SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número7O que é indispensável atualmente na formação do psicólogo organizacionalAlgumas reflexões sobre a influência de aspectos de organização do trabalho na gênese de um acidente de trabalho índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Psicologia para América Latina

versão On-line ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  n.7 México ago. 2006

 

PSICOLOGÍA DEL TRABAJO Y LA EMPRESA

 

Clima organizacional: investigação e diagnóstico: estudo de caso em agência de viagens e turismo

 

 

Marcelo Bedani

Universidade de Brasília – Instituto de Psicologia (Brasil)

 

 


RESUMO

O presente estudo tem como objetivo principal desenvolver e validar um instrumento para investigação do clima organizacional na percepção dos funcionários da BB Turismo - Viagens e Turismo Ltda. Conceitualmente, o instrumento de pesquisa desenvolvido é constituído por 2 dimensões, Psicossocial e Organizacional, e 7 fatores de clima: Carga de Trabalho, Condições de Trabalho, Clareza Organizacional e Padrão de Desempenho, Estilo de Gerência, Comprometimento Organizacional, Trabalho em Equipe e Reconhecimento, operacionalizados por meio de questionário formado por 42 questões. Pretendeu-se, assim, mapear as percepções dos funcionários sobre aspectos objetivos e subjetivos presentes no ambiente de trabalho. Participaram da pesquisa 404 funcionários, lotados em 13 diferentes locais de trabalho, dentre filiais, operadora de turismo e matriz da empresa, representando 10 Estados, além do Distrito Federal. Os dados coletados foram submetidos à análise fatorial, comprovando-se que o instrumento desenvolvido é adequado e consistente para investigação do clima organizacional.

Palavras-chave: Clima organizacional, Investigação, Ambiente de trabalho.


ABSTRACT

This work aims to develop and validate an Organizational Climate investigation instrument, intended to record the perceptions of the employees of BB Turismo - Viagens e Turismo Ltda, a large brazilian tourism concern. The survey instrument was comprised of two dimensions (Psychosocial and Organizational), and seven Climate factors: Workload, Work Conditions, Organizational Awareness and Performance Standards, Management Style, Organizational Commitment, Teamwork and Recognition, all tested by means of a 42-item questionnaire intended to collect the perceptions of employees on objective and subjective aspects of their work environment. The survey involved a total of 404 employees, based at 13 different locations, ranging from stores to support units to headquarters, and spread over 10 states and the Federal District. Collected data were submitted to a factor analysis, which showed the instrument to be consistent and adequate for an investigation of Organizational Climate.

Keywords: Organizational climate, Investigation, Work environment.


 

 

A sociedade contemporânea atravessa um período marcado por profundas e constantes transformações, caracterizando uma verdadeira ruptura epistemológica com os padrões, anteriormente, estabelecidos, pois, reorganiza-se a própria visão de mundo, seus valores básicos, sua estrutura econômica, social e política, suas artes e suas instituições mais importantes, entretanto, como as transformações, ainda, estão em curso, torna-se impossível prever quais suas conseqüências ou seus desdobramentos próximos ou longínquos. (Drucker, 1993; Ianni, 1998; Singer, 1998).

As organizações enquanto sistemas abertos estão sujeitas e expostas ao impacto destas mudanças, originárias no ambiente externo que, evidentemente, afetarão o mercado, os processos e as pessoas. (Katz & Kahn, 1985). Desta forma, em função das características mutáveis das variantes externas, a sobrevivência das empresas sujeita-se à sua capacidade de promover, constantemente, ajustes para adequação do ambiente intra-organizacional, legitimando a crescente preocupação das organizações com os fatores internos (competências, pessoas, valores, conhecimento), pois, estes proporcionariam maior competitividade frente ao ambiente externo.

Segundo Ulrich (1998, p. 280) a “a criação de valor não é mais exclusivamente uma equação econômica que leva a um resultado financeiro” esta seria, inclusive, uma “imagem ultrapassada e disfuncional” na forma de gerir as organizações, portanto, as questões relacionadas às pessoas deveriam ser o “novo foro para as empresas que buscam criar valor e obter resultados”, considerando-se que as pessoas são fundamentais no processo de agregação de valores intangíveis, concorrendo, de maneira diferenciada, na obtenção de vantagens competitivas e consecução dos objetivos organizacionais, um dos grandes desafios apresentados às empresas é a manutenção de um ambiente potencializador do ativo humano, impulsionando, desta forma, a performance e contribuições individuais. (Figueiredo, 1999).

