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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas
versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746
Rev. bras.ter. cogn. v.1 n.2 Rio de Janeiro dez. 2005
ARTIGOS
Promoção de competências pessoais e sociais nos idosos: programa de intervenção na comunidade
Personal and social competencies promotion with the ederly: a community intervention program
Margarida Gaspar de Matos I; Joana Duarte Branco II; Susana Fonseca Carvalhosa III; Marlene Nunes Silva IV; João Carvalhosa V
I Psicóloga e Professora da Universidade Técnica de Lisboa
II Técnica de Educação Especial e Reabilitação
III Técnica de Educação Especial e Reabilitação
IV Psicóloga e Doutoranda da Universidade Técnica de Lisboa
V Vogal da Junta de Freguesia
RESUMO
O presente artigo descreve a implementação e avaliação de um Programa de Promoção de Competências Pessoais e Sociais PPCPS (Matos, 1998; 2005) implementado em meio comunitário. O programa teve como objetivos a promoção de estilos de vida saudáveis através do desenvolvimento de competências sociais e incluiu conteúdos na área da comunicação interpessoal, identificação e solução de problemas, identificação e gestão de emoções e afirmação pessoal. O grupo foi constituído por 33 idosos residentes numa Freguesia de Lisboa, com idades compreendidas entre os 58 e 86 anos, na sua maioria do género feminino. As sessões semanais foram realizadas através de atividades de dramatização e grupos focais (grupos de discussão centrados num tema). Os dados obtidos na avaliação demonstram melhorias ao nível das preocupações pessoais e necessidades de aconselhamento, da percepção de bem-estar e das competências pessoais. Os resultados vêm sublinhar as vantagens da implementação do PPCS na promoção da saúde junto da população idosa e uma autonomização face aos serviços de saúde.
Palavras-Chave: Idosos, Saúde, Competência social.
ABSTRACT
The present article describes a Program aiming at promoting social and individual competences (Matos, 1998; 2005) carried out in the community with a group of elderly. The program aims at promoting healthy life styles through the development of social skills. The contents included were interpersonal communication, problem identification and solving, emotions identification and management and self-assertion. 33 elderly aged between 58 and 86 years old, participated, mostly women. The weekly sessions were carried out using role-playing activities and focus groups. Evaluation showed improvements in personal concerns and counselling needs, in the perception of wellness and in skills to manage feelings. *The results showed advantages in the implementation of the program in health promotion with the elderly, as well as a greater autonomy towards social services.
Keyword: Elderly, Health, Social competence.
Segundo Barreto (1988), até há alguns anos, os vários autores que se debruçavam sobre a psicologia da idade avançada mostravam tendência para: privilegiar os aspectos cognitivos em relação aos demais, focar especialmente perdas e défices, formular normas genéricas mais do que descrever tipos e variações, esquecer a continuidade entre a época da senescência e as que a precedem.
Atualmente, tal visão centrada na descrição dos défices nas diferentes aptidões, deu lugar a uma orientação mais construtiva. De fato, para evitar que as perdas desenvolvimentais sejam a norma, é necessário recorrer a medidas preventivas no sentido do seu controle e redução, promovendo o desenvolvimento psicológico dos indivíduos idosos e criando condições sociais e comunitárias para que esse desenvolvimento possa ganhar expressão visível, contrariando os estereótipos ligados ao envelhecimento. Face ao negativismo tanto tempo partilhado é preciso pensar que, quando envelhece, o ser humano pode tirar partido das suas vivências passadas, bem como das capacidades e conhecimentos adquiridos, de forma a enriquecer as suas experiências, manter certas atividades, e fazer uma boa utilização das funções intelectuais, apostando no estabelecimento de relações mais próximas e satisfatórias com os outros e na realização de atividades que proporcionem bem-estar e desenvolvimento psicológico.
É em relação a esta temática da adaptação que se coloca a questão da velhice bem sucedida, procurando-se definir padrões de adaptação do idoso às suas atuais capacidades de funcionamento no seu contexto de vida, implicando com isso quer critérios externos e sociais, relativos ao que se espera do idoso em cada cultura, quer critérios internos numa perspectiva individual (Paul, 1996).
