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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.8 no.2 São Leopoldo dez. 2015

https://doi.org/10.4013/ctc.2015.82.04 

ARTIGOS

 

Grupo operativo com adolescentes que vivenciam a ausência paterna temporária: relato de experiência

 

Operative group with adolescents who experience temporary paternal absence: experience report

 

 

Ilciane Maria Sganzerla BreitenbachI; Daniela Centenaro LevandowskiII

IUniversidade de Caxias do Sul. Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130, 95070-560, Caxias do Sul, RS, Brasil. anesganzerla@gmail.com
IIUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Rua Sarmento Leite, 245, sala 207, 90050-170, Porto Alegre, RS, Brasil. dclevandowski@gmail.com

 

 


RESUMO

A ausência paterna de caráter temporário é um tema pouco estudado, apesar de poder repercutir no funcionamento da família e no desenvolvimento individual. Esse estudo objetivou relatar as atividades desenvolvidas em um grupo operativo realizado com adolescentes do sexo feminino que vivenciavam a ausência paterna temporária, por motivo profissional, para discutir, refletir e conhecer as vivências, sentimentos e percepções das participantes diante das especificidades desse contexto familiar. O grupo também objetivou a troca de experiências e a descoberta de recursos emocionais para lidar com essa realidade. Foram realizados oito encontros semanais, em uma escola do interior do Rio Grande do Sul, no turno inverso à aula, com duração de 90 minutos cada. Participaram do grupo dez adolescentes de 14 a 16 anos. Percebeu-se a pequena participação dos pais em termos afetivos e na vida escolar das adolescentes, compensada nos momentos de retorno para casa por meio de permissividade e aquisição de bens materiais. As adolescentes demonstraram a assunção de responsabilidades e preocupações referentes à família, assim como a vivência de desafios e sentimentos de tristeza frente à realidade familiar. Entretanto, também apontaram alguns ganhos diante dessa condição. Considera-se que as atividades propostas foram válidas para atingir os objetivos do grupo, pois propiciaram a participação efetiva das adolescentes. Também se verifica a importância de um apoio psicológico à família com filhos adolescentes que vivem nessa condição.

Palavras-chave: adolescente, relações pai-filho, ausência paterna, grupo operativo.


ABSTRACT

Temporary paternal absence is a subject that has been scarcely studied, although it may affect family functioning and the adolescent's individual development. This study aimed at reporting activities proposed to female adolescents whose fathers were temporarily absent for professional reasons, from a conception of operative group. These activities were aimed at knowing the adolescents' experiences, perceptions and feelings about this family context and at discussing and reflecting about it. This group has provided a space for reflection, allowing the exchange of experience between them and the discovery of new emotional resources to deal with this fami-ly reality. Eight meetings were held weekly, in a school in the countryside of Rio Grande do Sul, in reverse shift to the adolescents' classes, lasting 90 minutes each. Ten teenagers aged 14 to 16 participated in the group. Little participation from fathers in affective terms and in the girls' school life was noted, which was compensated when they returned home through permissiveness and acquisition of material goods. The teenagers have demonstrated the assumption of responsibilities and concerns relating to the family, as well as the experience of challenges and feelings of sadness regarding this family reality. However, they also pointed out some gains on this condition. The proposed activities were valid for achieving the goals of the group, as they provided the effective participation of female adolescents. The importance of psychological support to the family with adolescents who live in this condition is also noted.

Keywords: adolescent, parent-child relations, paternal absence, operative group.


 

 

Introdução

A ausência paterna é uma condição familiar reconhecida na literatura pelas suas repercussões negativas para a família (Gomes e Resende, 2004) e, em especial, para crianças e adolescentes (Eizirik e Bergmann, 2004). Entretanto, nem sempre se encontra uma definição unívoca para esse conceito (East et al., 2006), que é usado para fazer referência a diferentes situações.

A ausência paterna pode ser representativa da falta de convivência e de contato entre pais e filhos (Almeida e Hardy, 2007; Eizirik e Bergmann, 2004; Feijó e Assis, 2004; Felzenszwalb, 2003; Muzza e Costa, 2002; Silva e Piccinini, 2007), gerada por morte, separação conjugal ou outros eventos, embora também possa se referir à distância emocional na relação do pai com seus filhos, mesmo quando ele está fisicamente presente (Dantas et al., 2004). Ainda, a ausência paterna pode ser um fenômeno mais permanente ou duradouro, como aquela decorrente do falecimento do genitor (Almeida e Hardy, 2007), ou mais circunscrito ou temporário, como naqueles casos em que o pai se ausenta em virtude de uma atividade profissional (Sganzerla, 2009; Sganzerla e Levandowski, 2010). Nesse sentido, essa última circunstância pode ser decorrente de mudanças sociais e culturais que afetaram a família nos últimos tempos e, com isso, fizeram com que a figura do pai também necessitasse passar por mudanças e evoluções (Benczik, 2011).

