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Estudos Interdisciplinares em Psicologia
versão On-line ISSN 2236-6407
Est. Inter. Psicol. vol.10 no.3 Londrina set./dez. 2019
https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n3p206
ARTIGOS ORIGINAIS
A transição para a conjugalidade em noivas e noivos católicos
The transition to conjugality in catholic brides and grooms
La transición para la conjugalidad en nuevos católicos
Lorena Daniela Rodrigues da SilvaI; Fabio Scorsolini-CominII
IUniversidade Federal do Triângulo Mineiro
IIUniversidade de São Paulo
RESUMO
Este estudo teve como objetivo compreender as repercussões dos cursos de preparação matrimonial na conjugalidade de noivos católicos. Foram entrevistados 18 nubentes que realizaram há menos de cinco meses um curso de preparação para o matrimônio em paróquias de cidades do interior dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Foi aplicado um roteiro de entrevista e realizada análise de conteúdo na modalidade temática. Os resultados apontaram para uma caracterização mais objetiva do casamento, que se configura como um momento de transição e reafirmação de fé. Apesar das mudanças do catolicismo em relação à sexualidade, por exemplo, observa-se que esses casais ainda mantêm valores essencialmente tradicionais em termos de constituição familiar e da inequívoca associação entre conjugalidade e parentalidade. Os cursos de noivos podem ser espaços potencializadores de importantes reflexões no processo de transição para a conjugalidade, o que ainda deve ser melhor compreendido a partir de pesquisas vindouras.
Palavras-chave: matrimônio; relações conjugais; catolicismo.
ABSTRACT
This study aimed to understand the impact of the Catholic Church marital set up courses in the conjugality of Catholic brides and grooms. Eighteen engaged people that concluded in less than five months a marital preparation course, ministered in country town parishes in the states of Minas Gerais and São Paulo, were interviewed. An interview script was used and content analysis was employed. Results pointed to a more objective characterization of marriage, constituting a moment of transition and faith reassurance. Despite Catholicism changes concerning sexuality, for example, it was noted that those couples still keep traditional values in terms of familiar constitution and the unequivocal association between parenthood and union. Marital courses can provide room to boost important reflections on the transitional process to marriage, which could be better understood from upcoming studies of the theme.
Keywords: marriage; marital relations; Catholicism.
RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo comprender las repercusiones de los cursos de preparación matrimonial en la conyugalidad de novios católicos. Se entrevisto a 18 personas prometidas que realizaron hace menos de cinco meses un curso de preparación para el matrimonio en parroquias de ciudades del interior de los Estados de Minas Gerais y São Paulo. Se utilizó un guión de entrevista y se empleó el análisis de contenido. Los resultados apuntaron a una caracterización más objetiva del matrimonio, que se configura como un momento de transición y reafirmación de fe. A pesar de los cambios del catolicismo en relación a la sexualidad, por ejemplo, se observa que estas parejas todavía mantienen valores esencialmente tradicionales en términos de constitución familiar y de la inequívoca asociación entre conyugalidad y parentalidad. Los cursos de novios pueden ser espacios potencializadores de importantes reflexiones en el proceso de transición hacia la conyugalidad, lo que aún debe ser mejor comprendido a partir de investigaciones venideras.
Palabras clave: matrimonio; relaciones conyugales; catolicismo.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que o casamento é um fenômeno que faz parte do desenvolvimento humano e ocupa um espaço importante na sociedade, sustentando-se, ainda, como um dos principais planos de vida dos jovens adultos (Alves-Silva, Scorsolini-Comin, & Santos, 2017; Costa & Mosmann, 2015), mesmo com as diversas mudanças operadas na instituição família (Caetano, Martins, & Motta, 2016). Segundo Bettega (2007), o casamento é uma instituição que marca a vida do indivíduo pela transição que ocasiona e pode ser considerado um rito de passagem, carregado de elementos simbólicos que assinalam mudanças e buscam regulamentar a relação sexual, a procriação e também as relações sociais entre famílias e grupos humanos. Heckler e Mosmann (2014) complementam que o casamento tem sido cada vez mais estudado na atualidade por se caracterizar como um evento em constante transformação.
Em uma perspectiva psicodinâmica, a instituição casamento passa a ser investigada a partir da noção de conjugalidade, que pressupõe a constituição de um espaço comum, reunindo e modificando as individualidades trazidas pelos cônjuges. Assim, a conjugalidade envolve um espaço psíquico construído, habitado e permanentemente recriado pelo casal (Féres-Carneiro, 1998; Magalhães & Féres-Carneiro, 2003). Na investigação da conjugalidade, faz-se importante assinalar não apenas o modo como essa dimensão psíquica vai se transformando ao longo do tempo (Campos, Scorsolini-Comin, & Santos, 2017), mas também como se constitui, ou seja, como se processa a transição para a conjugalidade (Menezes & Lopes, 2007; Morris & Carter, 1999). A transição para a conjugalidade é um período no qual há a atualização de heranças familiares, compressões sobre o enlace, medos, segredos e traumas transmitidos intergeracionalmente (Magalhães, 2009; Scorsolini-Comin & Santos, 2016), sendo considerada uma etapa relevante não apenas para a solidificação do relacionamento posteriormente, mas para a elaboração de elementos psíquicos individuais transformados no domínio coletivo do casal.
Retomando brevemente a história do casamento, que também incide sobre a construção psíquica e simbólica da conjugalidade, é importante salientar que tal instituição não constitui um fenômeno estanque. Pelo contrário, foi sofrendo e ainda sofre mudanças ao longo do tempo a partir de diferentes marcadores econômicos, sociais e culturais. Da antiguidade à idade média, por exemplo, o casamento não consagrava um relacionamento amoroso, pois se caracterizava como um negócio de família, arquitetado pelos pais dos cônjuges, com a função prioritária de firmar alianças. Esse aspecto atravessa o tempo, sendo também assinalado por Costa (1983) no contexto do Brasil colonial, por exemplo. Nesse período este autor destaca a assunção do casamento sob a égide da higiene, priorizando o cuidado com a prole, em detrimento da exploração da afetividade no relacionamento ou da expressão amorosa justificando a união.
