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Pesquisas e Práticas Psicossociais
versão On-line ISSN 1809-8908
Pesqui. prát. psicossociais vol.13 no.2 São João del-Rei abr./jun. 2018
Grupo terapêutico intergeracional com idosos demenciados: percepções de crianças e cuidadores
Intergenerational group therapy with elderly dementiated: children's and caregivers perceptions
La terapia de grupo intergeracional con ancianos con demencia: las percepciones de los niños y los cuidadores
Maíra de Oliveira ValadaresI; Jussara da Silva RibeiroII; Heula Áurea Alves Amorim MirandaIII; Carmen Jansen de CárdenasIV; Lucy Gomes ViannaV
IMestra em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília
IIPsicóloga pela Universidade Católica de Brasília. Especialista em Neuropsicologia pelo Instituto Brasileiro de Neuropsicologia
IIIFisioterapeuta. Mestra em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília
IVPedagoga. Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília. Docente nas graduações de Psicologia e Medicina e no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília
VDoutora em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília. Docente na graduação de Medicina e no &Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília
RESUMO
Objetivou-se neste estudo evidenciar as percepções de crianças e cuidadores participantes de grupo terapêutico intergeracional sobre os idosos dementados membros do grupo e identificar suas considerações a respeito de participar deste grupo. Tratou-se de pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, utilizando-se de questionários distintos para as crianças e os cuidadores, tendo sido sua aplicação realizada em grupo num mesmo momento. Encontrou-se que, de modo geral, a experiência de participar de um grupo intergeracional com idosos dementados, tanto para os cuidadores quanto para as crianças, foi percebida como positiva. Identificou-se que os cuidadores e crianças participantes do grupo apresentaram atitudes positivas frente aos idosos demenciados, pois relataram estar felizes com esta convivência, seja no grupo ou em família.
Palavras-chave: Idosos. Crianças. Cuidadores. Grupo Terapêutico. Intergeracionalidade.
ABSTRACT
The objective of this study was to evidence the perceptions of children and caregivers participating in the intergenerational therapeutic group on the dementiated elderly members of the group and to identify their considerations regarding their participation in this group. It was a qualitative, exploratory and descriptive research, using different questionnaires for children and caregivers, and their application was carried out in a group at the same time. It was found that, in general, the experience of participating in an intergenerational group with demented elderly, both for caregivers and for children, was perceived as positive. It was identified that the caregivers and children participating in the group presented positive attitudes towards the demented elderly, as they reported being happy with this coexistence, either in the group or in the family.
Keywords: Elders. Children. Caregivers. Therapeutic Group. Intergenerationality.
RESUMEN
Se objetivó en este estudio evidenciar las percepciones de niños y cuidadores participantes de grupo terapéutico intergeneracional sobre los ancianos con demencia miembros del grupo e identificar sus consideraciones acerca de participar de este grupo. Se trató de investigación cualitativa, exploratoria y descriptiva, utilizando cuestionarios distintos para los niños y los cuidadores, siendo su aplicación realizada en grupo en un mismo momento. Se encontró que, de modo general, la experiencia de participar de un grupo intergeneracional con ancianos dementados, tanto para los cuidadores como para los niños, fue percibida como positiva. Se identificó que los cuidadores y niños participantes en el grupo presentaron actitudes positivas frente a los ancianos despedenciados, pues relataron estar felices con esta convivencia, sea en el grupo o en familia.
Palabras clave: Las Personas Mayores. Los Niños. Los Cuidadores. Grupo Terapéutico. Intergeneracionalidad.
Introdução
A população idosa mundial tem aumentado significativamente a cada levantamento demográfico, revelando a eficácia dos cuidados de saúde na manutenção da vida. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2013) anunciou que, no Brasil, esta população irá quadruplicar até 2060, representando 26,7% da população brasileira total. No entanto, o assistencialismo continua preponderante e a desarticulação do sistema de saúde dificulta a operacionalização de qualquer lógica fundamentada em uma avaliação multidimatraensional (Veras, 2008). Portanto, qualquer política social e de saúde destinada aos indivíduos idosos - na concepção de Veras, 2012 - deve levar em conta a promoção da saúde e a manutenção da capacidade funcional.
Entende-se que o envelhecimento proporciona alterações gerais no organismo que, associadas às doenças, torna o idoso ainda mais frágil e vulnerável do que fisiologicamente é percebido. Na velhice, aumentam a prevalência e incidência de doenças crônico-degenerativas, incluindo as neurológicas, que podem levar à demência. Entre as demências a mais frequente é a Doença de Alzheimer (DA) que se tem revelado um desafio para as políticas de saúde em prol do envelhecimento saudável (ADI, 2009).
