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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. vol.19 no.spe1 Rio de Janeiro  2023  Epub 15-Jul-2024

https://doi.org/10.5935/1808-5687.20230031 

Pesquisa Empírica

Avaliação de crenças sobre violência em crianças e adolescentes vítimas de violências frequente e ocasional

Assessment of beliefs about violence in children and adolescents who are victims of frequent and occasional violence

Márcia Akemi Fujie1 

Paolla Magioni Santini2 

Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams1 

1Universidade Federal de São Carlos, Psicologia - São Carlos - São Paulo - Brasil

2Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Psicologia - Poços de Caldas - Minas Gerais - Brasil


RESUMO

Estudos apontam o impacto negativo da violência para os desenvolvimentos cerebral, social, emocional e cognitivo durante a infância. A forma como crianças e adolescentes processam a violência está relacionada às suas crenças e ideias, construídas durante o seu desenvolvimento. Pesquisas internacionais apontam que crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos têm cognições distorcidas sobre a violência. Este estudo teve por objetivo avaliar as crenças sobre violência em crianças e adolescentes vítimas de violências frequente e ocasional e, como objetivo secundário, propor um instrumento de avaliação apropriado para a faixa etária contemplada. Participaram 45 crianças e adolescentes e a coleta de dados foi conduzida em salas do Conselho Tutelar, organizações não governamentais (ONGs) de apoio a jovens em situação de vulnerabilidade social e casa dos participantes. Foi realizada uma análise de correspondência múltipla e os principais resultados demonstram correlação entre o grupo de vítimas de violência frequente com a escolha de alternativas passivas nas vinhetas de violência intrafamiliar e de ruptura de regra moral. Esses dados corroboram outros resultados da literatura de que jovens vítimas de violência frequente têm cognições distorcidas em relação à violência, apresentando maior frequência de atitudes agressivas e passivas.

Palavras-chave: Maus-tratos infantis; Violência; Criança; Adolescente

ABSTRACT

Studies indicate the negative impact of violence on brain, social, emotional and cognitive development during childhood. The way a child or adolescent understands and processes violence is related to their beliefs and ideas shaped during their development. International research shows that children and adolescents, victims of abuse, have distorted cognitions about violence. This study aimed to evaluate beliefs about violence in children and adolescents who are victims of frequent and occasional violence and, as a secondary objective, to propose an appropriate assessment instrument for the age group covered. Forty-five children and adolescents participated in the research and data collection was conducted in a Child Protection Agency, NGOs that work with socially vulnerable children and adolescents, and in the participants homes. A multiple correspondence analysis was carried out, and the main results demonstrate a correlation between the group of children and adolescents victims of frequent violence and the choice of passive alternatives in the vignettes of intrafamily violence and breaking moral rules. These results support other studies that indicate that children and adolescents victims of frequent violence have distorted cognitions about violence, presenting higher frequencies of aggressive and passive attitudes.

Keywords: Child; Child Abuse; Violence; Adolescent

INTRODUÇÃO

O abuso e a negligência podem causar efeitos profundamente negativos no decorrer da vida da criança, abrangendo áreas como cognição, linguagem, desempenho acadêmico e desempenho socioemocional, sendo que a literatura indica não haver outro fator mais fortemente associado à psicopatologia do desenvolvimento do que maus-tratos sofridos na infância (Arai et al., 2021; Maia & Williams, 2005; Zhang, 2023). Impactos da violência se caracterizam por lesões corporais, dor e perda emocionais, desejo por normalidade, dificuldade para dormir e hipervigilância (Arai et al., 2021).

Crianças e adolescentes que sofrem violência por longos períodos podem apresentar baixas habilidades cognitivas e comportamentos agressivos, ansiosos, depressivos e retraídos (Austin et al., 2020; Juan et al., 2020). Estudos também demonstram o impacto da violência em relação aos desenvolvimentos social e psicológico das crianças vítimas, que têm diferentes controles subjetivos, autopercepção e conforto emocional, além de um desejo por dominar (Al Majali & Alsrehan, 2019; Turhan, 2022), podendo também manifestar comportamentos violentos contra os próprios pais ou cuidadores agressores (Gallego et al., 2019).