Em termos da intersecção da igreja com a instituição do casamento, recupera-se que foi a partir dos séculos XVII e XVIII que a moral católica cristã sacramentalizou o matrimônio, introduzindo os valores da ascese e da caridade (Vainfas, 1986). Quando a Igreja Católica passa a considerar o casamento como um dos sete sacramentos cristãos, há um interesse latente de preservação da família e de perpetuação de patrimônios, de modo que o casamento religioso passa a ser um legitimador social, um marcador que não explora a dimensão do afeto, mas sim da relação estabelecida entre o poder econômico e o da igreja (Freire, Sousa, Santos, Albuquerque, & Gouveia, 2013; Silva, Assis, & Wada, 2010).
Em termos da expressão da afetividade e da ampliação do significado do casamento, incorporando os elementos amorosos, a modernidade instala a priorização da razão, de modo que é apenas com o paradigma da pós-modernidade que se observa maior distanciamento do modelo do passado. Com o tempo, o casamento passa a ser cada vez mais associado à experiência amorosa, recuperando a importância da escolha dos cônjuges, até chegar à flexibilização das conjugalidades, como observado contemporaneamente (Aboim, 2006; Costa, 1983).
O movimento operado na pós-modernidade torna-se radical por permitir a expressão dos desejos individuais dos cônjuges, ultrapassando a condição de contrato que vigorou ao longo do tempo na caracterização do matrimônio. A noção psicodinâmica de conjugalidade (Féres-Carneiro, 1998), portanto, nos ajuda a considerar e legitimar as individualidades como instâncias essenciais para a construção da conjugalidade, operando-se um duplo movimento: as individualidades modificam-se e transformam continuamente a conjugalidade e também esta se modifica e repercute na manutenção ou ruptura da conjugalidade (Alves-Silva et al., 2017).
Nesse movimento de ampliação de sentidos sobre o matrimônio, a Igreja passa a se posicionar segundo diretrizes específicas sobre temáticas cada vez mais prementes, como as relacionadas ao divórcio, segunda união e dimensões constitutivas da família (Almeida, 2010; Porreca, 2004), por exemplo. Por esse motivo, a seguir, exploraremos as relações entre casamento e catolicismo no Brasil.
O casamento no contexto do catolicismo brasileiro
Em termos da visibilidade do catolicismo no contexto nacional, é importante ressaltar que, apesar da expansão de outras religiões, o Brasil continua se configurando como um país majoritariamente católico, com 64,6% de brasileiros assim denominados de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). Assim, pode-se apreender que a Igreja Católica ainda exerce grande influência social em nosso país, fazendo com que a moral cristã consiga balizar potencialmente algumas escolhas conjugais.
De acordo com a Estatística do Registro Civil do IBGE (2013), o número de casamentos tem aumentado em função de alguns rearranjos dos padrões conjugais familiares e das facilidades legais para efetivar o divórcio. Em um país eminentemente católico e com altas taxas nupciais, as discussões sobre o casamento religioso mostram-se lícitas e prementes. Mais do que isso, emerge como possibilidade investigativa o modo como os preceitos católicos acerca da família, da sexualidade e da própria união conjugal são transmitidos institucionalmente, repercutindo no modo como os casais católicos experienciam a sua conjugalidade.
Retomando algumas questões históricas que norteiam a chamada educação para a conjugalidade, aqui sob o prisma da instituição católica, recupera-se que a partir da década de 1940 foram criados movimentos cristãos especiais para enfatizar o significado e a importância do matrimônio, como a equipe de Nazaré, o Movimento Familiar Cristão (MFC) e a Pastoral da Família. A partir do MFC surgiu o Serviço de Preparação Para o Matrimônio (SEPREMA) ou Cursos de Noivos, como são popularmente conhecidos (Freire et al., 2013), que têm como principal objetivo propiciar um espaço de reflexão e aprendizado com relação ao matrimônio.
Estes cursos são de caráter obrigatório para aqueles que desejam se casar na Igreja Católica e geralmente são coordenados e ministrados por membros das Pastorais da Família, indivíduos estes que se configuram como um exemplo para aquela comunidade religiosa. Além disso, possuem duração variável, de acordo com a demanda de cada paróquia e abordam temas específicos relacionados à vida conjugal, como parentalidade, sexualidade, questões financeiras e união entre o casal (Freire et al., 2013). Ponzetti (2003) ressalta que o matrimônio tende a ser demarcado por rituais, sendo uma transição social e emocional importante para os recém-casados. Isso porque em muitas sociedades tal enlace representa a fase adulta e a aproximação da parentalidade, que pode evocar tanto um papel de complementaridade da relação conjugal, como também ser foco latente de conflitos (Grizólio, Scorsolini-Comin, & Santos, 2015).
Assim, a educação prévia sobre a vivência do matrimônio, como o que acontece nos cursos preparatórios da Igreja Católica, pode ser importante, pois mesmo que não antecipe todos os desafios da conjugalidade, pode promover maior preparação, bem-estar e prevenção de problemas (Risch, Riley, & Lawler, 2003; Torppa, 2009). Souza (2012) afirma que alguns temas têm aparecido com maior frequência no curso de noivos da Igreja Católica, como a responsabilidade com relação aos papéis parentais a serem desenvolvidos e a questão da sexualidade. É importante ressaltar que tais fatores, a parentalidade e a sexualidade, assumem grande importância na futura conjugalidade, à medida que se caracterizam como vivências diretamente relacionadas à satisfação conjugal. Diante dessas perspectivas, os cursos preparatórios para o casamento da Igreja Católica podem assumir um papel reflexivo, propiciando uma análise sobre a dinâmica do casal, apresentando o casamento de maneira prática e efetiva.
Um contraponto também pode ser apresentado a partir da hipótese de que o modo como tais cursos são desenvolvidos pode oferecer balizas apenas para determinados comportamentos conjugais aceitos pela religião, operando-se uma leitura mais rígida acerca de certos preceitos, o que pode também repercutir de forma mais negativa sobre a conjugalidade. Para além dessas considerações, a literatura científica também tem apontado que a religião tem tido um papel importante na manutenção do casamento, quer seja pela possibilidade de uma vivência espiritual compartilhada, quer seja pelos interditos relacionados aos dogmas religiosos, entre eles o divórcio, por exemplo (Alves-Silva et al., 2017). Tais aspectos reforçam a importância social e científica do presente estudo.