Ainda que uma lista total de dimensões influenciando a adaptação seja difícil de atingir, Broomley (1966) interessou-se por esta temática. Na sua perspectiva, uma boa adaptação exprime-se pela presença no idoso de sentimentos como a confiança, o contentamento, a sociabilidade, a emancipação das emoções, a auto-estima e atividade, sendo que a boa adaptação do indivíduo depende necessariamente da boa adaptação daqueles que o rodeiam.
Outra linha de estudos, sublinha a relação positiva entre a satisfação e as atividades quer sejam produtivas, quer sejam de lazer, sendo que o mecanismo pelo qual as atividades influenciam a satisfação, está relacionado com o fato de potencializarem e manterem certas dimensões do self que são benéficas. Assim, o envolvimento em determinadas atividades pode, por exemplo, promover o sentimento de capacidade, de controle, de utilidade e ainda a manutenção da auto-estima. Por outro lado, as atividades podem promover o relacionamento social, com todas as vantagens que tal acarreta. Ser-se socialmente ativo pode preencher uma função importante em termos de bem-estar, constituindo uma componente importante da satisfação de vida. Levanta-se então a questão do suporte social como fator positivo e protetor, sendo que os relacionamentos com outros significativos estão associados com saúde física e mental.
O envelhecimento bem sucedido parece, então, ser aquele em que a pessoa, em estado de experi¬mentação, continua a fazer escolhas e a ocupar um lugar na sociedade. É fundamental permitir aos idosos serem bem sucedidos, favorecendo o reconstruir da sua vida social (Silva, 2001).
Não obstante o exposto há que ter em consi¬deração o fato de não existirem receitas universais, é que, apesar de errada, verifica-se uma tendência para perspectivar o envelhecimento de modo uniforme, em parte por se inscrever no ciclo universal de vida. A este propósito, importa sublinhar que o envelhecimento não ocorre de forma estanque em todos os indivíduos, as diferenças podem explicar-se à luz de fatores genéticos, pessoais e ambientais, em que o envelhecimento surge enquanto processo inserido no contínuo da vida, em que as definições de idade não são estabelecidas pela idade cronológica, mas pela compreensão dos processos biológico, psicológico e social, inerentes ao processo de envelhecimento (Paul, 1991).
A senescência é uma função do meio físico e social em que o indivíduo se desenvolve e envelhece: o envelhecimento é a contrapartida do desenvolvimento (Birren, Cunning & Yamamoto, 1985).
Ninguém envelhece da mesma maneira, nem ao mesmo ritmo. As modalidades de senescência variam imenso de uma população para outra e até dentro de uma mesma população. Assim, os indivíduos apresentam um caminhar variável no horário do envelhecimento, considera-se o envelhecimento um processo biológico, conceptualizado culturalmente, socialmente construído e conjunturalmente definido, conduzindo-nos à ideia fundamental de que “se a velhice é o destino biológico do homem, ela é vivida de forma muito variável consoante o contexto em que se insere” (Lima & Viegas, 1988).
Segundo Silva (2001), para que a psicologia tenha uma visão multifacetada, é importante que tenha em conta as características psicológicas e subjetivas do idoso, as relações que estabelece com o meio, bem como os atributos deste último, assumindo-o como o substrato fundamental para o desenrolar da história de vida. Esta postura sustenta-se a partir da Perspectiva Ecológico-Ambiental do envelhecimento, que contempla a adaptação pessoa/meio enquanto condição influente para a satisfação de vida da pessoa idosa.
Se o envelhecimento da população é uma aspiração natural de qualquer sociedade e, depois de esta continuamente desenvolver esforços no sentido de prolongar a vida humana, então oferecer condições adequadas aos idosos para viverem com bem-estar é um importante desafio que se coloca a toda sociedade. Importa que vivam com autonomia, integrados na sociedade com o aproveitamento de todas as suas capacidades, com garantia dos meios de subsistência, apoios e cuidados de saúde necessários.