A maneira como crianças e adolescentes reagem diante de situações de violência é influenciada por diversas variáveis, como características pessoais - construtos e crenças das crianças sobre a violência, além das crenças sobre seus relacionamentos com outras pessoas, sua família e sua percepção sobre si mesmo (Contreras et al., 2020; Sani, 2002). De acordo com Cunningham e Baker (2004), crianças com idades entre 6 e 12 anos têm uma percepção emocional mais apurada sobre si mesmas e sobre os outros quando comparadas a crianças mais novas, além de serem capazes de pensar de maneira mais complexa sobre o que é certo e errado e sobre relações de causa e efeito. Dessa maneira, hipotetiza-se que, quando crianças convivem com a violência nessa faixa etária, elas desenvolvem um entendimento mais sofisticado, ou menos concreto de precursores, motivos e consequências, do que aquelas que não estão em situação de violência (Cunningham & Baker, 2004).

Nesse contexto, adolescentes que convivem com a violência se diferenciam das crianças mais novas: são mais ativos fora de casa, têm um repertório maior de estratégias de enfrentamento, conseguem analisar problemas de múltiplas perspectivas, são fisicamente maiores e mais fortes, podendo intervir em conflitos físicos e ser emocionalmente capazes de enfrentar o agressor (Cunningham & Baker, 2004). A fim de analisar as crenças das crianças em relação à violência intrafamiliar, Cunningham e Baker (2004) encontraram que as crianças expostas à violência conjugal são geralmente caracterizadas como testemunhas, indicando um papel passivo. Contudo, estão ativamente envolvidas na interpretação, predição e determinação de sua função na causa da violência, procurando medidas de proteção física e emocional para si mesmas (Cunningham & Baker, 2004).

O estudo de Sani (2007) aponta que crianças e adolescentes de 10 a 18 anos expostos à violência interparental apresentam um número superior de cognições distorcidas sobre tal tipo de violência em relação àqueles que não presenciaram situações de conflito dentro da família. Assim, esses jovens em situação de risco, expostos à violência interparental ou vítimas de maus-tratos, apresentaram, em geral, percepções mais negativas sobre os conflitos familiares, além de um maior sentimento de culpa frente a esses incidentes, em comparação ao grupo sem histórico de violência (Sani, 2007).

O estudo de Al Majali e Alsrehan (2019) teve como objetivo avaliar o impacto da violência intrafamiliar nos desenvolvimentos social e psicológico da criança, e os resultados apontaram que crianças vítimas de violência tendem a evitar responsabilidade e criar mais situações de conflito, além de apresentar mais sintomas relacionados à ansiedade. Haselle et al. (2023) investigaram as associações entre três métricas de exposição à violência (direta, indireta e violência por parceiro íntimo) e três aspectos de autopercepção (autoestima, competência social e conduta comportamental), e demonstraram que a exposição direta à violência foi negativamente associada com a percepção de autoestima e de competência social.

Um levantamento da literatura brasileira, realizado pelas autoras deste estudo, nas bases de dados SciELO, Pepsic, LivRe, Index Psi e Periódicos CAPES, no período de 1992 a 2023, utilizando-se as palavras-chave crianças, crenças sobre violência e maus-tratos, apontou que ainda não foram realizados estudos que avaliem as crenças sobre violência em crianças brasileiras, indicando a necessidade de investigações nessa área. Os instrumentos utilizados nos estudos internacionais envolviam escalas voltadas para a faixa etária igual ou acima de 10 anos. Questionou-se, então, a necessidade da criação de um instrumento voltado às crianças mais novas, de maneira a auxiliar a análise das percepções delas sobre os conflitos vivenciados e as maneiras com que lidam com a violência, além de analisar os impactos psicológico e social do contexto de violência em que estão inseridas.

Considerando a falta de estudos a respeito de crenças sobre violência em crianças vítimas de maus-tratos na literatura nacional, a inexistência de instrumentos brasileiros e o uso de instrumentos internacionais para a faixa etária de 10 a 18 anos, identificou-se a necessidade de pesquisas sobre o tema e com uma menor faixa etária. Portanto, o principal objetivo deste estudo consistiu em avaliar as crenças sobre violência em crianças e adolescentes vítimas de violência frequente e vítimas de violência ocasional e, como objetivo secundário, propor um instrumento de avaliação apropriado para a faixa etária de 6 a 14 anos.

MÉTODO

Participantes

Participaram da pesquisa 45 crianças e adolescentes (27 do sexo feminino e 18 do sexo masculino), sendo 22 vítimas de violência frequente pelos pais ou cuidadores e 23 vítimas de violência ocasional pelos pais ou cuidadores. Originalmente, tinha-se como objetivo separar os participantes em dois grupos distintos (vítimas de maus-tratos e não vítimas de maus-tratos), porém, devido à alta prevalência de violência infantil no Brasil (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2022), a divisão ficou impraticável. Portanto, optou-se por separar os participantes com base na frequência da violência sofrida. Foi considerado como critério de inclusão para o grupo de violência ocasional as crianças não submetidas a quaisquer tipos de maus-tratos nos últimos três meses, a partir de seus próprios relatos.