A Alzheimer´s Disease International (2012) pressupõe que o número de pessoas que convivem com a demência em todo o mundo, estimado em 35,6 milhões em 2010, deve praticamente dobrar a cada 20 anos, chegando a 65,7 milhões em 2030 e a 115,4 milhões em 2050. Estes dados conclamam os governos e os formuladores de políticas a tornar a demência uma prioridade mundial da saúde pública.
ADoença de Alzheimer é uma doença progressiva e irreversível de aparecimento insidioso, que acarreta perda da memória e diversos distúrbios cognitivos. Causa danos ao hipocampo, responsável pelo aprendizado e pela memória e um declínio progressivo da função cerebral, levando a uma síndrome de impedimento cognitivo e funcional que é suficiente para interferir nas atividades de vida diárias (AVDS). (Hamdan & Bueno, 2005; Souza, Chaves, & Caramelli, 2007).
Verifica-se, portanto, que em casos de idosos demenciados é necessária a presença de um cuidador, considerando que a DA apresenta três fases e que em todas elas há declínios cognitivos que podem colocar em risco o bem-estar do idoso. A perda sutil da memória e esquecimentos configuram a primeira fase, progredindo para incapacidade de realizar tarefas complexas e, na terceira etapa, um acentuado prejuízo da capacidade funcional (Abraz, s/d).
O cuidador é classificado como formal quando o serviço é exercido pela rede profissional de apoio ao cuidado do idoso dependente. Os cuidados informais são aqueles prestados pela família, amigos, vizinhos dentre outros (Bocchi & Angelo, 2008). A rede de suporte social ao idoso é fundamental para que o idoso viva a fase da velhice com experiências exitosas e com bons sentimentos (Flores, Borges, Denardin-Budó, & Mattioni, 2010; Schlindwein-Zanini, 2010).
Nesta rede de apoio social, devem ser incluídas as vivências familiares intergeracionais. Na concepção de Mackowickz (2014), as relações intergeracionais devem estar presentes tanto no contexto demográfico, no aspecto de laços intergeracionais nas relações familiares e sociais, bem como na repetição de padrões comportamentais, herança de estilo de vida e status social. Resende (2006) refere que a família é a principal fonte de apoio ao longo de toda a vida. Resende, Turra, Alves, Pereira, Santos e Trevisan (2008, p. 28) entendem que "A dinâmica do grupo familiar é muito poderosa no desenvolvimento humano, contribuindo para aumentar a competência adaptativa, particularmente diante de eventos estressantes".
Diante do exposto, objetivou-se neste estudo evidenciar as percepções das crianças e dos cuidadores participantes do grupo sobre os idosos dementados, identificando suas considerações a respeito de serem membros participantes deste grupo terapêutico intergeracional.
Método
Trata-se de pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, com participantes de grupo intergeracional terapêutico realizada com idosos portadores de DA em hospital público do Distrito Federal. As sessões com este grupo são realizadas semanalmente, com duração média de 2h, sendo realizadas atividades de expressão corporal utilizando música e dança, de forma cooperativa entre seus participantes (idosos e cuidadores formais e informais). O grupo participante já fazia estas atividades durante seis meses antes da pesquisa atual, foram inseridas as crianças parentes dos idosos demenciados. Assim, a convivência prolongada dos pesquisadores no campo, aumentou a chance de estabelecimento de vínculo com os adultos e idoso. Como todas as crianças apresentavam parentesco com os idosos e seus cuidadores, e estes já tinham desenvolvido vínculo com os pesquisadores, houve maior possibilidade para que as crianças compartilhassem com os mesmos as suas discordâncias e permitiu também interpretações mais acuradas.
Vale ressaltar que este estudo respeita as orientações da resolução 466/ 2012 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa e obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa sob o nº 633.223/ 2014. Os nove grupos apreendidos sobre cuidados éticos nas pesquisas com crianças foram respeitados (Prado, Vicentin, & Rosemberg, 2018). A pesquisadora principal é psicóloga, com experiência em pesquisa intergeracional, comunicando-se com as crianças, sendo capaz de escutá-las e executar posições físicas para estabelecer contato com as mesmas e adequar a linguagem usada.
Participaram da pesquisa 10 crianças na faixa etária de 6 a 14 anos, netas ou bisnetas dos idosos dementados, e os cuidadores (formais e informais) dos mesmos. Esses cuidadores dos idosos dementados membros do grupo terapêutico eram de ambos os sexos, e participaram rotineiramente das sessões do grupo.