Como mencionado, essa situação terá diferentes repercussões para os membros da família, dependendo da etapa do ciclo vital em que se encontram e do próprio ciclo de vida da família. Em se tratando da adolescência, essa é uma temática de interesse científico, por sua importância para o desenvolvimento do indivíduo, da família e da sociedade como um todo. De fato, enfatizar a adolescência como um período de transformação é limitante; ela é um período de maior exploração e de novas oportunidades, que ainda é vivida conforme o contexto familiar, social e cultural em que o adolescente se insere (Senna e Dessen, 2012).

Essa etapa do ciclo de vida humano é permeada por muitas transformações, de ordem física, psicológica, cognitiva e social (Daltoso et al., 2005). Tais mudanças geram também um impacto na família, já que o adolescente inicia um processo de desprendimento da família e de busca de autonomia e independização (Carter e McGoldrick, 1995; Wagner et al., 2002). Tal afastamento permite refletir sobre seu grupo familiar, ao mesmo tempo em que amplia o seu mundo social, a partir da sua inserção em um grupo de iguais (Moreira et al., 2008).

Considerando essa etapa do desenvolvimento, a literatura refere diversas repercussões da ausência paterna, tais como maior frequência de comportamentos delinquentes (Coley e Medeiros, 2007; Harper e McLanahan, 2004; Hollist e Mcbroom, 2006; Nunes et al., 2013; Paschall et al., 2003), amadurecimento físico precoce (Bogaert, 2005; Ellis et al., 2003) e dificuldades na conquista de autonomia, em decorrência de padrões de interação familiar algumas vezes disfuncionais (Felzenszwalb, 2003). Essa situação também pode repercutir no processo de escolhas profissionais (Lopes e Paula, 2011), nas características pessoais das adolescentes e nos seus planos em relação ao futuro (Sganzerla e Levandowski, 2011). Não se pode deixar de lembrar que as repercussões da ausência paterna para o adolescente sofrerão variações conforme os recursos emocio-nais individuais e a presença de uma rede de apoio social e familiar efetiva, composta, por exemplo, por familiares, amigos, escola e outras instituições. Da mesma forma, tais repercussões dependerão do motivo causador da ausência (se resultante de divórcio, morte ou estresse parental, por exemplo) e das suas consequências, tais como dificuldades financeiras decorrentes de uma separação dos pais (Ellis et al., 2003; Harper e McLanahan, 2004), dentre outros aspectos.

Tendo em vista a importância do tema, este trabalho tem por objetivo relatar as atividades desenvolvidas em um grupo operativo realizado com adolescentes do sexo feminino que vivenciavam a ausência paterna temporária, por motivo profissional, para discutir, refletir e conhecer as vivências, os sentimentos e as percepções das participantes diante das especificidades desse contexto familiar. O grupo também objetivou a troca de experiências e a descoberta de recursos emocionais para lidar com essa realidade.

O grupo foi oferecido para adolescentes do sexo feminino pelo fato de se encontrarem em maior número em relação aos meninos quanto a essa característica familiar (ausência paterna temporária), a partir de levantamento prévio realizado na instituição escolar no ano anterior ao de realização da atividade. Além disso, essas adolescentes apresentavam mais queixas em relação à situação de ausência paterna. Já a escolha por uma atividade na modalidade grupal deu-se pela naturalidade do adolescente com atividades em grupo (Saito, 2000), tendo em vista sua tendência a buscar conviver com seus pares a partir do desprendimento da família, anteriormente mencionado. O planejamento das atividades do grupo foi pautado teoricamente na Psicologia do Desenvolvimento (acerca do desenvolvimento afetivo e social do adolescente), na Psicologia da Família (levando-se em conta as características do ciclo de vida familiar e das relações pais-filhos adolescentes) e nas premissas de Pichon Rivière (2009) sobre grupo operativo.

 

Método

As atividades desenvolvidas com as adolescentes tiveram um enquadramento de grupo operativo. Para Pichon Rivière (2009), o grupo operativo tem como foco o trabalho com um conjunto de pessoas que possuem um objetivo comum. O autor compreende grupo operativo como centrado em uma tarefa de forma explícita, como por exemplo, a aprendizagem. O objetivo da técnica é enfatizar, através da aprendizagem, os problemas pessoais relacionados à tarefa, promovendo a capacidade de reflexão e pensamento. Assim, é uma técnica que, embora não seja terapêutica, pode ter um caráter terapêutico, pelas vivências, sentimentos e reflexões que desperta.

Participantes

Constituíram o grupo operativo dez adolescentes (14 a 16 anos), do sexo feminino, de nível socioeconômico médio, que cursavam a 8º série do Ensino Fundamental, no turno da manhã, em uma escola pública da rede municipal de ensino de uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Todas elas vivenciavam a ausência paterna temporária em função da profissão do pai, sendo esse o motivo de sua inclusão no grupo, independentemente do tempo de afastamento do pai, da profissão do pai ou mesmo do tempo transcorrido desde o início dessa condição familiar.

