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Perspectivas em análise do comportamento

versão On-line ISSN 2177-3548

Perspectivas vol.8 no.1 São Paulo jan./jun. 2017

https://doi.org/10.18761/PAC.2016.027 

ARTIGOS

DOI: 10.18761/PAC.2016.027

 

Introdução da Análise do Comportamento no Brasil: a Cadeira de Psicologia de Rio Claro (1962-1963)

 

Introduction of Behavior Analysis in Brazil: the Chair of Psychology at Rio Claro (1962-1963)

 

La Introducción de la Análisis de la Conducta en Brasil: la Cátedra de Psicología de Rio Claro (1962-1963)

 

 

Gabriel Vieira Cândido

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar a contribuição da Cadeira de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) de Rio Claro para a introdução da Análise do Comportamento no Brasil. Pretende-se discutir algumas atividades relacionadas a este campo em curso de formação de professores entre 1962 e 1963, período em que Carolina Martuscelli Bori coordenou a Cadeira de Psicologia nesta Faculdade. De acordo com a literatura, importantes contribuições para a recepção e difusão do conhecimento em Análise do Comportamento ocorreram na Universidade de São Paulo e na Universidade de Brasília. Entretanto, um curso sobre Análise do Comportamento, com laboratório, e pesquisas ocorreu em Rio Claro, entre 1962 e 1963, onde Carolina Bori teve Geraldina Witter, Isaias Pessotti e Nilce Mejias como seus assistentes. Para atingir o objetivo deste artigo, foram usados documentos primários como artigos, fotos e cartas, além de entrevistas.

Palavras-chave: análise experimental do comportamento; história da análise do comportamento; institucionalização.


ABSTRACT

This paper aims to present the contribution of the Chair of Psychology of the Faculty of Philosophy, Sciences and Letters (FFCL) at Rio Claro to the introduction of Behavior Analysis in Brazil. It is intended to discuss some activities related to this field in courses for the training of teachers between 1962 and 1963, when Carolina Martuscelli Bori (1924-2004) coordinated the Chair of Psychology of the Faculty. According to the literature, important contributions to the reception and diffusion of knowledge in Behavior Analysis happened at the Universidade de São Paulo and at the Universidade de Brasília. However, a course about Behavior Analysis with laboratory and researches occurred in Rio Claro, between 1962 and 1963; at that time, Carolina Bori had Geraldina Witter, Isaias Pessotti and Nilce Mejias as assistents. To reach the aim of this paper, primary documents as papers, photos and letters were used, as well as interviews.

Keywords: experimental analysis of behavior; history of behavior analysis; institutionalization.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo es presentar la contribución de la Cátedra de Psicología de Filosofía, Ciencias y Letras (FFCL) de Rio Claro para la introducción de Análisis de Comportamiento en Brasil. Se tiene la intención de discutir algunas de las actividades relacionadas con este tema en el curso de formación de profesores entre 1962 y 1963, durante el cual Martuscelli Bori Carolina coordinó la Cátedra de Psicología en esta Facultad. De acuerdo con la literatura, importantes contribuciones a la recepción y difusión de los conocimientos en el Análisis del Comportamiento se llevaron a cabo en la Universidad de Sao Paulo y la Universidad de Brasilia. Sin embargo, un curso sobre el Análisis del Comportamiento con el laboratorio y la investigación se llevó a cabo en Río Claro, entre 1962 y 1963, donde Carolina Bori tenía Geraldina Witter, Isaías Pessotti y Nilce Mejías como sus asistentes. Para lograr el propósito de este artículo, se utilizó documentos primarios, tales como artículos, fotos y cartas y entrevistas.

Palabras clave: análisis experimental de la conducta; la historia del análisis del comportamiento; institucionalización.


 

 

De acordo com a literatura, importantes contribuições para a recepção e difusão do conhecimento em Análise do Comportamento no Brasil aconteceram em duas universidades. A primeira delas foi a Universidade de São Paulo (USP), onde o professor Fred S. Keller (1899-1996) supervisionou alunos de Psicologia enquanto ensinava Psicologia Animal e Comparada durante o ano de 1961. Neste ano, Carolina Bori e Rodolpho Azzi se tornaram importantes apoios para Keller, no Brasil. No ano seguinte, Gil Sherman se somou ao grupo (Bori, 1974; Bori, Pessotti, Azzi, 1965; Guedes et al., 2008; Keller, Bori, & Azzi, 1964; Matos, 1998a, 1998b; Miranda & Cirino, 2010; Todorov, 1990; Todorov & Hanna, 2010).