A idade dos participantes variou entre 6 e 14 anos. Os participantes vítimas de violência frequente foram recrutados a partir dos filhos de mães participantes do projeto de Santini e Williams (2017), que teve como objetivo avaliar os efeitos de um programa de intervenção psicoterapêutica, incluindo com o uso de recursos tecnológicos, para mães que aplicavam castigo corporal em seus filhos. Os participantes vítimas de violência frequente foram selecionados no projeto original em organizações não governamentais (ONGs) de atendimento à população de risco e no Conselho Tutelar e, como critério de inclusão, foram considerados jovens cujas mães admitiram autoria de agressões físicas contra seus filhos de maneira frequente nos últimos três meses. As crianças e os adolescentes vítimas de violência ocasional foram selecionados por meio da divulgação do presente projeto nos mesmos locais de pesquisa de Santini e Williams (2017), sendo escolhidos por indicação dos coordenadores das instituições e/ou por interesse dos familiares, bem como por meio da divulgação da pesquisa nos contextos sociais da pesquisadora.

Local

Os encontros individuais com os participantes de ambos os grupos foram realizados em ONGs de atendimento à população de risco, em salas de atendimento do Conselho Tutelar ou na casa dos participantes, também em locais reservados e adequados para tal.

Instrumentos

  1. Roteiro de Entrevista Inicial, utilizado para coletar dados de identificação, incluindo escolaridade, justificativa para o uso da violência dada pelo participante e possíveis situações de violências física, psicológica ou sexual pelas quais o participante já tenha passado.

  2. Questionário Infantojuvenil de Crenças sobre Violência (QICV), instrumento elaborado na presente pesquisa e utilizado para avaliar as crenças sobre violência das crianças e dos adolescentes em situações fictícias e reais.

Procedimento

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos da Universidade (CAAE nº 15294513.5.0), e somente participaram da pesquisa crianças, adolescentes e seus responsáveis que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O procedimento desta pesquisa foi divido em duas etapas: desenvolvimento do instrumento e coleta de dados.

1) Desenvolvimento do instrumento. O instrumento foi elaborado para ser simples e passível de compreensão pela faixa etária investigada, passando por análise de conteúdo de três juízes com experiência na área. Para isso, foram utilizadas vinhetas a fim de facilitar a compreensão das crianças mais novas. O QICV é composto por seis vinhetas que descrevem situações hipotéticas de violência que poderiam ter sido vivenciadas pelos participantes: violência intrafamiliar, como conflitos entre mães e filhos; violência entre pares, como situações de conflito entre colegas dentro da escola e violência na escola, bem como situações de conflito entre alunos e professores; e quebra de regra moral, nas quais poderiam se deparar com situações que envolviam o comportamento de mentir ou ferir um animal de estimação. Optou-se pela elaboração de alternativas do tipo agressiva, passiva ou assertiva para verificar quais seriam as respostas das crianças em situações hipotéticas de violência. Da mesma maneira, perguntas abertas foram incluídas a fim de investigar quais foram as reações e as atitudes dos participantes em situações de violência que eles mesmos vivenciaram ou suas possíveis reações frente a elas. A aplicação do QICV consiste na apresentação de cada vinheta e sua respectiva história em quadrinhos retratando as situações de violência descritas. Após cada vinheta e história em quadrinhos, há três alternativas em forma de itens, apresentando randomicamente uma resposta passiva, assertiva ou agressiva, e o participante deve escolher uma delas. Em seguida, são feitas questões abertas sobre o tema referente (p. ex., “Essa situação já aconteceu com você? Se sim, como ocorreu? Se não, como você se sentiria se tivesse acontecido com você? O que você pensa sobre isso?”).

2) Coleta de dados. As sessões de aplicação tiveram duração de cerca de 45 minutos, sendo conduzidas pela primeira autora, sendo subdivididas em: a) rapport, que consistiu em uma conversa informal entre a entrevistadora e o participante, de maneira a se criar um ambiente casual e deixá-lo à vontade; b) aplicação do Roteiro de Entrevista; c) aplicação do QICV; e d) atividade lúdica, como fazer um desenho usando lápis de cor.