Neste contexto, a gestão do clima organizacional constitui-se em importante ferramenta para o monitoramento do comportamento humano nas organizações, uma vez que, permite avaliar os processos de comunicação, trabalho em equipe, liderança, tomada de decisões, comprometimento, além, das condições físicas do ambiente de trabalho, variáveis que influenciam as atitudes, a conduta, a satisfação, a produtividade e a motivação das pessoas.

Assim, o objetivo principal deste estudo consistiu no desenvolvimento e validação de um instrumento para investigação e diagnóstico do clima organizacional em uma agência de viagens e turismo, pois, considerando a importância econômica e o número de pessoas que trabalham, direta ou indiretamente, na atividade turística, ainda, são escassos os estudos no campo do comportamento organizacional realizados neste segmento.

 

Conceituando o Clima Organizacional

O termo clima organizacional é, claramente, uma metáfora derivada da meteorologia, cujo propósito é a compreensão da intrincada realidade que permeia o ambiente organizacional.

Aparentemente, é este caráter do termo clima, enquanto metáfora, que o transforma em uma poderosa ferramenta para o estudo do comportamento humano (individual e coletivo) nas organizações, pois, assim como as pessoas respondem de forma diferente às condições atmosféricas, frio, calor, chuva, seca; observa-se que os diversos aspectos (objetivos e subjetivos) presentes no ambiente de trabalho, também, são passíveis de respostas diferenciadas, pois, se sustentam em percepções pessoais.

Portanto, independentemente da existência de abordagens que enfatizam diferentes características estruturais e etiológicas do construto, originando inúmeras conceituações, em síntese, o clima pode ser entendido como: um fenômeno organizacional dinâmico e complexo, construído a partir da interação de diversas variáveis organizacionais e pessoais. Existe de forma objetiva, porém, é avaliado subjetivamente, através das percepções dos indivíduos sobre seu ambiente de trabalho, dificultando sua conceituação. (Schneider et al. 1994). Assim, especificamente, para a realização do presente estudo, partiu-se do pressuposto teórico que:

“o Clima Organizacional diz respeito ao que as pessoas acham que existe e que está acontecendo no ambiente da organização em determinado momento, sendo, portanto, a caracterização da imagem que essas pessoas têm dos principais aspectos ou traços vigentes na organização. Talvez seja esse o maior desafio em relação ao conceito de Clima Organizacional: só pode ser compreendido em termos das percepções das pessoas que fazem parte da organização. Em resumo, Clima Organizacional é uma medida da percepção que os empregados têm sobre o grau de satisfação em relação a determinadas características do ambiente de trabalho da organização onde atuam”.(Coda, 1998, p. 6).

 

Gestão do Clima Organizacional

Segundo Altmann (2000, p. 64), as empresas que implementam programas de monitoração do clima organizacional, estão adotando uma importante ferramenta gerencial que adequadamente administrada pode oferecer os seguintes benefícios:

  • maior envolvimento dos funcionários com relação ao seu ambiente de trabalho, este envolvimento se reflete em maior satisfação, redução de ausências e melhoria de desempenho;
  • a pesquisa de clima, realizada em datas pré-determinadas, permite a manifestação dos funcionários sobre o ambiente de trabalho, favorecendo a comunicação intraorganizacional e o suprimento de informações ao corpo gerencial;
  • oportunidade de comparação entre as características do ambiente de trabalho da organização com o de outras organizações;
  • pró-atividade da gerência, antecipando e solucionando problemas relativos aos funcionários e ou do ambiente de trabalho, prevenindo o surgimento de situações críticas que normalmente influenciam negativamente o fluxo normal de atividade das equipes.

Gordon & Cummins (1979) destacam que o gerenciamento do clima não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta que auxilia aos administradores focarem a atenção em aspectos relevantes da organização. O planejamento e desenvolvimento de estratégias organizacionais, por exemplo, é um item que poderia ser beneficiado, pois o clima organizacional sinalizaria quais aspectos da estrutura, recursos humanos, liderança e processos estariam afinados com as estratégias propostas.

