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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas
versão On-line ISSN 1806-6976
SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) v.4 n.1 Ribeirão Preto fev. 2008
ARTIGO ORIGINAL
Padrão de consumo de álcool entre estudantes do ensino médio de uma cidade do interior do estado de São Paulo
Padrón de consumo de alcohol entre estudiantes de la enseñaza media en una ciudad del estado de São Paulo
Alcohol consumption pattern among high school students of an interior city in the state of São Paulo - Brazil
Raul Aragão MartinsI; Luciana Ap. Nogueira da CruzII; Patrícia Santos TeixeiraIII; Antônio José ManzatoIV
I Instituto de Biociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista IBILCE/UNESP; Livre-docente em Psicologia.
II Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista FFC/UNESP; Psicóloga, Mestre em Educação.
III Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista FCL/UNESP; Mestranda em Educação.
IV Instituto de Biociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista IBILCE/UNESP; Doutor em Ciências Biológicas.
RESUMO
Esta pesquisa avalia o consumo de álcool entre 591 estudantes do ensino médio. Utilizou-se como instrumento de coleta dos dados dois testes: o Alcohol Use Disorders Identification Test AUDIT e o Quantidade e Freqüência de uso de álcool no último mês, e também levantou-se o consumo de álcool entre os familiares. Resultados mostram que 22,3% dos estudantes pontuaram 8 ou mais no AUDIT, mostrando que fazem uso de risco para bebidas alcoólicas. O consumo é mais freqüente entre adolescentes do sexo masculino, que freqüentam as aulas no período noturno e não pertencem a nenhuma religião e, ainda, possuindo algum familiar que bebe excessivamente.
Palavras-chave: Alcoolismo, Adolescente, Educação primária e secundária.
RESUMEN
Esta investigación evalúa el consumo de alcohol entre 591 estudiantes de la Enseñanza Media, fue empleado dos instrumentos de colecta de datos: Alcohol Use Disorders Identification Test AUDIT y Quantidade e Freqüência de uso de álcool no último mês, además, observamos el consumo de alcohol entre los miembros familiares. Resultados demuestran que 22,3% de los estudiantes puntuaran 8 o más en el AUDIT, señalando el uso de risco de bebidas alcohólicas. El consumo es más frecuente entre adolescentes del sexo masculino, que frecuentan las clases de cursos nocturnos, que no pertenecen a ninguna religión y que poseen algún familiar que bebe en demasía.
Palabras clave: Alcoolismo, Adolescente, Educación primária y secundaria.
ABSTRACT
This research evaluates alcohol consumption among 591 high school students, using two data collection instruments: the Alcohol Use Disorders Identification Test AUDIT and the Quantity and Frequency of alcohol use in the last month. We also considered alcohol consumption among family members. Results show that 22.3% of the students scored 8 or more points on the AUDIT test, indicating the risk use of alcoholic beverages. Consumption is more frequent among male participants, who study at night, are not part of any religions and have a relative who drinks too much.
Keywords: Alcoholism, Adolescent, Education primary and secondary.
INTRODUÇÃO
O álcool é a droga de maior identidade entre o público adolescente e jovem e há fortes evidências de relação entre a violência e o seu uso. Estudo realizado em Curitiba, PR, indicou que 58,9% dos autores de crimes e 53,6% das vítimas de 130 processos de homicídios, ocorridos entre 1990 e 1995, na cidade, estavam sob efeito de bebida alcoólica no momento da ocorrência(1). Além dessa violência explícita, tem-se os acidentes automobilísticos, nos quais a circunstância de o motorista estar sob os efeitos do álcool é apontada como uma das principais causas de morte entre jovens de 16 a 20 anos de idade(2-3). Em outros países, a realidade não é diferente, pois dados norte-americanos indicam que metade dos acidentes de carro em que há adolescentes envolvidos, está associada ao uso de álcool e de 45% a 50% dos corpos de adolescentes mortos de forma violenta apresentam níveis de alcoolemia elevados. O álcool também é responsável pela maior parte das mortes por afogamento, quedas fatais e disparos de armas(4). Dados brasileiros mostram que o uso de substâncias psicoativas também está associado à atividade sexual precoce(5) e a maior número de reprovações na escola(6).
