, até porque eu acho um pouco precoce tá, porque isso [parto] é pra fevereiro, início de março, então acho que a gente tem um tempo grande ainda... ...berço, carrinho, sim, isso eu quero participar, agora a parte mais de roupa, eu não saberia comprar até porque não sei tamanho e tal" (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Outros pais informaram que ajudaram a escolher alguns utensílios, inclusive as roupinhas para o bebê.
"eu participo de tudo, inclusive aquilo que eu não gosto digo que não gosto, ajudo a escolher, dou opinião... eu olhei o berço e disse é esse o berço que eu quero..." (P2, 34 anos, 3º trimestre).
Referente à escolha do nome para o bebê, tivemos desde pais que concordaram com a escolha que a esposa fez até pais que escolheram nomes mais comuns e de fácil entendimento para não ser motivo de constrangimento para os filhos.
Um pai relatou que a esposa fez a escolha do nome e ele simplesmente concordou.
"ela já tinha escolhido há muito tempo atrás na cabeça dela e eu adorei..." (P4, 29 anos, 1º trimestre).
Outro pai disse que a escolha do nome do bebê foi somente dele e que ocorreu há no mínimo 10 anos.
"eu que fiz a escolha ...essa escolha ela aconteceu no mínimo há uns 10 anos antes ...algum dia eu tive algum insight na minha vida, que disse que: se eu tivesse um filho, primeiro seria uma mulher né, e o nome dela seria M. E... porque, não sei te dizer" (P1, 42 anos, 3º trimestre).
Um pai relatou que no momento da escolha do nome para o bebê, o casal desejou não colocar nomes difíceis de serem compreendidos, podendo gerar constrangimentos futuros para a criança, optando por nomes mais simples.
"a gente sentou e, conversou sobre nomes que nós dois gostamos ...a gente preferiu se ater a nomes normais digamos assim, brasileiros obviamente ...não pode ser uma coisa muito complicada pra criança ter que dar explicação a vida inteira ...porque o nome dele é escrito assado ...procuramos também nesses nomes referências né, pessoas que a gente conhece que tem esse nome ...as características que a gente gosta nessas pessoas ..." (P3, 30 anos, 2º trimestre).
Os relatos acima mostram diferentes formas percebidas pelos pais de se envolver com a gestação, apareceram desde pais que querem escolher e opinar em tudo, inclusive nas roupinhas até pais que não demonstram interesse em participar deste tipo de escolha, por exemplo.
Fica evidente nos relatos que dar apoio, servir como suporte no que a esposa precisar, ajudar a cuidar da alimentação, não deixar a esposa fazer esforço físico que coloque a gestação em risco ou participar das consultas e ecografias são formas que os homens encontram para registrar sua participação na gestação, visto que biologicamente não lhe é possível atuar além da concepção.
As diversas manifestações relatadas pelos pais como significativas de envolver-se com a gestação também estão presentes no conceito de envolvimento paterno trazido por Lamb, Pleck, Charnov e Levine em um estudo publicado por Piccinini et al. (2004), apontando para a interação, acessibilidade e responsabilidade do pai para com seu filho. Este envolvimento pode ocorrer em diferentes aspectos, seja emocional ou materialmente, tais como preocupações com a gestante, participação na escolha dos preparativos para a chegada do bebê e acompanhamento nas consultas, achados esses que corroboram os estudos de Krob et al. (2009). Torna-se ainda mais evidente esta afirmativa quando todos os participantes relatam estarem mais disponíveis, dedicando mais atenção e sendo mais pacientes com suas esposas. Estas características dos homens reagirem positivamente às necessidades emocionais de suas esposas são comuns na gestação conforme expõe Piccinini et al. (2004).
O fato de ter aparecido o relato de um pai que percebeu os movimentos fetais enquanto a gestante achava que eram apenas gases, pode trazer uma importante reflexão. Apesar de a gestação acontecer no corpo da mulher, o pai que está envolvido tem condições, inclusive, de auxiliar a esposa no entendimento do que está se passando em seu corpo. Esse relato parece mostrar que o contato do bebê com o pai já é uma realidade mesmo durante a gestação. Esse achado corrobora com o que fora relatado por Pupo, citado por Benczik (2011), sobre a possibilidade de o pai já ser capaz de criar um vínculo com o bebê ainda no ventre materno. O vínculo pai-bebê em gestação parece, portanto, não ocorrer somente através dos sentidos do tato ou da audição, mas através de uma atribuição de significados que o pai faz para com o seu bebê, vinculando seu imaginário àquele ser em formação, fato presente no relato do pai que diz conversar mentalmente com o seu bebê.