O tempo médio de trabalho do pai na profissão que exigia afastamento de casa foi de cinco anos, sendo esses predominantemente representantes comerciais e caminhoneiros. Tais profissões exigiam que os pais permanecessem em viagens e, assim, se ausentassem de casa. Quanto ao tempo de permanência do pai fora de casa, a média foi de três meses corridos, com os pais retornando e permanecendo em casa, em geral, em torno de 12 dias apenas.

Quanto às características familiares, constatou-se que nenhuma participante era filha única, havendo uma variação de um a três irmãos nas famílias. A idade dos irmãos oscilou entre um e 18 anos. Oito participantes residiam com os pais e irmãos e duas participantes, além dos pais e dos irmãos, também com outros familiares. Em geral, o número de familiares residentes oscilou entre três e seis. Além disso, os pais de todas as participantes eram casados.

Procedimentos

Para a realização do grupo, primeiramente foi feito um contato com a Direção da escola, no qual houve a apresentação do projeto. A partir da aceitação da proposta pela Direção, foi agendado um horário para a apresentação da atividade para as turmas de 8ª série, a fim de convidar as adolescentes para a participação no grupo. Nessa oportunidade, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Combinou-se que, no primeiro encontro do grupo, elas deveriam trazer esse documento assinado pelos pais ou responsáveis para poderem participar. Na ocasião do convite às adolescentes, as mesmas mostraram-se entusiasmadas com a proposta. Foi disponibilizado um período de duas semanas para que elas pudessem confirmar a sua participação através da assinatura em uma lista junto à Direção da escola. Essa lista funcionaria como uma lista de inscrição no grupo. Apenas 10 adolescentes se inscreveram e trouxeram o TCLE assinado no dia do primeiro encontro. Sendo assim, o grupo foi realizado com essas 10 alunas, dentre 26 convidadas. Importante destacar que não houve desistências ou faltas entre as dez adolescentes inscritas e que todas aquelas que se inscreveram tiveram a oportunidade de participar do grupo. A partir disso, foi agendado o horário e o local do primeiro encontro, dando-se início às atividades. O grupo foi realizado e coordenado pela primeira autora, formada em Psicologia, sendo composto de oito encontros semanais, com duração de uma hora e meia, sempre em turno oposto ao das atividades escolares das adolescentes.

 

Resultados

A seguir, encontra-se o relato de cada encontro do grupo com uma descrição sintética das atividades realizadas.

1º Encontro: No primeiro encontro, foram feitas combinações sobre o funcionamento do grupo, a apresentação das participantes, visando a uma integração, e, por fim, uma reflexão sobre cuidar e ser cuidado. Iniciou-se com a apresentação dos objetivos do grupo (discutir, refletir e conhecer as vivências, sentimentos e percepções das participantes diante das especificidades desse contexto familiar, bem como propiciar a troca de experiências e a descoberta de recursos emocionais para lidar com essa realidade). Após, foram estabelecidas as combinações relativas ao andamento e funcionamento do grupo, como horários, participação, metodologia dos encontros, etc. Combinou-se que, ao final de cada encontro, seria escolhida a temática do próximo, sempre relacionada ao tema da família. Em seguida, as adolescentes preencheram um questionário que buscava colher informações familiares e pessoais úteis para o planejamento das atividades subsequentes. Ao término do preenchimento, foi feita uma atividade de apresentação e integração das participantes, na qual elas deveriam sentar em círculo e se apresentar, comentando alguma coisa sobre sua família. Solicitou-se que, antes de se apresentarem, retomassem a última informação comentada pela colega anterior e o nome dela. Foi possível perceber, quando se referiam à família, queixas relativas à ausência do pai e ao estresse das mães diante dessa situação. De modo geral, as adolescentes pareciam se sentir "perdidas" e preocupadas, sem saber como lidar com essa realidade.

Nessa atividade, foi estabelecida uma discussão sobre questões relacionadas a "cuidar" e "ser cuidado". Ao final, foi possível refletir sobre as vantagens e desvantagens de cada função, remetendo a reflexão para a situação familiar. As participantes referiram como vantagens dessa condição familiar a tranquilidade, à medida que elas conseguiam fazer negociações com a mãe sem serem repreendidas. Comentou-se sobre o fato de os cuidados poderem ser expressos de diversas formas, como, por exemplo, fornecimento de condições financeiras para o sustento das necessidades básicas. Nesse caso, o trabalho do pai se mostrava necessário, e o fato de eles estarem trabalhando poderia ser visto como um ato de cuidado, embora gerasse como consequência a sua ausência. Por fim, também foi mencionado que as adolescentes, na condição de cuidadas, necessitavam desenvolver autoconfiança e confiança em suas relações familiares, embora também acabassem assumindo algumas responsabilidades pessoais e familiares diferentes das demais colegas e amigas de sua idade, diante dessa forma de organização familiar. As participantes comentaram, por mais de uma ocasião, que o pai, quando presente, agia como se fosse o seu irmão mais velho, e não como pai, não demonstrando autoridade e colocando-se na posição de ser cuidado, ao invés de ser cuidador para com elas e os demais membros da família.