Portanto, o clima fornece indicadores sobre diversas variáveis que permitem uma visão geral da organização; e, caracterizando-se por ser relativamente maleável, admite ações de intervenção para melhoria das condições (subjetivas e objetivas) do ambiente de trabalho, assim, constitui-se em importante ferramenta a ser considerada no gerenciamento de pessoas e desenvolvimento das organizações. Segundo Schneider (op. cit., p. XXI), a gestão do clima comporta avenidas para a compreensão das organizações, permitindo, ainda, “que se avance no entendimento da performance organizacional”.

Todavia, a mera investigação da qualidade do clima não constitui, per se, a ferramenta de gestão de pessoas e desenvolvimento organizacional descrita anteriormente, esta somente é consubstanciada quando o gerenciamento do clima organizacional assume um caráter sistêmico e continuun ao longo do tempo, incluindo diversas outras etapas, além, da pesquisa propriamente dita, conforme demonstrado na figura 1.

 

Figura 1 - Etapas para Gestão do Clima Organizacional

 

Descreve-se a seguir, as etapas propostas para o monitoramento do clima:

  1. Investigação: etapa em que se define o instrumento a ser utilizado e realiza-se a pesquisa junto aos membros da organização;
  2. Diagnóstico: tabulação dos dados coletados, identificando os focos de satisfação e insatisfação presentes no ambiente da organização;
  3. Intervenção: elaboração de planos de ação objetivando a melhoria dos aspectos desfavoráveis e manutenção dos pontos positivos diagnosticados.;
  4. Comunicação: divulgação, para todos os membros da organização, dos resultados da pesquisa e das ações que serão implementadas visando a melhoraria da qualidade do clima;
  5. Implementação: concretização do plano de ações no ambiente organizacional;
  6. Monitoramento: acompanhamento e (re)avaliação contínua das ações implementadas em decorrência dos resultados observados.

A premissa básica, para a implementação de um programa bem sucedido de gestão do clima, sustenta-se na qualidade das informações fornecidas pela investigação realizada, pois sua finalidade é subsidiar a elaboração de um diagnóstico que traduza, da forma mais fidedigna possível, a maneira pela qual os diversos aspectos do ambiente organizacional são percebidos e avaliados pelas pessoas. Conseqüentemente, este diagnóstico é basilar para a estruturação de ações eficazes, para a melhoria do clima organizacional, porque permite a identificação daqueles pontos que necessitam de intervenção, uma vez que foram apreciados de forma insatisfatória pelos sujeitos.

O feedback do processo de intervenção, assim como o início do próximo ciclo de gestão do clima organizacional começa pela replicação da pesquisa. O novo diagnóstico permitirá avaliar se as ações implementadas produziram as mudanças esperadas no ambiente, possibilitando averiguar se realmente houve melhoria nos itens avaliados insatisfatoriamente no período anterior, assinalando, ainda, a existência de novos focos de insatisfação. Evidentemente, a gestão do clima organizacional e a implementação de ações de melhoria constituem-se em tarefas bastante complexas, conforme ensina Brunet (2002, p. 104):

“O clima de trabalho é resultante de várias dimensões. [...] Se conhecemos a natureza interdependente das variáveis em jogo, as mudanças devem ser planejadas, considerando-se a totalidade da organização e não somente os indivíduos que são parte desta. Assim, o gestor do clima deverá centrar seus esforços em ações que produzam uma transformação profunda e duradoura no ambiente de trabalho. Adicionalmente, deverá considerar os possíveis efeitos multiplicadores que determinada mudança poderá ter sobre outras dimensões. [...] Não existem fórmulas pré-fabricadas, o programa de intervenção deverá estar de acordo com a vontade das pessoas do lugar, com o estado dos componentes do clima da organização e com os objetivos que se queira alcançar”.