Percebe-se também nos relatos que, as escolhas dos utensílios para o bebê, ainda são atividades caracterizadas pelos pais como predominantemente femininas e, por não entenderem de tamanhos e modelos de roupinhas, os pais não conseguem participar. Isto nos remete a pensar que existe uma lacuna entre o papel que os homens idealizam ter durante a gestação e o que de fato eles conseguem realizar. Este comportamento pode ser entendido pela ausência e desconhecimento de um modelo de pai mais participativo que desmistifique as diferenças atribuídas às questões de gênero, em que determinadas tarefas são femininas e outras masculinas. Esta diferença é visível quando em um relato o pai diz não participar das escolhas de roupinhas, mas deseja escolher o berço e carrinho, itens que remetem à segurança física do bebê, podendo-se relacionar à ideia de força, como característica masculina. Sobre esta questão de gênero, Filho (2005) relata que a cultura define alguns comportamentos como sendo masculinos e outros femininos. No entanto, uma forte modificação para os gêneros vem se configurando ao longo dos anos com a emancipação do homem e da mulher, a qual consiste em simplesmente liberar alguns aspectos masculinos da personalidade das mulheres (trabalho, produção científica, competição, esportes) e alguns femininos da personalidade do homem (afeto, paternidade responsável, cuidados da casa, beleza).
Referente ao nome dos bebês, os relatos dos participantes foram ao encontro do estudo de Piccinini et al. (2009), no qual os mesmos atribuíram a escolha ao que lhes lembrava ou ao que os remetia, tais como as características das pessoas que possuem o nome que escolheram para os seus bebês. É interessante observar que os pais desejam escolher para os filhos nomes que não lhes causem transtornos perante a sociedade por serem de difícil pronúncia ou escrita. Em geral este sentimento apareceu nos relatos de pais que possuem nomes não tão comuns o que, através de suas experiências, manifestam desde já uma empatia com o bebê.
3. "Do sentir ao sentir-se"
Esta categoria refere-se a todos os relatos dos pais a respeito do "sentir-se grávido" ou sentir-se pai e da vivência com relação aos movimentos fetais.
Tivemos relatos desde participantes que começaram a se sentir pais a partir da confirmação da gravidez até pais que manifestaram ter este sentimento apenas em estágios mais avançados da gestação, quando os movimentos fetais começaram a ser perceptíveis.
Um pai relatou que se sentiu grávido, pois devido à gestação começou a ter mais cuidados com relação à sua saúde.
"De certa forma sim ...porque hoje eu penso em certas coisas que, há um tempo, antes de acontecer eu não pensava ...de cuidar um pouco mais da própria saúde pra tentar conviver um pouco mais ...pra gente passar mais tempo junto com o nenê" (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Outro pai se referiu sentir-se grávido do ponto de vista de curtir e sofrer a gravidez.
"Claro! ...não grávido da forma física, mas a sensação de ah... tu tá acompanhando desde quando a gente achava que mexia, até a hora que tá mexendo e, quando a gente conversa e ela acalma e, quando a gente fala e ela responde e, quando a T [esposa] tava enjoando, aquele negócio o que come antes, levanta dá meia bolacha, tinha toda uma rotina pra ela não enjoar ou pra enjoar pouco... então me sinto grávido... do ponto de vista de curtir e sofrer a gravidez" (P2, 34 anos, 3º trimestre).
Outro pai simplesmente afirmou não se sentir grávido.
"sinceramente não ...às vezes tu te pega de noite pensando: ‘pô né agora vai mudar a vida... um ser que vai nascer que vai depender totalmente de ti né’" (P1, 42 anos, 3º trimestre).
Quando foram questionados sobre sentirem-se pais, tivemos relatos desde participantes que já se sentem desde o dia em que tiveram a confirmação da gestação até aqueles que não se sentem, que pensam que isto ocorrerá com o nascimento do bebê.