As conseqüências desastrosas provocadas pelo consumo de álcool entre a população adolescente e jovem têm chamado a atenção e levado pesquisadores de diversos países a estudarem sistematicamente tal assunto. No Brasil, as pesquisas ainda são recentes e em número reduzido, mas estudos que mostram os padrões de uso de drogas na população, de forma geral, e que indicam que os jovens começam a fazer uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas (maconha, cocaína, crack) precocemente(7-9). Abrangendo estudantes do ensino fundamental e médio (antigos 1o e 2o graus), há uma série de estudos epidemiológicos realizados em várias cidades brasileiras(5, 10-13). Esses estudos apontam as características de uso de álcool entre os estudantes de nível fundamental e médio, tais como uso no ano variando de 75-85%, no mês em torno de 64% e, especificamente, em um estudo realizado em Cuiabá, foi encontrada a média de 12,1 anos de idade (DP 3,6) de início do uso(13). Esses números são elevados se comparados com as médias da população do Estado de São Paulo(14). Consolidando esses índices, tem-se os resultados do primeiro levantamento nacional brasileiro sobre uso de substâncias psicoativas (SPA), realizado nas 107 maiores cidades, no ano 2001(2). Nesse estudo foi detectado que 48,3% dos adolescentes (grupo com idade entre 12 e 17 anos) já fizeram uso de álcool na vida e 5,2% já são dependentes (6,9% do sexo masculino e 2,5% do feminino). Esses dados comprovam que o consumo excessivo de álcool entre o público jovem representa problema de saúde pública importante.
Procurando conhecer os padrões de consumo de álcool entre adolescentes do ensino médio público de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, Brasil, este trabalho investigou o padrão de beber de estudantes que fazem uso de risco de álcool, as características sociodemográficas desses estudantes e a relação entre o beber de risco e ter um familiar que faz uso problemático de bebidas alcoólicas.
MÉTODO
Realizou-se estudo descritivo sobre o padrão de consumo de álcool com estudantes do ensino médio público de um município com cerca de 18 mil habitantes do interior de São Paulo, Brasil.
Participantes
Participaram do estudo 591 estudantes das três séries do ensino médio. Esse número representa 68% do total de alunos matriculados no ano 2004. Os estudantes estavam distribuídos pelas três séries da seguinte forma: 37,1% na primeira, 33,2% na segunda, e 29,8% na terceira série. Sendo que 54% freqüentavam as aulas no período diurno (manhã e tarde). A amostra contou com participação semelhante de ambos os gêneros, 47,4% de homens e 52,6% de mulheres; e 86% deles eram adolescentes, e tinham entre 14 e 17 anos de idade (M = 16; DP = 0,86). Em termos socioeconômicos, de acordo com o critério ABA/ABIPEME(15), mais da metade desses alunos estão nas classes C e D, com 61,3% dos alunos, seguido da classe C, com 32,8%, e classes A e B, com 6%. A religião predominante entre os alunos foi a católica, com 65,5% dos respondentes, seguida das evangélicas com 13,4% e espírita 3%. Desses alunos, 18,1% deixaram em branco a pergunta sobre religião ou declararam não tê-la.
Instrumentos e procedimento
Utilizou-se avaliação composta por questionário em que o participante se identifica, fornece dados sociodemográficos e três instrumentos relativos ao consumo de álcool: a) quatro questões sobre quantidade e freqüência do uso de álcool no último mês(16), b) dez questões que compõem o AUDIT - Alcohol Use Disorders Identification Test(17), adaptado para o Brasil(18), c) duas questões para avaliar o histórico familiar sobre uso abusivo de bebidas alcoólicas(9).