 

Metodologia

Para investigação do clima organizacional, foi desenvolvido um modelo composto por 2 dimensões e 7 fatores de clima, baseado em uma metodologia, originalmente, desenvolvida pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Leitão & Guimarães, 1998), a seguir, apresentam-se as definições conceituais:

Dimensão Psicossocial - sentimentos e atitudes do funcionário com relação às pessoas, ao trabalho e à própria Organização, esta dimensão é composta por 4 fatores:

  1. Estilo de Gerência - Fator que evidencia o comportamento típico ou maneira predominante de ação do gerente no relacionamento com a equipe, no processo de influenciar indivíduos ou grupos para atingir todos os objetivos;
  2. Comprometimento Organizacional - Fator que permite saber do comprometimento, da percepção de identidade e envolvimento dos funcionários com a empresa e com o trabalho;
  3. Trabalho em Equipe - Este fator verifica a percepção quanto à cooperação, à soma de esforços, amizade e compreensão entre os funcionários do setor ou área para atingir objetivos;
  4. Reconhecimento - Este fator averigua se o funcionário se sente reconhecido e se é valorizado como profissional e como pessoa no trabalho, pelos colegas de nível hierárquico igual, superior ou inferior.

Dimensão Organizacional - relativa às condições propiciadas pela Empresa para o desempenho do papel ocupacional, à clareza organizacional e padrão de desempenho e à recompensa e volume de trabalho, esta dimensão é composta por 3 fatores;

  1. Carga de Trabalho - Saber a percepção dos funcionários em relação à variedade de retribuições que lhes são oferecidas como compensação ou contrapartida pelo seu desempenho ou contribuição prestada à Empresa;
  2. Condições de Trabalho - Percepções dos funcionários em relação às condições físicas, aos instrumentos e equipamentos e a todo o suporte necessário para a realização dos trabalhos;
  3. Clareza Organizacional e Padrão de Desempenho - Este fator verifica se, na percepção dos funcionários, a missão, as políticas, diretrizes e objetivos da instituição, além do padrão de desempenho esperado, estão claramente definidos e amplamente divulgados.

Definido o modelo conceitual da pesquisa, partiu-se para a construção dos itens que, foram validados semanticamente junto a um grupo formado por funcionários de diferentes áreas da BB Turismo, adequando, desta forma, as questões à linguagem corrente da empresa. Em seguida, procedeu-se à validação psicométrica do questionário. Inicialmente, realizou-se uma análise exploratória dos dados coletados, identificando: os dados ausentes (missing data); os casos extremos multivariados (multivariate outliers); a razão de casos por variável; a multicolinearidade e ou singularidade do conjunto de dados (Maximum Likelihood); a matriz correlacional e anti-imagem dos dados; a adequação amostral Kaiser-Meyer-Olkin; e calculou-se o teste de esfericidade de Bartlett, todos os indicadores revelaram que, o conjunto de dados era adequado para que se procedesse à análise fatorial. (Tabachnick & Fidell, 1996).

O método utilizado para a análise fatorial foi o “Principal Axis Factoring” e rotação “Oblimin with Kaiser Normalization”. Foram feitas várias extrações, de 3 a 7 fatores, a fim de se decidir com base em suporte teórico e nos dados estatísticos qual apresentava a melhor solução fatorial. Os critérios de retenção dos fatores foram: “Eigenvalue” igual ou maior que 1, cargas fatoriais iguais ou maiores que 0,30 e itens com conteúdo semântico semelhante.(Pasquali, 1999; Tróccoli & Araújo, 1999). Com base nesses critérios verificou-se que, a extração com 7 fatores, mostrou-se a mais adequada para o conjunto de dados analisados, confirmando o modelo conceitual proposto. No quadro 1 podem ser visualizados: a estrutura fatorial do instrumento de pesquisa, composto por 42 questões, e os principais resultados das análises estatísticas realizadas.

 

Quadro 1 - Estrutura fatorial do instrumento de Clima Organizacional

 

A análise fatorial demonstrou que o instrumento é adequado e consistente para a investigação do clima organizacional. A análises estatísticas apontaram que, para a população pesquisada, os fatores referentes à Dimensão Psicossocial são os mais influentes na percepção das condições do ambiente organizacional. Salienta-se que, dentre os 7 fatores pesquisados o Estilo de Gerência, reproduzindo os resultados de outros trabalhos realizados sobre o tema, vide Santos (1999) e Springer (2002), revelou-se como o mais relevante na percepção do clima organizacional. Diante destes resultados é possível afirmar que os aspectos subjetivos do ambiente de trabalho, tais como: o relacionamento interpessoal; o envolvimento com o trabalho; a identificação com a empresa; o sentimento de amizade, pertencimento e valorização pelo grupo e superiores; são os elementos determinantes na formação do clima na organização estudada.