Competência Social
A noção de competência social remete para o conjunto de comportamentos demonstrados pelo indivíduo, num contexto interpessoal, onde expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões, direitos, de forma coerente com a situação, respeitando os comportamentos dos outros e que de forma geral soluciona os problemas imediatos, reduzindo assim a possibilidade de conflitos no futuro (Caballo, 1982; 1987). A tendência é, geralmente, para a concetualização do comportamento social como resultante da interação de diferentes subsistemas. Os problemas de relacionamento interpessoal estão frequentemente associados a dificuldades ao nível pessoal, escolar e social, onde se pode nomear o insucesso escolar ou o consumo de substâncias, entre muitos outros (Matos, 1998; 2005).
Caballo (1987) distingue diferentes competências sociais de acordo com o seu carácter observável ou não. Assim, existem competências como dar e receber elogios, expressar afetos, iniciar e manter afeto, defender direitos, expressar opiniões incluindo o desacordo e o desagrado, o desculpar-se, o lidar com críticas, que são comportamentos observáveis no indivíduo, enquanto que a capacidade de transformar e empregar a informação, conhecimento de comportamentos socialmente competentes, o conhecer posturas sociais, conhecer diferentes tipos de resposta, ser capaz de tomar o lugar do outro, capacidade de identificar e resolver problemas sociais, ter estratégias que lhes permita analisar o comportamento social do outro, ser capaz de reconhecer estados emocionais nos outros e gerir as suas emoções, constituem competências cognitivas e emocionais comportamentos não observáveis.
Spence (1982) considera que as competências sociais são um conjunto de respostas e estratégias de resposta, que levam o indivíduo ao sucesso nas relações interpessoais, de forma adequada e sem prejuízo para os outros.
Promoção da Saúde
Uma das vertentes fundamentais no que diz respeito à promoção da saúde nos idosos é a saúde mental. Segundo a OMS, a saúde mental é “um estado de bem-estar no qual o indivíduo tem noção das suas próprias capacidades, é capaz de lidar com o stress normal do quotidiano, trabalha produtivamente, e contribui para a sua comunidade” (WHO, 1986). As escolhas para estilos saudáveis de vida para um envelhecimento ativo devem começar cedo na vida e incluir: (1) a participação familiar e social; (2) alimentação equilibrada e saudável; (3) atividade física; (4) não consumir tabaco nem álcool em excesso (WHO, 2001).
A OMS define algumas estratégias de ação no âmbito da promoção da saúde, entre as quais destacamos a criação de apoios sociais, o desenvolvimento de competências pessoais, e o fortalecimento da ação comunitária (WHO, 1986).
O conceito de trabalho de pares na população idosa está pouco desenvolvido e aplicado. As pessoas idosas participam pouco na educação de adultos ou dos seus pares, e os que o fazem estão associados a níveis superiores de instrução, observando-se um decréscimo quando considerados os que estão desempregados (Simões, 1999).
O envelhecimento da população é um objetivo desejável e natural de qualquer sociedade, mas não podemos esquecer que, em 2025 existirão 1,2 milhões de idosos, dos quais três quartos nos países em desenvolvimento, pelo que o envelhecimento para ser uma experiência positiva deverá ser acompanhado pelo aumento da qualidade de vida dos que chegam à velhice (WHO, 1986).
Questões de investigação
Com o presente estudo tratou-se de investigar se o Programa de Promoção de Competências Pessoais e Sociais (PPCPS) desenvolvido para este projeto é uma forma de aumentar a saúde e o bem estar dos idosos, a nível interpessoal, e ao nível dos serviços de saúde e proteção social.
Metodologia
Programa
O PPCPS implementado neste projeto, foi adaptado do Programa elaborado por Matos (1998; 2005) tendo-se selecionado os conteúdos a desenvolver.
(1) Comunicação interpessoal e gestão de emoções/solução de problemas
Neste primeiro módulo, são trabalhados três aspectos da comunicação interpessoal: o contato visual, a postura (gestos) e o tom de voz. Em conjunto com estes três elementos é também abordada a identificação de três tipos de emoções: insegurança, irritação e felicidade.
No que diz respeito à solução de problemas, consistiu em pequenas atividades onde foi possível observar o grupo nas suas competências de cooperação e de trabalho em equipe.
(2) Competências sociais e gestão de emoções/solução de problemas
O segundo módulo aborda três competências sociais: “pedir ajuda”, “expressar acordo e desacordo” (responder a críticas) e “resistir à pressão dos pares”. Foram abordadas três emoções no sentido da sua identificação e expressão: a fúria, o medo e a calma.