Os pesquisadores, inicialmente, entraram em contato com a direção da única escola de ensino médio no município escolhido para a realização da coleta de informações. À Direção foram apresentados os objetivos da pesquisa e solicitada permissão para a coleta de dados. Concedida a permissão, iniciou-se a coleta da seguinte forma: os pesquisadores entravam nas salas de aula, apresentavam-se aos alunos e professor durante o horário de aulas, explicavam a pesquisa, convidavam os alunos a participarem e, em seguida, entregavam o termo de consentimento livre e esclarecido TCLE, de acordo com a idade de cada aluno. Aos menores de 18 anos, foi orientado que pedissem autorização aos pais ou responsáveis e, para os alunos com 18 anos de idade ou mais e àqueles que eram emancipados foi pedido que assinassem o TCLE, caso concordassem em participar. Uma semana depois, os pesquisadores voltaram à escola para recolhimento dos TCLE, que já estavam com a coordenadora pedagógica da escola, a quem os alunos tinham sido orientados a entregar o termo. Com os TCLE em mãos, deu-se início à aplicação do questionário, que foi feita de forma coletiva nas próprias salas de aula.
O levantamento, por meio dos instrumentos acima citados, identificou 22,3% dos alunos fazendo uso excessivo de álcool. Esse resultado permitiu a formação de dois grupos: os alunos que consomem mais de cinco doses semanais e pontuaram escore igual ou maior que 8 pontos no AUDIT foram classificados como positivos; os demais, alunos que pontuaram menos de oito no AUDIT, passaram a compor o grupo dos negativos, ou seja, os abstêmios ou que bebem moderadamente.
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e recebeu aprovação em 23 de novembro de 2004.
RESULTADOS
Os instrumentos utilizados para avaliar o padrão de uso de bebidas alcoólicas possibilitaram identificar o número de estudantes que estavam fazendo uso elevado de álcool. Inicialmente serão apresentados os resultados do AUDIT e, posteriormente, os do Quantidade e Freqüência.
Resultados do AUDIT
Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, o AUDIT indicou que 22,3% dos estudantes somaram oito ou mais pontos, em outras palavras, aproximadamente um quarto dos participantes atingiu níveis elevados de consumo; essa conduta foi mais freqüente entre os rapazes, pois 31,4% deles pontuaram oito ou mais no teste, enquanto que esse número foi de 14,1% entre as moças. O indicador membro familiar que bebe apontou 22,7% dos estudantes possuindo algum membro da família que bebe a ponto de causar problemas; desses, 7,7% indicaram o pai, e 13,3% outro membro da família.
Cruzando os grupos positivo e negativo por sexo, faixa etária, série, período de aula, nível socioeconômico e religião, foi possível conhecer as características dos estudantes que bebem excessivamente, ou seja, que pertencem ao grupo positivo. Também cruzou-se os grupos em relação àqueles que possuem algum membro familiar que bebe a ponto de causar problema e quem é esse familiar (pai, irmão ou outro).
Características do grupo positivo
Quanto ao sexo, os dados apontam que, entre os participantes positivos, 66,7% são rapazes. Pode-se dizer que os rapazes bebem consideravelmente mais do que as moças (Χ2 = 25,365, p<0,001). E 80% deles são adolescentes, com idade entre 14 e 17 anos; 32,6% são alunos da primeira série do ensino médio, sendo 37,9% da segunda e 29,5% da terceira série; 61,4% dos positivos são alunos do noturno. Esses resultados apontam que os alunos que freqüentam o período noturno bebem significativamente mais do que os alunos que freqüentam o período diurno (Χ2 =16,099, p<0,001). Com relação ao nível socioeconômico, a maioria, 55,3%, pertence aos níveis D e E. Os dados referentes à religião apontam que 67,4% dos positivos são católicos, 4,5% são evangélicos, 3,8% são espíritas e 24,2% não responderam ao item religião ou não têm religião (Tabela 1).
Entre os alunos do grupo positivo, 28,8% tem algum familiar que bebeu a ponto de causar problema no último ano; entre os negativos, esse número é de 20,9%. Entre aqueles que responderam ter algum membro familiar que bebeu a ponto de causar problema, 7,6% dos positivos indicou o pai como sendo esse familiar, 3,1% o irmão e 19,1% outro familiar (Tabela 2).