"... desde o primeiro dia, deu positivo, quando a gente desconfiava que tava grávida eu já me sentia pai." (P2, 34 anos, 3º trimestre)
"Ainda não, eu acho que tem que ter a parte física pra gente exercer esse sentimento de forma plena, enquanto tá ali a gente não tem essa sensação por completo" (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Um pai ficou em dúvida sobre o que é sentir-se pai, conforme o relato a seguir.
"É bem relativo assim porque eu não sei o que é se sentir pai ...não vi ainda a criança né, então aquela coisa do pegar no colo, do cuidar, de acordar de madrugada, ainda não vivi isso, então eu não sei exatamente se eu me sinto ou não me sinto pai" (P3, 30 anos, 2º trimestre).
Com relação à participação nos movimentos fetais, todos os pais relataram querer participar tentando sentir os movimentos também.
"tu vê que ela dá aquelas cutucadas assim né ...dá pra sentir direitinho o calcanhar assim e tudo né, porque fica agora mais saliente né, tu vê a barriga mexendo e tudo né" (P1, 42 anos, 3º trimestre).
"Ela sente mexer, mas quando me chama e eu toco não sinto mexer porque é muito pouco ainda ...Ah, eu quero sentir também, eu já vou pôr a mão na barriga pra ver se ela se mexe, só que toda vez que eu ponho eu acho que ela descansa, eu até agora não percebi nada..." (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Alguns entrevistados relataram que começaram a se sentir pais desde que receberam a confirmação da gravidez, enquanto outros, mesmo no terceiro trimestre gestacional, vivenciando os movimentos fetais acreditam que somente se sentirão pais quando o bebê nascer. Esta última colocação também aparece nos estudos de Freitas et al. (2007) em que é comum o sentimento de paternidade ocorrer plenamente somente após o nascimento e, em alguns casos, mesmo após este evento, o peso da responsabilidade de ser pai e o sentimento deste novo papel não são tão perceptíveis. Isto nos remete a pensar que o sentir-se pai tende a fazer parte de um processo, é uma construção que pode ser feita durante a gestação, quando o homem começa a repensar os seus modelos de paternidade e na forma como acredita poder interagir com o bebê enquanto se desenvolve no útero materno. Pode-se pensar que essa é a maneira que os homens encontraram de construir junto à mulher o "ninho" para esperar sua prole.
Sentir-se grávido, talvez mais do que qualquer outra questão relacionada à paternidade, é uma interpretação muito particular de cada sujeito, pois é caracterizada pelas suas experiências e vivências relativas ao ato de ser pai, excluindo-se o fato que é biologicamente inviável aos homens de poder gestar um filho. No entanto, percebe-se que esse sentimento pode ser expresso quando o homem começa a dedicar mais cuidados à sua saúde para ter melhor qualidade de vida com a esposa e o bebê que está chegando.
O fato de os participantes, de certa forma, demonstrar incerteza de já se sentirem pais ou não, corrobora a ideia de Bornholdt (2002) quando diz que as dúvidas e sentimentos confusos em relação aos seus papéis durante a gestação são condizentes com a própria nomenclatura a ser utilizada para o indivíduo que tem a sua esposa gestante, chamá-lo-emos de "futuro pai", "pai", "pai grávido" ou "homem grávido"? Segundo esta autora, chamar o homem de "pai" atribui-se àqueles que estão muito envolvidos e realmente já se sentem pais durante a gestação, enquanto que o termo "futuro pai" se destinaria àqueles que são como telespectadores, ou seja, apenas assistem à gravidez.
A busca por sentir, mesmo que de forma externa, os movimentos do feto são referenciados pelos participantes como uma maneira de sentir-se pai e interagir com o bebê. Para alguns homens, o sentimento de paternidade pode se tornar mais forte quando os movimentos começam a ser perceptíveis. Essa interação, desde o início da gestação, é permeada pela mulher que, aos mínimos sinais, pode compartilhar com o seu parceiro o que está sentindo, o que, apesar de ela não fazer parte do único aspecto que traga repercussões na paternidade, nos remete a pensar que ela tem um importante e determinante papel como ajudante na construção do sentimento de paternidade.