Todos os sujeitos incluídos na pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após fornecidos os esclarecimentos apropriados. O TCLE foi assinado tanto pelas crianças quanto pelos pais ou responsáveis, assegurando-se às crianças o "estatuto da autonomia" e a "simetria ética com os adultos", com informações adequadas, ouvindo-as e implicando-as na pesquisa, e consultando-as sobre se queriam ou não participar (Ferreira, 2008). Foi usada a competência da criança para decidir sobre sua participação na pesquisa, sendo o acordo para participar sustentado por sua ligação com o familiar idoso dementado e por informações consistentes e suficientes dadas pelos pesquisadores. O pesquisador ficou atento para as muitas maneiras pelas quais as crianças poderiam expressar não querer participar.
Assim, lidou-se com as especificidades das crianças (e das relações intergeracionais), de forma a respeitá-las como atores sociais e a protegê-las de situações potencialmente danosas. Considerou-se que os resultados da pesquisa seriam tão importantes para os adultos e idosos quanto para as crianças.
Os possíveis riscos físicos para as crianças produzidos pela pesquisa eram mínimos (como quedas), enquanto não foram abordados assuntos que pudessem trazer à tona conteúdos emocionais ameaçadores, como tristeza e sofrimento, assim como medo e ansiedade. Embora com risco mínimo, caso necessário, as crianças seriam encaminhadas para atendimento psicológico.
Os pesquisadores conduziram a pesquisa como ato educativo, conjugando conhecimento e intervenção, instaurando transformações nas formas de olhar, tanto a do pesquisador como o do outro, e mais especificamente a da criança.
Ao final de cada sessão de grupo que antecedeu à data da coleta dos dados, os participantes (crianças e cuidadores) eram informados de que estavam convidados a participar da pesquisa e da data em que seria realizada a coleta de dados. Os responsáveis pelas crianças foram informados sobre os termos éticos da pesquisa, autorizando a participação das crianças na presença de seus responsáveis, sendo que na data da coleta participaram do grupo somente as pessoas que concordaram participar da pesquisa.
Para a coleta de dados, foram elaborados de forma lúdica dois questionários de múltipla escolha, com questões que abordavam dados de perfil etário, relação parental com o idoso e sexo.
No questionário para os cuidadores constavam seis perguntas sobre: a atividade que mais gostavam no grupo, como percebiam a relação das crianças com os idosos, se gostavam e se consideravam que os idosos também apreciavam a presença das crianças, e como se sentiam, de modo geral, participando desse grupo terapêutico.
No questionário para as crianças haviam seis questões versando sobre: se gostavam de passear com os idosos, se os auxiliavam em algum cuidado, qual atividade gostavam mais de fazer no grupo, como percebiam aqueles idosos e se gostavam de participar do grupo terapêutico. Quanto às perguntas formuladas para as crianças, buscou-se sua melhor formulação.
Para cada uma das questões dos dois instrumentos as respostas eram baseadas em imagens (rostos redondos amarelos com expressões humanas) selecionadas da base do Google Imagens. Assim, cada participante escolhia a melhor expressão facial que representava seu humor ou sua percepção sobre o tema questionado.
Para coleta de dados, após o término de uma das sessões terapêuticas, os participantes (crianças e cuidadores) foram dispostos em círculo. Cada um deles recebeu o TCLE e o respectivo questionário, respondendo de forma autônoma. A equipe de pesquisadores acompanhou os participantes, auxiliando-os no esclarecimento das dúvidas surgidas. O tempo aproximado da aplicação dos instrumentos foi de 30 minutos. As crianças estavam acompanhadas de seus responsáveis que também eram participantes do grupo e consentiram a participação de seus filhos na pesquisa.
A análise de dados foi feita qualitativamente, correlacionando-se os resultados com os referenciais teóricos encontrados na literatura. Os resultados desta pesquisa foram devolvidos para as crianças e famílias envolvidas.
Resultados e discussão
Das 10 crianças participantes, 70% eram do sexo feminino. Quanto às idades tivemos: com 14 anos, 30%; com 6 e 9 anos, 20% cada; com 8, 10, e 11 anos, 10% cada. O parentesco das crianças em relação aos idosos demenciados foi de 80% de netos e 20% de bisnetos. Todas as crianças relataram não morar com o idoso.