Durante este módulo foram desenvolvidas atividades relativas à metodologia de solução de problemas. Esta consiste em seis passos: quando surge um problema, parar e pensar nele, de forma a conseguir compreendê-lo e perceber a sua dimensão; só assim poderemos procurar as alternativas possíveis para a sua resolução, e antecipar as consequências de cada uma no sentido de se poder realizar uma escolha mais adequada, para si e para os outros, da alternativa a aplicar; depois de colocar a alternativa em prática, deve-se avaliar a forma como decorreu a escolha realizada, de modo a perceber se foi a mais indicada, pois se tal não acontecer, dever-se-á optar por outra alternativa a executar.
Ainda neste módulo, foi colocada à disposição dos participantes, uma caixa onde pudessem falar sobre problemas interpessoais, não sendo necessário qualquer tipo de identificação.
(3) Role-playing
No último módulo, a partir de cinco a oito situações identificadas na caixa de problemas, inicia-se um debate em grupo, tendo sempre presente a metodologia de resolução de problemas e promovendo a participação de todos. Durante estas sessões, devem ser contempladas as expectativas de futuro próximo, de forma a ser feita a transição para a realidade, fora da sessão.
Amostra
Participaram neste estudo um total de 33 residentes na Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém, com idades compreendidas entre os 58 e os 86 anos, na sua maioria mulheres (72,7%), onde a idade média foi de 72 anos.
Implementação do Projecto
A formação do grupo teve lugar entre Novembro e Dezembro de 2003 e contou com a realização de duas sessões de apresentação do projecto, realizadas na Junta de Freguesia, após a sua divulgação através do Boletim mensal e de cartazes informativos. As outras três sessões realizadas durante estes dois meses tiveram também como objetivos o conhecimento do grupo, assim como a avaliação dos seus potenciais.
O PPCPS decorreu entre Janeiro e Junho de 2004, tendo sido realizadas 13 sessões semanais de 60 minutos no contexto sala e dez sessões “extra” com diversas temáticas.
As sessões regulares tiveram a seguinte estrutura: (1) Diálogo inicial espaço onde é relembrada e revista a sessão anterior e também onde se pode contar ao grupo episódios importantes que tenham acontecido durante a semana; (2) Atividade de quebra-gelo ou cooperação são propostas atividades para promover o conhecimento entre os participantes, o trabalho em equipe e a coesão de grupo, para a concretização de objetivos comuns; (3) Atividade de conteúdo onde são propostas situações relacionadas com os conteúdos específicos a desenvolver; (4) Diálogo final espaço de diálogo onde se conversa sobre as atividades realizadas.
As sessões “extra” tinham uma estrutura e contexto diferentes, com o objetivos de proporcionar situações reais onde se podem aplicar os conteúdos desenvolvidos ao longo das sessões regulares, desenvolver a coesão e espírito de grupo, assim como ser mais uma forma de motivação.
Instrumentos de avaliação
As avaliações pré e pós intervenção foram realizadas pelos participantes e pelo técnico, através de quatro instrumentos: um questionário demográfico, a escala de necessidades de aconselhamento dos idosos de Meyer (1993; trad. e adapt. por Nunes, 1999), a escala de apreciação clínica de Bouvard e Cottraux (2002; trad. e adapt. por Matos, Cohen & Pacheco, 2003) e a “checklist” aprendizagem estruturada em competências sociais de Goldstein (1980; trad. e adapt. por Matos et al., 1999).
O questionário demográfico preenchido pelos participantes incluía questões sobre género, idade, estado civil e habilitações escolares.
O questionário de caracterização social continha questões sobre descendência, relações interpessoais, tipo e frequência atual do contato com os filhos e assistência a espectáculos e iniciativas culturais, tendo sido também completado pelos participantes.