Análise de dados

Os dados da Entrevista Inicial foram compilados para descrever as características dos participantes. As respostas do QICV foram sistematizadas e tabuladas conforme as alternativas assinaladas, sendo analisadas conforme a frequência, e as respostas dissertativas foram categorizadas por temas (Bardin, 1977). Além disso, algumas variáveis relevantes foram analisadas por meio da análise de correspondência múltipla, que é utilizada em estudos nos quais se deseja avaliar a associação entre variáveis categóricas a partir do cruzamento de dimensões, que são eixos matemáticos que explicam parte da variabilidade dos dados. Dessa forma, é possível observar conjuntamente toda a informação contida em uma tabela de contingência, representando graficamente a estrutura de correlações, resultados que não seriam possíveis caso fossem feitas análises de variáveis duas a duas (Johnson & Wichern, 2008).

RESULTADOS

Entrevista Inicial

Os resultados apresentam uma comparação das respostas entre os grupos de participantes vítimas de violência frequente e de violência ocasional. A maioria dos participantes era do sexo feminino (60%), 15 no grupo de vítimas frequentes e 12 no grupo de vítimas ocasionais, com a média de idade para o grupo de vítimas frequentes sendo de 10,63 anos e para o grupo de vítimas ocasionais de 9,86 anos. Houve maior incidência de exposição à violência no grupo de violência frequente, principalmente quanto a “ouvir os pais brigando”, com 59,1% (n = 13) dos participantes relatando escutar ou já ter escutado os pais discutindo, contra 34,8% (n = 8) das vítimas ocasionais.

Histórico de violência física foi relatado por 68,2% (n = 15) dos participantes vítimas de violência frequente, sendo a cintada a modalidade mais comum nesse grupo (40,7%, n = 15). Já 60,8% (n = 14) dos participantes vítimas de violência ocasional também relataram tal histórico, no qual o tapa era o tipo de agressão mais frequente (33%, n = 4).

Em relação ao histórico de violência psicológica, esta foi relatada por 86,36% (n = 19) dos participantes vítimas de violência frequente e por 39,13% (n = 9) dos participantes vítimas de violência ocasional. O tipo de violência psicológica mais predominante para o grupo de vítimas frequentes foi a ameaça, com 53,33% (n = 16), e, para o grupo de vítimas ocasionais, foi o xingamento ou a humilhação, com 66,66% (n = 8). Nenhum participante relatou ter sido vítima de violência sexual. Sobre a frequência de agressões, o grupo de vítimas de violência frequente relatou sofrer agressões diárias mais constantes do que o outro grupo (37,5%, n = 6). O grupo de vítimas frequentes (50%, n = 11) relatou sofrer agressões semanalmente, contra 26,08% (n = 6) do grupo de vítimas ocasionais.

Sobre a explicação para a violência, 27,27% (n = 6) das vítimas frequentes relataram se sentir culpadas em relação à existência da violência, contra 34,78% (n = 8) das vítimas ocasionais. O grupo de vítimas ocasionais também relatou maior índice para a questão de merecer ou não a violência, com 17,39% (n = 3) contra 4,54% (n = 1) do grupo de vítimas frequentes. Sobre a reação à violência, 81,81% (n = 18) dos participantes do grupo de violência frequente relataram sentir medo da mãe, com 37,78% (n = 8) do grupo de violência ocasional descrevendo o mesmo. A maior parte das vítimas frequentes disse perceber quando a mãe iria agredi-la, com 90,9% (n = 20), contra 60,86% (n = 14) das vítimas ocasionais.

Desempenho das crianças no Questionário Infantojuvenil de Crenças sobre Violência

Observa-se, através da Tabela 1, que, em ambos os grupos, a escolha da alternativa assertiva nas vinhetas foi superior às outras duas em todas as seis vinhetas.

Tabela 1 Atitudes e crenças dos participantes sobre violência. 

Vinheta Grupo Resposta (%)
Agressiva Passiva Assertiva
Violência Intrafamiliar 1 VF 9,1 13,6 77,3
VO 26,1 4,3 69,6
Violência Intrafamiliar 2 VF 0 13,6 86,4
VO 0 0 100
Violência entre Pares 1 VF 0 0 100
VO 0 4,3 95,7
Violência entre Pares 2 VF 4,5 13,6 81,8
VO 0 0 100
Quebra de Regra Moral 1 VF 13,6 9,1 77,3
VO 0 8,7 91,3
Quebra de Regra Moral 2 VF 4,5 13,6 81,8
VO 0 0 100

Nota. VF=Crianças e adolescentes vítimas de violência frequente. VO=Crianças e adolescentes vítimas de violência ocasional.