Quantidade e freqüência do beber no último mês
O instrumento que avalia a quantidade e a freqüência de consumo de álcool(16) é composto por quatro questões que investigam o hábito de beber entre os participantes no período de 30 dias antecedentes à aplicação do instrumento. Foi perguntado aos participantes a quantidade de doses e a freqüência com que consumiu bebida alcoólica nos últimos 30 dias: do total de respondentes, 61,3% não beberam, enquanto que 30,8% consumiram de uma a quatro doses e 8% consumiram cinco ou mais doses. Quanto à freqüência: 27,1% beberam de uma a três vezes no mês, e 11,7% beberam mais de uma vez por semana. A média de consumo no mês foi entre uma e quatro doses para 31,5% dos respondentes e de cinco ou mais doses para 4,1% deles; e 21,2% fizeram binge, que se refere ao padrão de beber mais que cinco doses por ocasião.
Cruzando os dados dos grupos positivo e negativo com as categorias da avaliação Q_F, tem-se que 13,6% dos participantes do grupo positivo não beberam no mês precedente ao levantamento inicial, enquanto que 61,4% consumiu de uma a quatro doses e 25% consumiu cinco ou mais doses. E, quanto à freqüência de consumo, 43,9% dos positivos beberam de uma a três vezes no mês e 42,4%, uma ou mais vezes por semana. Entre os positivos, 58,3% fizeram binge, ou seja, beberam cinco ou mais doses em uma única ocasião (Tabela 3).
DISCUSSÃO
Com os instrumentos utilizados no presente estudo (AUDIT e Q_F), foi possível identificar o padrão, a quantidade e a freqüência de consumo de bebidas alcoólicas entre os estudantes do ensino médio público de um município de pequeno porte. Outros estudos foram realizados em cidades de médio e grande porte e indicam o padrão e a prevalência de consumo de álcool também entre estudantes do ensino médio(6, 19-23). Porém, não há estudos em cidades de médio e pequeno porte mostrando a prevalência e padrão de consumo entre adolescentes, utilizando o AUDIT e o Q_F.
No presente estudo foi relativamente elevado o número de estudantes que apresentaram padrão de beber considerado de risco. O uso de risco pode ser entendido como aquele no qual a pessoa aumenta de forma considerável as suas chances de sofrer algum dano físico, ou mental, ou de ocasioná-lo aos que o rodeiam. Considera-se uso nocivo quando a pessoa continua bebendo, apesar dos inúmeros problemas que surgem (sociais, familiares, ocupacionais, legais e mesmo físicos), porém, ainda sem doença cerebral(24). O AUDIT identificou 22,3% de estudantes apresentando beber de risco ou excessivo na população estudada. Em pesquisa semelhante, realizada em cidade de médio e grande porte, mostrando a prevalência e o padrão de consumo na região em que se deu o presente estudo, o teste identificou 17,9% de positivos(9). Coloca-se, como hipóteses para o maior número de adolescentes bebendo em excesso, em cidade de pequeno porte, a escassez de atividades culturais e de lazer para essa faixa etária.
Notou-se que o consumo de álcool entre os estudantes das três séries do ensino médio foi equivalente. Em outras palavras, tanto os alunos da primeira, quanto os da segunda e terceira séries demonstraram padrão de consumo semelhante. Isso indica que o início do uso de álcool acontece ainda no ensino fundamental. Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes sob esse aspecto(6, 19-21). Esse dado alerta para a criação de programas de prevenção com alunos ainda no início do ensino fundamental.
Confirmando os resultados de outras pesquisas(2-3, 6, 21), verificou-se que o consumo entre indivíduos do sexo masculino é significativamente maior do que o feminino. Mesmo assim, o consumo entre as mulheres também é preocupante, já que as propagandas comerciais de bebidas voltam-se cada vez mais para elas e, também, pelas diferenças biológicas e psicossociais que vulnerabilizam a mulher aos danos causados pelo consumo de álcool.