Ainda de acordo com esta literatura, a segunda universidade que aparece com relevantes contribuições para a recepção da Análise do Comportamento no Brasil é a Universidade de Brasília (UnB), que ofereceu um curso de Psicologia de acordo com o Personalized System of Instuction (PSI), em 1964. Aliás, este sistema de ensino havia sido elaborado especialmente como parte da organização do Departamento de Psicologia desta universidade. Coordenado por Carolina Bori, este curso foi oferecido para estudantes de graduação para toda a universidade. Contudo, devido à intervenção militar na política brasileira, dezessete professores da UnB foram cassados no ano de 1965 por causa de divergências políticas. Em apoio a estes professores, cerca de 90% dos professores desta universidade (mais de 200) se demitiram e o que havia sido planejado para o Departamento de Psicologia foi interrompido. Este período tem sido chamado de "a diáspora da Análise do Comportamento no Brasil" (Guedes et al., 2008; Todorov & Hanna, 2010), apontado como um dos responsáveis pela rápida disseminação desta disciplina no país: os professores e alguns estudantes se espalharam por universidades brasileiras e algumas dos Estados Unidos e continuaram (cada um a sua maneira) aplicando o que haviam planejado para Brasília.

No entanto, outras atividades em Análise do Comportamento também ocorreram na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) de Rio Claro entre os anos de 1962 e 1963, quando Carolina Bori regeu a Cadeira de Psicologia, instalada no Departamento de Pedagogia. Embora algumas atiatividades desenvolvidas nesta Faculdade tenham sido mencionadas na literatura sobre os primeiros anos da Análise do Comportamento no Brasil, há pouca informação disponível sobre elas.

Maria Amélia Matos (1998b), por exemplo, afirmou que Carolina Bori desejava introduzir um curso de Psicologia Experimental nesta Faculdade. Além disso, afirmou que Bori e Azzi estavam fazendo a tradução do livro The Analysis of Behavior: A Program for Self-Instruction, de Holland e Skinner (1961) e, enquanto era aplicado em Rio Claro, Maria Amélia Matos aplicava na Escola de Enfermagem da Faculdade de Medicina da USP.

Todorov e Hanna (2010), afirmaram, em nota de rodapé, que um protótipo do PSI havia sido desenvolvido "por Isaias Pessotti e Herma Drachenberg na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, em 1962, sob a supervisão de Carolina Bori, a partir de suas discussões com Fred Keller sobre a nova modalidade de ensino" (p. 147). Em sua autobiografia, Keller (2008) falou sobre um registrador cumulativo que estava sendo construído no Brasil por Isaias Pessotti no final de 1961. Por fim, Bori (1964a) fez uma apresentação do laboratório de Psicologia Experimental que havia construído em Rio Claro.

Neste artigo, o que se pretende é apresentar a Cadeira de Psicologia da FFCL de Rio Claro como uma importante instituição para a introdução da Análise do Comportamento no Brasil. Os documentos analisados para atingir os objetivos deste estudo compõem o acervo do Laboratório de Estudos Históricos em Análise do Comportamento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (LeHac/PUC-SP). Tais documentos são fotos doadas pelo professor Isaias Pessotti, artigos e resumos de pesquisa publicados por Carolina Bori, Geraldina Witter e Isaias Pessotti no período em que foram professores na graduação em Pedagogia de Rio Claro. Algumas entrevistas foram realizadas com os ex-professores da FFCL de Rio Claro, Isaias Pessotti e Geraldina Witter, e com a ex-aluna da segunda turma deste curso, Herma Drachemberg. Também, cartas arquivadas na Fred S. Keller Collection da Universidade de New Hampshire foram acessadas. Nelas, pode-se localizar diálogo entre Bori e Keller sobre a implantação da Análise do Comportamento na Cadeira de Rio Claro.

 

A Cadeira de Psicologia da FFCL de Rio Claro

As FFCLs foram criadas pelo governo do Estado de São Paulo em 1957. Muito devido ao grande crescimento populacional e à consequente dificuldade de acesso ao ensino, 16 cidades receberam estes institutos isolados. Os cursos de graduação oferecidos em Rio Claro foram Geografia, Pedagogia, Matemática e Ciências Sociais. Os professores chegaram de diferentes instituições e eram responsáveis por convidar seus assistentes, transmitir e incentivar o desenvolvimento cultural, conduzir pesquisas sobre o objeto do ensino e formar pesquisadores e professores (Camargo, 1999; Lucchesi, 2010; Zanardi, 2012). A eles, cabia o papel de "transmitir e desenvolver a cultura e realizar pesquisas em muitas áreas que constituem um objeto de ensino e investigação" e de "formar pesquisadores e professores" (Camargo, 1999, p. 5).

