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Revista do NUFEN
versão On-line ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.8 no.2 Belém 2016
Artigo
Consumo alcoólico por estudantes de Ciências Agrárias de uma Universidade Pública do Centro-Oeste Brasileiro
Alcohol consumption by students of agricultural sciences of a public university in the Brazilian Midwest
El consumo de alcohol por los estudiantes de ciencias agrícolas de una universidad pública en el medio oeste de Brasil
Ítalo Weiner Martins de Oliveira; Marciana Gonçalves Farinha; Sinésio Gomide Junior
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
O objetivo deste estudo foi investigar o perfil de consumo de álcool em uma amostra de estudantes de uma universidade pública do centro-oeste brasileiro. Participaram do estudo 85 alunos, dos cursos de ciências agrárias oferecidos pela instituição. Deste, 50 (58,82%) dos estudantes eram do sexo masculino e 35 (41,18%) eram do sexo feminino. A maioria dos participantes possuía até 30 anos de idade (97,65%) e a maioria (90,59%) declarou ser casada. A maior parte (70,59%) declarou fazer uso de bebidas alcoólicas. Foi possível observar, através da comparação com outros estudos semelhantes, que o número de consumo de bebidas pelos universitários tem crescido o que requer atenção pelos prejuízos que podem vir a causar.
Palabras-clave: Álcool; AUDIT; Universitários.
ABSTRACT
The aim of this study was to collect data about the consumption of alcohol in a sample of students from a University Center of the Brazilian Midwest. The study had 85 participants, these are students of agricultural sciences courses offered by the institution. Results indicated that 50 ( 58.82 % ) of the students are male and 35 ( 41.18% ) are female. Most participants have up to 30 years of age ( 97.65 % ), and most ( 70.59 % ) reported making use of alcoholic beverages. It was observed by comparison to similar studies that the number of beverage consumption by college students has grown , which requires attention for the damage that may cause.
Keywords: Alcohol, AUDIT, University
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue investigar el perfil de consumo de alcohol de una muestra de estudiantes en una Universidad Pública del Centro-Oeste brasileño. Participaron del estudio 85 alumnos, de los cursos de ciencias agrarias ofrecidos por la institución. De estos, 50 (58,82%) eran del sexo masculino, y 35 (41,18%) eran del sexo femenino. La mayoría de los participantes tenía hasta 30 años de edad (97,65%)y la mayoría (90,59%) declaro estar casada. La mayor parte (70,59%) declaró consumir bebidas alcohólicas. Fue posible observar, a través de la comparación con otros estudios semejantes, que el número de consumo de bebidas alcohólicas por los universitarios viene en aumento lo que requiere atención por los daños y prejuicios que pueden ocasionar.
Palabras-clave: Alcohol, AUDIT, Universitarios.
INTRODUÇÃO
O consumo de bebidas alcoólicas, quando feito de maneira não abusiva, é considerado um comportamento normal na grande maioria dos países (Abreu et al., 2001). Ainda para esses autores, a partir do século XX, o consumo de bebidas etílicas como cerveja e vinhos, tornou-se comum em todo o mundo, devido ao fenômeno da produção em escala industrial. Assim, cerveja e vinho passam a estar inclusas na dieta das pessoas com frequência diária, principalmente no continente europeu. Outro aspecto importante (Pechansky, Szobot, & Scivoletto, 2004) é que o uso de álcool está associado à morte violenta, queda no desempenho escolar, dificuldades de aprendizado, prejuízo das habilidades cognitivo-comportamentais e emocionais, modificações neuroquímicas com prejuízos na memória, aprendizado e controle dos impulsos, além de outros prejuízos sociais.
Para discorrer sobre os prejuízos que podem ser atribuídos à bebida, uma pesquisa global realizada pela World Health Organization [WHO] (2011) mostra o uso abusivo do álcool como um dos principais riscos à saúde das pessoas em todo o mundo. Ele contribui como um fator causal em mais de 60 tipos de doenças e lesões, o que elevou o número de mortes atribuíveis ao consumo de álcool a 2,25 milhões em 2004. Conforme constatado pela pesquisa, 4% de todas as mortes ocorridas no mundo, no ano de 2004, estão, de certa forma, atribuíveis ao álcool. Ainda segundo a WHO (2011) o uso abusivo de álcool também demonstrou ser particularmente fatal no grupo de homens jovens com idade entre 15 e 59 anos.