Blank (2010) enfatiza que as pastorais vêm tentando atualizar o modo como os cursos de preparação para o matrimônio são ministrados, em função das divergências entre a os ideais pregados pela teologia e a realidade cotidiana. Dentre as mudanças ocorridas, algumas regras morais normativas deixaram de ser uma exigência e a preparação está ocorrendo visando a uma maior interação entre os noivos e as noivas. A partir desse panorama, e levando em consideração que o casamento se configura como um fenômeno recorrente na sociedade brasileira e que o catolicismo ainda é a religião predominante no país, o objetivo deste estudo é compreender as repercussões dos cursos de preparação matrimonial na conjugalidade de noivos católicos.
MÉTODO
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo exploratório, de corte transversal, amparado na abordagem qualitativa de pesquisa. O mesmo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem dos autores (Protocolo CEP-UFTM 2163).
Participantes
A composição da amostra deu-se por conveniência. Foram entrevistados 12 noivas e seis noivos, totalizando 18 entrevistas. Alguns desses noivos e noivas compunham casais em que ambos participaram do estudo (n = 10). Os outros oito noivos e noivas participaram sem os seus parceiros. Em todos os casos, as entrevistas ocorreram individualmente, sem a participação do futuro cônjuge. Como explicitado no procedimento, foi feita uma análise dos discursos individuais, não de casal. Os entrevistados não eram casados atualmente, nem foram casados anteriormente e haviam realizado há menos de cinco meses o curso preparatório para o casamento em paróquias do município de Uberaba-MG e região. Esses nubentes possuíam idade média de 27,6 anos, que variava de 18 a 42 anos (n = 18), assim como tempo médio de relacionamento de 5,3 anos, com amplitude de 1,6 a 10 anos. A idade média das noivas foi de 25,9 anos (n = 12) e a dos noivos foi de 31,1 anos (n = 6). Além disso, eram provenientes de cidades do interior dos Estados de Minas Gerais e São Paulo e possuíam as seguintes ocupações: fisioterapeuta (Noiva 01), assistente paroquial (Noiva 02), empresária (Noiva 03), assistentes administrativas (Noivas 04 e 12), vendedora (Noiva 05), advogada (Noiva 06), professoras (Noivas 07 e 08), fonoaudióloga (Noiva 09), estudante (Noiva 10) e engenheira química (Noiva 11). Os noivos, por sua vez trabalhavam como ferroviário (Noivo 01), agricultor (Noivo 02), profissional autônomo (Noivo 03), operador de estação de tratamento de água (Noivo 4), administrador (Noivo 05) e médico veterinário (Noivo 6). Todos os nubentes haviam completado o ensino médio e 16 dos 18 entrevistados possuíam formação superior.
Instrumento
Foi empregado um roteiro de entrevista semiestruturada individual, aplicada face a face, especificamente desenvolvido para este estudo, permitindo a obtenção de informações básicas como idade, escolaridade, religião, bem como abrangendo questões como namoro, motivações para o casamento, opção pelo casamento religioso, experiências na transição para a conjugalidade e expectativas para a vida conjugal futura.
Procedimento
Coleta de dados. Foi realizado um levantamento das Igrejas Católicas da cidade de Uberaba-MG que ofereciam o curso preparatório para o casamento, o que permitiu à pesquisadora entrar em contato com os organizadores dos cursos. Assim, após prévia autorização, a pesquisadora pôde acompanhar estes cursos e convidar pessoalmente os casais para participarem da pesquisa. Não obstante, em decorrência das dificuldades para encontrar voluntários, houve consentimento dos párocos responsáveis por cada Paróquia para que as pastorais disponibilizassem uma lista com os contatos telefônicos dos participantes para que a pesquisadora tivesse acesso a todos os casais que haviam realizado o curso naquele ano (2016). Assim sendo, após esclarecimento sobre a pesquisa, agendamento prévio com os participantes e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, deu-se início às entrevistas, realizadas individualmente com cada noiva(o). As entrevistas ocorreram individualmente, face a face, sendo audiogravadas para posterior análise na íntegra e literalmente, compondo o corpus deste estudo.
Análise dos dados. A análise dos dados das entrevistas foi desenvolvida em dois momentos. Primeiramente, foi realizado um recorte das entrevistas individuais a partir das menções às expectativas, motivações, papel da religião e contribuição do curso de noivos para a conjugalidade futura. Em um segundo momento, esses trechos foram analisados de modo minucioso a partir da técnica de análise de conteúdo, visando à construção de eixos temáticos que representassem os sentidos sobre repercussões do curso de noivos na vida conjugal, disponíveis nas falas dos respondentes. A análise de conteúdo, amplamente empregada em estudos qualitativos, abrange um conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo é a busca dos sentidos presentes em dado discurso ou enunciado (Turato, 2003). Para a análise de conteúdo do presente corpus foram empregados os procedimentos recomendados por Bardin (2011), em três fases: (1) pré-análise; (2) exploração do material; (3) tratamento e interpretação dos resultados. Assim, a partir da recorrência nos relatos e da importância atribuída ao curso de noivos nas falas dos participantes, foram demarcados eixos temáticos para posterior exploração e análise com embasamento na literatura científica acerca da religiosidade e da conjugalidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da análise de conteúdo, os resultados foram agrupados em quatro eixos temáticos, segundo sua recorrência nos relatos: (a) Significação e expectativas do casar-se a partir do olhar de noivas(os) católicos; (b) A intersecção dos preceitos religiosos da igreja católica com o advento da modernidade; (c) As diferentes religiões no contexto de curso de noivos da igreja católica; (d) Olhar juntos para o mesmo horizonte: Curso preparatório para o casamento religioso como espaço potencializador da dinâmica conjugal. A seguir, esses eixos serão explicitados e discutidos.
(a) Significação e expectativas do casar-se a partir do olhar de noivas(os) da igreja católica
Neste eixo, são elucidadas não somente as expectativas dos noivos e noivas para o casamento, como também as concepções que estes têm do matrimônio. Pode-se notar que há, predominantemente, uma ideia de que o casamento é muito mais do que os preparativos para a data comemorativa, sendo considerado algo bem mais profundo, trabalhoso e ligado à fé verdadeira.