2º Encontro: Esse encontro teve como temática as diferentes etapas da vida, com suas crises, facilidades e obstáculos. Foram espalhados pela sala retalhos de tecido de cores variadas e solicitou-se que as adolescentes elegessem mentalmente uma cor que simbolizasse a infância, contemplando momentos bons e ruins. A seguir, escolheram uma cor que simbolizasse sua adolescência e, depois, o futuro. Após esse período de reflexão, as mesmas foram convidadas a escolher uma das cores mentalizadas. Então, reuniram-se em pequenos grupos, conforme suas cores, para discutirem os motivos dessa escolha. O espaço seguinte foi para a socialização das discussões e reflexão sobre o quanto cada uma, mesmo escolhendo a mesma cor, vivenciou situações diferentes. Interessante observar que a grande maioria elegeu o período da adolescência, expressando-o como uma etapa feliz e prazerosa. Então, como fechamento da atividade, foi ressaltado que, mesmo com eventuais dificuldades familiares, ainda assim as adolescentes percebiam esse período da vida de forma positiva. Foi possível perceber que, nessas famílias, as adolescentes frequentemente assumiam compromissos e tarefas, tais como auxiliar nas decisões e manejo de alguns problemas domésticos, como o cuidado dos irmãos, mas percebiam essas situações com uma conotação positiva.

Na continuação, o grupo, por sugestão da moderadora, discutiu sobre o quanto a ausência do pai pode ser uma variável agravante ou desencadeante de uma situação de crise na família. As participantes deixaram claro que, antes de o pai viajar, elas percebiam seu grupo familiar de uma maneira diferente, o que acabava por originar críticas à atividade profissional dele. Lembravam-se de situações felizes e de brincadeiras, enquanto que, em relação ao momento atual, surgiram relatos como: "É um silêncio mortal aqui em casa, a mãe me cobra para eu conversar, falar as coisas, mas fica tudo sem graça, falar o quê?". O que acontece nessas famílias foi expresso por uma participante a partir do seguinte exemplo: "O meu pai não é de participar das nossas vidas. Ele sabe que na segunda-feira ele não vai estar em casa mesmo". Observou-se ainda o fato de as adolescentes justificarem comportamentos ditos "inadequados" pelo fato de seus pais os realizarem também, como, por exemplo, sair de casa sem avisar ninguém, quando o mesmo está em casa. A partir do momento que uma adolescente se posicionou, demonstrando sua insatisfação com a família, as demais participantes passaram a querer falar todas ao mesmo tempo, cada uma contando a sua situação, evidenciando o quanto isso as incomodava. No caso, elas referiram falta de iniciativa paterna em relação aos compromissos da escola, ausência de atitudes de cuidado e de demonstrações afetivas para com elas e atitudes questionadoras dos pais frente às tentativas maternas de imposição de limites. Por outro lado, as participantes também observaram, nas condutas do pai, ao retornar para a casa, a compensação pela ausência, através da passividade, da excessiva permissividade, da demasiada paciência e do fornecimento de compensações financeiras que, na verdade, mascaravam a situação, mas não faziam as mesmas se sentirem amadas e reconhecidas. Por exemplo, segundo algumas delas, os pais costumavam justificar a sua falta de participação pelo fato de estarem cansados. Assim, ficavam assistindo televisão e, com isso, não se envolviam com a vida da família, o que as deixava muito frustradas, embora não o manifestassem. O máximo que faziam para expressar esse descontentamento era chamar a atenção, queixando-se para o pai quando ele estava presente, como uma forma de "descarga" diante da revolta sentida frente à situação de ausência. Diante dessas manifestações, ao final do encontro, focalizou-se o momento atual, estabelecendo-se uma comparação entre como gostariam que sua família pudesse estar naquele momento e como de fato estava.

3º Encontro: Dando continuidade ao segundo encontro, solicitou-se das participantes a elaboração de cartazes sobre o tema da ausência paterna, com destaque para aspectos da "família real" e da "família ideal". Os cartazes foram elaborados e, à medida que foram sendo apresentados, surgiram discussões sobre os conteúdos neles expressos. Evidenciou-se uma vitimização das adolescentes pelo fato de o pai estar ausente, um sentimento elencado pelas participantes como solidão, pois, por mais que elas tivessem liberdade e autonomia em suas famílias, sentiam-se solitárias. Somado a isso, a insegurança ficou evidenciada, pelo medo de perda do amor do pai, em virtude do distanciamento. Uma competição entre quem sofria mais por essa situação ficou evidente entre as adolescentes. Também foi abordada a questão dos limites impostos pelos pais. Pode-se perceber a mãe como a figura de autoridade, embora não cumprindo com êxito esse papel. Já o pai apareceu como uma figura permissiva nas famílias.