Neste sentido, Segatto, Silva, Laranjeira e Pinsky (2008), em estudo realizado em um pronto socorro, encontraram uso problemático do álcool em 36,2% dos pacientes, detectando presença de consumo em vítimas de atropelamentos (60%), em acidentes gerais como agressões, quedas e afogamentos (44%) e 40% em acidentes de trânsito.
Levantamento realizado em 2007 pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), que buscou avaliar o consumo de álcool entre a população brasileira, apontou que o uso regular de bebidas alcoólicas pelos adultos jovens se inicia aos 17,3 anos.
Outro estudo, realizado em uma universidade pública do estado de São Paulo com estudantes de todos os cursos de graduação (Wagner & Andrade, (2008) apontou que houve um salto no consumo de 88,5%, para 91,9% em um intervalo de apenas cinco anos (1996/2001).
Na busca para entender este aumento do consumo entre a população universitária, os estudos de Peuker, Fogaça, & Bizarro, (2006) contribuem para a compreensão de fatores que possam aumentar o consumo de tais substâncias, afirmando que há décadas é possível observar diferentes fenômenos que justifiquem um alto consumo entre universitários como facilitação das interações sociais, aplacamento das emoções negativas, efeitos positivos no humor e na avaliação de si mesmo. Os autores ainda reforçam que a vida universitária pode ser um período crítico na vida do sujeito, elevando a vulnerabilidade e dando início ao início do uso álcool ou a sua manutenção.
Pesquisas como a de Lucas et al. (2006) têm apontado um aumento do consumo, em alguns casos atingindo o nível do “beber problemático”, também conhecido como “Binge Drinking” (o consumo de cinco ou mais doses em um período de pelo menos uma vez nas últimas duas semanas para homens ou quatro ou mais doses no mesmo período para mulheres). Uma dose alcoólica é equivalente a uma lata de 350 ml de cerveja, um pequeno copo (120-150 ml) de vinho ou uma dose (30 ml-50 ml) de destilado (cachaça ou whisky, por exemplo).
A respeito do consumo excessivo, Souza et al. (1999) estudaram a relação entre o consumo de álcool por estudantes de medicina de uma universidade pública do estado do Ceará e prejuízos no desempenho acadêmico. Os dados encontrados apontam o crescimento do uso sendo que, em um período de 30 dias, foi possível detectar aumento de 57,7% para 80,3%. Nesta mesma amostra, 31,5% dos respondentes declararam ter tido problemas decorrentes do consumo, como comportamentos prejudicais em relação às aulas (falta de atenção, sono, atrasos, ausência ou saídas das aulas antes do horário de encerramento, reclamações ou dormir no decorrer das aulas) ocorridos ao menos uma vez durante as atividades acadêmicas.
Wagner e Andrade (2008) apontam para um dado preocupante. Segundo os autores, o consumo abusivo de álcool pelos estudantes de nível superior se relaciona diretamente à diminuição da expectativa de vida dessa população, estando este consumo diretamente ligado a comportamentos de risco.
Em um curso de medicina, desta vez a amostra de estudantes de uma faculdade em Salvador, um levantamento realizado por Lemos et al. (2007), gerou informações importantes, não somente sobre o consumo de alcoólicos, mas também de outras substâncias ilícitas. Os dados mostram que, no contexto da amostra, o consumo de drogas era feito com finalidade recreacional e com baixa frequência, enquanto o consumo de bebidas com teor alcoólico se dava em uso frequente.
Em outro trabalho, Lucas et al. (2006), em levantamento realizado em uma universidade pública da região norte do Brasil que envolveu 521 estudantes, apontou que grande parte dos estudantes (87,7%) consome ou já consumiu bebidas alcoólicas na vida e o consumo abusivo foi relatado por 12,4% dos entrevistados, sendo que, desses, 47,8% haviam ingerido bebidas alcoólicas até atingir o estado de embriaguez em algum momento da vida, 6,1% o haviam feito em um período de 1 a 5 dias no último mês, 4%, de 6 a 19 dias e 2,9%, de 20 dias ou mais.
