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Pensando familias
versão impressa ISSN 1679-494X
Pensando fam. vol.23 no.2 Porto Alegre jul./dez. 2019
EDITORIAL
Helena Centeno Hintz*
Em 2020, Domus completa 30 anos de atividades intensas. Em três décadas, formamos especialistas em Terapia de Casal e de Família, participando de suas histórias, de suas conquistas e, também, de seus temores ao atender casais ou famílias em conflitos intensos. Ao longo da história do Domus ampliamos nossas atividades e desenvolvemos outras, com a criação de novos cursos. Iniciamos com um grupo de colegas que, por muitos anos, permaneceu junto. Infelizmente, nestes anos tivemos perdas significativas de colegas fundadores, como de Dr. Dirceu De Conto, em 1999 e, recentemente, de nossa querida Nira Lopes Acquaviva. Há quatro anos, ampliamos nossa equipe de sócias, compondo nosso quadro de coordenadoras, colegas que fizeram sua formação conosco no Domus. Este é motivo de muito orgulho para nós!
Em 1999, uma das atividades que iniciamos foi a Revista Pensando Famílias, que agora completa 20 anos de publicação de artigos nas áreas de casal e família dentro da Abordagem Sistêmica. Os artigos publicados nos possibilitam visualizar a abrangência dos temas abordados sobre casal e família, indo além do que foi apresentado no início da Terapia de Família pelos precursores. Certamente os tópicos apresentados por eles sobre as questões relacionais entre os diversos sistemas continuam atuais e fundamentam muitos atendimentos e pesquisas. São, sem dúvida, um foco importante em novas áreas de compreensão sobre o funcionamento dos processos familiares.
Neste número da Pensando Famílias, os artigos integram abordagens para um melhor entendimento do ser humano como no caso de uma adolescente, cujo conhecimento dos seus relacionamentos infantis e o apego na adolescência permitiram trabalhar terapeuticamente sua construção de self na adolescência. A abordagem sistêmica também auxiliou no atendimento clínico a uma família, mais especificamente ao casal, onde havia uma criança com sintomas desafiadores infantis. O aspecto transgeracional também está presente e é entendido durante o atendimento realizado. Estudo sobre a gestação na adolescência utilizou intervenções sistêmicas para maior compreensão do funcionamento familiar em que ocorreram gestação nesta faixa etária. O estudo evidenciou dificuldades de fronteiras, disfunção na comunicação familiar, existência de dependência química e violência intrafamiliar. O entendimento sistêmico permitiu visualizar mudanças positivas no funcionamento após a ocorrência da primeira gestação.
A importância e influência da família estão presentes nas definições sobre o caminho profissional que o filho adolescente escolhe, o que, muitas vezes, o deixa angustiado. Neste momento, o apoio familiar é profundamente relevante. A presença das tecnologias influenciam, tanto positiva como negativamente, a comunicação entre pais e filhos, sendo relevante que sejam utilizadas como facilitadoras no relacionamento parental. O relato de um estudo de caso mostra que o relacionamento entre um ofensor sexual e sua mãe é motivo de preocupação, sendo necessário um cuidado especial no atendimento, tanto para o adolescente como para a família. Uma pesquisa sobre jovens que cometeram atos infracionais detectou vivências de violências intrafamiliares, com a situação de transmissão geracional de membros em conflito com a lei. A necessidade de apoio familiar e social denotaram também sua importância no estudo sobre mães que perderam seus filhos em acidentes rodoviário, sendo fundamental no processo de elaboração de perda tão significativa. A necessidade de apoio familiar e de profissionais da saúde também se mostrou relevante em mulheres com gestação primigesta de alto risco.
A autoestima da criança é o foco de uma pesquisa que estuda as correlações entre as práticas parentais e a autoestima de crianças. Ficou salientado que a negligência paterna e a disciplina relaxada materna prejudicam, respectivamente, a autoestima dos meninos e das meninas. A resiliência familiar está em foco em alguns artigos, especialmente, quando há membros com alguma dificuldade mais específica. Podemos constatar isso lendo o trabalho sobre crianças com doenças crônicas internadas em um hospital pediátrico. Percebe-se a importância do apoio a mães que têm filhos diagnosticados com PC através da pesquisa que apresenta mães que receberam amparo e outras com menor apoio, sendo que estas mães sofreram rupturas e solidão. Uma pesquisa relatada em um dos artigos mostra que a comunicação da mãe para com o filho com espetro autista – TEA – foi a mais adequada pelo fato de ser a que melhor se ajusta aos recursos comunicativos do filho, exercendo a intermediação entre o filho e demais pessoas. A importância da figura paterna destaca-se no trabalho sobre anorexia nervosa, em que a presença do pai foi essencial na recuperação da filha anoréxica. Questões sobre valores e crenças mostram-se relevantes quando se fala sobre adoção, sendo necessário trabalhar de forma preventiva com casais adotantes.
A terapia com casais, muitas vezes, mostra-se específica ao atender determinado tipo de casal sendo necessário observar o contexto onde estes casais vivem. É o que vemos no artigo sobre o atendimento realizado com casais militares com uma dinâmica específica ao contexto militar. Um estudo sobre as relações amorosas em um determinado grupo de sujeitos encontrou elementos de amor, paixão e fidelidade, levando ao entendimento de possíveis mudanças nos valores e crenças nessas relações.
Em um estudo bastante significativo foi descrito o uso da equipe reflexiva em atendimento de terapia familiar dentro dos temas contribuições e desafios no uso da equipe reflexiva com conclusões interessantes sobre o uso deste instrumento.
Boa leitura!
* Helena Centeno Hintz.