4º Encontro: No quarto encontro, através da apresentação dos demais cartazes, as reflexões quanto aos papéis familiares foram continuadas. Foram enfatizadas pelas adolescentes as brigas entre elas e seus irmãos, ou até mesmo entre elas e suas mães, bem como as críticas da mãe quanto à disciplina e a falta de elogios e de reconhecimento dos pais e mães em relação às filhas adolescentes. Outro aspecto bastante comentado pelas participantes foi à iniciativa pessoal para organizar algum programa familiar nos momentos em que o pai retornava para casa, para que todos pudessem estar em contato, como, por exemplo, um almoço ou jantar em um restaurante. Também se percebeu a revolta das adolescentes pela falta de êxito nessas tentativas de envolver o pai com a família e aproximar-se dele.

5º Encontro: Nesse encontro, foi distribuído um papel marrom e um papel vermelho, no formato de um quadrado, para cada adolescente. Primeiramente, enquanto foi entregue o papel marrom, foram retomados os conflitos e dificuldades que todas já passaram na família, citando aspectos relatados por elas, entre eles, críticas por parte dos pais, falta de reconhecimento, sobrecarga, competição entre irmãos, entre outros. Pode-se citar o fato de muitas adolescentes provocarem um isolamento dos amigos em relação a elas, pois, ao sair, passear e se divertir, muitas vezes se sentiam culpadas, pensando que o pai estava longe de casa, trabalhando para sustentá-las, e que elas estariam ali, aproveitando tudo isso "às custas dele". A seguir, as participantes foram convidadas a registrarem as lembranças familiares mais difíceis ou tristes nesse papel, propiciando-se um momento para que elas refletissem com tranquilidade.

Depois, a reflexão foi direcionada para as experiências agradáveis, as vivências positivas dentro da família, entre elas, expectativas quanto ao futuro, elogios recebidos dos pais, momentos de convivência familiar harmoniosa, entre outros. Foi entregue o papel vermelho e solicitou-se que as adolescentes registrassem nele essas lembranças felizes ou sentimentos positivos em relação à família.

Logo depois, as participantes foram convidadas a fazer um canudinho bem fino de papel marrom, e, através de dobradura, uma flor com o papel vermelho. Trabalhou-se com o simbolismo: as alegrias e esperanças eram a flor; as dificuldades, os espinhos. Discutiu-se que toda a flor possui espinhos e que estes também são a base da sustentação da flor, evidenciando o quanto as crises e os momentos mais difíceis podem nos fortalecer. As participantes foram estimuladas a compartilhar com uma colega a sua reflexão, e foi aberta a possibilidade de troca das flores, buscando no outro uma forma de amenizar os espinhos. Todas aderiram à proposta, enfatizando como os aspectos familiares atrapalhavam a confiança em si mesmas e a sua autoestima, temática eleita para o encontro seguinte.

6º Encontro: Teve como foco a autoestima, mais especificamente os fatores que afetavam a autoestima das adolescentes nos mais variados âmbitos, como na família, na escola e nas relações de amizade. A técnica utilizada foi de uma folha em branco inteira, que representava a autoestima. À medida que cada adolescente identificava um aspecto que afetava a sua autoestima, esta deveria rasgar um pedaço de papel na proporção do seu impacto. Uma das situações mais referidas pelas adolescentes foi o fato de serem criticadas ou chamadas de "mal criadas" ou "mal educadas" por ambos os pais. Ao final, foi feita uma avaliação da atividade, ressaltando-se a importância do tema, tendo em vista a repercussão das questões familiares nesse aspecto de sua personalidade.

7º Encontro: Considerando que, em muitos momentos do grupo as adolescentes disputaram e compararam-se em relação às situações familiares, nesse dia, foram trabalhados o respeito, os valores pessoais, a ideia de que todos temos problemas, mas que o importante de compartilhá-los é justamente encontrar alternativas para possíveis mudanças e aprendizados. Assim, foi oferecida uma pequena folha de papel e caneta para cada participante, na qual elas deveriam descrever uma dificuldade que encontravam em sua família e que não gostariam de expor oralmente. A papeleta deveria ser devolvida. Uma vez recolhida e misturada com a das demais participantes, foi redistribuída entre o grupo. Cada adolescente deveria assumir o problema que constava na papeleta que lhe fora entregue como se fosse de sua autoria, esforçando-se para compreendê-lo e propondo alternativas de solução. Foram elencadas situações referentes ao pai, tais como sofrer críticas do mesmo e descobrir que ele estava traindo a mãe, como também situações pessoais, como, por exemplo, mentiras contadas para os pais no intuito de sair com as amigas. Interessante observar que as participantes que procuravam enfrentar as situações de uma forma mais otimista ao longo dos encontros foram referidas pelas colegas como exemplos. Percebeu-se um semblante mais alegre e cordial das adolescentes, o que levou a pensar que os objetivos da atividade haviam sido alcançados.