Como fonte de pesquisa consultou-se bancos de dados acadêmicos (SCIELO e BVS) onde foram encontradas seis pesquisas: Wagner e Andrade, (2008); Peuker et al. (2006); Souza et al. (1999); Galduróz e Caetano (2004); Lemos et al. (2007); Lucas et al. (2006). Todos os estudos reforçaram a importância de estudos de abrangência local para que se obtenham informações mais precisas sobre o consumo de álcool pelos discentes de diferentes centros de ensino. Diante da literatura consultada, este estudo teve por objetivo obter o perfil de consumo de álcool em uma amostra de estudantes de uma universidade pública do centrooeste brasileiro.
MÉTODO
Este é um estudo realizado a partir de dados coletados de uma amostra de alunos devidamente matriculados, de ambos os sexos e desconsiderando-se o fator idade. em uma universidade pública do centro-oeste brasileiro.
Os alunos foram convidados a responder um questionário estruturado denominado Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT) para verificar a frequência e o padrão do uso de álcool e de questões de caráter sociodemográfico para levantar dados como idade, curso, sexo, escolaridade dos pais, informações sobre trabalho e sobre o curso que faz. O AUDIT é um instrumento desenvolvido pela OMS, cuja finalidade e identificar pessoas em situação de consumo de risco, uso nocivo e dependência de álcool.
O AUDIT consiste em dez questões que avaliam o consumo de álcool nos 12 meses anteriores a sua aplicação com escores variando de 0 a 40. Uma pontuação igual ou superior a oito requer um diagnóstico específico.
A aplicação não requer treinamento especializado e foi realizada por colaboradores. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento de Participação.
RESULTADOS
A amostra foi constituída por 85 participantes, sendo, em sua maioria, homens (50 – 58,82%). A idade dos participantes predominante localizava-se no extrato de faixa etária de até 30 anos (83 - 97,65%) enquanto o estado civil mais relatado foi solteiro (77 – 90,59%). Outro dado importante é o de que a maioria dos participantes não estava inserida no mercado de trabalho (90,59%) e residia com familiares (55 – 64,71%). Na questão sobre a percepção que se os participantes possuíam ou não parentes que já tiveram problemas com bebidas alcoólicas, prevaleceram as respostas negativas (42,03% e 57,97%, respectivamente). A maioria informou, ainda, que a bebida não tem importância em sua vida (82,35%), sendo que a incidência de pessoas que bebiam foi maior do que as que declararam não beber (70,59% e 29,41% respectivamente), embora informassem, também, que possuíam familiares que faziam uso do álcool (65,88%).
Sobre a quantidade de bebida alcoólica consumida por ocorrência, o resultado se mostrou maioritariamente positivo para o consumo de nenhum copo de bebida (83 – 97,65%). Entretanto, quando perguntados sobre a importância da bebida em suas vidas, 15 participantes (17,65%) deram resposta positiva e um número ainda maior confirmou a ingestão de bebidas (70,59%). Relativo aos locais de consumo, a maioria informou serem “Outros Lugares/Vários” (49,41%), seguidos pela opção de consumo em festas (14,12%) e em suas próprias casas (9,41%).
Quando perguntados sobre a frequência da ingestão, prevaleceram as respostas que apontavam para maiores consumos nos finais de semana (38,82%) e em festas (28,24%) sendo que a maioria dos entrevistados admite que a bebida alcoólica lhes provocam sensações positivas (51,76%). Possuíam o habito de ingerir bebidas destiladas e fermentadas na mesma ocorrência (45,88%) ou fermentadas unicamente (36,47%).
Referente aos dados econômicos da amostra é possível notar que a condição econômica familiar relatada pelos estudantes se concentra na classe C (45,88%) e B (37,65%). Entretanto também houve representantes das demais classes socioeconômicas (classe A, 3,53% e D e E, 9,41%). Os participantes ainda informaram possuir pais dos com ensino médio completo (47,67%). Os participantes relataram consumo de bebidas alcoólicas de duas a quatro vezes por mês (36,47%), havendo uma incidência importante de indivíduos que disseram consumir álcool de duas a três vezes por semana (11 - 12,94%) e ainda outros que relataram consumo com frequência de quatro vezes por semana, ou mais (4,71%).