A escala de necessidades de aconselhamento dos idosos ENAI Meyer (1993; trad. e adapt. por Nunes, 1999) preenchida pelos participantes foi constituída por 38 itens onde os sujeitos eram confrontados com situações como “Eu não estou feliz com as minhas atividades de tempos livres”, em que as opções de resposta variavam de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Esta escala divide-se em quatro sub-escalas para cada um dos eixos definidos: necessidades de aconselhamento e desejos de aconse¬lhamento. Para o primeiro eixo temos: preocupações pessoais, necessidades sociais, atividade física e mental, e necessidades ambientais. Para o segundo eixo temos: preocupações pessoais, desejos sociais, atividade física e mental, e desejos ambientais. Tendo em atenção o sentido de cotação das respostas, uma menor pontuação significa menos necessidade de aconselhamento e, portanto, uma maior autonomia face aos serviços sociais.
A escala de apreciação clínica EAC (Bouvard & Cottraux, 2002; trad. e adapt. por Matos, Cohen & Pacheco, 2003) é composta por 19 itens, dos quais três foram respondidos pelos participantes (sono, fadiga e vertigens/tonturas) e os restantes pelo técnico, através de observação. Os sujeitos eram confrontados com situações como “Fadiga”, em que as opções de resposta variavam de 1 (ausente nas condições normais) a 7 (severa: influência considerável no comportamento físico). Assim, nestes itens uma menor pontuação é sinónima de uma melhor condição. No caso do técnico, este foi confrontado com situações como “Estabilidade Emocional”, em que as opções de resposta variavam de -3 (dificilmente perturbável) a +3 (facilmente perturbável). As pontuações foram agrupadas em: pontuações entre -3 e 2 (comportamento diminuído); as pontuações -1, 0 e +1 (“normalidade”) e pontuações entre +2 e +3 (comportamento excessivo).
Os 40 itens da “checklist” aprendizagem estruturada em competências sociais (Goldstein, 1980; trad. e adapt. por Matos et al., 1999) dividem-se em seis sub-escalas: competências sociais básicas, competências sociais avançadas, competências para lidar com sentimentos, competências alternativas à agressividade, competências para lidar com o stress e competências de planejamento. Os itens relativos à sub-escala competências para lidar com o stress foram preenchidos pelos participantes e os restantes itens pelo técnico. As opções de resposta variam de 1 (nunca) a 5 (sempre). Nesta escala uma maior pontuação é indicadora de mais competências relativamente ao fator em estudo.
Resultados
Serão em seguida apresentados os resultados obtidos pela comparação dos dados entre os dois momentos de avaliação (inicial e final), obtidos através do teste não paramétrico de Wilcoxon. Para a análise estatística foi utilizado o programa Social Package for Social Sciences SPSS (versão 12.0).
Dados demográficos
Os participantes são sobretudo mulheres (72,7%). A maioria dos participantes encontra-se entre os 65 e os 74 anos de idade (51,5%). A maioria é “viúvo(a)” (42,4%) ou “casado(a)” (42,4%) e os restantes são “solteiro(a)” (12,1%) e “divorciado(a)” (3,1%). A maioria dos elementos frequentou o 1º ciclo (4 anos de escolaridade) (75%) e apenas 6,3% refere ter feito o secundário (12 anos de escolaridade).
Escala de necessidades de aconselhamento dos idosos de Meyer (1993; trad. e adapt. por Nunes, 1999)
A comparação prépós da ENAI com o teste de Wilcoxon revelou um padrão generalizado de descida nas necessidades de aconselhamento. Este padrão é significativo na escala global (p=0.006), nas necessidades de aconselhamento relativamente às preocupações pessoais (p=0.026), nos desejos de aconselhamento (p=0.004) e nas sub-escalas: desejos sociais (p=0.03), atividade física e mental (p=0.018) e desejos ambientais (p=0.001).
Tabela 1 - Comparação da avaliação inicial e final da ENAI (teste de Wilcoxon)
* p < .05
** p < .01
*** p < .001
Os resultados descritos sugerem um aumento significativo na autonomia dos participantes relativamente a algumas áreas da sua vida pessoal e social: preocupações pessoais (p.e. saúde física e mental), as necessidades ambientais (p.e. apoio das estruturas comunitárias), os desejos sociais (p.e. apoio emocional), a atividade física e mental (p. e. atividades de tempos livres) e os desejos ambientais (p.e. ajuda para gestão da economia doméstica).