Quanto ao perfil dos 11 cuidadores, 72,7% eram do sexo feminino. As idades variaram nas seguintes faixas etárias: 20 a 29 anos, 18,2%; 30 a 39 anos, 9,1%; 40 a 49 anos, 45,5%; 50 a 59 anos, 9,1%; 60 a 69 anos, 9,1% e ≥80 anos, 9,1%. O cuidador mais jovem tinha 30 e o mais velho 84 anos. Encontraram-se 36,4% de cuidadores formais (CF) e 63,6% de informais (CI). Destes últimos, 42,9% eram filhas; genro, marido, esposa e nora tiveram frequência de 14,3%, cada.
Quando questionados sobre como se sentiam participando do grupo terapêutico, todos os cuidadores e todas as crianças relataram estar alegres perfazendo, portanto, 100% da amostra.
Com relação às atividades que os cuidadores e as crianças mais gostaram de fazer com os idosos no grupo, os participantes produziram variadas respostas. Para esta questão cada participante podia escolher mais de uma alternativa. As respostas dadas estão no Gráfico 1.
Os resultados expressos mostram que as crianças indicaram em ordem decrescente as seguintes atividades: brincadeiras 80%; comer e rezar, 60% cada; dar e receber carinho, 50%; dançar, 30%; e ouvir música, 10%. Para os cuidadores, as atividades mais escolhidas em ordem decrescente foram: dar e receber carinho, 72,72%; brincadeiras e rezar, 63,64% cada; dançar, 54,54%; ouvir música, 45,45%; e comer, 27,27%. As brincadeiras apareceram em destaque nas escolhas feitas tanto pelos cuidadores quanto pelas crianças.
Na questão aplicada às crianças sobre se brincam ou não com o idoso parente do grupo, 90% responderam afirmativamente.
Estes dados são corroborados por autores que versam sobre esta temática. Ferrigno (2003) considera que o caráter lúdico e descompromissado de algumas atividades favorecem a emergência de interações intergeracionais. De Gáspari (2004) ressaltou que o elemento lúdico nos grupos proporciona o desenvolvimento de potencialidades de seus participantes. De Gáspari e Schwartz (2005) relataram que os idosos destacaram a brincadeira e a diversão como um dos melhores momentos das vivências grupais.
Matos (2006) complementou que os idosos relatam que atividades lúdicas trazem benefícios como: alegria, aprendizagem, riso, diversão, bem-estar, prazer, fazer exercício, ser criativo, beleza, socialização e integração. Estes últimos benefícios são objetivos de qualquer programa de participação intergeracional, que necessitam promover o compartilhamento dos momentos sociais, culturais e históricos entre os membros de diferentes faixas etárias (Moragas, 1997; Lopes, 2005).
A vivência de momentos históricos e culturais foi, no grupo, aplicada enfaticamente no compartilhamento de músicas e danças. As músicas foram selecionadas de acordo com as preferências dos idosos demenciados (relatadas por seus cuidadores ou até mesmo por eles próprios). Fato que pode explicar a frequência de escolha, por parte das crianças, referente a dança e a música como atividades preferenciais no grupo. Por isso, ressalta-se que as atividades de grupo devem-se pautar no interesse e nas necessidades de todos os membros presentes, apontados pelos próprios participantes (Newman & Sánches, 2007). Todavia, as músicas fundamentadas na escolha dos idosos, revelaram como importante estratégia de rebuscar a sua identidade, no poder de escolhas e o renascer de canções que marcaram a sua história de vida. A música atua de forma prazerosa no ser humano, auxiliando na organização, na pontuação da vida em sequência para lembrar as fases da vida e a época em que os fatos ocorreram. Quando se trata de músicas religiosas, é possível perceber um alívio à dor, uma força e uma esperança (Bergold & Alvim, 2009a, 2009b).
O tratamento utilizando músicas envolve reações sensoriais, hormonais, fisiomotoras e, também, psicológicas, funcionando como catalisadora, facilitando e aumentando as capacidades interiores de cura e autocura, deslocando o foco da atenção dos problemas relacionados à própria doença, inserindo os sujeitos em uma perspectiva de vida e de saúde, aumentando sua autoestima e proporcionando alegria (Bergold & Alvim, 2009b).
Segundo Falcão e Bucher-Maluschke (2009), as intervenções dirigidas às pessoas com demência estão destinadas a manter as capacidades preservadas do indivíduo, buscando alcançar a melhor situação funcional possível em cada estágio da enfermidade.