 

Formato Final do Instrumento

O formato do instrumento de coleta de dados ficou estruturado em duas partes distintas, a primeira além de conter as instruções para preenchimento do questionário, visava coletar dados biográficos e profissionais dos respondentes, tais como: local e área de trabalho, função, escolaridade, gênero, idade, tempo de casa e nome do gerente imediato. A segunda parte apresentava as 42 questões relativas ao clima organizacional. O instrumento de pesquisa pode ser visto no anexo 1.

Para que os funcionários registrassem suas opiniões, adotou-se uma escala intervalar, de concordância, do tipo Likert de 6 pontos.Os funcionários expressaram suas opiniões, registrando as percepções, favoráveis ou não, das condições do ambiente organizacional, através de maior concordância com o conteúdo das frases da esquerda (opção 1) ou da direita (opção 6), conforme exemplificado no quadro 2.

 

Quadro 2: Exemplo de questão do instrumento de pesquisa.

 

Descrição da Organização Estudada

O presente estudo foi realizado na BB Turismo - Viagens e Turismo Ltda., fundada em 1982, é uma empresa subsidiária do Banco do Brasil S.A., tendo por missão apoiar a ação desempenhada pelo Estado, na busca do desenvolvimento econômico, cultural e social, por meio da atividade de turismo. Além de ser a agência de viagens oficial do Banco do Brasil, a BB Turismo atende normalmente ao mercado turístico como qualquer outra agência estabelecida no país. Com pouco mais de 20 anos de existência a empresa é uma das maiores agências de viagens do país, destacando-se internacionalmente, de acordo com o ranking da IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, como a terceira maior agência da América Latina em volume de vendas no ano de 2001.

A matriz da empresa se localiza em Brasília (DF), possuindo filiais (lojas de atendimento) nas cidades de: Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Florianópolis, Porto Alegre, Recife. Rio de Janeiro, Salvado e São Paulo (local onde também se encontra a Operadora de Turismo), mantém, ainda, Salas Vip, vinculadas às filiais, que prestam atendimento personalizado aos seus clientes nos aeroportos mais movimentados do país.

 

Coleta de Dados

A técnica utilizada para coleta de dados foi a aplicação coletiva e por contato direto, definida por Richardson (1999) como sendo aquela em que o pesquisador aplica os questionários pessoalmente junto aos grupos de respondentes. Entretanto, antes da aplicação do instrumento de coleta de dados, os funcionários foram contextualizados, por meio de uma rápida apresentação, sobre o histórico, conceito, metodologia, objetivos e finalidade da monitoração e gerenciamento do clima organizacional.

A forma de preenchimento do questionário, a garantia do anonimato do respondente e do sigilo de suas respostas, também, foram explicitadas, pelo pesquisador, neste momento, caracterizando o que Mattar (1996) define como método “não disfarçado”, ou seja, o respondente tem clareza do propósito da pesquisa e do tema pesquisado. A pesquisa teve um caráter facultativo e censitário, ou seja, poderiam participar todos os funcionários que tivessem interesse em manifestar suas opiniões sobre o ambiente de trabalho.

 

População Pesquisada

Destacam-se, de forma sintética, os principais resultados da análise descritiva das variáveis de identificação dos respondentes. Participaram da pesquisa 404 funcionários, o que representa 78,30% do corpo funcional da BB Turismo. A maior parte dos funcionários (80,18%) encontrava-se lotada nas filiais, locais onde se realizam as atividades fins da empresa. O estado que apresentou o maior número de funcionários foi São Paulo, seguido do Distrito Federal.