8º Encontro: Nesse último encontro, seguindo as demandas levantadas ao longo do processo, foi informado às participantes que passariam uma caixa entre si enquanto uma música tocava. Quando parasse a música, quem estivesse segurando a caixa retiraria um embrulho de dentro da mesma. Essa pessoa teria que realizar uma tarefa muito difícil e até vergonhosa. Entretanto, poderia escolher ou-tra colega para realizar a tarefa. Essa instrução foi dada para que as participantes pensassem que o desafio era algo de caráter negativo, penoso e difícil. Todas demonstraram ansiedade e, ao final, a escolhida resolveu assumir a tarefa, que se tratava, na verdade, de um lembrete com autoafirmações positivas e uma vela como presente e símbolo de "iluminação" do caminho futuro. A partir dessa atividade, as adolescentes puderam falar um pouco sobre como se torna difícil, muitas vezes, enfrentar os obstáculos da vida, como, por exemplo, sentir a ausência do pai e ter medo do futuro, embora, ao mesmo tempo, esses momentos possam guardar não apenas ameaças, mas também oportunidades.

A Tabela 1 apresenta um detalhamento dos encontros, das atividades realizadas e de seus respectivos objetivos.

 

Discussão

Postura das adolescentes e funcionamento do grupo

Ao longo dos encontros, as adolescentes mostraram-se motivadas para participar, apresentando-se assíduas e pontuais. Embora tenham apresentado um certo desconforto no início, por nunca terem participado de uma proposta como essa, no decorrer das atividades, tornaram-se receptivas e participativas. Essa mudança de postura pode ser decorrente da forma como os encontros foram conduzidos, prezando-se o respeito pela opinião do outro, bem como pelo próprio contexto grupal, uma vez que é esperado dos adolescentes um direcionamento para um grupo de iguais (Maas, 2006), o que possibilita a busca de novas identificações para o desenvolvimento da sua identidade (Saito, 2000). Em virtude disso, considerou-se proveitosa a realização de uma atividade dessa natureza.

Diante do tema central do grupo, a ausência paterna, ficou nítida, durante os primeiros encontros, uma expectativa das adolescentes em relação à coordenadora da atividade de que esta pudesse salvar ou "consertar" a situação familiar de cada uma delas. Com o passar do tempo, esse aspecto foi transformado em algo mais realista, tendo por base os objetivos da atividade. Isso é possível de entender, uma vez que uma das características do adolescente é a busca de identidade em um grupo de pares, nos quais também busca respostas para as suas dúvidas e angústias. Assim, o fato de o trabalho desenvolver-se em grupo contribuiu para o "compartilhar" de informação, assim como de anseios, medos e preocupações (Oliveira e Ressel, 2010).

Ao longo dos encontros, destacou-se o fato de todas as participantes apresentarem algum grau de sofrimento psíquico, expresso principalmente por sentimentos de vitimização. Esse sofrimento pareceu ser mais intenso quanto maior a idade da participante. Talvez o desenvolvimento de recursos cognitivos e emocionais possibilite às adolescentes dar-se conta do ambiente familiar que as cerca, despertando um sofrimento mais intenso. Em função desse sofrimento, elas podem ter se motivado e aceito o convite para participar do grupo, o que indica a existência de uma "demanda reprimida", uma vez que a maioria não se encontrava em atendimento psicoterápico ou mesmo já havia recebido qualquer tipo de intervenção até aquele momento.

Ausência paterna

Interessante destacar que, em relação ao tema central do grupo, diversos aspectos foram observados. Primeiramente, embora tenham sido constatadas diversas desvantagens pelas adolescentes, também puderem ser observadas vantagens dessa condição familiar, tais como a tranquilidade para fazer negociações com a mãe sem repreensões por parte do pai. Essa tranquilidade pareceu ser um reflexo do funcionamento familiar que se instala na ausência do pai, com as participantes podendo contar com um espaço maior de diálogo e proximidade com a mãe.

Em contrapartida, em termos de desvantagens da ausência paterna, que predominaram nos relatos das participantes ao longo dos encontros, encontrou-se a ausência de limites. Ocorre que, pelo fato de não contar com a presença efetiva do pai, figura da qual se espera normalmente essa função (Trindade e Menandro, 2002; Wagner et al., 2005), a mãe acaba assumindo essa tarefa. Entretanto, nem sempre são bem-sucedidas nessa tarefa, já que as adolescentes demonstram contrapor-se às iniciativas maternas dessa natureza.