O nível socioeconômico não foi fator relevante em relação ao consumo de álcool entre a população estudada. Pesquisa realizada em Ribeirão Preto, SP, também chegou a resultado semelhante(22) e o V Levantamento Nacional concluiu que o uso de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, distribui-se regularmente por todas as classes socioeconômicas(25).
Os dados apontaram que, principalmente para o adolescente, pertencer a uma religião, sobretudo se for evangélica, diminui o risco de uso excessivo de álcool. Assim, pertencer a uma religião serve como fator protetor ao consumo de bebidas alcoólicas. Outros estudos também chegaram a tal resultado(23, 25-27).
Um dos dados que mais chama atenção é o binge, ou beber se embriagando, conduta freqüente entre os estudantes. Cerca de 30% dos participantes consumiram bebidas alcoólicas uma ou mais vezes por semana e mais da metade dos positivos fizeram binge. Eles bebem ocasionalmente em eventos como festas de amigos, bailes e churrascos, mas, quando bebem, a quantidade consumida é elevada e em curto espaço de tempo. O ato de beber assume caráter lúdico, em algumas regiões chama-se vira-vira.
Uma característica dos alunos que bebem excessivamente é freqüentar as aulas no período noturno. Outros pesquisadores(6) também verificaram tal característica em seus estudos. Supõe-se que a maioria dos alunos que estudam no período noturno têm atividades remuneradas durante o dia e, portanto, possuem seu próprio dinheiro. O fato de muitos ainda não terem que arcar com responsabilidades financeiras da família faz com que tenham dinheiro para gastar, entre outras coisas, com festas regadas a bebidas.
Outra característica entre os bebedores é possuir um familiar que faz uso excessivo de álcool. Aproximadamente 30% dos alunos positivos possuem algum parente com problemas relacionados à bebida. Estudo realizado com colegiais e universitários identificou o uso de álcool e outras drogas entre familiares ou a complacência desses quanto ao uso como fator de risco(23). Esse dado aponta o ambiente familiar com significativa influência na formação dos hábitos com relação ao consumo de bebida.
Em suma, conclui-se que estudar no período noturno, ser do sexo masculino, não ter religião e ter um membro familiar que faz uso problemático de álcool são fatores de risco para o uso excessivo de álcool.
O álcool, além de ser a droga mais consumida - cerca de 70% da população brasileira já experimentou bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida, enquanto que esse percentual para maconha é de 7% e, para a cocaína, de 2%(2) é também a droga de maior custo social. De acordo com os dados do DATASUS de 2001, foram efetivadas 84 467 internações de pacientes para tratamento com problemas relacionados ao uso de álcool no país. O Sistema Único de Saúde SUS - tem custo anual de 60 milhões de reais com esses pacientes(28).
Diante de tantos prejuízos, era de se esperar ações mais efetivas por parte da sociedade e do governo a fim de prevenir os danos causados pelo álcool. É nítida a necessidade de campanha, em nível nacional, como a antitabagista lançada pelo governo federal nos últimos anos. Com o álcool ainda não aconteceu campanha semelhante, de caráter preventivo e que ofereça informações sobre a melhor maneira de ingestão de bebidas alcoólicas, sem excesso e sem causar danos.
É certo que a maioria dos jovens que bebem pesadamente tende a parar de beber ou passa a beber moderadamente quando chega à fase adulta, sendo que apenas pequena proporção continua a beber em excesso. Mesmo assim, não deixa de ser preocupante a conduta de beber na adolescência, já que o bebedor está muito mais à mercê de condutas de risco do que aqueles que não têm esse hábito.
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Endereço para correspondência
Raul Aragão Martins
E-mail: raul@ibilce.unesp.br
Luciana Ap. Nogueira da Cruz
E-mail: lunogcruz@yahoo.com.br
Patrícia Santos Teixeira
E-mail: pateixeira@yahoo.com.br
Antônio José Manzato
E-mail: manzato@ibilce.unesp.br
Recebido: 05/03/2007
Aprovado: 08/11/2007