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Revista do NUFEN
versão On-line ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.9 no.2 Belém 2017
Artigo
Lugar do sentido
Place of Meaning
Hogar de los sentidos
Elisabete Rodrigues dos Reis
Universidade Federal Fluminense
RESUMO
Reflexão sobre a perspectiva da experiência como possibilidade de compreensão e interpretação dos espaços habitados. A partir dos aportes teóricos desenvolvidos pelo arquiteto Christian Norberg-Schulz, na edição dos clássicos Intentions in Architecture; Existence, Space and Architecture; Genius Loci, Towards a Phenomenology in Architecture e da aplicação da fenomenologia como método aplicado na construção do conhecimento e da criação arquitetônica, ocupamo-nos em explicitar alguns dos principais conceitos elaborados pelo autor. Nosso objetivo principal é descrever a potencialidade dos referidos conceitos e as idéias difundidas pelo autor na constituição de sentido na arquitetura. Considerando a heterogênese e a multiplicidade de variantes que compõem o cenário arquitetônico, expandimos a reflexão pela busca de proximidades e diálogos com outros referenciais teóricos e autores que também se debruçaram nos estudos das variantes inter-relacionais que configuram os espaços habitados, aqui entendidas como dimensões imaginárias, simbólicas e afetivas.
Palavras-chave: Lugar; Paisagem; Espaço existencial; Tempo
ABSTRACT
A reflection about the perspective of experience as a possibility of compreension and imterpretation of inhabited spaces. From the theoretical approaches developed by the architect Christian Norberg-Schulz, in the classical publications Intentions in Architecture; Existence, Space and Architecture; Genius Loci; Towards a Phenomenology in Architecture, and from the use of phenomenology as a method applied in the construction of knowledge and architectural creation, we occupy ourselves in explaining some of the principal concepts created by the author. Our main objective is to describe the potentialities of these concepts and the ideas presented by the author in the constitution of meaning in architectiure. Considering heterogenesis and the mutiplicity of variables which compose the architectural scene, we amplifyed the reflection on the search for proximities and dialogues with other theoretical references and authors having assumed other studies of inter-related variables which configure inhabited spaces, here comprehended as imaginary dimensions, simbolic and affective.Keywords: Place; Landscape; Existential space; Time
RESUMEN
Una reflexión sobre la perspectiva de la experiencia como possibilidad de compreensión e de interpretación de los espacios habitados. Partiendo de las consideraciones teóricas desenvolvidas por lo arquitecto Christian Norberg- Schulz, en la edición de los clássicos Intentions in Architecture; Existence, Space and Architecture; Genius Loci, Towards a Phenomenology in Architecture y de la aplicación de la fenomenología como método aplicado en la construcción del conocimiento y de la creación arquitectónica, nos ocupamos en explicitar algunos de los principales conceptos elaborados por el autor. Nuestro objetivo principal es describir la potencialidad de los referidos conceptos y las ideas difundidas por el autor en la constitución de sentido en la arquitectura. Considerando la heterogénesis y la multiplicidad de variantes que componen el escenario arquitectónico, expandimos la reflexión por la búsqueda de proximidad y diálogos con otros referenciales teóricos y autores que también se inclinaron en los estudios de las variantes interrelacionales que configuran los espacios habitados, aquí entendidas como dimensiones imaginarias, simbólicas y afectivas.Palabras-clave: Lugar; Paisage; Espacio existencial; Tiempo
ASPECTOS DISTINTIVOS EM NORBERG-SCHULZ
As vizinhanças e as cidades também têm almas, almas complexas, formadas pela influência de gerações sucessivas. (…). A alma de qualquer cidade é individual por direito, uma presença formada gradativamente com a passagem do tempo e por todo o povo que lá viveu e lá experimentou suas alegrias e tristezas por todos os séculos. Quanto mais velha é uma cidade, menos a sua alma pode (deve) ser alterada pelas gerações derradeiras. Veja Roma, por exemplo: por centenas de anos ela foi o ponto de encontro daqueles que tinham alguma coisa a dizer. Virgílio, Ovídio, Michelangelo, Rafael, Pico, Bramante, Cellini, Caravaggio, Bernini, Borromini, Horácio, Giordano Bruno e milhares de outros pensadores e artistas lá foram para viver e para morrer. Como poderiam as pedras de Roma serem as mesmas do que as pedras de Los Angeles? Estou certo de que se eu fosse raptado, vendado, transportado e depois solto em uma rua obscura de Milão ou de Bolonha que fosse completamente desconhecida para mim, tão logo eu fosse solto eu saberia em qual cidade estaria. Eu diria imediatamente: "Esta é Milão" ou "Esta é Bolonha". Porque a minha pele teria sentido o espírito do ar, dos telhados, dos estuques e das cores da cidade (Russo, citado por Crescenzo, 1989, p.32).