Quando o curso de Pedagogia começou, em 1959, Carolina Bori já havia sido convidada a criar e coordenar a Cadeira de Psicologia. Nesta época, ela havia sido desligada da Cadeira de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde lecionou Psicologia Experimental do ponto de vista da Gestalt, no curso de Filosofia, desde o início da dédécada de 1950. Ao mesmo tempo, havia sido contratada para dar aulas em outra Cadeira da mesma instituição, a de Psicologia Educacional.

Todos os assistentes da Cadeira de Psicologia de Rio Claro tinham sido alunos de Bori, na USP. Nilce Mejias ficou por um curto período, devido a uma bolsa de estudos na Itália (Mejias, 1997). Geraldina Witter e Isaias Pessotti permaneceram trabalhando como assistentes até 1963 (Pessotti, 1998).

A Cadeira de Psicologia já havia começado em Rio Claro, quando, em 1961, o professor e pesquisador Fred S. Keller foi à USP para oferecer um curso de um ano de duração. O grupo de Rio Claro havia sido informado de que ele era um especialista em self-teaching. Porque, em Rio Claro, estavam formando professores, Carolina Bori viajou semanalmente para São Paulo e assistiu às aulas de Keller. Foi neste curso que a Análise Experimental do Comportamento e a instrução programada foram apresentadas pela primeira vez no Brasil. Não se sabe da existência de um laboratório de Psicologia Experimental em Rio Claro antes de 1961, mas depois do curso do Keller, Bori e seus assistentes começaram a ensinar em Rio Claro aquilo que eles tinham aprendido na USP (Figura 1).

 


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O problema dos equipamentos de laboratório foi sendo resolvido com adaptações de gaiolas de pássaros para funcionarem como caixas de Skinner, inicialmente, à maneira descrita por Matos (1998b). No entanto, os equipamentos foram se tornando automatizados e o reforço não precisava mais ser apresentado manualmente por uma pipeta de vidro. Este laboratório foi apresentado por Bori (1964a) da seguinte maneira:

Na organização e instalação de um laboratório que deveria servir para o ensino e a investigação de problemas da psicologia se coloca com uma certa relevância a questão dos aparelhos e instrumentos. (...) Os cursos do Departamento visam oferecer elementos para o aluno compreender a aplicação da Psicologia à Educação. Este objetivo exige antes de mais nada uma discussão ampla do estudo do comportamento que os alunos realizam de forma mais completa através de experimentos (p. 61).

Os equipamentos que compunham o laboratório eram: a) um taquitoscópio, que permitia a apresentação de um estímulo por tempo variável para um indivíduo ou grupo; b) um multicron, para registrar tanto a apresentação de um estímulo quanto a latência de resposta a este estímulo; e, c) uma unidade de condicionamento operante de animais, contendo uma gaiola e um painel para apresentar o estímulo e o reforço, um dispositivo para controle mecânico do reforço, e um quimógrafo que visava registrar respostas apresentadas pelo animal em curvas cumulativas e a sequência de respostas (Figura 2).

Os equipamentos foram construídos por Andrés Aguirre, por exigência de Carolina Bori e, na maior parte deles, individualmente planejados. Estes aparelhos permitiram, então, que professores e alunos estudassem os processos de senso-percepção e aprendizagem (Bori, 1964a).

Além deste equipamento, havia também um painel importado da Grason-Stadler. Só foi possível adquirir este equipamento por causa da então recém criada Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que concedeu uma bolsa de estudos para a realização de uma pesquisa sobre a influência do estímulo aversivo na aprendizagem: "uma análise do comportamento de esquiva (Bori, 1964b, p. 114).

 

 

A realização de pesquisas, aliás, foi uma marca desta Cadeira. Nesta mesma universidade havia um geneticista chamado Warwick Kerr (1922 - ), cujo principal interesse de pesquisa era a classificação de diferentes espécies de abelhas em graus evolutivos, com base em avaliações morfológicas, anatômicas e ecológicas (Pessotti, 1971). No entanto, ao se deparar com diferenças comportamentais de cada espécie, pensou que um "teste de inteligência" poderia auxiliar com um novo critério de classificação. Apesar do interesse que Kerr havia declarado, Isaias Pessotti teria visto uma oportunidade de verificar diferenças e semelhanças na aprendizagem de mamíferos e insetos e, de maneira mais crítica, demonstrar que as técnicas de condicionamento eram eficazes e que funcionavam com ratos não apenas porque "os ratos estão trancados em uma gaiola pequena e, cedo ou tarde, ele faria o que o pesquisador quiser, só porque eles não tem mais nada para fazer ou porque se não eles morrem de fome" (Pessotti, 1971, 11).

Como o estudo do comportamento de abelhas pela Psicologia Experimental não era conhecido, foi necessário criar um novo aparato. O primeiro problema encontrado foi: abelhas não sobrevivem em ambientes fechados, como caixas. Então, foi necessário trabalhar em ambiente natural, em vez dos ambientes artificiais do laboratório. A resposta observada foi o pouso da abelha e a introdução da glosa em um buraco para absorver o alimento. Anos depois, em 1965, foi feita a primeira modelagem de uma resposta manipulativa de abelhas, em ambiente natural (Pessotti, 1969). A primeira publicação foi feita em uma revista italiana, com data de 1963, sobre discriminação em abelhas (Pessotti, 1963). Outras publicações que Pessotti fez, enquanto pesquisador em Rio Claro, foram sobre discriminação em diferentes espécies de abelhas (Pessotti, 1964, 1965a), diferentes razões fixas em Mellipona Seminigra Merrillae (Pessotti, 1965b, 1965c) e encadeamento de respostas (Pessotti, 1966) (Figura 3).

O laboratório de Rio Claro, então, pode ser descrito como composto por dois grupos de equipamento: 1) aparelhos construídos por brasileiros e usados para fins didáticos e de pesquisa; e 2) aparelhos importados da Grason-Stadler e usados em pesquisas. Estes equipamentos permitiam o estudo do comportamento de ratos e abelhas. Além disdisso, Keller, em sua autobiografia publicada em 2008, apresentou algumas ações para construir o laboratório de Análise Experimental do Comportamento em Rio Claro, a partir de 1961:

 

 

Antes de eu deixar São Paulo, dois novos registradores tinham sido inventados e um terceiro estava a caminho. Um foi desenvolvido por Isaias Pessotti1, um aluno ocasional em minhas aulas e assistente de Dona Carolina na Universidade em Rio Claro, onde ela lecionava dois dias por semana2 (Keller, 2008, p. 256)

É necessário considerar que, apesar da variedade de equipamentos e pesquisas aqui apontadas, o laboratório era pequeno. Ele não tinha grande quantidade de caixas de Skinner, por exemplo. Apesar disso, alguns pesquisadores começaram sua formação acadêmica no curso de Rio Claro e continuaram em outros lugares (primeiro, em Brasília, a partir de 1964). Foi o caso de Herma B. Bauermeister (atualmente, Herma Brigitte Drachenberg) e Luiz Marcellino de Oliveira (Bueno, 2006; Drachenberg, 1998; Ferrari, 2008).

Programação do ensino

A história da aplicação de princípios comportamentais à educação tem recebido importantes contribuições de pesquisadores brasileiros. Um importante exemplo é a elaboração do Personalized System of Instruction (PSI), por Carolina Bori, Fred S. Keller, Gilmour Sherman e Rodolpho Azzi, e a sua aplicação na Universidade de Brasília, em 1964 (Azzi, 1965, Bori, 1974, Bori, Pessotti & Azzi, 1965, Keller, 1968, Keller, Bori & Azzi, 1964, Keller & Sherman, 1974). Além disso, novas nomenclaturas para se referir a desdobramentos do PSI, no Brasil, tem sido apresentadas: Análise de Contingência em Programação de Ensino (Matos, 1998b) e Programação de ensino (Kienen, Kubo & Botomé, 2013 e Nale, 1998) são dois exemplos.

Discutir peculiaridades destas aplicações não é proposta deste artigo. No entanto, parece que algumas das primeiras investidas em programar o ensino teriam ocorrido, também, em Rio Claro, no Brasil. Não foi possível localizar nenhum material produzido durante ou para estas aulas, mas existem relatos de dois professores da Cadeira e de uma aluna do curso que ajudam a conhecer um pouco mais sobre algumas decisões educacionais que tomaram. O primeiro aspecto que todos eles enfatizam é a diferença entre a instrução programada (o material), o curso programado (o programa de atividades a ser seguido pelo aluno) e o Personalized System of Instruction (um sistema de ensino). Um segundo aspecto educacional da Cadeira de Psicologia de Rio Claro é a preparação do material a ser usado em sala de aula e a organização de passos.

Lembrando que este curso de Psicologia era parte da graduação em Pedagogia, o interesse inicial pelo curso de Keller era o self-teaching. Durante o ano de 1961, Keller apresentou a instrução programada. Bori teria se interessado, então, pelo planejamento de um curso programado. Iniciaram a tradução de The Analysis of Behavior, de Holland e Skinner (1961) e "Principles of Psychology", de Keller e Schoenfeld (1950). A versão portuguesa de ambos os livros foi usada em Rio Claro e, em seguida, a tradução foi usada por Rodolpho Azzi e Maria Amélia Matos, na USP. Assim, foram corrigindo a tradução e fazendo adaptações (Matos, 1998b).

O curso programado em Rio Claro teria sido organizado em pequenos passos, requerendo que o aluno alcançasse alguns critérios para progredir para um novo passo. Esses passos poderiam ser leituras, experimentos, relatórios ou discussão. O progresso do estudante era registrado, permitindo a visualização do quanto avançou no curso e quanto seus colegas também avançaram. Essas foram as ideias básicas que fundamentavam o curso programado.

 

Discussão

O objetivo deste artigo foi apresentar a Cadeira de Psicologia da FFCL de Rio Claro como uma segunda instituição que teria contribuído para a introdução e institucionalização da Análise do Comportamento no Brasil. A área teria sido introduzida no Brasil por Fred S. Keller, em 1961, na USP. Nesta ocasião, Carolina Bori era professora na USP e em Rio Claro. Neste segundo lugar, ela coordenou algumas atividades desenvolvidas por Isaias Pessotti, Geraldina Witter e Nilce Mejias, incluindo o que haviam aprendido em São Paulo.

A FFCL de Rio Claro foi um centro de formação em Análise Experimental do Comportamento porque os estudantes eram conduzidos por práticas de laboratório, onde também desenvolviam pesquisas. Pelo menos dois nomes importantes na história da Análise do Comportamento no Brasil conheceram esta disciplina nesta ocasião. Herma Bauermeister Drachemberg foi, entre outras coisas, coautora do primeiro manual de laboratório para alunos de graduação, com práticas em Análise Experimental do Comportamento (Guidi & Bauermeister, 1968). Outro estudante foi Luiz Marcellino de Oliveira, que se tornou professor da USP de Ribeirão Preto. Ele formou mestres e doutores na tradição da Psicologia Experimental e Análise Experimental do Comportamento. Além disso, ele usou o modelo do PSI em suas aulas durante um longo período (Peron, Nogueira, Cândido, & Massimi, 2015).

Havia professores fazendo pesquisas que trouxeram inovações para a área. Um primeiro curso programado teria acontecido em Rio Claro, assim como o uso da instrução programada em "The Analysis of Behavior: a program for self-instruction" (Holland & Skinner, 1961). Além disso, o Departamento de Psicologia de Brasília, também coordenado por Carolina Bori, foi planejado a partir das experiências na USP e em Rio Claro.

No entanto, vale considerar que não houve apenas reprodução de aspectos trazidos por Keller e Sherman. Aspectos originais no contexto da Análise do Comportamento podem ser notados já na introdução da área no Brasil. Por exemplo, a novidade das pesquisas experimentais que usavam abelhas como sujeitos.

Com isso, espera-se ter apresentado as contribuições da Cadeira de Psicologia do curso de Pedagogia da FFCL de Rio Claro. Os professores vinculados a ela, a estrutura do laboratório, pesquisas e alguns alunos foram apresentados, permitindo a inclusão de aspectos da história da Análise do Comportamento no Brasil, até então desconhecidos.

 

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Endereço para correspondência
Gabriel Vieira Cândido
Rua Bartira, 387
CEP 05009-000
São Paulo - SP
Email: gaviecan@gmail.com

Submetido em: 01/07/2016
Primeira decisão editorial: 20/04/2017
Aceito em: 24/04/2017
Editor Associado: Candido V. B. B. Pessôa

 

 

1 Este aparelho foi construído e, hoje, é parte do acervo do Laboratório de Estudos Históricos em Análise do Comportamento (LeHac) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
2 "Before I left São Paulo, two new recorders had been invented and a third was on the way. One was developed by Isaias Pessotti, an ocassional pupil in my class and Dona Carolina's assistente at University in Rio Claro, where she taught two days a week".

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