4. Assistir ao parto
Esta categoria refere-se aos planejamentos e sentimentos que os pais relataram sobre assistir ou não ao parto. Tivemos desde pais que querem participar, mesmo que seja sentado caso sinta mal-estar, até pais que acham que não conseguirão assistir ao parto.
"Pretendo, mas ficarei sentado numa cadeirinha pra não atrapalhar, vai que eu desmaie pelo menos eu desmaio sentado, ninguém vai dar bola pra mim mesmo lá na hora" (P3, 30 anos, 2º trimestre).
Dois pais relataram dúvidas com relação a assistir ao parto, pois seria vivenciar o sofrimento da esposa e não poder fazer nada para lhe ajudar, conforme pode ser observado a seguir.
"...não sei se vou conseguir ...o problema é que eu fico muito nervoso e aí já fico num suador só de pensar ...eu não posso atrapalhar ...sabe, tu ficar vendo ali, não pode fazer nada, não sei, vai depender muito de como é que vai ser os últimos meses..." (P4, 29 anos, 1º trimestre).
"Não sei, não porque eu não consiga ver esse tipo de coisa assim, mas acho que é muito sofrimento dela ...não conseguir fazer nada, eu acho que isso é o que sintetiza melhor o meu sentimento, acho dificilmente, não sei, vamos ver, até lá posso mudar de ideia." (P5, 42 anos, 2º trimestre).
Os relatos acima mostram que a dúvida em assistir ao parto ainda é existente nos pais atualmente, reafirmando o estudo de Piccinini et al. (2004), no qual pouquíssimos pais manifestaram vontade de assistir ao parto.
Dois pais relataram achar que não conseguirão assistir ao parto, pois seria presenciar muito sofrimento da esposa e não poderiam fazer nada. Esta colocação "não fazer nada" reflete uma ideia de impotência e exclui-se o fato de que a presença do pai no parto poderia tranquilizar um pouco mais a gestante primípara e servir de apoio a esta que é invadida de sentimentos diversos e ambivalentes do que irá acontecer consigo e com o bebê. O poder da liberdade de escolha do homem entre participar ou não do parto, parece refletir o quanto o envolvimento do pai durante a gestação tem um viés a ser trabalhado, ressaltando a sua importância tanto no relacionamento com o bebê quanto com a gestante. À mulher, por ser uma agente diretamente atuante no parto, não lhe cabe o ato de aceitar ou não participar do mesmo, mas sim algumas vezes em escolher a forma como irá ocorrer, se cesárea ou parto normal, independente dos medos e angústias que pode sentir quando este se aproxima. Refiro-me algumas vezes, pois em muitos casos será preciso fazer o parto que for mais conveniente e necessário para o momento. Dessa maneira, o acompanhamento do esposo no parto pode ser especialmente importante como fonte de apoio e solidariedade do parceiro aos esforços da companheira.
Considerações finais
Em termos históricos e sociais, as mudanças no contexto familiar, principalmente relacionadas ao papel do pai estão ocorrendo com maior velocidade desde o século passado e continuam atualmente, com a participação cada vez maior do pai na vida dos filhos e durante a gestação.
A partir dos dados levantados na pesquisa, pode-se afirmar que este estudo atingiu os objetivos a que se propunha em descrever de que forma o homem vivencia a gestação do seu primeiro filho, além de conhecer como consideram seu papel enquanto pai durante a gestação. Nos relatos percebe-se que os pais procuram cada vez mais participar da gestação, nos preparativos para receber o bebê, interagir com este através de conversas, realizar carinhos na barriga e também nos cuidados com a gestante.
Com certeza, este estudo possui limitações, mas traz contribuições sobre aspectos relacionados à como se apresenta o envolvimento paterno durante a gestação, considerando-se tratar de uma importante transição na vida de um homem. As entrevistas também se tornaram um espaço para que os pais pudessem falar a respeito de como estavam vivenciando este novo papel.