O arquiteto Christian Norberg-Schulz (1926-2000) é habitualmente reconhecido como um dos teóricos mais importantes do século XX. Nascido em Oslo, na Noruega, desenvolveu seus estudos arquitetônicos entre a Faculdade de Arquitetura de Oslo e a Escola Politécnica de Zurich, onde se diplomou em 1949, tendo realizado, posteriormente, sua pós-graduação em História da Arquitetura na Harvard University (1952-1953). Entre as décadas de 60-90 lecionou na Faculdade de Arquitetura de Oslo, de onde foi diretor a partir de 1984.
Norberg-Schulz produziu mais de vinte títulos sobre arquitetura; suas obras mais conhecidas abordam temas sobre a arquitetura clássica italiana e o barroco, contudo, o seu grande ponto de inflexão e contribuição teórica no campo da arquitetura e urbanismo repousa na atitude de ser o primeiro arquiteto a aproximar-se de maneira contundente e sistemática do pensamento fenomenológico, ampliando a possibilidade de compreender as imbricações das diversas variantes que compõem os espaços habitados, a partir delas próprias.
Num contexto abrangente, a base do seu trabalho de crítico e de historiador de arquitetura foi desenvolvida a partir de um olhar inter-relacional. Suas elaborações teóricas partem principalmente das hipóteses historiográficas e das teorias do espaço de Siegfried Giedion (1888-1968) e de Bruno Zevi (1918-2000), das especulações fenomenológicas de Martin Heidegger (1889-1976) e dos estudos de Jean Piaget (1896-1980). Tais concepções, como temas centrais, exploram os significados culturais e os valores simbólicos das formas e das suas implicações psicológicas, os aportes de sua identificação com os lugares, a continuidade meta-histórica do habitar e do construir nas diversas regiões, dando-lhes uma abrangente sistematização em diversos livros, a saber: Intentions in Architecture; Existence, Space and Architecture; Genius Loci, Towards a Phenomenology in Architecture e Meaning in Western Architecture.
De maneira sintética o seu pensamento está focado sobretudo em questões referentes à qualidade dos espaços habitados e a aplicação da fenomenologia como método possível para a compreensão e a descrição da arquitetura.
Seu primeiro livro, Intenções em Arquitetura (Intentions in Architecture, 1963) já considerava as inter-relações e intersubjetividades entre as diversas variantes que se conjugam na criação arquitetônica, buscando instrumentos teóricos capazes de valorizar as questões ambientais e psicológicas dos espaços habitados. Como o próprio autor afirma, o livro enfatiza que "o ambiente influencia os seres humanos, e isso implica que o propósito da arquitetura transcende a definição dada pelo primeiro funcionalismo" (Norberg-Schulz, 1980, p.05, tradução da autora). Uma discussão abrangente da percepção e da simbolização foi, dessa forma, incluída no livro, onde foi enfatizado que o "homem não pode ganhar segurança somente por meio da compreensão científica. Ele necessita de símbolos, quer dizer, obras de arte que representem situações de vida" (Norberg-Schulz, 1980, p.05, tradução da autora).
A concepção do trabalho de arte como uma concretização de uma situação de vida é mantida em diversos dos seus títulos posteriores e destacada particularmente no livro ‘O Espírito do Lugar – Em direção a uma fenomenologia da Arquitetura’ (Genius Loci – Towards a Phenomenology of Architecture, 1979). Segundo Norberg-Schulz, uma das necessidades básicas do homem é a experimentação das suas situações de vida como situações significativas, e o propósito do trabalho de arte é guardar e transmitir significados.
Em seu segundo livro, Existência, Espaço e Arquitetura (Existencia, Espacio y Arquitectura, 1971), o autor introduz o conceito de espaço existencial. Em suas palavras, o espaço existencial é um termo que compreende as relações básicas entre o homem e seu ambiente, entre o espaço e o caráter, de acordo com as funções psíquicas básicas de orientação e identificação. Espaço e caráter são diretamente relacionados com a arquitetura, como uma concretização do espaço existencial. Concretização é, a partir dessa perspectiva, explicada através dos conceitos de coleta e coisa1. A palavra coisa, originalmente, significa uma coleta, e o significado de qualquer coisa consiste no que ela reúne. Assim, Norberg- Schulz demonstra claramente sua proximidade com a filosofia Heideggeriana2.
Norberg-Schulz reconhece que a filosofia de Heidegger (1889-1976) foi o catalizador que tornou o seu quarto livro, Genius Loci – Towards a phenomenology of architecture (1980) possível, determinando toda a sua abordagem. Logo nas primeiras páginas do Genius Loci o autor nos diz que deve a Heidegger o conceito de habitar, afirmando ainda
Base existencial e habitar são sinônimos, e habitar em um sentido existencial, é o propósito da arquitetura. O homem habita quando pode orientar-se dentro e identificar-se com um ambiente, ou, simplificando, quando experimenta significativamente o ambiente. Habitar, dessa forma, implica em algo mais do que abrigar. Implica que os espaços onde ocorre a vida são lugares, no verdadeiro sentido da palavra. Um lugar é um espaço com uma característica distinta. Desde os tempos arcaicos o genius loci, ou ‘espírito do lugar’, tem sido reconhecido como a realidade concreta que o homem deve encarar e aceitar em sua vida diária. A arquitetura significa visualizar o genius loci, e a tarefa do arquiteto é criar lugares significativos, pelos quais ajuda o homem a habitar (Norberg-Schulz, 1980, p.5, tradução da autora).
De maneira geral, o livro representa o primeiro passo em direção de uma fenomenologia da arquitetura, quer dizer, uma teoria que explicita a arquitetura em termos existenciais concretos. A conquista de dimensões existenciais é o principal propósito desse seu livro. Nas considerações do autor, depois de décadas de uma teoria científica abstrata, era urgente a retomada a uma compreensão qualitativa, fenomenológica, da arquitetura. O livro, dessa forma, não trata de problemas econômicos e sociais mas, antes, daquilo que confere o estatuto de arquitetura às formas construídas e as faz materializar e transmitir significados. Na concepção do autor, as dimensões existenciais não são determinadas pelas condições sócio-econômicas, apesar de que elas possam facilitar ou impedir a (auto)realização de certas estruturas existenciais. As condições sócio-econômicas são como uma moldura; oferecem um certo espaço para a vida acontecer, mas não determinam seus significados existenciais. Os significados existenciais possuem raízes mais profundas. São determinados pelas estruturas de nosso estar no mundo, que foram analizadas por Martin Heidegger (1926) em seu clássico trabalho Sein und Zeit, traduzido para o português como "Ser e Tempo".
Para o autor, base existencial e habitar são sinônimos, e habitar em um sentido existencial, é o propósito da arquitetura. Assim, considera crucial dotar a vida humana de significado existencial e, para ele, o lugar determina algo conhecido e concreto, é um espaço do qual nos apropriamos, um lugar vivido, feito nosso mediante o seu uso. É um lugar onde cada um se identifica e relaciona com o mundo e que está rodeado de caráter de símbolos. Desse modo, para o autor, compreender o lugar a partir das inter-relações e intersubjetividades que o configuram se torna algo fundamental para a arquitetura.
Historicamente, como representante da terceira geração de arquitetos modernos, Norberg-Schulz teceu críticas enfáticas ao produto da segunda geração da Arquitetura Moderna3, habitualmente chamada de Racionalista. Em boa parte de suas obras, Norberg-Schulz declarou que tais arquitetos falharam na interpretação da ideologia do Movimento Moderno, banalizando a Arquitetura e produzindo um espaço que levava a uma crise ambiental nas cidades européias, promovendo a construção de ambientes desprovidos de significados e falta de identificação com o homem. Para ele, o resultado de tal prática era a alienação humana.4
Para Norberg-Schulz (1980), a saída possível para a crise ambiental impulsionada por aquela geração de arquitetos era o desenvolvimento de uma fenomenologia do lugar, a fim de que a Arquitetura continuasse a oferecer respostas formais a partir de uma base concreta, ajudando o homem a habitar de maneira verdadeira, qualificada e significativa.
É partindo deste objetivo que Norberg-Schulz formula suas principais proposições para a compreensão da arquitetura, onde destacamos: o conceito de espaço existencial, a teoria do lugar e a sistematização e valorizacão do método fenomenológico como possibilidade de compreensão dos espacos habitados.
APORTES TEÓRICOS ESPAÇO EXISTENCIAL
O ser humano, como um ser relacional, envolve-se com os artefatos através da sua percepção, do seu imaginário e dos seus movimentos. Desde que nascemos, nos esforçamos para estabelecer uma ordem na infinita variedade do nosso entorno. Nesse sentido, a ordem que captamos é o resultado da colaboração e da transmissão de informações. Para o autor, a ordem faz do homem ao mesmo tempo criativo e conservador, e o que chamamos cultura é uma ordem comum (Norberg-Schulz, 1998, p.52, tradução da autora).
Em arquitetura, como exemplifica Norberg-Schulz, desde sempre o homem teve necessidade de responder à sua existência e a tudo o que dela faz parte. Esse, como ser complexo, busca por diversas manifestações, estímulos, vontades, impulsos, desejos, inquietações, construindo sua identidade. Ao longo da sua vida, procura, por diversas vezes, os motivos ou razões para este tipo de reações. Isso demonstra, para o autor, que o interesse pelo espaço tem raizes existenciais. É uma necessidade de descoberta de nós próprios naquele que será o mundo que nos rodeia. É uma necessidade de encontrar significado e ordem para as coisas que vão acontecendo no nosso ambiente, uma necessidade de compreender a comunicação dinâmica dos objetos com que nos conectamos e estes entre si.
É a arquitetura que, segundo Norberg-Schulz, concretiza as necessidades humanas, permitindo que o homem habite, possibilitando a criação de vínculos com o lugar, criando uma raiz existencial. Esta experiência de concretização do lugar torna-se assim parte existencial do próprio homem, nas coisas mais simples, já que nos referimos sempre a atos, fatos e ocorrências de um lugar específico presente em nossa memória. Afinal, das maneiras mais variadas, sempre relacionamos ações aos lugares onde eles ocorreram. Dessa forma, também podemos dizer que "a arquitetura é o nosso principal instrumento de orientação no mundo" (Pallasmaa, 2013, p.121).
Seja na escala da cidade ou na escala da casa, as edificações criadas pelo homem, além de serem exteriorizações e extensões das funções corporais humanas, "também são extensões e projeções mentais; elas são exteriorizações de nossa imaginação, memória e capacidade de conceitualização. As cidades e as edificações, assim como outros objetos feitos pelo homem, estruturam nossas experiências existenciais e lhes conferem significados específicos" (Pallasmaa, 2013, p.119).
Assim o espaço existencial pode ser sinteticamente entendido como um sistema, relativamente estável, de esquemas perceptivos ou imagens do ambiente circundante. As imagens, por sua vez, são construídas a partir das estruturas elementares do universo, das estruturas condicionadas socialmente ou culturalmente, e das características peculiares de um indivíduo ou grupo. Este espaço é produto de uma interação entre o organismo e seu ambiente, onde é impossível dissociar o universo percebido da atividade de interação dos seres.
Norberg-Schulz (1975) considera crucial dotar a vida humana de significado existencial e, para ele, o lugar determina algo conhecido e concreto, é um espaço do qual nos apropriamos, um lugar vivido, feito nosso mediante o seu uso e a que o autor, ao se aproximar da teoria de Heidegger, chama de lugar existencial. É um lugar onde cada um se identifica e relaciona com o mundo e que está rodeado de caráter e de símbolos.
TEORIA DO LUGAR
O surgimento da noção de lugar para a arquitetura assim como o surgimento da noção de espaço é historicamente recente. Enquanto o espaço em arquitetura possui aproximadamente 150 anos de estudos sistemáticos, o de lugar possui pouco mais de 60 anos.
De maneira geral, as questões que envolvem a conceituação e o estudo do lugar tem sido alvo de diversas interpretações ao longo desses 60 anos, aglutinando contribuições dos mais variados campos do conhecimento. Na arquitetura, os estudos que se fundamentam na definição de lugar estão ancorados nessa multidisciplinaridade, tendo nas teorias do arquiteto, historiador e teórico Christian Norberg-Schultz, uma contribuição distintiva.
Suas concepções sobre a teoria do lugar foram desenvolvidas a partir da dimensão existencial. O lugar é, na concepção do autor, a manifestação concreta da habitação do homem, e sua identidade depende do seu pertencimento a lugares. Os lugares são onde os acontecimentos mais importantes da nossa existência acontecem. Além disso são pontos de partida e ancoragem pelos quais nos guiamos para nos orientarmos e nos apoderarmos do ambiente circundante. Um lugar possui um determinado tamanho ou extensão que marca o espaço próprio de cada indivíduo.
De maneira geral, o homem como ser-no-mundo organiza e cria espaços, estruturando-o e desestruturando-o de acordo com a sua cultura, seu desejo e dos seus objetivos. Para isso, ele necessita encontrar direções e referenciais para a busca dos seus interesses, tanto próprios quanto sociais e coletivos, de modo a alcançar uma organização do seu espaço vivido, do seu lugar.
À vista disso, o espaço passa a ser um ente habitado por impulsos e reações, por vetores, por desejos, por sonhos e afetos que orientam, antecipam e dão sentido às coisas, e ao nosso corpo entre elas (Ábalos, 2003, p.97).
As texturas, os cheiros, a temperatura da cor refletida e da luz, a sonoridade dos ambientes e a carga latente da relação advinda por entre esses sentidos, surgem e impregnam as edificações como verdadeiros materiais de construção, erguendo um lugar sensorial cuja materialidade é desinibida, poética e envolvente, mais palpável do que tectônica (Ábalos, 2003, p. 100).
Mudando de escala e seguindo para a cidade fenomenológica, pode-se afirmar que esta tem um caráter fragmentário, cenográfico e complexo, como uma soma densa de peças que a experiência e o tempo viriam destilando. Em outras palavras, é uma cidade constituída por elementos que evocam a memória e por elementos que intensificam a experiência sensorial da percepção.
No contexto da experimentação da cidade, o trabalho do arquiteto Kevin Lynch (1918-1984) tornou-se uma contribuição essencial para a teoria do lugar desenvolvida por Norberg-Schulz. Ao propor que a qualidade ambiental é um dos fatores principais que protege o homem de estar perdido, Lynch consolida a noção de imageabilidade, definindo-a como "aquela forma, cor ou arranjo que facilita a produção de imagens mentais vividamente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis do ambiente" (Norberg-Schulz, 1980, p.19, tradução da autora)5. Lynch afirma ainda que os elementos que constituem a estrutura espacial são coisas concretas, com caráter e significado. Esse pensamento será vigorosamente considerado e explorado nas elaborações da teoria do lugar de Norberg- Schulz (1980).
Nas argumentações do autor, quando o homem habita, simultaneamente é localizado no espaço e exposto a um certo caráter ambiental. As duas funções psicológicas envolvidas nessa ação (localização e exposição) podem chamar-se de orientação. Para ganhar um ponto de apoio ambiental, o homem deve ser capaz de orientar-se, deve saber onde está. Todavia, deve também identificar-se com o ambiente, quer dizer, tem que saber como ele está em um certo lugar. Por consequência, a identidade humana é definida em termos dos esquemas desenvolvidos por ela, pois tais esquemas determinam o mundo que é acessível (Norberg-Schulz, 1980)6.
Ao escrever sobre o genius loci, o arquiteto norueguês enfatiza que "a arquitetura significa visualizar o genius loci, e a tarefa do arquiteto é criar lugares significativos, pelos quais ajuda o homem a habitar" (Norberg-Schulz, 1980, p.5, tradução da autora).
Ademais, Norberg-Schulz (1980) alerta que a estrutura de um lugar não é um estado fixo eterno, compreendendo, ainda, que os lugares mudam, algumas vezes rapidamente. Isso não significa, entretanto, que o genius loci necessariamente mude ou se perca.
Como então seria essa estabilidade compatível com as dinâmicas da mudança? Em primeiro lugar, vamos indicar que qualquer lugar deve ter a capacidade de receber diferentes conteúdos (Norberg-Schulz, 1998), naturalmente dentro de certos limites. Um lugar que sirva para apenas um propósito particular, cedo irá tornar-se inútil.
Segundamente, é evidente que um lugar pode ser interpretado de diferentes modos. Proteger e conservar, de fato, o genius loci significa concretizar e atualizar a sua essência em todos os novos conceitos históricos. Podemos dizer também que a história de um lugar deve ser a sua realização própria. Um lugar, portanto, compreende propriedades tendo um grau variado de permanências.
Assim, podemos inferir que o lugar é o ponto de partida tanto quanto o destino de nossa investigação estrutural; no início o lugar se apresenta como uma totalidade dada espontaneamente experimentada, e no final aparece como um mundo estruturado e limitado, inspirado pela análise dos aspectos de espaço e de carater7, no qual nos orientamos e apoderamos do ambiente circundante. A plasticidade e imaterialidade de um lugar em si é tão móvel como o próprio tempo, variando com os indivíduos, com os povos, com as épocas e, principalmente, com os pontos de vista e as ideias dominantes.
MÉTODO FENOMENOLÓGICO E ARQUITETURA
Como seria, então, a aplicação do método fenomenológico na arquitetura? O que significa compreender o lugar a partir da perspectiva da fenomenologia? Para elucidar essa questão é importante, antes de qualquer consideração, lembrar que o olhar fenomenológico carrega consigo a necessidade e o desejo de simultaneidade de homem e mundo.
A literatura histórica demonstra que a fenomenologia foi concebida como um retorno às coisas, como oposto às abstrações e construções mentais, como uma possibilidade de questionamento ao habitual modelo positivista como maneira hegemônica de ver o mundo, sendo conceituada e sistematizada no contexto das revoluções sociais e da crise ideológica e cultural, na passagem do século XIX para o século XX. Como Escola Filosófica formalizada, foi originalmente concebida pelas inquietações do filósofo Edmund Husserl (1859-1938)8, sendo desdobrada, posteriormente, através das contribuições de diversos outros filósofos, dentre eles: Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Dessa forma, podemos falar de diferentes concepções fenomenológicas. Contudo, apesar das elaborações conceituais diversificadas, há algo em comum entre todas essas elaborações que repousa no fato da fenomenologia se ocupar das abordagens que incluem o mundo vivido pela perspectiva da experiência humana.
A fenomenologia é inter-relacional, e por isso compreende o mundo pelo que está ao seu redor, nas diferentes escalas e intensidades em que a vida acontece. É por causa do que está ao redor que as coisas são do jeito que são (Heidegger citado por Norberg-Schulz, 1980) e isto estabelece a necessidade de um intenso contato com o objeto de estudo, uma apreensão do mundo vivido, caracterizado pela relação homem-objeto.
À luz da fenomenologia e dos estudos do arquiteto Norberg-Schulz o espaço arquitetônico é compreendido como objeto de manifestação dos sentidos e como estrutura que reúne existência e significação, homem e mundo. Nessa articulação, habitualmente o espaço é denotado pelas preposições, enquanto o lugar e o carater são denotados pelos adjetivos.
Ao apresentar a fenomenologia da arquitetura, o arquiteto Christian Norberg- Schulz relata que, embora em diversos momentos da história da arquitetura a questão do espaço fosse trabalhada, raras vezes ultrapassou o aspecto visual do ambiente.
A urbanista e escritora Kate Nesbbit, ao organizar a sua importante antologia Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia teórica 1965-1995, dedica um capítulo ao tema Fenomenologia do significado e do lugar, dedicando-o principalmente a Norberg- Schulz. Fica explícito que o autor entende a fenomenologia como um método que exige um retorno às coisas em oposição às abstrações e construções mentais e considera que o potencial fenomenológico na arquitectura está na "capacidade de dar significado ao ambiente mediante a criação de lugares específicos" (Nesbbit, 2008, p.443).
Desde o seu primeiro livro, Norberg-Schulz reconhece o potencial da fenomenologia e interpreta a arquitetura através dessa perspectiva. Assim, para o autor, viver seria estar no mundo, refletindo-o e nele se refletindo, e a percepção seria a chave para esse entendimento. A construção da realidade e como esta se dá através do corpo, seria, simultaneamente, sujeito e objeto. A inter-relação do eu, o outro e o mundo (as coisas) faz com que o mundo fenomenológico não seja a explicitação de um ser prévio ou a concepção de uma pré-existência, mas a fundação do ser, o seu sentido. O eu existe no mundo pelo corpo e é através desta existência que, com o corpo, percebemos o mundo. A partir dessa perspectiva, o corpo é entendido como um espaço expressivo que projeta as suas significações no mundo exterior, atribuindo-lhes um lugar e fazendo-as existir como coisas. Consequentemente, o mundo exterior projeta- se no corpo, atribuindo-lhe um sentido e uma existência.
Sendo totalidades qualitativas de natureza complexa, os lugares não podem ser definidos por conceitos analíticos, científicos. Dentro da tradição científica ocidental, por princípio, a ciência abstrai o que é dado para obter um conhecimento neutro e objetivo. No entanto, isso perde de vista o mundo da vida cotidiana, que seria a principal preocupação dos homens em geral e dos planejadores e arquitetos especialmente (Norberg-Schulz, 1980, p. 7, tradução da autora).
Desta forma, o autor recomenda um método de análise da arquitetura e do ambiente que se preocupe com a essência concreta e mundana das coisas, sem abstrações científicas, em outras palavras, um retorno às coisas e à sua materialidade. Propõe certa mudança no método: antes a arquitetura era analisada cientificamente, aproximando-se das ciências naturais. Hoje ela encontra métodos mais esclarecidos, já que no método científico, ao propor uma abstração das coisas, faz com que percamos o caráter do envolvimento concreto que remete à identificação do homem.
SÍNTESES POSSÍVEIS: O SENTIDO DE LUGAR E O LUGAR DO SENTIDO
Esqueço. Não vejo, sem pensar. Cessa a chuva, e dela fica, um momento, uma poalha de diamantes mínimos, como se, no alto, qualquer coisa como uma grande toalha se sacudisse azulmente aberta dessas migalhinhas. Sente-se que parte do céu está já azul. Vê-se, através da janela fronteira, o calendário mais nitidamente. Tem uma cara de mulher, e o resto é fácil porque o reconheço, e a pasta dentífrica é a mais conhecida de todas. Mas em que pensava eu antes de me perder a ver? Não sei. Vontade? Esforço? Vida? Com um grande avanço de luz sente-se que o céu é já quase todo azul. Mas não há sossego — ah, nem o haverá nunca! — no fundo do meu coração, poço velho ao fim da quinta vendida, memória de infância fechada a pó no sótão da casa alheia. Não há sossego — e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter... (Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego)
Iniciamos a última parte dessa reflexão com um fragmento poético do escritor Fernando Pessoa que, além de nos revelar um lugar, instaura o acontecimento do mundo pela palavra. No poeta, tudo está ali e tudo está aqui. É um lugar carregado de carga latente. É um lugar pulsante pelo registro das intensidades.
O mérito do homem não conta muito se ele for incapaz de habitar poeticamente, quer dizer, habitar no verdadeiro sentido da palavra. Assim, Heidegger afirma: "A poesia não voa acima e supera a terra de modo a escapar e pairar sobre ela. A poesia é o que primeiro traz o homem sobre a terra, fazendo com que a ela pertença, e assim o traz à habitação" (Heidegger citado em Norberg-Schulz, 1980, p.23, tradução da autora). Como nos exemplificou Norberg-Schulz, somente a poesia e a arte de viver em todas as suas formas fazem a existência humana significativa, e significar é a necessidade humana fundamental.
A arquitetura está vinculada à poesia e ao modo como o homem está no mundo, seu propósito maior é auxiliar o homem a habitar de maneira satisfatória. Mas a arquitetura é uma arte complexa que permanece atada ao homem, do berço ao túmulo. Fazer cidades práticas e edifícios não é suficiente. As construções ganham o estatuto de arquitetura quando começam a nos envolver ou, em outras palavras, quando passam a ser lugares de significado e nos abranger, acionando o nosso pertencimento ao mundo. Geralmente, isso significa concretizar o genius loci.
Muitas vezes, um lugar nos envolve e nos deixa em um estado de entrega, somos possuídos por ele, e isso é universal. A arquitetura em seus melhores momentos também faz isso. Na teia de significados onde buscamos relações, os conceitos de espaço existencial e genius loci, a teoria de lugar e a abordagem fenomenológica mantêm, entre si, uma íntima correlação, que resulta na valorização da significação dos lugares e na vinculação homem-mundo.
Ancorado nos aportes teóricos desenvolvidos por Norberg-Schulz, inferimos que compreender o ambiente é uma experiência de vida vivida pelo homem comum no encontro consigo mesmo, no contato com o mundo terrestre e a vida cotidiana, por assim dizer, das formas e dos símbolos que nascem desse estar no mundo. Este esboço de sentido, em estado de eterno e constante movimento, ressoa em nós como um acontecimento, que é o da nossa presença no mundo. Os sentidos surgem e vão sendo recriados da nossa relação com o mundo e com os outros.
Hoje pode parecer estranho e repetitivo insistir na valorização dos aspectos qualitativos que envolvem os espaços habitados, mas será mesmo lugar comum reiterar essas questões? Falamos constantemente na cidade como o lugar das diferenças e dos encontros, mas quantos de nós se ocupa da qualidade dos encontros? Quantos de nós encontra motivações e disponibilidade de conhecer, vivenciar, experimentar e descrever os lugares a partir da sua poética? Como atuamos na busca do significado e do espírito do lugar? De que maneira dirigimo-nos para algo mais do que a satisfação de meras necessidades físicas nas criações arquitetônicas?
Uma teoria do lugar satisfatória não somente integra diferentes contribuições, oferecendo uma concepção compreensível da relação entre o homem e o seu ambiente, mas mostra também que, ao longo da história da arquitetura, a qualidade do lugar foi e é aquele algo inapreensível que somente a poétia pode revelar.
Na arquitetura, aquilo que nos encanta e nos envolve, não é apenas o que nós sabemos mas, principalmente, é o que nós sentimos e expressamos de maneira intersubjetiva. Arquitetura é para o envolvimento, é para o sentimento, é para a sensibilidade e é, acima de tudo, para a inteligência do coração e da alma, assim como é para a inteligência da razão. O que importa, na maioria das vezes, não é o que está sendo materialmente expresso, mas como está sendo materialmente expresso.
O olhar fenomenológico traz consigo uma intensidade maior do vínculo pessoal com o espaço como fenômeno do sentido, tanto emocional como intelectual, diferenciandose assim do olhar científico hegemônico que, habitualmente, está ocupado da validação de teorias que só podem ser tidas como verdadeiras se forem comprovadas a partir de técnicas científicas previamente legitimadas e reconhecidas.
Assim, necessariamente, esse olhar nos traz de volta para as coisas, para a experiência do mundo, ampliando a nossa humanidade. E porque revela não a aparência, mas nos induz e envolve por conta da emoção que nos preenche, nos induz à intimidade, à alma das coisas, à nossa própria intimidade e é por isso que nos provoca e inquieta; porque mexe e exige de nós participação e relação. Não apenas em nossos pensamentos, mas em nossos afetos, naquilo que nós sentimos.
Considerando todas as argumentações e questões propostas por Norberg- Schulz e a necessidade de estarmos constantemente disponíveis para o acontecimento e a recriação do mundo, fica fácil compreender os motivos pelos quais a ciência sozinha não consegue abarcar as questões arquitetônicas de maneira promissora, fica fácil compreender os reiterados apelos do autor pela descoberta e busca do sentido do lugar e fica ainda mais fácil observar a fenomenologia como um aporte metodológico promissor na construção do conhecimento e da criação arquitetônica.
Tais aportes, ao ampliar os horizontes de interpretação dos espaços habitados, nos convida a experimentação de deciframento. Aceitar esse convite implica em confiarmos na dimensão intersubjetiva e na arte como possibilidade de descoberta e reconhecimento da vida.
Quando examinamos a arquitetura desse ponto de vista, ganhamos entendimento e uma direção para nosso trabalho. Essa direção não é ditada pela ciência clássica, mas é existencialmente enraizada na nossa vida diária no mundo. Mas a teoria não é suficiente para alcançar esse fim. Ela também pressupõe que nossos sentidos e nossa imaginação sejam intencionalmente voltados para a vida na riqueza das suas variedades, suas diversidades e infinitas variantes.
Recuperar o sentido do lugar e compreendê-lo como lugar do sentido, essa talvez seja a grande contribuição dos aportes teóricos desenvolvidos por Norberg-Schulz. Como uma síntese final, trago aqui a última frase do autor em seu livro Genius Loci "Somente quando entendemos o nosso lugar, poderemos ser capazes de participar criativamente e contribuir para sua história".
Referências
Ábalos, Iñaki. (2003). A Boa Vida – Visita guiada às casas da modernidade. Barcelona: Gustavo Gili.
Crescenzo, Luciano Di. (1989). The History of Greek Philosophy: The Pre-Socratics. London, Picador. [ Links ]
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Nota sobre a autora
Elisabete Rodrigues dos Reis. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense PPGAU/ EAU/ UFF, MSc. em Ciências da Arquitetura pelo Programa de Pós Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro PROARQ/ FAU/ UFRJ e Arquiteta e Urbanista pela Universidade Santa Úrsula (USU). E-mail: reisbete@gmail.com.
1 Coleta e coisa remetem aos conceitos desenvolvidos pelo filósofo Martin Heidegger. Ver especificamente Heidegger, Martin. (2008) Ser e tempo. Petrópolis/ Bragança Paulista: Ed. Vozes/ Ed. Universitária São Francisco.
2 2 Em o Ser e Tempo, Heidegger buscou estabelecer como se processa a relação do homem com o mundo e como um e outro poderiam ser definidos fora da dualidade sujeito-objeto. Com este intuito ele introduziu o conceito de mundo como instância fundamental para romper com o esquema sujeito-objeto. Este rompimento se concretizaria na medida em que não se teria mais um sujeito frente a um objeto ou vice-versa, mas uma relação de copertença de constituição entre o objeto (mundo) e o sujeito (homem).
3 As origens e critérios de classificação da geração da Arquitetura Moderna são explicitados em MONTANER, Jose Maria. (2001) Depois do Movimento Moderno. Arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili. Dentro dessa classificação é consenso que a primeira geração da Aquitetura Moderna foi formada pelos arquitetos protagonistas desse Movimento, tendo como principais representantes os arquitetos nascidos por volta de 1885, como Walter Gropius (1883-1969), Mies Van Der Rohe (1887-1965), Eric Mendelsohn (1887- 1953), Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964), Richard Neutra (1892-1970), e outros. A segunda geração seria formada por arquitetos nascidos por volta de 1900, que começaram as suas obras nos anos trinta; faz parte dessa segunda geração os arquitetos Alvar Aalto (1898-1976), Buckminster Fuller (1895-1983), Lucio Costa (1902-1998), Marcel Breuer (1902-1981), Arne Jacobsen (1902-1971), Philip Johnson (1906-2005), Oscar Niemeyer (1907-2012), Max Bill (1908-1994) e outros. Ainda segundo essa classificação, a chamada terceira geração seria formada pelos arquitetos nascidos por volta de 1915, tendo como característica essencial em seus trabalhos a busca de conciliação da vontade de continuidade das propostas dos mestres do Movimento Moderno e, ao mesmo tempo, o impulso de uma necessária renovação; como principais representantes desse grupo destacamos Afonso Eduardo Reidy (1909-1964), Kenzo Tange (1913-2005), Jorn Utzon (1918-2008), dentre outros.
4 Sobre as característas da arquitetura desenvolvida por cada geração da Arquitetos Modernos e as consequências sobre a perda e a recuperação do sentido de lugar, ver o nono capítulo do NORBERG-SCHULZ, Christian. (1980) Genius Loci – Towards a phenomenology of architecture. London: Academy Editions.
5 NORBERG-SCHULZ refere-se aos estudos do arquiteto Kevin Lynch que se desdobrarm nos livros The image of the city (1960) e Good City Form (1981), onde é abordada a importância da estruturação da imagem na formação da construção dos sentidos da cidade.
6 No contexto das proposições do autor, identificação significa tornarmo-nos amigos de um ambiente particular. Os vínculos signicativos com o lugar atuam como âncoras no estabelecimento da nossa identidade.
7 Sobre o conceito de carater, ver especificamente NORBERG-SCHULZ, 1980, p.11-18 e ainda NORBERGSCHULZ, 1975, p.60.
8 A literatura filosófica demonstra que é possível encontrar idéias que acabariam se tornando parte da fenomenologia em pensadores que, de certa forma, precederam seu surgimento formal. Há, portanto, noções fenomenológicas nos trabalhos de Henri Bergson (1859-1941), Franz Brentano (1838-1917), Wilhelm Dilthey (1833-1911) e William James (1842-1910). Porém, o primeiro filósofo a tratar do assunto sob esse título foi Edmund Husserl (1859-1938), durante a década de 1890, na Alemanha. Além disso, estudiosos também argumentam que pensadores hindus ou budistas ao escreverem ou falarem sobre diferentes estados de consciência, já atuavam com a prática fenomenológica. Da mesma forma, quando Descartes, Hume ou Kant tentaram identificar os estados de percepção, ou nossa capacidade de pensar ou de imaginar, eles também estavam praticando fenomenologia. Portanto, podemos afirmar que a fenomenologia surgiu como escola com Husserl, mas também que ela já existia como prática há muito tempo.