A função de operadores de turismo era exercida por 57,92% dos funcionários (segmento cuja natureza do trabalho relaciona-se diretamente às atividades fins da empresa). Do corpo funcional 61,39% eram mulheres. A faixa etária média era de 31 anos e 70,79% dos respondentes tinham até 35 anos. Quanto ao nível de escolaridade verificou-se a predominância de funcionários que cursaram até o segundo grau (31,19%). Finalmente, 61,90% dos pesquisados tinham até 4 anos de trabalho prestados na empresa.

 

Resultados e Análise dos Dados Coletados

Os funcionários expressaram suas percepções sobre o ambiente de trabalho, utilizando-se de escala de concordância do tipo Likert de 6 pontos. Assim, os resultados expressam as médias aritméticas simples, das respostas dos sujeitos, em cada questão, ou grupo de questões que compõem os fatores do instrumento de pesquisa. Foram considerados satisfatórios aqueles itens que apresentaram médias iguais ou superiores a 3,00 (ponto médio da escala).

Inicialmente, apresentam-se os resultados globais sobre a qualidade do clima organizacional na BB Turismo, na percepção do conjunto dos respondentes. Na Dimensão Psicossocial o Fator Comprometimento apresentou média de 4,86 com desvio padrão de 0,84. Além de destacar-se como o fator melhor avaliado na dimensão, evidenciou-se, ainda, por apresentar os melhores resultados entre os 7 fatores que compõem o instrumento de pesquisa.

Nesta dimensão o Fator Reconhecimento recebeu a pior avaliação com média de 3,64 e desvio padrão de 0,98. Oportuno salientar que neste fator, a questão 43, cujo conteúdo remete à ascensão profissional, apresentou o pior resultado dentre todas as variáveis da pesquisa, com média de 2,82.

Dentre os fatores que compõem a Dimensão Organizacional, o Fator Condições de Trabalho apresentou a média mais elevada na avaliação dos funcionários 4,46 e desvio padrão de 1,30. O fator Carga de Trabalho, com média de 3,60 e desvio padrão de 0,98, evidenciou-se por apresentar a pontuação menos favorável nesta dimensão. Na tabela 1 é possível visualizar os resultados obtidos, média e desvio padrão, nos sete fatores de clima pesquisados.

Portanto, a partir da análise dos resultados globais dos fatores, é possível depreender que na percepção dos respondentes, a qualidade do clima organizacional na BB Turismo é satisfatória. Os funcionários identificam-se e são muito comprometidos com a empresa e envolvidos com o trabalho. As condições físicas do ambiente de trabalho são apropriadas, os instrumentos e equipamentos disponíveis fornecem o suporte adequado para a realização das tarefas. Os resultados observados, também, permitem inferir que o corpo gerencial relaciona-se de maneira favorável com os subordinados, existindo, ainda, nas equipes de trabalho um sentimento de cooperação e amizade entre as pessoas na consecução dos objetivos organizacionais.

Apesar de não apresentarem uma avaliação crítica, nota-se que todos os fatores obtiveram médias acima de 3,00 (ponto médio da escala utilizada). Os resultados sugerem que na percepção dos funcionários, a retribuição oferecida pela organização, em contrapartida ao desempenho e contribuições prestadas, não estaria atendendo de forma plena aos anseios do corpo funcional. Os funcionários não se sentiriam, suficientemente reconhecidos e valorizados no ambiente de trabalho. Somando-se a isto, os canais internos de comunicação, supostamente, estariam se mostrando incapazes de informar às pessoas acerca dos objetivos organizacionais e do desempenho individual esperado pela organização.

 

Tabela 1: Resutados globais dos fatores

 

Relatados os resultados globais nos fatores, apresentam-se, a seguir, os resultados dos fatores detalhados por unidades (filiais, matriz e operadora). As médias foram calculadas considerando-se as respostas do conjunto de funcionários que exercem suas atividades em um mesmo local de trabalho. Conforme pode ser visto nas tabelas 2 e 3, de uma forma geral, a qualidade do clima organizacional pode ser considerada bastante satisfatória em todas as unidades da empresa, verificando-se, apenas, na filial Brasília média do Fator Reconhecimento inferior a 3,00 (ponto médio da escala).