Casamento é realmente um sacramento que é importante pra nós enquanto participantes da igreja e não apenas foto, festa, essas coisas. A igreja acaba sendo o segundo plano só pra poder ficar bonito pra sociedade, mas pra nós realmente é a questão do matrimônio, do sacramento que é o principal (Noiva 02).
Eu penso mais no casamento no sentido do matrimônio mesmo, da vida a dois, não é só ir lá assinar um papel ou ter uma noite bonita, com festa, vestido e foto, é mais que isso, é você assumir diante de Deus um novo compromisso (Noiva 03)
Casamento pra mim é uma união de princípios, valores, com uma pessoa que você ama. A gente tem expectativas do dia em si, de todo mundo estar feliz, mas não tenho expectativa com festa porque o importante pra mim agora, com esse pensamento que eu tenho hoje em dia, é a benção de Deus (Noiva 07).
De acordo com Fonseca e Duarte (2014), o matrimônio é claramente mais valorizado por aqueles indivíduos que lhe atribuem um sentido sacramental e não somente contratual. Assim, nestes excertos de fala, é possível apreender que o enlace matrimonial para estes nubentes realmente ultrapassa o aspecto de uma comemoração festiva ou de um acordo firmado e se estende para uma vivência de reafirmação de fé e valores, à medida que o casamento é mais enaltecido em sua dimensão religiosa.
Em contrapartida, é preciso ressaltar que o matrimônio é envolto por rituais carregados de elementos simbólicos que podem apontar para mudanças, caracterizando uma transição social e emocional importante para os recém-casados (Bettega, 2007; Ponzetti, 2003). Nas falas a seguir, há a ilustração da ideia de que o casamento pode ser algo construído socialmente, que consegue, muitas vezes, se fortalecer pelo comércio fomentado pelos eventos conúbios, o que pode incentivar e estimular vivências matrimoniais mais superficiais.
Pra mim essas coisas mais superficiais igual festa não deveriam nem fazer parte do casamento, é só pra gente gastar, eu só queria a Igreja, assumir um compromisso diante de Deus mesmo, mas minha noiva fez questão da festa (Noivo 01).
Eu sei que pra muita gente o casamento é só status, só pra fazer bonito pros outros, eu não sou assim. Faz aqueles casamentos cheios de baboseira, com exageros, festa, eu não acho que tem que ser assim. O mais importante é a benção de Deus e às vezes é o que fica mais esquecido (Noivo 02).
Muita gente quando pensa em casar é pelo status, pelo glamour mesmo, pra ser o centro das atenções, mas pra mim é bem mais que isso, é um enlace, um compromisso com seu marido, com sua família, com Deus (Noiva 03).
Nos excertos de fala, os noivos e as noivas ressaltam que um ritual de luxo não deve ser o foco principal da união e que o laço sacro perante a igreja é que deve ser enaltecido. Com isso, depreende-se que uma visão mais realista acerca do matrimônio pode estar se instaurando. Falcke e Zordan (2010) salientam que os jovens estão iniciando a vida conjugal de uma maneira mais objetiva, sem grandes idealizações, à medida que casamentos considerados perfeitos já não fazem parte do desejo matrimonial.
Assim, mesmo que a visão demasiadamente romântica ainda seja atrelada ao casamento em alguns casos, a objetividade nos relacionamentos vem conquistando um espaço na cultura brasileira (Menezes & Lopes, 2007). Nota-se, portanto, que apesar de o matrimônio ainda ocupar uma dimensão significativa no imaginário social, a ideia de que a vida conjugal é um "conto de fadas"vem perdendo forças, cedendo espaço a uma visão mais realista e amadurecida da conjugalidade, suas características e desafios (Aboim, 2006; Magalhães & Féres-Carneiro, 2003).
Pra mim casamento é a convivência diária, você ter aquela expectativa de contar como foi seu dia, conversar, ter um momento a dois, eu sei que é bem mais do que a gente pensa que às vezes vai ser só coisa boa, tudo muito lindo, no dia a dia não é assim (Noiva 04).
Casar sempre foi o sonho da minha noiva e o meu também, mas a gente sabe que o casamento tem muitas dificuldades, não vai ser tudo um mar de rosas, tem os espinhos também (Noivo 05).
Eu tento pensar no lado mais prático do casamento, no dia a dia e não só na cerimônia porque a gente sabe que conviver com outra pessoa não é fácil, não vai ser um filme de romance que todo mundo sempre tá feliz, tem dificuldades e sei que não são poucas (Noiva 12).
Fonseca e Duarte (2014) afirmam que essa tendência matrimonial mais objetiva realmente está se estabelecendo, possibilitando que a vida a dois apareça como sinônimo de responsabilidades, partilhas, construção de projetos comuns, além da constituição familiar, incluindo os filhos como algo resultante do casamento e importante para a sua significação. Assim, a parentalidade e a conjugalidade estariam intimamente imbricadas, indicando uma transmissão geracional e fazendo com que os filhos ocupem um espaço essencial de validação do casamento e significado da procriação (Magalhães, 2009).
Casamento é fazer a minha própria família porque a partir do momento que você casa, você pensa em ter filhos, é uma família nova que você tá criando (Noivo 01).
Nossa, eu espero colher frutos maravilhosos do casamento né, tendo ao lado da minha noiva momentos felizes, constituir uma família, ter filhos, prosperar em família sempre (Noivo 04).
Eu acho que minha maior felicidade de casar é esperar e programar os filhos né? Sempre tive o sonho de ser mãe, morro de medo de ter algum problema e não dar certo, mas acho que vou conseguir sim e que esse sonho está perto de se concretizar com o casamento (Noiva 10).
Segundo Grizólio et al. (2015), a parentalidade exerce um papel importante na conjugalidade de longa duração, à medida que a existência dos filhos é compreendida como sinônimo de apoio, responsabilidade e oportunidade de aprendizado para o casal. Além disso, é importante ressaltar que a escolha por não procriar pode ser julgada, muitas vezes, como uma conduta desviante, anormal, egoísta e diferente do que é socialmente esperado (Rios & Gomes, 2009), fazendo com que os casais que assim optem sejam comumente incompreendidos.