Sobre a quantidade de doses ingeridas em um dia comum de consumo, grande parte disse consumir zero ou uma dose (70,59%). Outros participantes (3,53%) declararam consumir em média seis ou sete copos (3,53%) havendo ainda aqueles que declararam consumir 8 ou mais doses por ocasião (7,06%). Por outro lado, 38,82% dos participantes declararam nunca chegar a consumir mais do que cinco doses por ocasião, 23,53% afirmaram consumir cinco ou mais doses uma vez ou menos por mês e 21,18% afirmaram consumir ao menos uma vez por mês. Uma pequena parte declarou realizar este consumo acima de cinco doses uma vez por semana (12,94%) ou quase todos os dias (1,18%). Esta distribuição torna-se interessante quando relacionada com as respostas dadas quando os sujeitos assinalaram qual a quantidade de vezes, ao longo dos últimos doze meses, em que acreditaram não conseguirem parar de beber depois de ter começado (73 - 85,88%). Quando questionados sobre quantas vezes, ao longo dos últimos doze meses, o participante não conseguiu fazer o que era esperado por causa do álcool, a resposta “nunca” (81,18%) teve destaque sobre as demais opções de resposta que foram “menos que uma vez por mês” (12,94%) e “uma vez por semana” (4,71%%).
Arguidos sobre quantas vezes, ao longo dos últimos doze meses, 82 participantes (96,47%) foi necessário beber pela manhã para poder se sentir bem ao longo do dia, após ter bebido no dia anterior, declararam nunca ter passado por este tipo de necessidade, enquanto uma pequena parcela declarou ter esta necessidade ao menos uma vez por semana (2 - 2,35%). Quando perguntado quantas vezes, ao longo dos últimos doze meses, o indivíduo se sentiu culpado ou com remorso após ter bebido, uma grande parte (75,29%) negou ter passado por esta situação, enquanto que outras respostas se dividiram entre as alternativas “menos que uma vez por mês” (10,59%), “uma vez por mês” (5,88%), “uma vez por semana” (3,53%) e “quase todos os dias” (3,53%).
Perguntou-se quantas vezes, ao longo dos últimos doze meses, a pessoa foi incapaz de lembrar o que aconteceu devido à bebida, a maior parte negou que algo assim tivesse acontecido (67,06%) enquanto que também houve respostas relatando este tipo de ocorrência “menos de uma vez por mês” (22,35%), “uma vez por mês” (4,71%), “uma vez por semana” (3,53%) e “quase todos os dias” (1,18%).
O inquérito a respeito de situações graves como causar ferimentos ou prejuízos a si mesmo ou a alguma outra pessoa após ter bebido, teve um número considerável de negativas (84,71%) o que não descarta as informações de que alguns indivíduos admitiram ter passado por alguma situação danosa durante o último ano (8,24%).
A preocupação de algum conhecido para com o hábito etílico dos sujeitos da pesquisa, em grande parte foi tida como nula pelos participantes (74,42%), enquanto que outra parcela dos respondentes admite terem sido alvo da preocupação de terceiros, tendo isso acontecido, no último ano (15,12%), ou anteriormente a isso, mas não nos últimos doze meses (9,30%).
Quando analisadas as informações relativas às diferenças entre os sexos quanto ao consumo de álcool, percebeu-se que não há grandes variações no uso do álcool entre homens e mulheres, no que se refere ao consumo de baixo risco. Entretanto, o consumo por homens tem um leve destaque sobre o das mulheres quando se analisa os scores com pontuação que indica provável dependência.
Quando confrontadas as idades dos participantes com pontuações que indicam provável dependência, embora os solteiros tenham se indicado como aqueles que menos fazem uso de álcool.
Quanto à questão familiar e comparando os score com a existência de familiares que bebem, a pesquisa revela que desde os scores de consumo de baixo risco até os com pontuação que indica provável dependência, a presença de pais que bebem é alta.
Sobre a escolaridade dos pais, o score zero revelou alguma relação, principalmente, a pais com ensino médio de escolaridade e, também, em menor número, pais com ensino universitário e fundamental, padrão que também se repete nos score com pontuação que indica provável dependência.