Por meio da análise de correspondência múltipla, foram avaliados um conjunto de variáveis, selecionadas a partir dos dados coletados na Entrevista Inicial, e as alternativas das vinhetas. As Figuras 1, 2 e 3 apresentam o cruzamento entre as três dimensões analisadas, mostrando a proximidade entre as categorias presentes na análise quando olhamos cada plano individualmente. O objetivo é observar as categorias próximas nas três dimensões ao mesmo tempo, uma vez que quanto mais próximas as classes estão, maior a presença de associação.

Figura 1 Cruzamento entre a primeira e a segunda dimensões. 

Figura 2 Cruzamento entre a primeira e a segunda dimensões. 

Figura 3 Cruzamento entre a segunda e a terceira dimensões. 

Analisando-se conjuntamente as três dimensões, verificou-se associação entre as categorias: (i) mau desempenho na escola como desencadeador de violência, ser agressivo na violência entre pares - vinheta 2, outras razões para a violência (bullying, defender pessoas queridas, falta de educação, substâncias químicas) e ausência de violência psicológica; (ii) enfrentar a situação pedindo desculpas, ser passivo em relação à violência entre pares - vinheta 1 e presença de agressão semanal; (iii) presença de agressão mensal e enfrentar a situação ficando quieto; (iv) acreditar que nada desencadeia a violência, ter acima de 10 anos e ser passivo em relação à violência intrafamiliar - vinheta 1; (v) ser do grupo de vítimas de violência frequente estava relacionado com ter acima de 10 anos, enfrentar a situação saindo do local da briga e ser passivo em relação à violência intrafamiliar - vinhetas 1 e 2; e (vi) ser do grupo de vítimas de violência ocasional estava relacionado com ter até 10 anos e ser agressivo na violência intrafamiliar - vinheta 2.

Análise qualitativa das respostas do Questionário Infantojuvenil de Crenças sobre Violência

Os dados desta análise estão apresentados na Tabela 2. Sobre a vinheta de violência intrafamiliar 1, é possível observar que a maioria do grupo de vítimas de violência frequente relatou que iria ficar brava, enquanto no grupo de vítimas de violência ocasional a maioria se sentiria triste e obedeceria à mãe. Já em relação à segunda vinheta de violência intrafamiliar, a maior parte dos participantes de ambos os grupos relatou que iria intervir na mãe brigando com a irmã e que a personagem principal da história estava errada por só observar a mãe brigando com sua irmã.

Tabela 2 Resposta dos participantes às questões abertas das vinhetas de violência intrafamiliar 1 e 2; violência entre pares 1 e 2; e quebra de regra moral 1 e 2. 