Nas falas dos entrevistados fica evidente a relação quase indissociável entre conjugalidade e parentalidade, de modo que a experiência parental deve estar sustentada na conjugalidade estabelecida anteriormente, o que acompanha as orientações da própria igreja acerca da procriação e da constituição de uma família, ou seja, para haver a parentalidade deve preexistir o estabelecimento da conjugalidade. A partir disso, pode-se aventar que a conjugalidade também funcionaria, nesses casais de noivos, como uma possibilidade de acesso à parentalidade quase que exclusiva, haja vista os valores e tradições apregoados pela igreja. De modo similar, tais jovens sequer consideram a possibilidade de não terem filhos, o que acaba cravando-se como uma característica do enlace conjugal neste contexto de investigação. Embora esse aspecto seja evidente na amostra, convém lembrar que as relações familiares vêm se modificando em ritmo acelerado, promovendo novas leituras que justamente questionam essa indissociabilidade entre conjugalidade e parentalidade, dando origem a uma maior aceitação, por exemplo, de casais sem filhos por opção e mesmo da parentalidade exercida por pessoas solteiras, em um movimento que já passa a ser mais visível na contemporaneidade (Caetano et al., 2016), repercutindo em aspectos como maior liberdade para a experiência da sexualidade feminina, notadamente em questionamento à necessidade da maternidade para a construção de sua identidade (Machado & Penna, 2016).
Na presente amostra, uma das maiores expectativas relacionadas ao matrimônio e às vivências conjugais refere-se a uma readaptação no modo de viver, pois quando há a união matrimonial a vivência que antes era individual dá lugar a uma vivência dividida. Neste sentido, Féres-Carneiro (1998) aponta que a conjugalidade realmente pressupõe a instauração de uma identidade partilhada, que em um processo de interação contínua possibilita que as individualidades criem um espaço comum.
Casamento pra mim é unir duas pessoas e fazer de tudo pra ser feliz, porque vão ser duas pessoas com costumes diferentes, educação diferente, então é difícil, mas casamento também é abrir mão de muita coisa pra dar certo (Noiva 06).
Casamento pra mim é a união entre um casal, que mesmo cada um tendo suas características, descobriu afinidades, o que aumenta a vontade de tá sempre com o outro, com o intuito de cuidar da relação que construíram. E você ter uma vida a dois, juntos mesmo, pro que der e vier (Noivo 04).
Nestas falas, os noivos e noivas afirmam que o casamento é uma junção de indivíduos singulares, com histórias de vida distintas e vivências próprias. Assim sendo, em meio a peculiaridades e personalidades ímpares, é inevitável que os cônjuges precisem se adaptar à nova vida com o parceiro e ceder em alguns aspectos para que o enlace possa ser mantido. Berger e Kellner (1970) acrescentam que o casamento acontece em um ato dramático no qual duas pessoas estranhas, com passados diversos, se encontram e realmente se redefinem. Isso evocaria determinados desafios para a conjugalidade, que vem sofrendo cada vez mais alterações na pós-modernidade (Féres-Carneiro, 1998; Campos et al., 2017).
Dessa forma, tal realidade aponta para mudanças velozes em relação ao casamento e às representações que o mesmo carrega consigo. A partir desse prisma, pode ser oportuno disponibilizar espaços de compartilhamentos e aprendizagens matrimoniais para que orientações, direcionamentos e reflexões sejam propiciados. Estes espaços podem ser importantes, pois apesar de não abarcarem nem anteciparem por completo os desafios da conjugalidade, oferecem elementos para que se possa pensar na prevenção de problemas e mesmo na resolução de conflitos (Risch et al., 2003; Torppa, 2009), a depender do escopo de cada intervenção ou projeto. Os cursos de noivos podem se concretizar dentro desse paradigma, ou justamente operarem o sentido inverso, de enrijecimento e de pouca permeabilidade a questionamentos. Obviamente que aqui se aventam possibilidades, haja vista que há uma diversidade de modelos de espaços que podem ser criados, inclusive com maior ou menor abertura para discussões e reflexões, com maior ou menor flexibilidade para críticas e reposicionamentos.
Faz-se necessário ressaltar que esses cursos devem ser promovidos não no sentido de doutrinar os casais em termos de como deve ser um casamento católico, mas sim como tais participantes podem compreender esse momento, assim como a relação que será estabelecida e as vicissitudes desse processo. Abarcar essa dimensão da experiência conjugal no cotidiano pode ser importante para promover reflexões mais adequadas, concretas e focadas em experiências que, de fato, contribuam para o estabelecimento de vínculos saudáveis e satisfatórios.
(b) A intersecção dos preceitos religiosos da igreja católica com o advento da modernidade
É importante frisar que as mudanças e atualizações da sociedade ao longo dos anos fizeram com que a Igreja Católica precisasse se reformular em alguns aspectos para continuar atingindo e cativando seus fiéis. Diante de uma sociedade sexualmente mais livre, a Igreja precisou se adaptar a esta nova realidade sem repreender os indivíduos de forma punitiva (Coutinho & Ribeiro, 2014; Libaneo, 2002), o que ficou evidente nas falas seguintes.
Pelo que eu percebi, o curso de noivos tá bem mais tranquilo. Até pra conversar a respeito de alguns assuntos igual sexo que antes não podia nem falar, agora eles falam bastante, é até tema de palestra. E se não for assim o pessoal vai até afastando mesmo, né? (Noiva 01)
Nas questões da sexualidade eu acho que a Igreja tem que acompanhar, isso de ser proibido eu não concordo não, acho que a igreja tem que acompanhar o ritmo da sociedade, até pra não distanciar a gente mesmo, ainda mais os jovens né? Difícil seguir à risca (Noiva 05)
Durante o curso eles não falaram sobre a sexualidade de um jeito proibidor. Inclusive, foi uma psicóloga pra falar dessa parte e foi muito engraçado, bem aberto, sem restrições nesse assunto, eles estão mudando (Noivo 05).