Promovendo uma comparação entre o AUDIT e a classe socioeconômica, as classes B e C tiveram maior representação na amostra com pontuação zero. Entretanto, estas classes também se mostraram recorrentes em todos os níveis de pontuação juntamente com as classes D e E, sendo que a única exceção se deu para os participantes classificados em faixa econômica A, que se mantiveram entre as pontuações de score zero e dez.
A respeito da comparação do score AUDIT e a importância da bebida na vida destas pessoas, prevaleceu, em grande parte, a resposta negativa, sendo ela unânime nos scores de consumo de baixo risco. Entretanto, nas pontuações que indicam provável dependência as respostas que eram em maioria negativas deram lugar às positivas.
Sobre a frequência da ingestão de bebidas relacionadas ao score AUDIT, houve grande número de ausências no score zero (o que se justifica pelo próprio teor da pergunta: se não se bebe, não se bebe em lugar nenhum), e nos scores médios o consumo se mostrou variar entre finais de semana e exclusivamente em festas, o que chama a atenção é que nos score que indicam provável dependência, a alternativa maioritariamente predominante foi consumo de bebidas alcoólicas aos finais de semana.
Comparando o AUDIT e o tipo de ingestão, verifica-se que nos scores de consumo de baixos e médios riscos não houve grandes diferenças de preferência, sendo que a bebida poderia ser tanto a fermentada, como ambos os tipos de bebida (fermentadas e destiladas). Nos scores que indicam provável dependência, prevalece a resposta de preferência por ambos os tipos de bebida.
Sobre os scores do AUDIT e o motivo do início do uso, os donos dos scores de consumo de baixo risco e dos scores médios, disseram ter começado a beber, principalmente, por conta influência dos seus amigos e, posterior a esta colocação, está a influência da família para o início do consumo.
Por fim, registre-se que, na execução do AUDIT, foi possível identificar que 85 indivíduos (67,86%) estão na faixa de baixo risco em relação ao uso, 20 indivíduos (23,81%) realizam uso de risco, 4 indivíduos possuem uso nocivo (4,7%) e 3 indivíduos (3,52%) estão na faixa de provável de dependência.
DISCUSSÃO
De acordo com os resultados apresentados, a maioria dos indivíduos possui idade entre 18 e 30 anos, sendo que estes, em sua maioria, são pertencentes às classes econômicas B e C. A respeito do gênero dos componentes da população, percebe-se que mesmo o consumo dos participantes do sexo feminino, sendo inferior ao consumo dos participantes do sexo masculino nos níveis de provável dependência (20 pontos ou mais no AUDIT). Nos níveis de consumo de baixo risco (0 a 7 pontos), encontra-se um total de 57 participantes da amostra (67,05%) dos quais 28 (49%) são do sexo feminino e 29 (50,9%) do sexo masculino. Destes, 19 participantes (22%) pontuaram em zero, o que significa que não fazem uso de nenhum tipo de bebida.
Quanto aos participantes que marcaram pontuação correspondente às categorias acima do consumo de baixo risco (pontuação acima de 8 pontos no AUDIT) tem-se um total de 27 participantes, sendo 7 mulheres (25%) e 20 homens (74,07%), dados que, quando comparados com pesquisas como a de Figlie, Pillon, Dunn, e Laranjeira (2000), revelam uma pequena alteração no padrão de consumo entre os sexos. Em seus estudos, as autoras retratam dados de um hospital geral, com 275 pacientes de ambos os sexos, quando se revelou que 34 eram participantes que ficaram acima da categoria de consumo de baixo risco, sendo 30 (88,2%) homens e 4 (11,7%) mulheres, situação que, comparativamente sugere um aumento no consumo de bebidas alcoólicas por mulheres em nossa amostra. Esta informação se contrasta com outras comuns até então na literatura como na afirmação feita por Andrade, Duarte, & Oliveira (2010) em um estudo sobre o padrão de consumo dos estudantes universitários nas 27 capitais brasileiras, quando os autores destacam que seus estudos apontam uma incidência maior em indivíduos do sexo masculino, principalmente, no nível de consumo moderado e de alto risco. Geralmente, homens apresentam maior frequência de diferentes padrões de uso de álcool, especialmente de consumo abusivo e de problemas decorrentes do uso de drogas, situação esta que se compara ao estudo realizado com indivíduos adultos (20 a 69 anos) residentes na zona urbana da cidade de Pelotas como no estudo de Costa et al. (2004) que mostra uma incidência maior de alcoolismo em homens (22%) contra 3% em mulheres.