Sobre rezar e comer, 60% das crianças afirmaram gostar desses momentos e, entre os cuidadores, rezar teve 63,64% de frequência e comer teve 27,27%. Importante descrever que o momento de rezar não estava no planejamento inicial deste grupo terapêutico e foi solicitado pelos próprios idosos participantes e seus cuidadores. O lanche era levado voluntariamente por cada um dos membros de acordo com seus gostos e possibilidades, algumas vezes eram receitas próprias de uma cultura ou até mesmo para agradar algum idoso. Entendemos que são dois momentos de vivência e compartilhamento de experiências pessoais importantes em um grupo intergeracional.
Em relação aos cuidados e interações familiares no cotidiano das famílias participantes, 100% das crianças relataram não morar com o idoso e que gostavam de passear com ele, 80% relataram que ajudavam a cuidar daquele idoso dementado. Esta pergunta era bastante objetiva, não se explicando o significado do que seria esse cuidado.
Os cuidadores também responderam se as crianças ajudavam a cuidar do idoso, sendo que 54,54% replicaram negativamente. Mesmo que as concepções de cuidado sejam divergentes, há consonância de que as crianças tiveram participação nesse momento (e aqui não o vamos categorizar como tarefa). Mas o que a criança e o cuidador entendem sobre cuidado ao idoso? Esta questão não foi aplicada, mas podemos fazer inferências a partir da observação dos encontros do grupo, inclusive no momento de aplicação do questionário às crianças, pois uma delas expôs que ligava a televisão para a avó assistir a novela preferida. Esse foi um gesto aparentemente simples, mas baseado no respeito ao desejo daquela idosa. Flores, Borges et al. (2010, p. 472) consideram que o cuidado intergeracional: "deve ser norteado pelo respeito e pela preservação da sua autonomia, considerando-se, ainda, a importância da presença condicionada ao respeito à totalidade e à complexidade das pessoas aos seus modos de vida e valores culturais".
Excluímos, neste estudo, indícios de trabalho infantil, pois as crianças relataram não morar com o idoso e frequentemente compareciam ao grupo trajando uniforme escolar, havendo relato verbal dos cuidadores e das crianças de que frequentavam a escola em período diverso ao do grupo e, ainda, considerando que para aqueles idosos tinha sido já identificado um ou mais cuidadores formais ou informais.
Podemos ainda analisar a questão do cuidado com o idoso dementado levando em conta três outras questões aplicadas. Para os cuidadores foi questionado qual o sentimento presente na relação cotidiana das crianças com o idoso. Todos (100%) dos cuidadores afirmaram que a relação estava permeada por "amor e carinho". Em questão complementar feita às crianças sobre qual a imagem que melhor representava aquele idoso dementado, todas (100%) escolheram a imagem categorizada como "feliz na família". Tratava-se de imagem de uma família (em forma de desenho) reunida com semblantes felizes. Ainda para as crianças foi questionado se elas brincavam com o idoso, sendo que 90% delas responderam afirmativamente.
Estes resultados nos indicam que as famílias participantes possuíam boa convivência e forneciam apoio familiar aos idosos dementados. Aqui reiteramos dados do perfil dos cuidadores participantes do grupo que, em sua maioria (63,6%) eram membros da família sendo 42,85% filhas dos idosos. Este dado corrobora os descritos por Sommerhalder (2001) e Wolf e Kasper (2006), os quais afirmaram que a maior presença de cuidadores familiares é de filhas, esposas e maridos.
Considerações finais
Objetivou-se evidenciar as percepções das crianças e dos cuidadores participantes de um grupo terapêutico intergeracional sobre os idosos dementados e identificar suas considerações a respeito de participar deste grupo.
De um modo geral, a experiência de participar de um grupo terapêutico intergeracional com idosos dementados, tanto para os cuidadores quanto para as crianças foi percebida como positiva. Também identificamos que os participantes do grupo apresentavam atitudes positivas frente ao idoso com demência, pois relataram estar felizes com o convívio tanto no grupo quanto em família.
Entretanto, observamos limitações deste estudo em analisar os conceitos de cuidado para as crianças e os cuidadores envolvidos com o idoso, bem como em aprofundar nas influências do grupo terapêutico intergeracional nas questões do relacionamento intrafamiliar.
Consideramos ser de fundamental importância para os profissionais de saúde, em especial os psicólogos, analisar a temática das atividades intergeracionais prestadas aos idosos dementados, seus cuidadores e respectivas famílias, com o objetivo de subsidiar intervenções profissionais mais qualificadas e mais eficientes no âmbito do cuidado ao idoso dementado.
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Recebido em 28/08/2015
Aprovado em 31/03/2018