Acerca deste aspecto, Blank (2010) aponta que as pastorais responsáveis pela organização dos cursos de preparação para o casamento têm buscado atualizar seu modo de trabalhar nestes cursos em razão da disparidade dos ideais católicos e da modernidade. Dentre as mudanças ocorridas pode-se citar que a sexualidade faz parte do repertório de experiências dos noivos e das noivas, não se concebendo a necessidade da castidade para a união matrimonial.
Os cursos, nesse sentido, passam a acompanhar essas mudanças sociais e históricas, abordando o assunto de modo cada vez mais aberto, ainda que sejam conservados dogmas como a virgindade. Opera-se, portanto, uma abertura em relação à sexualidade, flexibilidade esta possibilitada não pelos preceitos religiosos em si, mas pela impossibilidade de divergir dos valores tão presentes em nossa sociedade contemporânea, independentemente de qualquer filiação religiosa (Porreca, 2004). Nas falas seguintes, é possível apreender uma clara
manifestação dos noivos e das noivas sobre a importância da religião realmente atualizar-se diante das transformações sociais advindas da modernidade para que o ambiente religioso não se torne desconfortável ou repressor, afastando fiéis que já não se sentem contemplados por tais doutrinas.
Acho que nem sempre tem que ser tudo seguido à risca, são outros tempos, não dá pra ser igual antigamente nos namoros, nem nos casamentos [...] Antes a mulher tinha que respeitar o marido, ser uma boa esposa e dona de casa, hoje mudou, não dá pra ser assim, os dois trabalham, então acho que a religião tem que acompanhar senão o pessoal para de frequentar (Noivo 02).
Ah, eu me senti bem à vontade no curso, até porque tinham muitos casais lá que já moravam juntos e já tinham vida sexual, então eles não ficaram falando de proibições e tal, foram mais abertos nessa parte (Noivo 06).
Ah, pelo que eu percebi no curso de noivos eles estão abrindo a mente, porque antigamente tinha todo aquele tabu de a mulher casar virgem, ser mais submissa ao marido, hoje não é mais taxado essas coisas, todo mundo trabalha, tem seu espaço (Noiva 06).
Além da sexualidade, compreende-se que as questões ligadas ao gênero têm pautado reflexões importantes nesses casais. A franca inserção da mulher no mercado de trabalho e a sua não associação exclusiva ao ambiente doméstico acabam promovendo mudanças no modo como o casamento é compreendido, o que difere radicalmente das décadas pregressas (Galeazzi et al., 2011). Nesse âmbito, Perlin e Diniz (2005) apontam que as mudanças menos cristalizadas da modernidade têm gerado transformações nas famílias, pois com a maior participação da mulher no mercado de trabalho, o casamento contemporâneo também sofre alterações e configura um modelo bem diferente do que se tinha
no início do século passado, onde o único cenário de atuação permitido à mulher era o doméstico. Essa visão mais contemporânea acerca da mulher atravessa os discursos dos noivos e das noivas da presente pesquisa. A necessidade de a Igreja se atualizar diante das demandas e mudanças contemporâneas operadas nas famílias e também nos domínios de gênero e sexualidade também foi destacada em estudo com jovens adultos religiosos (Ribeiro & Scorsolini-Comin, 2017), fortalecendo o argumento da importância da renovação e também de maior flexibilização, ainda que os preceitos sejam importantes para a caracterização dos saberes veiculados por cada sistema religioso.
(c) As diferentes religiões no contexto de curso de noivos da igreja católica
Neste eixo, os noivos e noivas participantes abordaram as dificuldades geradas em um relacionamento quando os cônjuges não professam a mesma fé. Muitos afirmaram que quando as crenças são ambivalentes, conflitos podem ser gerados, principalmente quando a criação dos filhos começa a ser uma questão para o casal. Os noivos e noivas elencaram que a religião se caracteriza como uma base para a formação familiar e que as crenças religiosas são decorrentes de vivências individuais.
Mas assim, também já vi casos de, por exemplo, um casal, um vai pra uma igreja, outro pra outra igreja, às vezes não dá certo, isso eu acredito que pode atrapalhar sim, porque os dois não vão pensar juntos (Noiva 07).
Assim, quando os dois são de religiões diferentes acho que pode atrapalhar sim, se um for muito fanático deve ser mais difícil (Noivo 02).
Eu acredito que se as duas pessoas tiverem uma convicção muito forte de religião e não forem maleáveis eu acredito que isso pode atrapalhar o relacionamento (Noiva 09).
Nestas falas, as crenças distintas e o fanatismo religioso são apontados como fatores que podem dificultar o processo conjugal e comprometer a relação quando o casal não encontra meios para lidar com as diferenças. Além disso, há um delineamento da religião ocupando, muitas vezes, o centro de conflitos em detrimento da diferença de costumes religiosos, ressaltando essas divergências como um desafio na criação dos filhos.
Quando um é católico e o outro evangélico, por exemplo, e um tem fé num santo e o outro não tem, pode dar briga. Aí quando vêm os filhos, tem aquela coisa né? Qual religião você vai ensinar? Vai ter uma imagem de santo em casa ou não vai? Essas coisas mais básicas assim podem complicar (Noiva 03).
Quando o casal tem a mesma religião, isso contribui pro ambiente familiar, acho que é o ideal senão um sempre vai achar que a religião é melhor que e religião do outro e isso atrapalha quando vêm os filhos e você vai ensinar alguma coisa (Noiva 11).
Neste âmbito, é valido considerar que uma das tarefas mais difíceis da conjugalidade é a criação dos filhos, afinal o processo educativo envolve os valores que os pais gostariam de repassar e dar continuidade, fazendo referência à origem de ambos os cônjuges (Ziviani et al., 2015). Assim, quando há limitações neste sentido em decorrência de divergências de fé, desentendimentos e conflitos podem vir à tona. Nesse sentido, pode-se compreender que esses casais mostram pouca flexibilidade em relação à divergência de filiação religiosa, sendo que a justificativa para esse fenômeno repousa nas expectativas em relação à parentalidade. Novamente a parentalidade parece exercer um papel essencial na constituição da conjugalidade nesses casais, delineando, inclusive, aberturas e fechamentos em relação a crenças, valores e comportamentos. Garcia e Maciel (2008) afirmam que casais de Igrejas distintas tendem a educar seus filhos, predominantemente, segundo os preceitos de uma das religiões. Desta maneira, é interessante que as Igrejas que ofertem o curso de noivos continuem abordando esta temática como parte do conteúdo do curso, a fim de apoiar, preparar e orientar futuros casais em relação à parentalidade.
Não obstante, além dos desafios já citados na preparação dos casais para o casamento, ainda é preciso destacar a necessidade da Igreja se programar para acolher aqueles que também não são católicos e só frequentam o curso por aceitarem se casar de acordo com o que rege a religião do parceiro(a) ou para agradar a própria família.
Eu acho assim, o curso deveria focar mais na questão do sacramento em si e não abordar tanto as questões de igreja, porque as pessoas que não são católicas podem ficar mais resistentes e não entender, mas assim, eles tentaram fazer isso, ninguém foi julgado por não ser católico sabe? (Noiva 02).
Eu não sou católico, sou mais espírita, então em alguns momentos eu não entendia o que eles falavam no curso por eu não frequentar o catolicismo (Noivo 02).
A gente está casando na Igreja mais para satisfazer um desejo da minha mãe e dos pais dele, porque eu não frequento, nem o meu noivo, mas nossos pais sim, então decidimos não contrariar (Noiva 07).
Segundo Romera (2012), o cristianismo enfrenta um grande desafio atualmente ao tentar acompanhar o ser humano contemporâneo e mostrar aos indivíduos o significado e a importância da fé. Posto isto, Freire et al. (2013) salientam que muitos são os casais que procuram o matrimônio religioso católico motivados exclusivamente pela tradição, para não deixar de seguir os costumes de suas famílias. Assim sendo, as pastorais responsáveis pelos cursos preparatórios para o casamento precisam levar isto em consideração para que seja possível alcançar este público não necessariamente cristão.
Tal movimento também é importante no sentido de reafirmar o modo como as tradições católicas estão inseridas e impregnadas nas relações sociais estabelecidas em nosso contexto, sobrepondo-se até mesmo quando um membro do casal não é católico ou quando o casal não é praticante. A importância do sacramento, da visibilidade social dessa cerimônia e da necessidade de manter tradições advindas da família de origem parecem perpetuar a busca desses casais pelo casamento religioso, ainda que tal evento tenha pouco ou nenhum sentido experiencial, afetivo ou prático para esses participantes (Freire et al., 2013). Nota-se, portanto, que os cursos acabam recebendo um público bastante heterogêneo e que não necessariamente professa, pratica ou coaduna com os valores mais tradicionais da igreja. Cabe-nos questionar, desse modo, em que medida esses cursos, de fato, atendem às necessidades dos participantes e da própria igreja, indagando se eles conseguem ser sensíveis às experiências trazidas pelos nubentes ou às reflexões que eles promovem ao longo do relacionamento de namoro, noivado e, posteriormente, do matrimônio.
Um questionamento que se apresenta é acerca do objetivo do curso preparatório, se é atender às demandas dos casais em transição para a conjugalidade ou se é corresponder às necessidades da igreja em seu papel formativo e evangelizador. De acordo com os noivos e as noivas entrevistados, o curso ainda parece atender ao segundo sentido, reafirmando as origens de sua criação dentro da igreja católica. No entanto, mesmo atendendo a metas institucionais, pode funcionar como um espaço de reflexão sobre determinados temas, como exposto por alguns participantes e discutido de modo mais detalhado na categoria seguinte.
(d) Olhar juntos para o mesmo horizonte: Curso preparatório para o casamento religioso enquanto espaço de reflexão sobre a dinâmica conjugal
Neste eixo, o apreço dos noivos e noivas pelo curso de preparação para o casamento será explicitado, à medida que a maioria dos entrevistados relatou que este espaço é enriquecedor para a formação e preparação para o matrimônio, ressaltando pontos considerados importantes, como a necessidade de demonstração de afeto, divisão das alegrias e dos problemas, valorização da família, cuidado, responsabilidade, educação dos filhos, vida financeira e até sexualidade.
O que contribui mesmo é em questão de formação de família, pra nós, pros nossos filhos futuros, vai contribuir sim enquanto formação de família, pra gente também dar uma formação boa pros nossos filhos, em questão de valores que a igreja prega (Noiva 02)
O que eles falam da família né, que é importante, que uma hora você tem que deixar sua família, pai e mãe e construir sua própria família, legal isso, os valores que eles ensinam e que a gente vai repassar uma hora (Noivo 02).
O curso foi um aprendizado, pra saber como vai ser a vida de casado porque vai ter briga, a gente tem que lidar com o lado financeiro, tem que ter amor, fé e paciência com o outro. Eu amei o curso, queria até fazer de novo. Nossa, foi muito bonito, a gente volta diferente (Noiva 05).
Nestes trechos, há uma valorização da religião na sua contribuição para a constituição familiar, mas, principalmente, para a criação dos filhos e formação de uma nova família. De acordo com Norgren et al. (2004), dentre os fatores que contribuem para a manutenção longeva e satisfação conjugal de um relacionamento destaca-se a prática de uma religião entre o casal, que seria um apoio para que os casais consigam enfrentar os desafios inerentes a esse relacionamento ao longo do tempo. Apontamentos semelhantes foram trazidos no estudo de Alves-Silva et al. (2017).
É importante ressaltar que a visão de família professada por esses casais é relacionada à figura de pais heterossexuais com filhos, com pouco ou nenhum espaço para a recriação de modelos e perspectivas. Assim, ainda que os nubentes discorram sobre mudanças e flexibilidades observadas na contemporaneidade, como a abertura para a prática sexual antes do casamento, a compreensão dos mesmos sobre constituição familiar parece dialogar de modo mais direto com valores até certo ponto considerados tradicionais e religiosos. Ainda em termos da avaliação que os participantes fazem do curso, outros aspectos merecem destaque, como segue:
Eles abordaram o tema financeiro dentro do casamento e isso aí pra mim foi uma coisa que eu imaginava que seria diferente e clareou as coisas pra mim (Noivo 01).
O pessoal acha que o curso de noivos é simplesmente um documento, pra anexar ao processo, mas ele é feito pra suscitar dúvidas que a gente tem que sanar antes do casamento, então foi muito proveitoso pra nós enquanto casal (Noiva 02).
Nestas falas, percebe-se a importância atribuída ao curso preparatório para o casamento enquanto um espaço de discussões sobre a futura dinâmica conjugal em seus variados aspectos, como responsabilidades, controle de finanças, afeto e sexualidade. Freire et al. (2013) afirmam que as pastorais realmente tentam repassar orientações sobre a vocação do amor, fidelidade e valores durante os cursos matrimoniais, cumprindo, assim, um papel também informativo e formativo, não apenas de doutrinação. Assim, é possível inferir que o curso preparatório para o casamento da Igreja Católica, a partir da amostra investigada e que recupera um contexto específico de referência, foi considerado como uma experiência positiva para muitos participantes que ressaltaram o quão engrandecedor foram os questionamentos suscitados, que em muito auxiliaram os casais no processo conúbio, à medida que conseguiu ampliar as possibilidades de diálogo, compreensão e fortalecimento da decisão pelo matrimônio.
Sumarizando os principais achados deste estudo, destaca-se que os nubentes entrevistados consideram o casamento como um fenômeno muito expectado, relacionado a crenças e valores e também à afirmação de fé, à medida que o matrimônio religioso na Igreja Católica não representaria somente um momento de comemorações ou festividades, mas uma bênção divina para o casal. Não obstante, os noivos apreendem que a união conjugal pode ser, em alguns momentos, permeada por conflitos e angústias, o que distancia o casamento de uma visão idealizada e perfeccionista (Falcke & Zordan, 2010) e o caracteriza mais como uma fase de aprendizagem, readaptação, partilha e de formação de uma nova família.
Os cursos preparatórios para o casamento da Igreja Católica foram considerados pelos nubentes como uma experiência positiva e valorosa, sendo uma oportunidade de amadurecimento, reflexão e preparação para a convivência diária. Apesar de haver na ministração dos cursos a predominância do repasse dos preceitos católicos, a maneira com que as palestras foram conduzidas satisfez e surpreendeu muitos participantes, inclusive os casais que professam religiões distintas entre si, pois se sentiram acolhidos e compreendidos em suas diferenças de crenças. Neste âmbito, muitos noivos e noivas elencaram que a prática de uma mesma religião pode ser um aspecto facilitador da dinâmica conjugal, à medida que alguns valores cristãos contribuem para a harmonia do casal (Norgren et al., 2004). Em contrapartida, religiões distintas entre os cônjuges foram consideradas fomentadoras potenciais de impasses e divergências, principalmente quando a parentalidade começa a ser exercida (Garcia & Maciel, 2008; Ziviani et al., 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos elementos discutidos neste estudo, pode-se apreender que a transição para a conjugalidade em noivos católicos apresenta aspectos importantes a serem considerados, como a manutenção de certos preceitos, ao mesmo tempo em que se opera a abertura para novos posicionamentos, em um esforço para se flexibilizar condições que tornam o casamento possível. Na visão dos participantes, a Igreja Católica está tentando acompanhar as mudanças culturais e sociais, trocando algumas imposições por sugestões, para que temas como sexualidade e papéis de gênero, por exemplo, possam ser discutidos mais abertamente, em uma tentativa de cativar os fiéis e ajudá-los a refletir de forma mais realista sobre a vida conjugal que se aproxima.
Em termos das possíveis limitações do estudo, é importante ressaltar que a pesquisa foi realizada somente com nubentes da cidade de Uberaba-MG e do interior do Estado de São Paulo, o que pode ter limitado e dificultado diálogos com realidades de outras regiões do país e recuperado um perfil mais homogêneo de participantes, inclusive por serem de dioceses próximas geograficamente e que mantêm relações entre si. Mesmo assim, há que se considerar, ainda, que os cursos são administrados por pastorais diferentes e que, apesar de haver orientações gerais para a sua organização, podem existir especificidades que se tornem significativas no estudo de suas repercussões na transição para a conjugalidade. Essa diversidade pode promover leituras mais flexíveis ou mais tradicionais acerca do casamento, o que pode ser operacionalizado no modo como os cursos são organizados e como é compreendida a educação para a conjugalidade. Assim, explorar os elementos mais contextuais desses cursos é uma possibilidade de estudo vindouro, não apenas investigando os discursos individuais, como aqui empreendido em caráter exploratório. Análises mais pormenorizadas em termos de cor e gênero podem acrescentar novos dados a essas considerações. Conhecer os aspectos sociais e culturais de cada diocese/pastoral pode acrescentar aspectos importantes para uma análise macrossocial. Outra possibilidade de estudo futuro é acompanhar tais casais, verificando se e de que modo os cursos preparatórios, de fato, têm contribuído ou não no percurso conjugal, o que também pode ser empreendido a partir de investigações que comparem casais que passaram pelo curso com os que não tiveram essa obrigatoriedade na transição para a conjugalidade.
Por fim, considera-se que por se tratar de um estudo de caráter exploratório, seus resultados devem ser analisados com parcimônia, não se recomendando a generalização dos mesmos para outras realidades que não as pesquisadas. Ademais, espera-se que este estudo possa contribuir e inspirar novas investigações nesta temática, que possui uma bibliografia demasiadamente restrita no Brasil.
DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSES
Não há conflito de interesses.
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Recebido em: 18/12/2017
1ª revisão em: 10/04/2018
Aceito em: 26/05/2018
Sobre os autores
Lorena Daniela Rodrigues da Silva é psicóloga pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. E-mail: lorena-rodrigues03@hotmail.com
Fabio Scorsolini-Comin é docente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Doutor em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela mesma instituição. E-mail: fabioscorsolini@gmail.com
A contribuição de cada autor pode ser atribuída como se segue: L.D.R.S. foi responsável pela coleta e análise dos dados, bem como pela redação do artigo. F.S.C. foi responsável pela redação do projeto que originou a pesquisa, bem como pela análise dos dados, escrita e revisão do artigo. L.D.R.S. e F.S.C. são responsáveis pela redação final (revisão e edição).