Sobre o fator do consumo relacionado à idade, a baixa variabilidade da idade dos indivíduos (97,65% correspondia à parcela da amostra que possuía até 30 anos de idade) não permitiu que qualquer estudo comparativo fosse realizado. Entretanto, é possível estabelecer uma relação com a pesquisa de Andrade et al. (2010) quando os autores concluem que nas faixas etárias estudadas (jovens entre 18 e 24 anos) bebiam mais do que os de outras faixas etárias conforme os períodos pesquisados em seu trabalho (na vida, nos últimos 12 meses ou nos últimos 30 dias) o que parece indicar uma relação entre a faixa e o aumento no padrão de consumo. Neste sentido, Ronzani et al. (2009), em estudo realizado com estudantes do ensino médio com idades variando de 14 a 19 anos, chamam a atenção para correlação positiva entre expectativas positivas sobre os efeitos do uso de álcool e o comportamento de consumo entre os adolescentes.
Sobre a questão do tipo de moradia, não foi detectada predominância significativa do beber em nenhum estilo de moradia, tendência que se estende também para o fator de ter pais que bebem, sendo que suas escolaridades também não apontam para correlações com o aumento ou diminuição de pontuação da amostra. Esta informação contraria os resultados dos estudos de Borini et al. (1994) sobre o consumo de álcool de estudantes de uma faculdade de medicina do estado de São Paulo que revelaram maior incidência de consumo de bebidas alcoólicas entre os estudantes que residiam com a família e em hotéis ou pensões (77% e 72% respectivamente) que tiveram porcentagens menores que entre aqueles que moravam em repúblicas (83%) ou sozinhos (84%).
O estado civil aponta para os casados como aqueles que não chegaram a atingir a pontuação mínima para ser considerada acima do nível de consumo de baixo risco, como no estudo de Jomar, Abreu e Griep (2014) que, em investigação com usuários de uma unidade básica de saúde carioca, apontam os solteiros (10% da amostra) como prováveis dependentes, contra um número inferior de participantes casados (3%).
Quanto ao aspecto ‘emprego’, aqueles que informaram possui-lo se mantiveram nos níveis de consumo de baixo risco (5,9%); resultado este que contraria os obtidos por Jomar et al. (2014), quando os participantes empregados pontuaram mais (7,6%) que os não-empregados (1,9%).
A baixa taxa de respostas sobre a quantidade de bebida alcoólica consumida por ocorrência pode indicar que, para a população em questão, o consumo não é recorrente, informação que parece confirmada pelas respostas relativas ao consumo correspondente ao uso da bebida apenas em festas ou em finais de semana e pelo percentual de respostas (81,17%) relativas ao consumo de 0 a 4 vezes por mês. As respostas também apontam que 70,59% não consomem ou consomem apenas uma dose por ocasião, nunca tiveram a experiência de não conseguir parar de beber, assim como também afirmaram não terem tido a experiência de não conseguir fazer o que era esperado por conta do álcool ou terem precisado beber pela manhã para poderem se sentir bem ao longo do dia.
Quando perguntados sobre o tipo de imagem que a bebida tinha para eles, as respostas se dividiram bem entre “positivas” (51,76%), “outras” (29,41%) e “ausência de resposta” (16,47%). As respostas de imagem positiva podem ser justificadas pelas conclusões de Baumgarten, Gomes e Fonseca (2012) que afirmam existir relação destas imagens com a criação de memórias afetivas positivas ou âncoras para tomadas de decisão.
Sobre o tipo de bebida mais consumida, os participantes afirmaram ter o costume de fazer uso combinado de bebidas destiladas e fermentadas na mesma ocorrência. Este resultado está conforme os de Pillon, O'brien e Chavez (2005) que encontrou, em estudantes de primeiro ano de graduação das áreas biológicas, exatas e humanas, que o consumo de bebidas alcoólicas se distribui, quase igualmente, entre as bebidas fermentadas (27%) e as destiladas (22,5%) para os usuários de álcool em padrão moderado, enquanto que a mesma pesquisa revela que o consumo de fermentados é maior entre aqueles que declararam grande consumo.