Dentre as unidades da empresa, a matriz destaca-se por apresentar médias acima de 4,00 nos 7 fatores de clima avaliados; tal fato poderia ser explicado pela proximidade dos funcionários com os membros da diretoria da empresa e pela natureza do trabalho realizado, focado em desenvolvimento, assessoramento, planejamento e controle, distinto do trabalho mais operacional que é realizado nas filiais.

Os fatores Trabalho em Equipe e Comprometimento Organizacional foram pontuados com médias acima de 4,00 em todas as unidades, destacando-se a filial Fortaleza que apresentou respectivamente médias de 4,97 e 5,30 nos fatores citados. O Fator Estilo de Gerência, também, foi avaliado de forma bastante satisfatória nas unidades, ressalva feita às filiais Brasília, Florianópolis e Recife que apresentaram resultados inferiores ao verificado nas demais localidades.

A operadora de turismo e as filiais do Rio de Janeiro e Salvador apresentaram médias menos favoráveis, tanto no Fator Reconhecimento, quanto em todos os fatores que compõem a Dimensão Organizacional, permitindo inferir que as condições propiciadas pela empresa para o desempenho do papel ocupacional não estão atendendo, integralmente, às expectativas dos funcionários nestas unidades.

 

Tabela 2: Dimensão Psicossocial - Resultados dos fatores por filiais, matriz e operadora.

Tabela 3: Dimensão Organizacional - Resultados dos fatores por filiais, matriz e operadora.

 

Nota-se que a dissonância apresentada pela relação entre alto comprometimento com níveis insatisfatórios de reconhecimento e retribuições, provavelmente, seja uma das características mais singulares detectadas por este estudo, sobre o clima organizacional na BB Turismo. Aparentemente, para os sujeitos pesquisados, as deficiências percebidas seriam superadas pelo grau de envolvimento e a identidade com o trabalho e com a organização. Uma possível explicação para este fato poderia estar relacionada à natureza diferenciada das atividades realizadas em agências de viagens e turismo. Infelizmente, devido à escassez de pesquisas em organizações pertencentes a este segmento econômico, inexistem dados para comparação que possam corroborar a proposição aventada.

 

Conclusões

O objetivo principal do presente estudo foi o desenvolvimento e validação de um instrumento para investigar a qualidade do Clima Organizacional na BB Turismo - Viagens e Turismo Ltda., por meio da percepção dos funcionários sobre diversos aspectos relacionados ao seu ambiente de trabalho. O modelo conceitual composto por 2 dimensões: Psicossocial e Organizacional, e 7 fatores de clima (Carga de Trabalho, Condições de Trabalho, Clareza Organizacional e Padrão de Desempenho, Estilo de Gerência, Comprometimento Organizacional, Trabalho em Equipe e Reconhecimento). Buscou, assim, mapear as percepções dos funcionários sobre aspectos objetivos e subjetivos presentes no ambiente de trabalho.

A análise fatorial realizada mostrou que o instrumento proposto é adequado para a investigação do clima organizacional. Salienta-se que as análises estatísticas apontaram que, para a população pesquisada, os fatores referentes à Dimensão Psicossocial são os mais influentes na percepção das condições do ambiente organizacional. Dentre os 7 fatores pesquisados o Fator Estilo de Gerência, reproduzindo os resultados de outros trabalhos realizados sobre o tema, revelou-se como o mais relevante na percepção do clima organizacional. Diante destes resultados é possível afirmar que os aspectos subjetivos do ambiente de trabalho, tais como, o relacionamento interpessoal, o envolvimento com o trabalho, a identificação com a empresa, o sentimento de amizade, pertencimento e valorização pelo grupo e superiores, são elementos determinantes na formação do clima organizacional na organização estudada.

A análise dos resultados globais demonstrou que o clima organizacional foi percebido de forma bastante satisfatória pelo conjunto de respondentes, ressaltando-se o Fator Comprometimento, que apresentou a melhor avaliação dentre os fatores. Por outro lado, o Fator Carga de Trabalho, que verifica a percepção dos funcionários sobre as retribuições oferecidas pela empresa, apresentou a avaliação menos satisfatória.