Pergunta Resposta VF
(%)
VO
(%)
Violência intrafamiliar 1
Isso já aconteceu com você? Sim 73 56,5
Se sim, como foi? Mãe xingou 6,25 -
Mãe deixou de castigo 6,25 -
Mãe deu bronca - 15,4
Mãe conversou - 15,4
Mãe ficou brava - 15,4
Obedeceu a mãe 43,75 -
Mãe bateu 43,75 38,4
Se não, como se sentiria se tivesse Iria brincar 17 -
acontecido com você? la ficar bravo 17 -
la ficar triste 32 50
la obedecer 17 40
Outros 17 10
0 que você pensa da mãe do Ela é ruim 4,6 8,7
Joãozinho? Ela está certa 9 21,8
Ela estava brava 18,2 4,3
Ela deveria ter arrumado a cama dele - 4,3
Violência intrafamiliar 2 Ela está errada 68,2 60,9
Isso já aconteceu com você? Sim 72,7 47,8
Se sim, como foi? Falou para mãe não brigar 44 54,5
Assistiu a mãe bater no irmão 56 54,5
Se não, como se sentiria se tivesse la falar para mãe não brigar 50 66,7
acontecido com você? la se sentir mal - 33,3
Não soube responder 50 -
0 que você pensa da mãe da Bia? Deveria ter pedido pra Bia ir ao mercado 4,5 -
Ela está certa 4,5 4,3
Ela é ruim - 13,05
Ela estava brava 13,7 -
Ela está errada 59,1 82,65
Não soube responder 18,2 -
0 que você pensa da Bia? Ela está certa 9 21,8
Ela está errada 45,5 52,2
Deveria ter se oferecido para ir ao mercado 13,5 -
Violência entre pares 1 Outros 32 26
Isso já aconteceu com você? Sim 68,2 69,6
Se sim, como foi? Empurrou de volta 6,6 -
Pegou brinquedo de volta 6,6 6,25
Desistiu de brincar 26,8 12,5
Esperou pelo brinquedo 60 81,25
Se não, como se sentiria se tivesse Falaria para dar o brinquedo de volta 14,3 -
acontecido com você? Desistiria de brincar 14,3 -
Esperaria pelo brinquedo 71,4 71,4
la ficar triste - 14,3
Se Paulinho fosse seu amigo, o Bateria nele 4,6 13
que você pensaria? Esperava ele devolver o brinquedo - 4,35
Pegaria o brinquedo de volta - 8,7
Desculparia ele 9 -
Ficaria bravo 9 4,35
Empurraria de volta 13,6 -
Contaria para alguém 18,2 34,8
Conversaria com ele 32 17,4
Outros 4,6 17,4
Violência entre pares 2
Isso já aconteceu com você? Sim 63,6 43,5
Se sim, como foi? Riu com os colegas 7,1 -
Chorou 14,3 -
Ficou triste 28,6 10
Ficou com vergonha 42,9 -
Ficou se sentindo mal - 70
Outros - 20
Se não, como se sentiria se tivesse Xingaria os colegas 12,5 -
acontecido com você? Bateria nos colegas 12,5 -
Falaria com a professora 25 30,8
Ficaria triste 37,5 53,8
Iria chorar - 7,7
Iria falar para pararem - 7,7
Outros 12,5 -
0 que você costuma fazer quando Ajuda o colega 9,1 17,4
algum colega seu responde uma Ri 27,3 17,4
pergunta errada
Quebra de regra moral 1
Não ri 63,6 65,2
Você já viu alguém mentindo? Sim 86,4 78,3
0 que sentiu? Mal 10,55 16,7
Nada 10,55 11,1
Chateado 26,3 5,5
Não se deve mentir 26,3 38,9
Outros 26,3 27,8
Já mentiu? Sim 86 69,6
Não 14 30,4
Como foi? Não lembra 26,3 25
Não queria apanhar 31,6 -
Não queria levar bronca - 6,25
Mentiu para um adulto 36,8 43,75
Outros 5,3 25
0 que sentiu? É errado mentir 10,5 12,5
Ficou arrependido 21 12,5
Ficou triste 31,6 -
Por que as pessoas mentem? Ficou se sentindo mal - 37,5
Culpado - 12,5
Não lembra 26,4 -
Outros 10,5 25
Porque querem 9,1 -
Não querem apanhar 22,7 13,05
Porque não obedecem - 4,35
Medo de falar a verdade -50 26,136,1
Não sabe Outros 18,2 30,4
Quebra de regra moral 2
Você tem algum animal de estimação? Sim 95,5 82,6
Se sim, vocês batem nele? Sim 23,8 15,8
Não 76,2 84,2
Você já viveu alguma situação Não 23,8 47,4
assim? Ensinou onde fazer a sujeira 19 10,52
Só limpou a sujeira 52,4 21,04
Bateu no animal 4,8 15,78
Outros - 5,26
Se não, como você agiria nessa Só limparia a sujeira 20 44,45
situação? Iria ensinar onde fazer a sujeira 40 33,35
Iria bater no animal 40 -
Outros - 22,2

Na vinheta de violência entre pares 1, as vítimas de violência frequente relataram que, em uma situação parecida, iriam desistir de brincar ou esperar pelo brinquedo, enquanto as vítimas de violência ocasional relataram que iriam esperar pelo brinquedo ou ficar triste. Na segunda vinheta de violência entre pares, as vítimas de violência frequente descreveram respostas como xingar e bater nos colegas caso passassem pela mesma situação da história, enquanto as vítimas de violência ocasional relataram respostas como falar com a professora, ficar triste ou chorar.

Na primeira vinheta de quebra de regra moral, o grupo de vítimas de violência frequente associou mentir com “não querer apanhar”, enquanto as crianças vítimas de violência ocasional relataram “medo de não falar a verdade”. Na vinheta de quebra de regra moral 2, quase metade dos participantes vítimas de violência frequente relatou que iriam bater no animal de estimação na mesma situação, ou ensinariam o animal onde fazer a sujeira; os participantes vítimas de violência ocasional relataram que só limpariam a sujeira ou ensinariam o animal.