Nessas famílias, foi possível perceber que as adolescentes frequentemente assumiam compromissos e tarefas, bem como auxiliavam nas decisões e manejo de alguns problemas domésticos, como os cuidados dos irmãos. Isso parece fazer com que as mesmas desenvolvam autonomia e responsabilidades precocemente, uma vez que, nessa etapa da vida, nas famílias desse nível socioeconômico, tal posicionamento não é comum (Soldatelli, 2007). Por outro lado, diante desse panorama, a adolescente tende a se ver com status de adulta, tomando atitudes por conta própria. Assim, embora essa assunção de tarefas dos progenitores possa ter um viés positivo, levando talvez a um amadurecimento pessoal das adolescentes, pode ser um aspecto negativo, à medida que as participantes comentaram, por mais de uma ocasião, que o pai, quando presente, agia como se fosse o seu irmão mais velho e não como pai, não demonstrando autoridade, precisando ser cuidado, ao invés de ser cuidador. Dessa forma, nessas famílias, a partir da perspectiva das participantes, percebeu-se uma dinâmica familiar diferenciada.

Nesse sentido, a falta de participação do pai na família foi bastante destacada pelas adolescentes. Elas referiram falta de iniciativa paterna em relação aos compromissos da escola, ausência de atitudes de cuidado e de demonstrações afetivas para com elas e atitudes questionadoras frente às tentativas maternas de imposição de limites. Por outro lado, as participantes também observaram, nas condutas do pai, ao retornar para a casa, a compensação pela ausência, através da passividade, da excessiva permissividade e do fornecimento de compensações financeiras. Tal realidade remete a um papel periférico do pai no contexto familiar, relembrando o conceito de ausência em todas as suas nuances (Black et al., 1999; Flouri e Buchanan, 2003; Marshall et al., 2001). Isso porque, nessas famílias, o pai mostrou-se duplamente ausente: tanto quando distante de casa como quando fisicamente presente.

Sendo assim, cabe questionar como é o funcionamento da família nos períodos em que o pai está presente: será que esses homens encontram espaço para uma efetiva participação, quando se deparam com uma estrutura já organizada pela mãe e filhos na sua ausência? Ou, por outro lado, querem eles realmente marcar sua presença? As adolescentes pouco comentaram sobre o espaço cedido pela mãe e por elas (e seus irmãos, quando existentes) para a participação paterna. Em contrapartida, citaram aspectos que indicam certa dificuldade dos pais de marcarem essa presença e desempenharem seu papel parental. Por exemplo, segundo algumas delas, os pais costumavam justificar a sua falta de participação pelo fato de estarem cansados. Assim, ficavam assistindo televisão e, com isso, não se envolviam com a vida da família, o que pode remeter à dificuldade de esses pais estabelecerem contato no curto espaço de tempo em que permaneciam em casa.

Várias explicações podem ser pensadas para essa situação: características de personalidade desses homens, da dinâmica conjugal, conjuntura socioeconômica, entre outros. Por falta de contato direto com esses pais, não foi possível elucidar as razões que motivaram essa escolha profissional, que conduz à privação do convívio familiar e conjugal. Entretanto, independentemente das causas dessa situação, diante desse panorama familiar, percebeu-se uma carência afetiva nas adolescentes. As mesmas expressaram sentir a falta do pai, preocuparem-se com ele e com os riscos que correm durante o período de trabalho, por exemplo, além de compararem sua família com as de outras adolescentes. Elas admitiram muitas vezes apresentar atitudes para chamar a atenção ou demonstrar sua revolta com o pai, como, por exemplo, queixar-se para ele quando estava presente, como uma forma de "descarga" diante da revolta sentida frente à situação de ausência. Percebeu-se, então, que, embora, na adolescência, possa existir certo distanciamento emocional dos pais e a conquista de maior independização (Carter e McGoldrick, 1995; Wagner et al., 2002), isso não significa que os adolescentes não necessitem ainda desses pais, especialmente como fonte de apoio para as suas escolhas e descobertas (Eizirik e Bergmann, 2004; Feldman e Klein, 2003). Nessa mesma direção, outro sentimento elencado pelas participantes foi a solidão, por mais que elas tivessem liberdade e autonomia em suas famílias. Somado a isso, a insegurança ficou evidenciada, pelo medo de perda do amor do pai em virtude do distanciamento.

Também se percebeu revolta das adolescentes, pela falta de êxito de suas tentativas de envolver o pai com a família e aproximar-se dele. A partir de tal situação, as adolescentes pareciam concluir que o pai demonstrava mais dedicação para o trabalho do que para a família, o que acabava por originar críticas à atividade profissional dele. Subjacente a essas críticas, constatou-se, entre essas adolescentes, expectativas positivas em relação à presença paterna, caso a atividade profissional do pai fosse diferente, ou mesmo lembranças positivas da vida em família anterior à realidade profissional paterna. Tal idealização da presença paterna poderia estar contribuindo para inferiorizá-las e repercutindo na sua autoestima, como visto no grupo. Ao mesmo tempo, evidenciava talvez uma forma defensiva de as adolescentes encararem a ausência do pai: não como um movimento pessoal dele, mas sim derivado das suas circunstâncias profissionais desfavoráveis.

A ausência paterna repercutiu também em outros âmbitos da vida das adolescentes. Por exemplo, percebeu-se um isolamento dos amigos por culpa decorrente de momentos de diversão usufruídos com eles, financiados pelos pais. Em geral, é esperado do adolescente um maior convívio com os amigos e, diante disso, saídas noturnas e outras atividades, que se tornam espaços de lazer e de novas experiências sociais e afetivas (Pratta e Santos, 2007). Nesse sentido, tal comportamento das adolescentes parece mostrar o quanto para elas torna-se difícil desvencilhar-se desse papel parental que acabam assumindo e simplesmente serem filhas e adolescentes.

Por fim, talvez de forma compensatória, podem-se evidenciar repercussões da ausência paterna temporária na relação das adolescentes com a mãe. No caso, uma maior proximidade ficou evidente, caracterizando-se, em muitos momentos, como dependência dessa figura, o que contraria o já mencionado movimento de desprendimento familiar esperado na adolescência. Além disso, revela possíveis alianças e conluios familiares da mãe com os filhos contra o pai. Ambos os aspectos caracterizam, em certa medida, um funcionamento diferenciado do sistema familiar (Almeida e Hardy, 2007; Eizirik e Bergmann, 2004; Feijó e Assis, 2004; Felzenszwalb, 2003).

 

Considerações finais

O presente estudo teve por objetivo relatar as atividades desenvolvidas em um grupo operativo realizado com adolescentes do sexo feminino que vivenciavam a ausência paterna temporária, por motivo profissional, para discutir, refletir e conhecer as vivências, sentimentos e percepções das participantes diante das especificidades desse contexto familiar. Nesse sentido, pensa-se que as atividades realizadas foram produtivas, por terem possibilitado conhecer as vivências, os sentimentos e as percepções dessas adolescentes diante das especificidades desse contexto familiar e permitido a troca de experiências entre elas.

As maiores dificuldades na realização do grupo relacionaram-se às questões familiares trazidas pelas adolescentes, que fugiam do foco e das possibilidades de ação da modalidade de intervenção adotada. Dessa forma, verificou-se a necessidade de, em momento posterior, desenvolver um trabalho clínico com as participantes. De fato, algumas delas foram encaminhadas para um atendimento psicoterápico, no qual pudessem ter espaço para refletir sobre essas situações, diante do sofrimento psíquico apresentado. Ainda, adversidades inerentes à coordenação de um grupo foram enfrentadas pela moderadora. Uma delas foi lidar com uma infinidade de solicitações das participantes, que encontraram alguém disposta a ajudar e esperavam dessa pessoa a resolução de todas as dificuldades. Assim, nos primeiros encontros, foi importante adotar uma postura de continência e compreensão, em busca de um entendimento do que estava acontecendo, já que sentimentos de impotência frente à impossibilidade de respostas a essas solicitações das adolescentes foram experimentados pela moderadora.

Já como facilidades no desenvolvimento dessa experiência, tanto para o planejamento das atividades como para o entendimento dos fenômenos observados, pode-se citar o fato de a moderadora do grupo ter um aprofundamento teórico prévio sobre o tema e um conhecimento prévio do público-alvo, em função de outras práticas profissionais já desenvolvidas na escola. Também as atividades propostas facilitaram a expressão e a participação das adolescentes, bem como contribuíram para o caráter focal (e terapêutico) dos encontros. De fato, o uso de técnicas foi apontado como positivo pelas adolescentes, por auxiliá-las a manter a atenção e a criar um ambiente descontraído, no qual não foram apontados somente aspectos positivos de suas vivências, mas também angústias, medos, inseguranças e dificuldades que perpassam a vida em família. As adolescentes elogiaram a iniciativa e comentaram a surpresa pela forma como o grupo se desenvolveu.

A atividade aqui relatada também apresentou algumas limitações. Por exemplo, não foi possível avaliar adequadamente as repercussões da participação da adolescente no seu grupo familiar e nem mesmo observar a adoção de novos recursos emocionais pelas jovens para lidar com essa realidade familiar. Outras limitações decorrem do fato de a intervenção ter sido realizada apenas com adolescentes do sexo feminino e se tratar de uma experiência única, não replicada.

Assim, diante das reflexões suscitadas por esse trabalho, outros aspectos poderiam se transformar em problemas de pesquisa e intervenção. Por exemplo, seria importante saber qual é o papel da mãe em contextos familiares nos quais o pai encontra-se ausente e qual é a percepção desse pai que se ausenta temporariamente sobre sua família. Ainda, a percepção de outros membros da família (como irmãos e avós) sobre essa característica familiar. A partir dessa experiência, verificou-se também a relevância, seja em âmbito institucional ou clínico, da realização de atividades de intervenção em grupo com adolescentes com foco na vida em família, sendo que a presente intervenção, com as devidas adaptações, poderia ser replicada em escolas e outras instituições que têm como público-alvo o atendimento a famílias. Nessa direção, ficou evidente a importância de envolver os pais e as mães em atividades que tenham como objetivo promover a saúde da família, a fim de se obter um panorama mais completo da situação.

 

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Submetido: 15/03/2015
Aceito: 20/08/2015

 

 

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