Uma das características mais peculiares detectadas por este estudo sobre o clima organizacional da BB Turismo foi a dissonância apresentada na relação entre o elevado grau de comprometimento dos funcionários versus as percepções menos satisfatórias sobre as práticas de reconhecimento, valorização e retribuições oferecidas. Esta situação mostrou-se preocupante, pois, ao longo do tempo, caso não sejam implementadas ações para aprimorar os pontos de insatisfação detectados, o comportamento do corpo funcional poderá ser afetado negativamente quanto ao desempenho, a satisfação, a motivação e a própria percepção favorável do clima organizacional da empresa como um todo.

Não obstante esta investigação de clima organizacional ter sido realizada com uma população significativa de trabalhadores do segmento de agência de viagens, representativa das diversas regiões do país, os resultados obtidos nesta pesquisa não podem ser generalizados, ficando restritos à BB Turismo porque seus resultados são baseados em percepções individuais sobre as características de um ambiente organizacional específico.

Apesar desta limitação, acredita-se que o instrumento desenvolvido nesta pesquisa, apropriadamente adaptado e validado (semântica e estatisticamente), possa contribuir eficazmente na investigação do clima organizacional. Além disso, representa uma tentativa na compreensão, ao menos de parte, dos incontáveis componentes que influenciam, positiva e negativamente, o comportamento humano nas organizações.

 

Referências Bibliográficas

  • ALTMANN, Rob. (2000). "Forecasting your organizational climate". Journal of Property Management. Chicago: v. 65, n. 4, p. 62-65.         [ Links ]
  • BRUNET, Luc. (2002). El clima de trabajo em las organizaciones. Definición, diagnóstico y consecuencias. Mexico (DF): Trillas.         [ Links ]
  • CODA, Roberto. (1998). "Como está o Clima?" In Fascículo n. 15, Programa de Profissionalização do Banco do Brasil. Brasília.         [ Links ]
  • DRUCKER, Peter F.(1993). Sociedade Pós-Industrial. São Paulo: Pioneira.         [ Links ]
  • FIGUEIREDO, José. C. (1999). O Ativo Humano na Era da Globalização. São Paulo: Negócio Editora.         [ Links ]
  • GORDON, George & CUMMINS, Walter. (1979). Managing Management Climate. Massachusetts: Lexington Books.         [ Links ]
  • IANNI, Octavio. (1998). Teorias da Globalização. 5. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.         [ Links ]
  • KATZ, Daniel & KAHN, R. (1985). Psicologia Social das Organizações. São Paulo: Atlas.         [ Links ]
  • LEITÃO, Jacqueline. (1996). Relações entre Clima Organizacional & Transferência de Treinamento. Brasília. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia. Universidade de Brasília.         [ Links ]
  • MATTAR, Fauze Najib. (1996). Pesquisa de marketing – Volume 1: Metodologia e planejamento. São Paulo: Atlas.
  • PASQUALI, Luiz. (1998). Análise Fatorial (Apostila). Brasília. Universidade de Brasília. Instituto de Psicologia. Departamento de Psicologia Social do Trabalho         [ Links ]
  • RICHARDSON, Roberto J. & Colaboradores. (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas.         [ Links ]
  • SANTOS, Neusa M. B. F. (1999). Clima Organizacional. Pesquisa e Diagnóstico. 1. ed. Lorena: Stiliano.         [ Links ]
  • SCHNEIDER, Benjamin. GUNNARSON, Sarah & NILES-JOLLY, Kathryn. (1994). Creating the climate and culture of success. Maryland, p. 17-29.         [ Links ]
  • SINGER, Paul. (1998). Globalização e Desemprego: diagnósticos e alternativas. 2. Ed. São Paulo, Contexto.         [ Links ]
  • STRINGER, Robert. (2002). Leadership and Organizational Climate. 1. ed. New Jersey: Prentice Hall.         [ Links ]
  • TABACHNICK, Bárbara & FIDELL, Linda S. Using Multivariate Statistics. (1996). New York: Harper Collins College Publishers.         [ Links ]
  • TRÓCCOLI, Bartholomeu T. & ARAÚJO, Robson M. (1999). Análise Exploratória de Dados através do SPSS. (Apostila). Brasília. Universidade de Brasília. Departamento de Psicologia         [ Links ]
  • ULRICH, David. (1998). Os campeões de recursos humanos: inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura.
  •         [ Links ]

 

Anexo 1

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons