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Revista de Psicologia da UNESP

versão On-line ISSN 1984-9044

Rev. Psicol. UNESP vol.17 no.2 Assis jul./dez. 2018

 

ARTIGOS

 

Psicólogas empreendedoras: características das profissionais do trabalho e das organizações

 

 

Maria Julia Pegoraro Gai; Vânia Medianeira Flores Costa; Camila Borges Fialho; Luciana Fighera Marzall

Universidade Federal de Santa Maria

 

 


RESUMO

As características de empreendedores são diferenciais para psicólogos que atuam na área organizacional. Considerando a relevância do empreendedorismo no âmbito profissional, buscou-se categorizar as características de empreendedores que apresentam as psicólogas que trabalham com consultoria em Psicologia do Trabalho e das Organizações em Santa Maria (RS). A coleta de dados deu-se por meio de entrevistas semiestruturadas com seis psicólogas organizacionais, passando por análise de conteúdo. Considerou-se com base em Caird as principais características empreendedoras e verificou-se que há predominância dessas características nas psicólogas entrevistadas, ainda que não em todos os aspectos. Entre as seis, apenas duas apresentaram todas as características, sendo predominantes a grande necessidade de realização e a necessidade de autonomia. A característica menos presente nas psicólogas entrevistadas é a tendência criativa, indicando possíveis dificuldades quanto à inovação.

Palavras-chave: Características de Empreendedores, Psicologia Organizacional, Empreendedorismo.


ABSTRACT

The characteristics of entrepreneurs are differential for psychologists working in the organizational area. Considering the relevance of entrepreneurship in the professional context, we sought to categorize the characteristics of entrepreneurs who present the psychologists who work with consulting in Psychology of Work and Organizations in Santa Maria (RS). Data were collected through semi - structured interviews with six organizational psychologists, through content analysis. Based on Caird (2013) as the mai n entrepreneurial characteristics, it was found that there is a predominance of these characteristics in the interviewed psychologists, although not in all aspects. Among the six, only two presented all the characteristics, predominating the great need for accomplishment and the need for autonomy. The least present characteristic of the interviewed psychologists is the creative tendency, indicating possible difficulties regarding innovation.

Keywords: Characteristics of Entrepreneurs, Organizational Psychology, Entrepreneurship.


 

 

Introdução

Entre as opções de atuação do psicólogo, uma possibilidade de destaque e de interesse por parte desses profissionais é a Psicologia do Trabalho e das Organizações (PTO), que é indicada como área seguida por 12% dos psicólogos (Lhullier & Roslindo, 2013). Inseridas nessa área, há um número expressivo de empresas especializadas em Consultoria PTO, meio em que os diferenciais exigidos pelo mercado são cada vez mais difíceis de serem atingidos.

Assim, surgem como destaque os psicólogos que são empreendedores e que acabam tornando-se referência na área. Os psicólogos donos e sócios ou profissionais autônomos desse ramo, geralmente, são os próprios gestores de seus empreendimentos. Dornelas (2016) indica que para ser um empreendedor de sucesso são necessárias competências além das de um administrador, que somado as demandas sociais e ambientais tornam possível a origem a um negócio.

Este trabalho permite visualizar como esses profissionais consultores da área de PTO percebem essa temática, possibilitando uma discussão sobre qual é o perfil desses profissionais. Com base no exposto, definiu-se como objetivo deste trabalho categorizar as características de empreendedores que apresentam as psicólogas que trabalham com consultoria em Psicologia do Trabalho e das Organizações em Santa Maria (RS).

O artigo justifica-se, pois, no caso das psicólogas que trabalham com consultoria é importante conhecer o nível de desenvolvimento de características empreendedoras, uma vez que este tipo de atividade demanda este perfil profissional. Também se justifica para o meio científico uma vez que expande o embasamento teórico-conceitual sobre empreendedorismo e Psicologia do Trabalho e das Organizações. Dessa maneira, a seguir expõe-se o embasamento teórico que discorre sobre empreendedorismo e perfil empreendedor e Psicologia do Trabalho e das Organizações no Brasil. Em sequência, apresenta-se a metodologia utilizada e a análise e discussão dos resultados encontrados no estudo.

 

Referencial teórico

Para adentrar no objeto de pesquisa com melhor aporte teórico a respeito da temática, este estudo inicia com uma revisão da literatura sobre empreendedorismo e perfil empreendedor, Psicologia do Trabalho e das Organizações no Brasil

Empreendedorismo e perfil empreendedor

O empreendedorismo trata da transformação de ideias em oportunidades, onde um conjunto de pessoas unem forças a fim de alçar um objetivo comum. A origem do termo empreendedor é explicada por Dornelas (2016, p. 20) que menciona que "a palavra "empreendedor" (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo". Bessant e Tidd (2009) explicam que os empreendedores são motivados pela necessidade de conquista antes do desejo geral por sucesso e que esse comportamento está atrelado a capacidade de correr riscos de forma racional. A partir disso, destaca-se que essa disponibilidade em correr riscos deve vir somada a capacidade de avaliar de forma coerente e sensata essas situações, prevendo as possíveis consequências.

O empreendedor reúne uma série de características comportamentais específicas, incluindo capacidade de iniciativa, capacidade de implementar novos negócios e estratégias de mudança, coordenar projetos que envolvem inovação e riscos, bem como aceitar possíveis fracassos (Höher, Lima & Fochezatto, 2018). O agente responsável pelo empreendedorismo é o empreendedor, que age na criação de novos produtos ou de novos meios de produção, bem como fatores esses que conduzem ao desenvolvimento econômico de uma organização (Soares, Rocha & De Jesus, 2019).

A respeito dos dados sobre questões de gênero no empreendedorismo, o Brasil e o México possuem as taxas mais equiparadas de empreendedores homens e mulheres dirigentes de novos negócios (GEM, 2017). A pesquisa ainda indica que apesar das mulheres abrirem negócios tanto quanto os homens, estas possuem maior dificuldade para fazer com que suas empresas progridam, possibilitando associações com questões de preconceito de gênero, necessidade de conciliar as tarefas domésticas com a empresa, menor credibilidade por estarem em um espaço mais ligado aos homens e dificuldades para financiamentos.

No presente artigo utilizou-se a categorização de Caird (2013) para descrição do perfil que o autor faz uso no teste Medida Geral da Tendência Empreendedora (TEG), com o qual investiga a presença de características de empreendedores nos avaliados. O autor descreve cinco pilares neste processo que são apresentadas no Quadro 1. Cabe explicar que quanto mais estes atributos estão presentes em uma pessoa, mais esta evidencia possuir um perfil empreendedor.

Com base no exposto no Quadro 1, investigou-se a existência dessas características nos psicólogos entrevistados, no intuito de verificar a presença ou não destas. Em um estudo semelhante sobre características empreendedoras com mulheres gaúchas, Matte et al. (2019) identificaram que os aspectos que mais tiveram destaque foram a persistência, o comprometimento e a cobrança por qualidade e eficiência.

Psicologia do Trabalho e das Organizações no Brasil

Os profissionais da Psicologia no Brasil constituem um público predominantemente feminino, sendo que entre dez psicólogos, nove são mulheres (Lhullier & Roslindo, 2013). Essa informação é corroborada por Lima e Uziel (2013), que explicam que ainda que os cursos de Psicologia estejam recebendo cada vez mais alunos homens, que em muitos casos estão em busca da segunda formação profissional, a presença segue sendo predominantemente feminina.

Em relação a principal de área de atuação dos psicólogos (a que lhes gera maior renda), os resultados da pesquisa do CFP/2012 sobre os profissionais da Psicologia brasileira indicam que a área Organizacional, do Trabalho ou RH foi indicada por 12% dos psicólogos, juntamente com a área da educação, também com 12%, sendo precedida apenas pela área da saúde, com 45% das indicações (Lhullier & Roslindo, 2013). Estes dados revelam que, apesar de não ser a principal atividade desenvolvida pelos psicólogos, a área organizacional acolhe uma grande parcela desses profissionais, especialmente em comparação às demais áreas, considerando-se o histórico de atuação clínica destes profissionais.

A formação profissional complementar na área de PTO ainda no início da carreira é indicada por pode Lhullier e Roslindo (2013) e estar relacionada às falhas na formação acadêmica dos Psicólogos Organizacionais e do Trabalho apontadas por Zerbini (2016). A autora indica a questão da carga horária reduzida destinada à temática em muitas universidades como um fator que influencia diretamente na formação profissional nesta área. Além disso, Grassi (2006) já mencionava a necessidade dos Psicólogos Organizacionais e do Trabalho recorrerem a referenciais teóricos da área da Administração, especialmente sobre Gestão de Pessoas. a autora complementa que essa falta de discussão sobre a PTO na formação acadêmica tem gerado descontentamento por parte desses profissionais.

Zerbini (2016) acrescenta que o trabalho do Psicólogo nesta área deve ser o de buscar a saúde mental dos funcionários, visando compreender e identificar as limitações do ambiente e relacionadas com a política da empresa, além das questões de poder e interesses de cada uma das partes. Assim, é possível propor estratégias que estejam adequadas aos interesses dos funcionários, proporcionando um melhor ambiente e qualidade de vida aos funcionários. Feitas as considerações sobre a literatura na qual o trabalho está embasado, na sequência são apresentados os procedimentos metodológicos adotados.

 

Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa tem caráter descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, de natureza aplicada. Em relação à pesquisa qualitativa, Goldenberg (2011) entende que este método é importante para o estudo de motivações, sentimentos, atitudes pessoais e crenças, por exemplo, que são assuntos difíceis de quantificar. Neste caso a pesquisa qualitativa foi fundamental, visto que os objetivos são entender o perfil e comportamento desses profissionais.

Para a análise dos dados empregou-se a análise de discurso para compreender a fala das psicólogas entrevistadas e extrair o conteúdo semântico e ideológico destas profissionais. O estudo foi estruturado conforme apresenta a Figura 1.

Este estudo contou com a participação de três profissionais psicólogas que são proprietárias de empresas de Consultoria em PTO de Santa Maria (RS) e de três psicólogas autônomas que trabalham nesta área na mesma cidade. As Psicólogas proprietárias entrevistadas foram identificadas a partir das siglas PP1, PP2 e PP3. Para as Psicólogas autônomas, designou-se as siglas PA1, PA2 e PA3. Utilizou-se entrevistas semiestruturadas como ferramenta para coleta de dados. Entre os questionamentos, foram incluídas questões sobre o perfil sociodemográfico e dados da formação das entrevistadas.

Os dados coletados foram submetidos a uma análise de conteúdo segundo Bardin (2016). O processo analítico contou com uma pré-análise, em que se operacionalizou e sistematizou-se as ideias iniciais, seguido da exploração do material coletado. Neste momento, utilizou-se as definições de características de empreendedores elaboradas por Caid (2013) para analisar os dados obtidos. A última etapa, segundo Bardin (2016), é o tratamento dos resultados realizações de interpretações.

 

Apresentação e análise dos resultados

Para compreender melhor as características das participantes deste estudo, identificou-se o perfil sociodemográfico e dados da formação das mesmas. As seis entrevistadas são mulheres, com idade entre 29 e 44 anos, sendo que três não possuem filhos, duas são solteiras e as demais são casadas ou possuem união estável. Entre as seis, apenas uma é natural de Santa Maria e as demais são de outras cidades do Rio Grande do Sul. O fato de todas as participantes deste estudo serem mulheres não é apenas uma coincidência. A partir de dados do CFP, Lhullier e Roslindo (2013) mencionam que 89% dos profissionais da área da são mulheres.

Sobre a formação profissional das entrevistadas, todas possuem curso de especialização; três possuem o curso do Programa Especial de Graduação, que as tornam também licenciadas em Psicologia; uma é mestre em Psicologia e uma está fazendo mestrado em Administração. Destaca-se que quatro das entrevistadas realizaram o curso de Coaching em diferentes níveis. Duas entrevistadas manifestaram o interesse em fazer outras pós-graduações: uma deseja fazer o mestrado em Administração e outra, que já está fazendo esse curso, tem intenção de dar continuidade e fazer doutorado em Administração e a graduação nessa área. As informações sobre a idade das profissionais e suas formações vão ao encontro do que mencionam Lhullier e Roslindo (2013), de que Psicólogos do Trabalho e das Organizações possuem necessidade de buscar desenvolvimento profissional logo no início da carreira, investindo em formação a fim apresentarem-se de forma competitiva no mercado de trabalho.

Em sequência, será apresentada a análise das falas contidas nas entrevistas, com base nas definições de características de empreendedores elaboradas por Caird (2013).

Grande necessidade de realização

A primeira característica analisada refere-se à grande necessidade de realização, conforme a descrição de Caird (2013) mencionada no referencial teórico. Cinco das seis entrevistadas evidenciaram possuir esta característica, que pode ser identificada por meio de suas falas. A PA3 não apresentou este aspecto de maneira satisfatória no momento da entrevista. Em especial, a PP1 demonstrou atender todos os aspectos referentes à necessidade de realização, que compreende, além da necessidade de conclusão de tarefas, a defesa de seus ideais. A respeito do principal aspecto que está inerente a necessidade de realização, que é a capacidade de execução dos objetivos, ressalta-se as passagens da PA1 e da PA2. As entrevistadas PP2, PP3 e PA1 enfatizaram a necessidade de dedicação e proatividade ao executar suas tarefas e objetivos, conforme Quadro 3.

A respeito desta necessidade de realização que impulsiona essas empreendedoras para a execução de suas atividades e conclusão de objetivos, McClelland (1972, p. 110) entende que é "um desejo de realizar as coisas da melhor maneira, não exatamente pelo reconhecimento social ou prestígio, mas, sim, pelo sentimento íntimo de necessidade de realização pessoal". Dessa maneira, é possível compreender melhor o que as faz gerenciar suas empresas e negócios, especialmente considerando os desafios para tornarem-se competitivas no mercado.

A partir dos relatos das psicólogas, demonstra-se que ao apresentarem esse alto grau de necessidade de realização, as mesmas indicam níveis relevantes de motivação. As entrevistadas são capazes de realizar suas tarefas e alcançar seus objetivos e, para isso acontecer, é fundamental que estejam motivadas. Baggio e Baggio (2014) mencionam que existem fatores que podem colaborar para a motivação de um empreendedor, entre estes estão os fatores pessoais, ambientais e sociológicos. Ainda, esses autores compreendem a motivação como um meio responsável pela intensidade, direcionamento e persistência do empenho pessoal a fim da obtenção de um objetivo, e assim, é necessário avaliar que fator é mais efetivo em cada caso.

Necessidade de autonomia

A segunda característica apresentada diz respeito à necessidade de autonomia (Caird, 2013). No que se refere a esta característica, a mesma foi apresentada pelas entrevistadas PP1, PP3, PA1, PA2 e PA3, cujos relatados constam no Quadro 4 e destaca-se que este aspecto não foi identificado no relato da PP2 no momento da entrevista.

Nos últimos anos, de acordo com Robbins, Judge e Sobral (2010), cada vez mais organizações estão possibilitando aos funcionários trabalhar com mais autonomia, fazendo com que os mesmos possam tomar decisões que antes eram destinadas somente para os administradores. Cabe salientar o quanto a tomada de decisão das empreendedoras entrevistadas direcionam o rumo de suas empresas, uma vez que, por participarem ativamente na gestão, são peças fundamentais para esta orientação.

Incluído no descritor de necessidade de autonomia está o gosto por assumir papéis de liderança dos empreendedores, que foi destacado pela PA2. Neste aspecto, Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 359) mencionam que "nem todos os líderes são administradores, nem todos os administradores são líderes". Os autores se referem ao fato de que a liderança pode ser originada em função de cargos de direção em uma organização, por exemplo, configurando uma liderança formal, mas também existem líderes que exercem seu poder de influência para com os demais a fim de atingir metas e objetivos mesmo sem estarem nesses cargos de gerência.

Tendência criativa

A terceira característica proposta por Caird (2013) é a tendência criativa. A partir das entrevistas, verificou-se esta característica nas falas das entrevistadas PP1, PP3 e PA2 conforme apresentado no Quadro 5.

Além da citação da PP1, essa característica também pode ser contatada a partir dos serviços criados pela mesma, em que aspectos de inovação podem ser identificados. Ressalta-se que nas falas da PP2, PA1 e PA3 não foi possível identificar esta característica. Para Robbins, Decenzo e Wolter (2014), a criatividade é a capacidade de associar ideias de forma original ou a capacidade de realizar ligações inesperadas entre elas. Com isso, diferentes produtos, serviços e modos de realizar os processos podem ser feitos de maneira original e mais efetiva.

A criatividade das psicólogas traz benefícios para suas empresas de diferentes maneiras, tendo em vista que esse aspecto indica que as mesmas tendem a conseguir pensar de forma inovadora os seus serviços, meios de solução de problemas e sua diferenciação no mercado. Nesse sentido, Drucker (2015) enfatiza a inovação como ferramenta específica dos empreendedores, uma vez que estes aproveitam as mudanças para criar novas oportunidades de negócios ou serviços.

Correr riscos calculados

A quarta característica proposta por Caird (2013) refere-se ao fato de correr riscos calculados. Esta característica foi evidenciada pelas entrevistadas PP1, PP2, PP3 e PA2 quando mencionaram em suas falas de acordo com o descrito no Quadro 6.

Bessant e Tidd (2009) explicam que a característica dos empreendedores de possuírem grande necessidade de conquista está associada à tendência de assumir riscos de forma moderada, não tomando atitudes arriscadas sem pensar e medir as consequências. É importante ressaltar que as entrevistadas que apresentaram a capacidade de correr riscos calculados também demonstraram ter grande necessidade de realização, como mencionado anteriormente.

Além dessa associação, a capacidade de correr riscos também está relacionada com a criatividade, visto que esta também é relevante no processo de tomada de decisões, pois possibilita uma melhor avaliação e compreensão do problema, considerando aspectos que outras pessoas geralmente não conseguem antever (Robbins, Judge & Sobral, 2010). Assim, é possível afirmar que, para conseguir avaliar um risco de forma eficaz é fundamental a presença da criatividade, a fim de tornar esta análise de riscos o mais abrangente e precisa possível, prevenindo aspectos inesperados ou não que não foram considerados previamente. Neste aspecto, as psicólogas que apresentam capacidade de correr riscos calculados também apresentam tendência criativa, com exceção da PP2.

Controle interno

A última característica descrita por Caird (2013) diz respeito ao controle interno. A partir das entrevistas, as PP3 e PA1 não mencionaram traços dessa característica, que foram observados nos relatos das PP1, PP2, PA2 e PA3 (ver Quadro 7).

Com base no Quadro 7, parece correto afirmar que as entrevistadas que apresentaram essa característica têm o impulsionamento para fazer com que o rumo de suas carreiras seja direcionado por elas mesmas, demonstrando buscarem por oportunidades, uma vez que tomam atitudes para que isso aconteça. Portela, Hespanha, Nogueira, Teixeira e Batista (2008, p.5) explicam que o empreendedorismo é "uma manifestação de liberdade dos indivíduos na resposta às suas necessidades, mas é, simultaneamente, um fator de promoção humana para além de um instrumento de criação de riqueza". Assim, o ímpeto empreendedor tende a ser propulsor de mudanças e atitudes decisivas para condução do próprio futuro.

 

Discussão

A capacidade transformadora do empreendedorismo é salientada por De Conti e Faria (2016), que entendem que o empreendedorismo faz com que as pessoas transcendam suas limitações a fim de sanar as exigências internas e externas. Autores também mencionam os impactos dessas transformações na sociedade, uma vez que os empreendedores acabam exercendo influência nas pessoas e na sociedade. Camargo, Lourenço e Ferreira (2018) também mencionam essa capacidade de mudança da sociedade em que está inserido, ao mesmo tempo em que também é modificado por ela em função da avaliação do seu papel e da associação entre os riscos e benefícios de seu negócio.

De maneira a concluir o objetivo deste estudo que foi o de categorizar as características de empreendedores que apresentam as psicólogas que trabalham com consultoria em Psicologia do Trabalho e das Organizações em Santa Maria (RS), é possível inferir que a maioria das categorias das características de empreendedores propostas por Caird (2013) são apresentadas pelas psicólogas entrevistadas (ver Quadro 8). Isso indica que, ainda que não em sua totalidade, essas características estão presentes no seu fazer, dentro de suas empresas e refletem nas ações diretas com os clientes.

Ao analisar o Quadro 8, verifica-se que as psicólogas entrevistadas apresentam características que tendem a estar mais compatíveis com perfil de empreendedores do que de empresárias tradicionais, especialmente por evidenciarem uma maior incidência de características deste perfil. Cabe salientar que a característica menos presente nas psicólogas entrevistadas é a tendência criativa. Este dado evidencia uma disposição nas psicólogas de possuírem maior dificuldade em relação à inovação. Drucker (2015) percebe a inovação como ferramenta essencial dos empreendedores, pois a partir de mudanças os mesmos conseguem dar origem a novas formas de negócios e serviços.

A respeito do desenvolvimento de competências empreendedoras, Campos e Lima (2019) explicam que aspectos relacionados ao comportamento empreendedor e a questões cognitivas exercem uma influência positiva na busca pela promoção de competências empreendedoras. Entre as implicações deste estudo, destaca-se a criatividade como a característica a ser mais estimulada por parte das psicólogas empreendedoras, facilitando a busca por inovação nos seus serviços. Como limitações, destaca-se a dificuldade na coleta de dados, especialmente, com as entrevistadas via web, nas quais as informações obtidas não foram tão completas e detalhadas quanto as que foram feitas de forma presencial.

 

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Recebido em: 28/10/2018
Aprovado em: 04/02/2019

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