DISCUSSÃO

O objetivo deste estudo foi avaliar as crenças sobre violência em crianças e adolescentes vítimas de violências frequente e ocasional, e, para este fim, verificou-se a necessidade de propor um instrumento de avaliação apropriado para a faixa etária de 6 a 14 anos. Os altos índices de violência física relatados por ambos os grupos revelam que o castigo corporal ainda é muito presente, o que reflete a realidade brasileira (Azevedo & Bazon, 2021; Bezerra et al., 2023; Santini & Williams, 2016), mas foi possível observar a diferença entre a classificação de violência entre os participantes vítimas frequentes e vítimas ocasionais. O grupo de vítimas frequentes relatou situações de violência que deixavam marcas no corpo, como arranhões e cintadas, e o grupo de vítimas ocasionais relatou situações como “tapinhas leves” ao desobedecer aos pais.

Sobre as vinhetas, observou-se que, entre as seis situações hipotéticas de violência, foram encontradas correlações significativas entre o responder passivo e ser vítima frequente de violência em quatro vinhetas, sendo elas as de violência intrafamiliar 1 e 2, e as de quebra de regra moral 1 e 2, o que indica a existência de diferenças significativas entre as respostas das crianças vítimas de violências frequente e ocasional. Dados similares foram encontrados no estudo de Sani (2007), que demonstrou que crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos têm crenças distorcidas em relação à violência.

O maior número de participantes do grupo de vítimas frequentes que escolheu a alternativa passiva nas vinhetas dão suporte aos resultados de outros estudos (Gruhn & Compas, 2020; Mandal, 2021) que postulam que crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos, muitas vezes, não têm habilidades sociais adequadas para lidar com situações de conflitos. Observamos na Figura 1 que, além da correlação entre o grupo de vítimas frequentes e o responder passivo, o sexo feminino também está relacionado. Lisboa et al. (2002) realizaram um estudo que procurou observar as diferentes estratégias de coping de crianças vítimas e não vítimas de violência doméstica e verificaram que as meninas utilizam mais estratégias passivas diante de situações de conflito em relação aos meninos, o que pode ser observado nos resultados aqui apresentados.

Todos os participantes disseram ter irmãos, e mais da metade do grupo de vítimas frequentes disse já ter testemunhado situações de agressão entre seus pais e irmãos, com a maioria afirmando só assistir à agressão da mãe contra o irmão. Teicher e Vitaliano (2011) encontraram que jovens que presenciaram violência contra seus irmãos estavam mais associados a desenvolver depressão, ansiedade, doenças psicossomáticas, hostilidade e agressividade e dissociação do que aqueles que presenciaram a violência contra a mãe. Os autores citam estudos que relatam correlação entre presenciar violência doméstica entre mãe e irmãos como fator de risco para sofrer bullying na escola e sugerem a hipótese de que os indivíduos que testemunham violência contra os irmãos e não são vítimas diretamente de maus-tratos podem sofrer de sentimento de culpa, criando um persistente estado de medo e incerteza que pode ser mais estressante do que ser vítima das agressões. Dessa forma, uma possível razão para a maioria dos participantes dizer só assistir às agressões, no presente estudo, pode ser o sentimento de culpa e a impotência diante da situação de violência contra os irmãos.

Nas questões sobre conflito entre pares, mais da metade dos participantes do grupo de vítimas frequentes disse já ter passado por situações similares. Um estudo realizado por Pinheiro e Williams (2009) encontrou que, entre os 239 participantes com idades entre 11 e 15 anos, 49% relataram envolvimento com violência entre pares nos três meses anteriores à coleta de dados e, ainda, 75% relataram ter sido vítimas de alguma forma de violência cometida pelos pais. Dessa maneira, os resultados revelam que os jovens que presenciaram violência doméstica direta ou indiretamente tinham maior probabilidade de se envolver em situações de intimidação na escola, o que também pode ser observado nesta pesquisa, uma vez que uma maior porcentagem de participantes do grupo de vítimas de maus-tratos afirmou já ter passado por situação de violência dentro da sala de aula.

Nenhum participante que disse ter passado por uma situação parecida relatou comportamentos assertivos, como pedir ajuda ao professor, nas questões abertas. Hildebrand et al. (2019), em um estudo que procurou compreender o processo de resiliência e desenvolvimento de transtornos mentais em crianças e adolescentes vítimas de violência, evidenciaram que participantes com baixa percepção de amparo pela sua comunidade, escola e professores, apresentaram maiores probabilidades de baixa resiliência em características particulares como otimismo, adaptabilidade e autoeficácia, capacidade de relacionamento e reatividade emocional. Dessa forma, a percepção de suporte da comunidade e da escola se constrói como importante alicerce de apoio.

Fox e Boulton (2005) investigaram habilidades sociais em crianças vítimas de bullying e, em sua revisão da literatura, encontraram vários estudos que relataram que elas tendem a demonstrar comportamentos não assertivos. Os autores também encontraram diferenças significativas entre a assertividade das crianças vítimas e não vítimas de bullying, sendo que crianças vítimas tendem a agir passivamente quando outras crianças são maldosas com elas, ou não demonstram estar incomodadas quando outros as maltratam. Esses resultados apoiam os encontrados na presente pesquisa - em relação aos participantes do grupo de vítimas de violência frequente, não foi encontrado relato de comportamentos assertivos quanto à situação de violência entre pares. Dessa maneira, é provável que, em situações hipotéticas de conflito com os pares, as crianças e os adolescentes identifiquem o comportamento assertivo a ser tomado, mas isso não se verifica em situações reais de conflito entre os pares, indicando a dificuldade de colocar tais ideias em prática.

É possível observar que, para os participantes vítimas de violência frequente, a violência relatada parece estar compreendida como muito mais grave do que para os participantes vítimas ocasionais, a partir das suas respostas às questões abertas, pois evidenciaram-se mais relatos de comportamentos agressivos e passivos no primeiro grupo, diante de situações de conflito, quando comparados ao segundo grupo. Os resultados encontrados apoiam a hipótese de que crianças e adolescentes vítimas de violência frequente apresentam percepções negativas sobre conflitos familiares, sentimento de culpa, déficit em habilidades sociais e maior tolerância ao uso de violência para resolver conflitos em comparação às vítimas de violência ocasional (Sani, 2007). No entanto, é importante frisar que os participantes vítimas de violência ocasional também apresentaram déficits em habilidades sociais e cognições distorcidas sobre a violência, ainda que em menor quantidade em comparação com o outro grupo - evidenciando que a prática de violência contra crianças e adolescentes, mesmo que em frequência e intensidade menores, causa prejuízos em seu desenvolvimento biopsicossocial.

Esta pesquisa procurou estudar um tema ainda pouco explorado na literatura nacional e propor um instrumento mais apropriado para uma faixa etária com idade menor em comparação com estudos estrangeiros encontrados. A investigação teve algumas limitações, como o número de participantes e o uso de apenas três tipos de violência nas vinhetas, sugerindo-se que estudos futuros sejam feitos de maneira a complementar a pesquisa aqui descrita, a começar pela validação do instrumento proposto, para que as crenças sobre violência das vítimas frequentes e ocasionais de maus-tratos sejam mais bem investigadas e, assim, o verdadeiro impacto da violência no desenvolvimento de crianças e adolescentes seja mais bem compreendido, assim como a inclusão de participantes não vítimas de violência, o que continua a ser uma dificuldade de encontrar na realidade brasileira. Além disso, é importante que estudos também sejam realizados com participantes mais novos, não apenas na faixa etária proposta aqui ou em trabalhos já existentes na literatura, de maneira a aprofundar o conhecimento atual sobre como as crianças mais novas pensam e se desenvolvem de acordo com as diferentes situações que vivenciam. Pode-se observar que existem diferenças significativas entre o comportamento de participantes vítimas frequentes e ocasionais (como o maior responder passivo em vítimas frequentes), e seria relevante compreender mais profundamente quais são elas e se também existem para jovens de diferentes idades das já estudadas.

Com mais pesquisas que avaliem as crenças sobre violência no público infantojuvenil será possível aprimorar programas de intervenção e prevenção de violência, dentro e fora dos lares. Dessa maneira, tais estudos seriam úteis no combate aos efeitos prejudiciais da violência em curto e longo prazos para crianças e adolescentes, promovendo ambientes melhores e mais propícios para o crescimento adequado dos indivíduos, também contribuindo para a diminuição do impacto da violência na vida adulta.

Fonte de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - Bolsa de Iniciação Científica Processo nº 2013/08811-8

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Recebido: 03 de Outubro de 2023; Aceito: 27 de Novembro de 2023

Correspondência: Márcia Akemi Fujie. E-mail: marcia.fujie@gmail.com

Editora responsável: Carmem Beatriz Neufeld

Trabalho vencedor na categoria Iniciação Científica do Prêmio Monográfico Bernard Rangé do ano de 2015

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