Sobre o excesso do uso da substância e os danos causados devido a este comportamento, é possível reconhecer que menos de um terço da amostra (23, 53%) já sentiu remorso depois de ter bebido; uma quantidade um pouco maior de participantes (31,77%) declarou já ter perdido a memória devido à bebida e (14,12%) declararam terem causado danos a si mesmos ou aos outros enquanto estavam embriagados ao menos uma vez na vida. Por outro lado, 24, 42% dos participantes relataram ter algum parente que já demonstrou preocupação com seu padrão de consumo tendo isso acontecido no último ano, ou anteriormente. Resultados consonantes foram obtidos por Rocha et al. (2011) que, em pesquisa com estudantes de faculdades de medicina do estado de Minas Gerais encontrou, com relação ao sentimento de culpa ou remorso após o uso de bebidas alcoólicas, um número semelhante dos estudantes (25,9%) que relataram ter tido estes sentimentos em algum momento. Um dado que chama a atenção é que 9,3% dos acadêmicos de medicina já haviam sido aconselhados ou orientados a parar de beber por amigos, parentes ou profissionais de saúde, sinalizando para algumas dificuldades que não estão sendo percebidas pelos universitários como consumo de risco, mas já sinalizando para problemas com o consumo de bebidas etílicas.
Sobre este assunto, Kaplan, Sadock e Grebb (1997) afirmam que as consequências do alto consumo podem ser de ordem crônica ou aguda. As da primeira categoria geram desordem em fenômenos de origem psíquica, (como o desenvolvimento de psicopatologias, facilmente observáveis em casos de depressão e ansiedade) enquanto as de ordem aguda incluem acidentes de trânsito, intoxicação, atos de violência e abuso sexual, sexo desprotegido e problemas acadêmicos (aprendizado e comportamentos inadequados).
Nesse estudo, foi verificado que a maioria dos acadêmicos (67,05%) ficou na zona de baixo risco, ou seja, pessoas que segundo as sugestões de Rocha et al. (2011) podem se beneficiar com informações sobre consumo do álcool. Entretanto, 23,5% dos informantes atingiram pontuação característica de uso de risco, ou seja, embora não estejam atualmente com problemas, consomem bebidas alcoólicas que caracterizam uso que sinaliza a necessidade de orientação e prevenção. A pontuação de 4,7% dos participantes ficou na zona de uso nocivo, ou seja, provavelmente já apresentam problemas e fazem uso do álcool excedendo limites. Nestes casos, Rocha et al. (2011) indicam aconselhamento para a mudança do padrão de beber, análise dos fatores que contribuem para o beber excessivo e treinamento de habilidades para lidar com estes fatores. E ainda houve aqueles que atingiram a pontuação referente a provável dependência (3,5%) que, segundo Moretti-Pires e Corradi-Webster (2011) sugerem que, a partir da identificação deste risco, torna-se possível ao profissional oferecer orientações personalizadas, focadas no padrão de consumo individual, possibilitando um trabalho de prevenção e promoção de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a questão do uso de álcool entre estudantes das ciências agrarias merece um enfrentamento em nível preventivo. A questão do uso de álcool poderia ser trabalhada através de um programa de prevenção dirigido para a população universitária.
Pode-se apreender, ainda, que o consumo de bebidas pelos universitários tem aumentado quando comparados a resultados encontrados na literatura, principalmente, relativos à última década, o que parece indicar a necessidade de projetos preventivos que minimizem possíveis prejuízos a esta população, dadas as condições reconhecidamente vulneráveis a que está exposta.
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Notas sobre os autores:
Ítalo Weiner Martins de Oliveira: graduando do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia – MG, Brasil. Email: italo_xc@hotmail.com
Marciana Gonçalves Farinha: Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (IPUFU), Uberlândia – MG, Brasil. E-mail: mgfarinha@hotmail.com
Sinésio Gomide Junior: Professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (IPUFU), Uberlândia – MG, Brasil. Email: sinesio.gomide@ufu.br
Recebido em: 11/09/2016.
Aprovado em: 29/11/2016.