Escala de apreciação clínica de Bouvard e Cottraux (2002; trad. e adapt. por Matos, Cohen & Pacheco, 2003)
A comparação pré-pós na EAC com o teste de Wilcoxon evidenciou uma melhoria/descida significativa no item "vertigens/tonturas" (p=0.041). “Checklist” Aprendizagem estruturada em competências sociais (Goldstein, 1980; trad. e adapt. por Matos et al., 1999) Na comparação pré-pós através do teste deWilcoxon, observou-se uma subida positiva em todas as sub-escalas, exceto na referente às competências de planejamento. Os ganhos são significativos apenas na sub-escala competências para lidar com sentimentos (p=0.05). De uma forma geral os resultados apontam para um impacto positivo do PPCPS sobre as áreas avaliadas, nomea¬damente ao nível da autonomia face a neces¬sidades de aconselhamento e das competências para lidar com sentimentos. Tabela 2 - Comparação da avaliação inicial e final dos itens da EAC (teste de Wilcoxon) * p < 0.5 Tabela 3 - Comparação da avaliação inicial e final da "Checklist" de competências sociais (teste de Wilcoxon). * p < 0.5 Discussão Os resultados evidenciam a importância de metodologias de intervenção na comunidade com a população idosa, no sentido de promover a autonomia, participação social e estilos de vida saudáveis. Através da escala de necessidades de aconselhamento dos idosos de Meyer (1993; trad. e adapt. por Nunes, 1999), foi possível observar que o PPCPS parece ter ajudado os idosos a considerar possível resolver por si mesmos algumas das suas necessidades e desejos de aconselhamento. Assim, o programa parece constituir uma boa estratégia de autonomização da população em causa face aos serviços médicos e de apoio social. Na “checklist” aprendizagem estruturada em competências sociais (Goldstein, 1980; trad. e adapt. por Matos et al., 1999) observa-se um padrão generalizado de melhoria ao nível das competências sociais que atinge níveis de significância para lidar com sentimentos. Os resultados obtidos na sua globalidade reforçam a assunção que a velhice não consiste numa “estagnação e de ocorrência exclusiva de perdas desenvolvimentais”. O envelhecimento é mais uma fase do desenvolvimento humano, onde continua a ser necessária uma constante adaptação às mudanças naturais que ocorrem. Os resultados da avaliação do projeto reforçam a importância do trabalho realizado junto da população idosa, promovendo a sua saúde/ bem estar e apoio social entre-pares, através de grupos deste tipo, com o objetivo da promoção de competências pessoais e sociais. Estes resultados vêm ao encontro de resultados de investigações que consideram o modelo de intervenção em competências sociais como um fator preventivo do aparecimento da doença, pela melhoria da comunicação interpessoal estabelecida. Como afirma Gamito (2005) “É conhecida a excessiva procura dos serviços de saúde pela população idosa. O Centro de Saúde é um local de possível sociabilidade onde a pessoa pode facilmente encontrar outras com quem falar. Esta função de 'clube' sai-nos bastante cara pois aqui, a permanência só está assegurada se existiram queixas e, se estas se formulam, a consequência lógica é haver medicação prescrita. Os locais ficam assim transformados em centros de doença e não de saúde”. Salienta pois o interesse de oferecer estes programas a partir de estruturas da comunidade, uma vez que parecem constituir uma resposta eficaz na promoção da participação social, da autonomia e bem estar das populações, para além da sua contribuição ao nível da otimização dos serviços de saúde e segurança social, uma vez que intervenções deste tipo parecem diminuir o encargo com pedidos exagerados de cuidados médicos e de apoio social que muitas vezes aparecem associados a situações de isolamento social e senti¬mentos de solidão. Referências Bibliográficas Barreto, J. (1988). Aspectos psicológicos do envelhecimento. Psicologia, 6(2), 159-170. [ Links ] Birren, J.; Cunning, W. & Yamamoto, K. (1985). Psychology of adult development and aging. California: Annual Reviews. [ Links ] Broomley, D. (1966). Psicologia do envelhecimento humano. Lisboa: Ulisseia Editora. [ Links ] Caballo, V. (1982). Los componentes conductales de la conducta asertiva. 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Estrada Costa Cruz Quebrada 1499 Lisboa codex.
E-mail: mmatos@fmh.utl.pt
Aceito em: 6/10/2005