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Trivium - Estudos Interdisciplinares

versão On-line ISSN 2176-4891

Trivium vol.12 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2020

https://doi.org/10.18379/2176-4891.2020v2p.32 

ARTIGOS TEMÁTICOS

 

A dissolução do homem pelo simbólico: considerações sobre a constituição do sujeito através da lógica do significante e do objeto

 

The dissolution of man by the symbolic: considerations about the constitution of the subject through the logic of the signifier and the object

 

La disolución del hombre por lo simbólico: consideraciones sobre la constitución del sujeto a través de la lógica del significante y el objeto

 

 

Márcio Ramos Ferreira

Docente do curso de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida. E-mail: falecombisa@gmail.com

 

 


RESUMO

O presente trabalho analisa a conceituação sobre a lógica do significante e do objeto na constituição do sujeito no trabalho de formalização dos conceitos psicanalíticos no retorno a Freud, empreendido por Lacan. Para tanto, o trabalho parte do afastamento epistemológico da psicanálise das chamadas ciências humanas para desenvolver uma conceituação acerca entrada do sujeito no discurso e as incidências desse acontecimento na constituição psíquica.

Palavras-chave: Sujeito; Significante; Psicanálise; Estruturalismo.


ABSTRACT

The present work analyzes the conceptualization about the logic of the signifier and the object in the constitution of the subject in the work of formalization of psychoanalytical concepts in the return to Freud, undertaken by Lacan. To this end, the work starts from the epistemological departure from psychoanalysis of the so-called human sciences to develop a conceptualization about the subject's entry into discourse and the incidence of this event on the psychic constitution.

Keywords: Subject; Significant; Psychoanalysis; Structuralism.


RESUMEN

El presente trabajo analiza la conceptualización sobre la lógica del significante y el objeto en la constitución del sujeto en el trabajo de formalización de conceptos psicoanalíticos en el retorno a Freud, emprendido por Lacan. Con este fin, el trabajo parte de la desviación epistemológica del psicoanálisis de las llamadas ciencias humanas para desarrollar una conceptualización sobre la entrada del sujeto en el discurso y las incidencias de este evento en la constitución psíquica.

Palabras clave: Asunto; Significativo; Psicoanálisis; Estructuralismo.


 

 

Em seu curso As palavras e as coisas (1966/2000), que trata das condições de emergência das "ciências humanas", Foucault afirma que a psicanálise é uma contraciência humana: "Em relação às 'ciências humanas' a psicanálise e a etnologia são antes "contraciências"; o que não quer dizer que sejam menos "racionais", ou "objetivas" que as outras, mas que elas as assumem no contrafluxo, reconduzem-nas a seu suporte epistemológico e não cessam de "desfazer" esse homem que, nas ciências humanas, faz e refaz sua positividade (p. 524-525).

O que Foucault aponta é a dissolução da ideia de homem operada pela psicanálise e pela etnologia no espaço do saber moderno, cada qual à sua maneira. A psicanálise atinge as certezas do homem através da sua crítica à psicologia da consciência pela via do conceito de inconsciente. Do mesmo modo que Foucault, Lacan em seu escrito A ciência e a Verdade (1966/1998), realiza uma análise crítica das ciências humanas sustentando que o objeto que elas reivindicam - o homem - não pode ser objetivado por nenhuma ciência. Por isso, Lacan (1966/1998) afirma: "o homem da ciência não existe, mas apenas seu sujeito" (p. 873).

Logo, fica patente que Lacan se vale da hipótese do sujeito da ciência para estabelecer a vocação científica da psicanálise. Assim, além da sua base de história da ciência, ele também recorre ao pensamento estruturalista, adequando-o à psicanálise, incluindo o sujeito do conhecimento e a incompletude da estrutura.

Desde o seu texto de 1953, Função e Campo na Fala e na Linguagem, o objetivo do psicanalista francês foi formalizar os fundamentos da psicanálise. Com esse projeto, ele se afasta da psicologia, demonstrando sua tese de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, dialogando com a linguística e fundamentando o que se pode denominar de lógica significante. Tal dinâmica teve como consequência uma rigorosa reorganização do estatuto epistemológico da psicanálise e a sua autonomia frente ao conhecimento científico. Isso separou a psicanálise da influência positivista, que ameaçava subordinar as disciplinas das chamadas ciências humanas a um método experimental.

Nesse cenário, já em seu Seminário 2..., Lacan propõe que o termo "ciência conjectural" substitua o de "ciências humanas". A justificativa para tal mudança seria o acréscimo de um maior rigor lógico a esse campo e o fim da subordinação metodológica que esses saberes mantinham com as ciências exatas. Nas suas palavras, "ciências conjecturais, eis aí, creio, o verdadeiro nome que se deveria dar, de ora em diante, a um certo grupo de ciências que se designa, habitualmente, pelo termo de ciências humanas. Não é que esse termo seja inadequado, já que nessa conjuntura, é da ação humana que se trata. Mas creio que seja por demais vago, por demais infiltrado e controlado por todos os tipos de ressonâncias confusas de ciências pseudoiniciáticas, que só podem rebaixar-lhe a tensão e o nível. Ganhar-se com a definição rigorosa de ciência da conjectura" (p. 369-370).

É interessante notar, através da referida citação, que, nesse momento do seu ensino, Lacan ainda considerava adequada a expressão "ciências humanas". É importante, entretanto, considerar que, dez anos depois, esse mesmo autor afirmaria que "não existe ciências do homem, porque o homem da ciência não existe, mas apenas o seu sujeito" (1966/1998, p.859). Pode-se concluir daí que há uma mudança muito importante no pensamento lacaniano. O que teria mudado durante esses dez anos?

Tal mutação pode ser avaliada, quando já em O Seminário: A Ética da Psicanálise (1959-1960/2008), Lacan trata do conceito de das Ding como algo separado da estrutura simbólica. Posteriormente, ele criou o conceito de objeto α que articula a irredutibilidade do real ao simbólico e ao imaginário. E, nesse contexto, em O Seminário Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964/2008), ele faz uma articulação conceitual em relação à constituição do sujeito com a linguagem e com o que se encontra fora dela, fazendo a pulsão aparecer como algo coerente com o significante. No mesmo seminário, nosso autor contrapõe a operação de alienação do sujeito na linguagem à separação, operação no qual a pulsão responde à identificação e ao recalque. Destarte, ele formaliza o conceito de objeto α com base nas formulações sobre a lógica do significante, com o conceito de das Ding e suas incidências na constituição psíquica.

O sujeito da psicanálise, então, é deduzido da representação, não é uma coisa que pensa. No primeiro momento do seu ensino, Lacan retomará o conceito de inconsciente e o conceito de sujeito decorrente da elaboração freudiana e aprofundará a ruptura com a metafísica cartesiana através da dedução do sujeito no significante. A consequência dessa empreitada é a estruturação de um dos axiomas centrais do início do seu ensino: o significante é o que representa o sujeito para o outro significante, ou seja, uma dessubstancialização do sujeito.

Disso, pode se deduzir que o conceito de sujeito é disjunto da ideia de pessoa ou indivíduo. A psicanálise se direciona, portanto, ao humano como sujeito -ou assujeitado- ao inconsciente, ao Outro, subvertido pelo inconsciente e dividido pela linguagem, que Lacan resgata através da releitura dos textos do fundador da psicanálise. Nessa perspectiva, o eu é uma ilusão que se constitui por uma identificação; o sujeito não é o eu, localiza-se no inconsciente que é constituído pela estrutura e linguagem simbólica. Desse modo, o homem só existe por sua função simbólica e é por ela que deverá ser apreendido na psicanálise. Lacan apresenta uma inversão sobre a concepção de homem, pensando-o como o produto da linguagem.

É verdade, a evidência do caráter de cindido da subjetividade pelo significante fica muito evidente desde os primeiros textos freudianos. Em seu Projeto para uma psicologia científica (Freud, 1989,1950 [1895]), Freud afere uma primeira experiência de satisfação como fundadora do aparelho psíquico. Nesse protótipo de constituição psíquica, o bebê humano, lançado no desamparo pela sua prematuridade motora e simbólica, realiza pelo encontro com o outro primordial a sua entrada no discurso.

Freud relaciona essa experiência mítica com a constituição do aparelho psíquico através da relação do sujeito com o Nebenmensch, complexo do próximo. Nesse texto, ele demarca que é através de um semelhante que se dá a primeira apreensão de realidade. Esta experiência é marcada pelo desamparo fundamental que caracteriza o vivente humano. De acordo com Freud, a partir do aparecimento dos estímulos endógenos, terá no neonato humano uma urgência que só poderá ser liberada pela via motora, ou seja, uma exigência que somente poderia vir a cabo por uma ação que promova uma mudança na realidade. Para aplacar tal urgência, a primeira via a ser seguida será através descargas motoras (gritos e enervações musculares) que são insuficientes para acabar com a tensão em ψ.

O conjunto desse processo produz uma experiência de satisfação que tem várias consequências na constituição do sujeito. Produzem-se três fenômenos no sistema ψ: 1. Produz-se uma descarga que cessa a estimulação; 2. É produzido um investimento psíquico na percepção do objeto que gerou a satisfação, suscitando uma imagem mnêmica do objeto; 3. Estabelece trilhamentos, vias de ligação entre os neurônios que foram investidos de energia psíquica durante o processo. Estas vias passam a ser passagem preferencial para novas estimulações. A partir dessa experiência de satisfação, resulta que, com o reaparecimento do estado de urgência ou de desejo, o investimento também passa para as duas lembranças, reativando-as. É provável que a imagem mnêmica do objeto seja a primeira a ser afetada pela ativação do desejo (p. 371).

No encontro com Outro, portanto, advirão as primeiras inscrições psíquicas. A partir desse momento se colocará, para o bebê, depois da irrupção de um novo estado de tensão, uma "re-vivência" das marcas dessa primeira experiência de satisfação, ocorrendo uma alucinação do objeto de satisfação. Este não será propriamente o outro, mas lembranças de impressões que estão ligadas a ele, situando-o como objeto no campo da linguagem. Através do complexo do próximo, Nebenmensch, Freud localiza o primeiro objeto de satisfação, o primeiro objeto hostil e aquele que vem em auxilio do bebê.

É dele que se realizará a primeira apreensão da realidade pelo sujeito, que se dará de forma dividida. Uma parte desse complexo do próximo será apreendida através dos traços de memória, a outra parte permanecerá inassimilável (das Ding). Na leitura que Lacan realiza dessa experiência de satisfação em O Seminário Livro 7: A Ética da Psicanálise (1959-1960/2008), esse ponto inassimilável consistirá no vazio que faz girar todas as representações. Conforme a observação de Lacan:

das Ding é o que - no ponto inicial, logicamente e, da mesma feita, cronologicamente, da organização do mundo do psiquismo - se apresenta, e se isola, como o termo de estranho em torno do qual gira todo o movimento da Vorstellung, que Freud nos mostra governado por um princípio regulador, o dito princípio do prazer vinculado ao funcionamento do aparelho neurônico. É em torno de das Ding que roda todo esse processo adaptativo, tão particular no homem visto que o processo simbólico mostra-se aí inextrincavelmente tramado.
[...] Das Ding deve, com efeito, ser identificado com o Wiederzufinden, a tendência a reencontrar, que, para Freud, funda a orientação do sujeito humano, em direção ao objeto (1959-1960/1998, p.74).

O psiquismo se funda e se move através de um exterior ao significante. Como destaca Lacan, esse movimento do psiquismo não conduz, entretanto, ao reencontro com o objeto, pois "o objeto é perdido como tal" (1959-1960/1998, p.74). Por isso, o sujeito é conduzido a reencontrar não o objeto, mas as suas coordenadas de prazer. É essa perda que funda o psiquismo e é correlata à entrada do sujeito na cadeia significante.

Dando prosseguimento, Lacan extrai da obra freudiana os elementos conceituais para formalizar a realização do sujeito com o significante. Uma das maneiras de Lacan elaborar o processo de formalização da constituição subjetiva é o grafo do desejo, construído em O Seminário Livro 5: As Formações do Inconsciente (1957-1958/1999) e em um dos seus Escritos Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano (1960/1998). Ele consiste em um instrumento utilizado por Lacan para abordar a estrutura do sujeito e a entrada do ser vivente no mundo da linguagem. Nesse sentido, o grafo do desejo consiste em "uma estrutura tópica ideal a formalização, com referenciais seguros por serem estruturais e estarem ligados as vias de construção significante" (1957-1958/1999, p.79).

Em O Seminário Livro 5: As Formações do Inconsciente (1957-1958/1999, p.17), Lacan retoma as relações entre o significante e o significado através da célula mais simples do grafo do desejo1, reproduzido abaixo:

 

 

Ele destaca a dimensão do a posteriori na fala, através do sentido retrógado do vetordos significados, que segue da direita para a esquerda, enquanto que a linha que o atravessa se refere à cadeia significante, com seus efeitos de metáfora e metonímia.

Nesse seminário, ao se referir à linha do vetor dos significados, Lacan (19571958/1999) explica que:

Esse é também o nível em que se produz o mínimo de criações de sentido. Na maioria das vezes, ele consiste apenas na mistura refinada dos ideais comumente aceitos. É nesse nível, muito precisamente que se produz o famoso discurso vazio do qual partiu um certo número de comentários sobre a função da fala e o campo da linguagem (p.19).

Ao explicar a linha da cadeia significante, Lacan (1957-1958/1999) ressalta que ela:

permanece inteiramente permeável aos efeitos propriamente significantes da metáfora e da metonímia, o que explica a atualização possível dos efeitos significantes em todos os níveis, inclusive no nível fonemático, em particular. O elemento fonológico é, com efeito, aquilo que funda o tracadilho, o jogo de palavras etc. Em suma, está no significante, aquilo que nós analistas temos que jogar incessantemente (18-19).

Lacan (1957-1958/1999) destaca que a relação da cadeia dos significantes com a cadeia dos significados consiste em um deslizamento incessante do significante sobre o significado. Tal deslizamento só pode ser interrompido por um ponto de basta, no qual significante e significado se vêm atar, produzindo, assim, a significação. Tal ponto é representado no grafo através dos entrecruzamentos dos dois eixos. Lacan retira da técnica do estofador a imagem do ponto do estofo, que consiste no ponto em que é feita uma tessitura, de modo a prender os tecidos utilizados no estofamento, dando um basta ao deslizamento constante de um sobre o outro, metáfora utilizada por Lacan para esclarecer o que se dá no discurso.

Como já salientamos, o sujeito se prende a significações em constantes deslizamentos na tentativa de encontrar alguma consistência, mas, podemos perguntar-nos: como se dá esse "advir" do sujeito à cadeia significante?

Lacan parte dessa célula mais simples do grafo do desejo para elucidar o encontro mítico entre o sujeito e o significante. Isso fica evidenciado no grafo seguinte, reproduzido dos Escritos (LACAN, 1960/1998, p.822):

 


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Quando o ser vivente de pura necessidade (Δ) se encontra com o Outro, entendido como tesouro do significante, sai da ordem da necessidade para assumir o estatuto do sujeito barrado pelo significante (S).

Depois desse entrecruzamento, o sujeito deve formular seu discurso a partir do Outro, enquanto lugar do código, para manifestar algo que já não é da ordem da pura necessidade, só assim, algo dessa manifestação poderá ser satisfeita. Nas palavras de Lacan (1957-1958/2002):

É na medida em que a criança se dirige a um sujeito que ela sabe falante, que ela viu falando, que a penetrou de relações desde o princípio de seu despertar para a luz do dia; é na medida em que há alguma coisa que joga como jogo do significante, como moinho de palavras, que o sujeito tem que apreender muito cedo que está aí uma via, um desfiladeiro por onde deve essencialmente inclinar-se as manifestações de suas necessidades para serem satisfeitas (p.23).

Quando entramos no domínio do significante, o que era necessidade é subvertido em demanda. O que é da ordem da demanda não pode se confundir com a satisfação de uma necessidade, pois a linguagem traz consigo sempre a perda do sentido. A necessidade é remodelada pela linguagem e recolocada num complexo significante infinito e "é isso que faz com que a demanda seja, essencialmente, algo que se coloca por natureza como podendo ser exorbitante" (Lacan,1957-1958/1999, p.92).

Ao se inscrever numa cadeia significante infinita, a necessidade tem que se fazer demanda que, como tal, é endereçada ao Outro. Daí resulta que toda satisfação passa pelo Outro, para além daquele que demanda. Isso dá à demanda seu caráter essencialmente oposto à necessidade que é a sua impossibilidade de satisfação. Tal impossibilidade garante ao sujeito sua condição de desejante. A máscara do pedido de satisfação de uma necessidade, presente em toda demanda, dá a ela seu caráter de mentira estrutural: fazer crer que ela foi formulada para ser satisfeita.

Por isso, a demanda não é uma simples tradução de uma necessidade, mas sim sua remodelagem, "é a necessidade mais o significante" (1957-1958/1999, p.95). Existe na demanda algo que torna a necessidade fragmentada e complexificada, que a coloca na dimensão de algo sempre insatisfeito: o desejo. Vejamos como este se estrutura.

Através desse sistema, no referido seminário, Lacan demarca a estruturação do desejo através do conceito de Outro e da releitura do Édipo. Ele destaca que é importante analisar, na dialética edipiana, aquilo que leva o sujeito a se identificar com o desejo do Outro, o desejo da mãe. Além disso, é importante pensar sobre como o sujeito se faz reconhecer em relação ao x do desejo do Outro, o modo pelo qual ele foi levado a se tornar aquele que atende a esse desejo.

O Outro materno ao articular seu desejo na cadeia metonímica, permite que a criança se identifique com esse objeto. Nessas condições, a criança identifica-se com o falo imaginário numa tentativa de sê-lo. Lacan define falo "como o significante da falta, o significante da distância do sujeito e seu desejo" (1957-1958/1999, p. 298). Isso nos aponta que, para se constituir um sujeito, é necessário ocupar um lugar no desejo do Outro.

A mãe, como ser falante, é submetida a uma lei simbólica e a criança recebe incidências dessa lei. Tal lei não é, entretanto, controlada. É uma lei caprichosa diante da qual a criança se apresenta como "assujeito" (1957-1958/1999, p.195). Nesse primeiro tempo, a mãe é para o sujeito um Outro absoluto.

Existe, dessa forma, um desejo de desejo, uma relação não simplesmente com a mãe, com o objeto primordial, mas com seu desejo. Como questiona Lacan: "Como conceber que a criança que tem o desejo de ser o objeto do desejo de sua mãe atinja a satisfação? Evidentemente, não há outro meio senão surgir do lugar do objeto do desejo dela" (1957-1958/1999, p. 207). Desse modo, a relação da criança com a mãe não é constituída apenas de satisfações e frustrações, mas de uma descoberta do objeto do desejo dela e do objeto o qual a criança se liga. Isso nos aponta a função privilegiada do falo e a evidência de que, antes mesmo que a linguagem seja elaborada no plano motor, no plano auditivo ou mesmo no plano da compreensão, já há simbolização.

Nesse momento do Édipo, há três elementos importantes: a mãe, a criança e o falo, sendo que esses dois últimos estabelecem nesse tempo lógico uma relação de equivalência. Desde aí, a criança não se encontra sozinha diante da mãe, diante da criança existe o significado do desejo da mãe, ou seja, o falo.

De acordo com Quinet (2003), nesse primeiro tempo, encontramos o que Lacan denominou de estádio do espelho. Essa operação especular corresponde à passagem do autoerotismo para o narcisismo, em que se constitui o objeto da libido (esquema freudiano estudado na seção 2.5.3). Ele é acompanhado de um regozijo que corresponde à saída de um estado angustiante, que é a vivência do corpo despedaçado. O corpo despedaçado é o corpo real, sem imagens e sem sentido e o estádio do espelho faz com que ele não se sinta mais aos pedaços.

Essa imagem do eu primordial é condição para que o sujeito se reconheça e, consequentemente, reconheça os objetos do mundo humano. Diferente dos animais que possuem um saber instintivo a organizar as relações com o meio, a relação do sujeito com os objetos deve ser constituída, subjetivada através da imagem do outro.

A imagem do corpo próprio permite situar o que é e o que não é o eu. O estádio do espelho não é um período do desenvolvimento, mas sim uma estrutura. O investimento próprio do estádio do espelho tem seu correlato freudiano no narcisismo primário.

A identificação com o outro é imediata, e por não ter mediação do simbólico, o outro é, ao mesmo tempo igual e rival. Essa primeira identificação é condição para identificações secundárias durante a história de cada sujeito.

Essa dimensão do estágio do espelho é evocada no grafo produzido abaixo:


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No grafo acima, o vetor evoca o estágio do espelho. O eu ideal i(α) constitui-se a partir de uma identificação com a sua própria imagem m. O olhar e a palavra do Outro fundam a imagem unificada do corpo, na qual o sujeito se identifica, na medida em que é capturado por sua imagem a partir da nomeação do Outro, o que permitirá a identificação com o outro e marcará o encontro com o semelhante pela agressividade.

O segundo tempo lógico do Édipo é marcado pela entrada do pai. É ele que intervém na relação da criança com a mãe. O olhar da mãe, ao se direcionar para um terceiro, indica à criança que seu desejo está além dela e que esse terceiro possui algo que a mãe não tem. Nesse contexto, a criança é levada a se questionar sobre o significado das idas e vindas da mãe: "o que quer essa mulher aí? Eu bem que gostaria que fosse a mim que ela quer. Há outra cosia que mexe com ela - é o x, o significado das idas e vindas da mãe é o falo" (LACAN,1957-1958/1999, p.181).

Nesse segundo tempo lógico, a fala do pai intervém de forma efetiva mediada pelo discurso da mãe. Nele, o pai aparece menos velado do que no primeiro momento, porém não totalmente revelado, visto que ele intervém mediado pelo discurso da mãe. Nessa etapa, o pai intervém a título de mensagem para a mãe. Nas palavras de Lacan: "essa mensagem não é simplesmente o não deitarás com tua mãe, já nessa época dirigida à criança, mas um Não reintegrarás teu produto, endereçado à mãe" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.209). Essa mensagem chega em (A), onde o pai se manifesta como Outro, abalando a criança em seu lugar de assujeito. Isso deixa explícito que o pai intervém como detentor de um direito e não como um personagem real. Mesmo que ele não esteja presente, mesmo que ele telefone para ela, por exemplo, o resultado é o mesmo.

Neste ponto, é o pai como simbólico que intervém como uma frustração, ato imaginário que concerne a um objeto real, que é a mãe, à medida que a criança necessita dela. É nesse sentido que Lacan coloca o pai como uma função - o pai é uma função, é uma metáfora: o Nome-do-Pai. Ele é no Outro o significante que representa a existência do lugar da cadeia significante como lei. Ele aparece na função de metaforizar o desejo da mãe.

No Escrito De Uma Questão Preliminar a Todo Tratamento Possível Da Psicose (1955-1956/1998, pg.563), Lacan escreve a metáfora paterna através de um matema:

 


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Pode-se ler esse matema da seguinte forma: o Nome-do-Pai vem barrar o Desejo da Mãe, dando a esse x desconhecido (significado desconhecido do Desejo da Mãe) uma significação, por meio do qual o Nome-do-Pai inscreve o falo no Outro. O Nome do Pai possibilita a significação fálica, significação dada ao enigma do desejo da Mãe.

Segundo Alberti: "Para Lacan, o que é fundante para o sujeito neurótico é o Nome-do-Pai, que, no matema da constituição do sujeito neurótico, barra o desejo da mãe (NP/DM)" (1999, p. 119). Pode-se dizer que a operação de inscrição do Nome-do-Pai é fundante, já que ao inscrever o falo, significante da falta, permite ao sujeito o acesso ao desejo, ou seja, abre a possibilidade do sujeito se fundar como sujeito desejante. A castração simbólica incide sobre o falo imaginário, deslocando a criança da sua posição de falo para a mãe. O pai aparece aqui como possuidor do falo imaginário visto que ele é o motivo pelo qual a mãe se ausenta para buscar o que lhe falta.

É, então, o pai, como metáfora, que opera a disjunção entre mãe e filho, entre a mãe-fálica e a criança falo. Ele entra em jogo como portador do falo enquanto objeto de desejo da mãe, objeto metonímico que circula na cadeia significante. É essa castração simbólica que permitirá ao sujeito ascender à divisão sexual e inaugura o terceiro tempo do Édipo.

O terceiro tempo do Édipo finaliza a rivalidade fálica em torno da mãe. O pai sai da condição de falo rival da criança junto à mãe e passa à condição de suposto detentor do falo, daquele que detém o objeto do desejo da mãe. Assim, o pai sai da condição de falo imaginário para o de pai simbólico ao ser investido como aquele que supostamente detém o falo. Ele não tem o falo, mas tem algo que o representa. Por intermédio do dom ou da permissão concedidos à mãe isto: que lhe seja prometido um pênis para mais tarde" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.212). Lacan define essa dádiva como propriedade virtual com a qual a criança se identifica: o ideal de eu. É por intervir como aquele que detém o falo que o pai é internalizado no sujeito como ideal de eu e com isso se alcança o declínio do complexo de Édipo.

Conforme Lacan, a metáfora paterna ocupa um lugar essencial nessa identificação, pois leva à instituição de algo que é da ordem do significante e que funciona como um título de direito de virilidade para o menino. Já a menina, "reconhecerá o homem como aquele que o possui" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.212).

Há aí uma identificação não mais com a imagem, mas com o significante, que vem traçar o ideal que se apresenta ao eu. Essa identificação significante proporciona todas as identificações sucessivas, a própria criança assume um papel de uma série de significantes que pontuam uma realidade com certo número de referenciais, para fazer dela uma realidade recheada de significantes. Dessa maneira, é na medida em que o pai intervém como proibidor que o objeto do desejo da mãe ganha uma dimensão simbólica como significante da falta. Assim, a identificação da criança com o falo imaginário dá lugar à identificação com o pai, que intervém como personagem real. Ele parte do referencial imaginário para se enveredar por uma série de identificações cuja direção é definida como oposta ao imaginário e que o utilizam como significante.

As insígnias que revestem o sujeito na assunção do sexo se projetam na relação do sujeito com seu objeto. Estas, por conseguinte, serão comandadas a partir do ponto de identificação em que o sujeito se reveste das insígnias daquele com quem ele se identificou, e que desempenham da função do ideal do eu. Essas novas insígnias o sujeito as leva consigo, constituindo de uma nova maneira o seu desejo.

O sujeito, de objeto de desejo passa a desejante, ingressando na dialética do ter ou não ter o falo, o que possibilita a eleição dos mais variados objetos e a entrada na dinâmica do desejo. Como já argumentado, isso se dá pela via significante, via estabelecida como lei e campo de possibilidades pela entrada em cena do Nome-do-Pai e do significante fálico, que impõe o deslocamento incessante ao desejo. O falo tem a função de representação do desejo, sempre será coberto pela barra, já que só se tem acesso a ele pela via significante, isto é, pelo seu lugar no Outro. É através disso que a castração se realiza e produz seus efeitos. É pelo que falta que o desejo pode fazer sua entrada, lançando o sujeito em uma indeterminação, já que o próprio sujeito falta como objeto total que poderia satisfazer ao Outro.

Como já salientamos, a mãe, esse Outro primordial que pelo seu desejo o sujeito se constitui, já se encontra submetida a uma lei significante, ou seja, o desejo desse Outro já é marcado por uma barra. Dessa forma, o complexo de castração incidirá de forma diferente no homem e na mulher. Em palavras de Lacan, "se os destinos são diferentes no menino e na menina, é porque a castração é primeiramente encontrada no Outro" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.361).

Freud (1923) denomina de complexo de castração a percepção da diferença sexual e suas consequências na estruturação psíquica. Nos meninos, ela se dá pelo medo de serem privados do órgão; nas meninas, por uma perda já efetivada. A diferença situa-se entre a relação binária da presença e da ausência do falo: fálico, castrado. Conforme Lacan: "É como naturalista que Freud nos diz: o que me mostra minha experiência é que também na mulher e não apenas no homem, o falo está no centro" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.285).

Na menina, é a ausência do órgão fálico em seu corpo que a leva a abdicar do amor da mãe e buscá-lo no pai. Lacan propõe que a entrada da menina no Édipo se dá pela via da frustração, definida por ele como uma operação imaginária. Conforme Lacan, "o pai só entra na posição de substituto daquilo em que ela se viu inicialmente frustrada, e é por isso que ela passa para o plano da experiência da privação" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.362). De acordo com Freud, ela busca o falo no pai, sem, entretanto, identificar-se com ele. A menina opta pela substituição do desejo: dando um filho ao pai. Freud exprime essa substituição pela equação "pênis-criança" (1925/1987). Lacan aponta a incidência do falo enquanto elemento significante na equação freudiana, o que assegura a entrada na cadeia e suas infinitas substituições.

No caso da menina, essa equação demonstra o funcionamento substitutivo no qual a mulher deve encontrar sua satisfação. O que concerne ao desejo fica ligado ao falo na medida em que ele é o próprio signo do desejo do Outro. Conforme Lacan, "o fato dela se exibir e se propor como objeto de desejo identificando-a, de maneira latente e secreta, com o falo, situa o seu ser de sujeito como falo desejado, significante do desejo do Outro" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.363). Assim a sua satisfação vai aparecer de forma substitutiva à medida que ela tenta se fazer reconhecer através do desejo do Outro. Seu desejo se manifesta provocando uma estranheza, já que essa insígnia da feminilidade (aquela de dar um filho ao pai) não a representa de forma consistente, visto que o significante "mãe" não responde ao enigma da feminilidade ou ao desejo do Outro.

No menino, a castração tem um efeito diferente. É por achar que possui o falo que a percepção da ausência deste na mãe o traumatiza. Desse modo, ele resolve a ameaça de castração pela identificação com aquele que, aparentemente, escapou do perigo - o pai. Pelo temor da castração, ele renuncia ao desejo incestuoso da mãe e identifica-se com o pai que é o portador das insígnias fálicas. Como conclui Lacan, "no final das contas, o homem nunca é viril senão por uma série de procurações, que provém de todos os seus ancestrais, passando pelo seu ancestral direto" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.363). É importante assinalar que, ainda que procure a satisfação em uma mulher, ele vai, também, à procura do falo. Como destaca Lacan, a procura do homem por uma satisfação no Outro leva-o a perceber-se como instrumento dessa satisfação. Nessa compreensão, podemos afirmar com Lacan "que o homem se acha no amor fora do seu Outro" (LACAN,1957-1958/ 1999, p.364).

Podemos entender o desejo, tal como nos revela a psicanálise como uma "demanda significada"' (1957-1958/1999, p.281). Ela implica o outro de quem algo é exigido, mas, ao mesmo tempo, um Outro no qual o significante ganha alcance. Isso significa que, só a partir de uma sucessão infinita de passos de sentido, algo da demanda pode ser alcançado. A estruturação do desejo na linguagem coloca o sujeito nessa aproximação infinita e, por isso, nunca satisfeita implicada no seu mecanismo. A relação do homem com o significante é uma estrutura primordial que o divide entre a demanda e o desejo. Alguma satisfação do desejo só pode ocorrer sob uma condição de uma renúncia parcial.

A alienação do sujeito, pelos significantes que vêm do Outro, deixam-no esbarrar no enigma do seu desejo. Diante da interrogação que o sujeito faz ao Outro, acerca do seu desejo (Che vuoi?), o Outro responde com um vazio. Essa falta de resposta se dá porque, como salienta Lacan, "não há Outro do outro" (1960/1998, p.827) em outras palavras, não há metalinguagem. A questão lançada pelo sujeito ao Outro, assim como suas consequências, são evidenciadas por Lacan no grafo que se segue, retirado dos Escritos (1960/1998, p. 829):

 

 

A incompletude do Outro, ou a falta que recai sobre ele, indicado por , possibilita que o sujeito se possa constituir, lançando uma questão sobre tal encontro faltoso, indicada no grafo. A falta que vem do Outro se articula com a cadeia por ser antes de tudo um significante , e "nossa definição de significante (não existe outra) é: uma significante é o que representa o sujeito para outro significante. Esse significante, portanto, será aquele para o qual todos os outros significantes representam o sujeito" (1960/1998, p.833). Na falta desse significante primordial, todos os demais não representam nada, o sujeito deve tentar representar-se numa cadeia.

Nessa perspectiva, Lacan evidencia que há um mais-além do enunciado - a sua enunciação. Isso quer dizer que para além dos ditos, há um dizer inconsciente, uma verdade referida a uma falta e que ela é sempre dita, mas não toda.

No grafo, tem-se a duplicação da cadeia. A primeira cadeia de significante é a resposta do Outro primordial, a mãe. A segunda cadeia duplica a relação significante, é a presença paterna, o para além da mãe, que está para além de qualquer articulação significante (p.452). É onde se inscreve o desejo inconsciente, numa Spaltung, e distância o desejo da demanda, em junção e disjunção, o que se evidencia pelo matema. O desejo, como já salientado, está marcado por um significante especial, o falo, uma vez que está perpassado pela função da castração, evidenciada no grafo pelo eixo S(A)→($ ◊ D). Neste patamar, do desejo inconsciente, Lacan afirma uma dimensão irredutível e impossível de formular, não do pré-verbal, mas de um para além do verbo.

Visando, responder ao enigma do desejo do Outro, logo ao seu, o sujeito constrói uma fantasia, indicada no matema ƒ: $ a. A fantasia é o suporte do desejo, o ponto em que o sujeito, marcado pelo significante, fixa-se em seu objeto, que é constituído por certa posição do sujeito em relação ao Outro. É com a ajuda dessa relação fantasística que o sujeito situa seu desejo.

A relação da construção da fantasia frente à inconsistência do Outro fica mais clara na forma finalizada do grafo do desejo:

 

É importante observar que, no grafo, o matema da fantasia está localizado logo depois do .Isso aponta que a função dela é servir de anteparo para ocultar a inconsistência do Outro, fazendo surgir em um efeito de significação, formando um contexto no qual o sujeito percebe o mundo: a realidade psíquica.

O sintoma S(A) é uma mensagem cifrada do Outro, cujo significado o sujeito deve decifrar. Por ser uma metáfora, ele não possui um sentido α priori. Ele é constituído por uma estrutura de linguagem dos significantes originários do Outro. Ele é uma mensagem histórica da alienação do sujeito aos significantes que vem do Outro. O sintoma mensagem é a construção da crença de que o Outro não é barrado, e que não ele não consiste apenas em significantes. Desse modo, o sintoma enquanto significado do Outro s(a) confere ao Outro um sentido sintomático. Se acompanharmos o percurso da sua constituição no grafo do desejo, podemos constatar que o sujeito recebe a própria mensagem de forma invertida. O sentido do sintoma é o sentido que o sujeito atribui aos ditos do Outro (QUINET, 2008).

No último patamar do grafo, fica expresso que o vetor do gozo corta o vetor do desejo, que tem suporte no significante. Dessa maneira, o corpo é delineado pelo significante e o insere numa sexualização que impõe um limite de gozo. Nessas condições, o sujeito tem incidências da própria castração e da castração do Outro, visto que aparece, aí, uma ausência de objeto e do significante poderia dar uma completude ao Outro. O falo é o significante dessa falta. É o falo como significante que vai marcar o deslocamento incessante do desejo. Enquanto a castração consiste nessa perda originária, o falo vai ser o significante da perda. Nas palavras de Lacan, "[...] o falo [...] é o significante da própria perda que o sujeito sofre pelo despedaçamento do significante (...)" (1966/1998, p.723). O falo, portanto, é o significante que marca a fala-a-ser, é ele que dá contorno ao espaço vazio de onde o sujeito do desejo se deslocará.

Ademais, é interessante constatar que esse resto a ser simbolizado, dimensão do real, está sendo apontada de forma na dedução do sujeito no significante. Aparentemente, na definição, "um significante é aquilo que representa um sujeito junto a outro significante", Lacan está plenamente situado no campo da representação; entretanto, essa definição aponta também uma saturação desse campo. Ora, visto que a cadeia significante tende sempre a buscar mais um significante para se representar, pois o significante não representa nada por si próprio, ele só poderia representar um sujeito. O significante não é idêntico a si mesmo, e essa não identidade é transmitida ao sujeito por ele representado.

Por fim, é importante considerar que através conceito de objeto a, pode-se constatar que se a psicanálise tem uma aproximação discursiva com a ciência por tratar, o real através do arranjo simbólico, ela se distancia da ciência por considerar que há um impossível de simbolizar, uma brecha entre os significantes que corresponde à dimensão real do sujeito. Ora, se no início do seu ensino, Lacan se refere à linguística como uma nova ciência em formação, utilizando-a como guia na formalização do conceito de inconsciente; em Ciência e a Verdade" (1966/1998), ele destaca que o estatuto epistemológico da psicanálise é totalmente diferente da linguística, antropologia ou astronomia por operar com o que a ciência deixa meramente como resíduo: o sujeito.

 

Referências

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Recebido em: 31/10/2019
Aprovado em: 05/03/2020

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