Se considerarmos que a maneira como se apresenta a relação do pai com o bebê durante a gestação serve de base para a relação entre estes que se estabelecerá após o nascimento, vale ressaltar a importância de como os pais estão vivenciando o período gestacional. Com isto, sugerem-se mais pesquisas nesta área que aprofundem o entendimento a respeito da qualidade das relações iniciais da díade pai-bebê durante a gestação e quais as influências na construção psíquica dos filhos, trabalhando a promoção e prevenção da saúde entre pais e filhos, com pesquisas que viabilizem intervenções junto aos pais.
Referências
Balancho, L. S. F. (2004). Ser pai - Transformações intergeracionais na paternidade. Análise Psicológica, 2, 377-386. Retirado em 15/05/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Bardin, L. (1977) Análise de conteúdo. Lisboa. Editora: 70. [ Links ]
Bee, H. (1997) O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed. [ Links ]
Benczik, E. B. P. (2011). A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedagogia, 28, 67-75. Retirado em 09/04/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Bornholdt, E. A. (2002). Gravidez e paternidade: A vivência do pai grávido. Dissertação de mestrado não publicado. Mestrado em Psicologia Clínica. Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. [ Links ]
Bowlby, J. (1984). Apego. Vol.1 da Trilogia Apego e Perda (3ª ed.). São Paulo: Martins Fontes. [ Links ]
Brazelton, T. B. (1988). O desenvolvimento do apego – Uma família em formação. Porto Alegre: Artes Médicas.
Brazelton, T. B. & Cramer, B. G. (1992). As primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes. [ Links ]
Castoldi, L. (2002). A construção da paternidade desde a gestação até o primeiro ano do bebê. Tese de Doutorado em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. [ Links ]
Cozby, P. C. (2006). Métodos de pesquisa em ciência do comportamento. São Paulo: Atlas. [ Links ]
Cramer, B. G. & Palacio-Espasa, F. (1993). Técnicas psicoterápicas mãe/bebê: Estudos clínicos e técnicos. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]
De Martini, T. A. D. (1999). A transição para a paternidade: expectativas, sentimentos e síndrome de couvade nos futuros pais ao longo da gestação. Dissertação de Mestrado não publicado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. [ Links ]
Filho, A. T. (2005). Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. Cadernos Pagu, 24. Campinas. Retirado em 18/01/15, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Freitas, W. de M. F., Coelho, E. de A. C. & Silva, T. M. C. (2007). Sentir-se pai: A vivência masculina sob o olhar de gênero. Caderno de Saúde Pública, vol. 23. Retirado em 15/05/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Klaus, M. H. & Klaus, P. H. (2001). Seu surpreendente recém-nascido. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed. [ Links ]
Krob, A. D., Piccinini, C. A. & Silva, M. R. (2009). A transição para a paternidade: da gestação ao segundo mês de vida do bebê. Psicologia USP, 20(2), 269-291. Retirado em 14/04/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Leff, J. R. (1997). Gravidez: a história interior. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]
Maldonado, M. T., Dickstein, J. & Nahoum, J. C. (1997). Nós estamos grávidos. São Paulo: Saraiva. [ Links ]
Piccinini, C. A., Levandowski, D. C., Gomes, A. G., Lindenmeyer, D. & Lopes, R. S. (2009). Expectativas e sentimentos de pais em relação ao bebê durante a gestação. Estudos de Psicologia I Campinas I, 26(3). 373-382. Retirado em 14/04/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Piccinini, C. A., Silva, M. R., Gonçalves, T. R., Lopes, R. S. & Tudge, J. (2004). O envolvimento paterno durante a gestação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17(3), 303-314. Retirado em 13/04/2012, do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online): http://www.scielo.br [ Links ]
Ramires, V. R. R. (1995). O exercício da paternidade hoje. Dissertação de Mestrado não publicado. Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. [ Links ]
Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed. [ Links ]
Endereço para correspondência
Thiago Almeida
E-mail: simonicrochi@yahoo.com.br
Enviado em: 24/10/2013
1ª revisão em: 21/05/2015
Aceito em: 23/01/2015
1 Trabalho de Conclusão de Curso submetido na Plataforma Brasil Nº CAAE: 06962412.2.0000.5349.
2 Psicóloga (ULBRA), Psicóloga clínica.
3 Doutora em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS), professora do curso de Graduação em Psicologia da ULBRA Gravataí.