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Revista Polis e Psique
versão On-line ISSN 2238-152X
Rev. Polis Psique vol.5 no.3 Porto Alegre dez. 2015
ARTIGOS
O sentido do trabalho para os neosujeitos numa posição gerencial
The meaning of work for neo-subjects in managerial positions
El significado del trabajo para los neo-sujetos en puestos directivos
Jorge Gomes da Silva SobrinhoI e Edilene Freire de QueirozII
I Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
II Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife, PE, Brasil.
RESUMO
O objetivo deste artigo foi realizar um ensaio teórico sobre as possibilidades de elabora-ção de uma estética da subjetivação de uma posição gerencial nos neosujeitos, através da topologia lacaniana dos registros: Real, Simbólico e Imaginário vinculados a uma analitica do corpo. A partir da ideia de corpo atravessado pela linguagem, pelas imagens e habitado pelo gozo, percorremos um percurso marcado pelo papel da cultura organi-zacional, do narcisismo, do reconhecimento e do enfrentamento da contingência para pensarmos o processo de subjetivação articulado a multiplicidade de experiências vi-venciadas pelos neosujeitos nestes três registros.
Palavras-chave: Neosujeito; Trabalho; Psicanálise e Sentido.
ABSTRACT
The aim of our essay is the theoretical elaboration of the possibility of an aesthetics of subjectivity of neo-subjects in managerial positions through the tripartite Lacanian to-pology of registers—the Real, the Symbolic and the Imaginary—linked to an analytic of the body. From the idea of the body traversed by language and images and inhabited by pleasure, we follow the path traced by organisational culture, narcissism, recognition and its encounter with contingency. This allows us to think the process of subjectivation articulated through the multiplicity of experience lived by neo-subjects in connection with the three registers.
Keywords: New Subjects; Labor; Psychoanalysis and Meaning.
RESUMEN
El objetivo de este trabajo fue realizar un ensayo teórico sobre las posibilidades de de-sarrollo de una subjetividad estética de un cargo directivo en neosujeitos por topología lacaniana de registros: Real , simbólicos e imaginarios vinculados a un organismo de análisis. A partir de la idea de cuerpo atravesado por el lenguaje, las imágenes y habitado la alegría viene de una ruta marcada por el papel de la cultura organizacional del narcisismo, reconocer y hacer frente a la contingencia de pensar el proceso de subjetivi-dad articula las múltiples experiencias de la neosujeitos estos tres registros.
Palabras-clave: Neosujeto; Trabajo; Psicoanálisis y Sentido.
Introdução
Este ensaio é parte da dissertação de mestrado em psicologia clínica realizada no Laboratório de Psicanálise e Psicopatologia Fundamental da Universidade Católica de Pernambuco, intitulada “Corpos intensificados: a dimensão do mal estar no processo de subjetivação de uma posição gerencial”, que pesquisou sobre o tema do sofrimento no trabalho, em jovens participantes de programas trainees.
Partimos da ideia de "virada antropológica" desenvolvida pelo psicanalista Jean Pierre Lebrun no livro Perversão Comum - viver juntos sem o outro (2008a), no qual constrói a hipótese, baseada na sua prática clínica, de desarticulação entre as subjetivi-dades pai-orientada e o social, produzindo efeitos inéditos na cultura e consequentemen-te na produção de subjetividade da nossa época.
Optamos por analisar os efeitos dessa virada antropológica sobre aqueles traba-lhadores denominados pelos administradores de Geração Y, Digital ou Internet (Lipkin e Perrymore, 2010; Oliveira, 2009; Tapscott, 2010) por terem nascidos entre os anos 1980 e 2000. Essa nomenclatura é usada para demarcar a influência da tecnologia sobre a subjetividade desses profissionais, que segundo pesquisa da Staton Chase Internacio-nal/Grupo Foco, realizada em 2009, já ocupam 25% dos cargos gerenciais nas empresas brasileiras.
Na psicanálise eles equivaler-se-iam aos "neosujeitos” (Lebrun, 2004; 2008a; 2008b; 2009) e as subjetividades “sem gravidade” (Melman, 2003), marcados pelos seus aspectos flexíveis e imediatistas na forma de estar no mundo.
A hipótese de trabalho desses autores é sobre o surgimento de um novo registro antropológico que culminaria com uma nova economia psíquica, que desenhou-se no horizonte da cultura ocidental, a partir do final do século XX, no qual foi:
[...] possível opor um regime incompleto [regido pela lei do desejo] e consistente [voltado para o coletivo] a um regime completo [regido pelas modulações do gozo] e inconsistente [voltado para o particular], mas essa oposição nem por isso exclui a possibilidade de um deslizamento de um regime ao outro (Lebrun, 2008a, p.207).
Essa transição de registro tem efeitos na clínica e diversos outros campos, dentre eles o trabalho, por sua implicação prática no desenvolvimento de uma posição gerencial, lugar anteriormente reconhecido e sustentado por sua autoridade simbólica, que, atu-almente encontra-se em transição.
O objetivo deste ensaio é apresentar algumas possibilidades de subjetivação de uma posição gerencial, dada essas novas construções sociais, através de uma estética da subjetividade baseada na topologia lacaniana dos registros do: Real, Simbólico e Imagi-nário, vinculada a uma analítica do corpo ou dos afetos no campo psicanalítico.
Novos modos de subjetivar
A modernidade consagrou a subjetividade através do ideário racionalista e da revolução industrial. Na visão de Bauman (2007a), ela estava atrelada a um conjunto estável e ordeiro de valores que regia o modo de vida em sociedade, e que na atualidade foi perdendo consistência e sentido coletivo, como aponta Lebrun (2008a), na sua tese de virada antropológica.
Maffesoli (2013) também concorda com essa visão ao sinalizar que a moderni-dade gestou a vida através de uma visada assentada sobre um mundo racional, progres-sista e voltado para o futuro. Tal ideia estava configurada por grandes narrativas como a marxista que pregava uma sociedade perfeita.
Na atualidade, essas utopias também se esvaziaram de sentido devido a um des-locamento das novas subjetividades que estão mais interessadas nas problemáticas coti-dianas, locais e particulares.
Por sua vez, a pós-modernidade, considerada uma condição e uma estética con-temporânea da vida, tem como marca o esgotamento das ideologias da modernidade baseada em grandes narrativas e a constituição de um momento histórico transitório, de elaboração e descrição dos acontecimentos que ocorreram depois do período da moder-nidade (Mafesolli, 2013).
Nesta nova configuração, cada sujeito é convocado a tomar uma posição de di-reito ao gozo prometido pela modernidade (Fleig, 2009) e interditado pelos limites (Le-brun, 2004). Não haveria sob estas condições, referência ou dívida com o simbólico (Lacan, 1998), apenas a proliferação de micro-narrativas sobre a busca de satisfação de cada um no aqui e agora, bem ilustrado nesta passagem pelo filósofo Luc Ferry (2010):
(...) os filósofos gregos pensavam no passado e no futuro como dois males que pesam sobre a vida humana, dois centros de todas as angústias que vêm estragar a única e exclusiva dimensão da existência que vale a pena ser vivida, simplesmente porque é a única real: a do instante presente. O passado não existe mais, e o futuro ainda não existe; e, no entanto, vivemos quase toda a nossa vida entre lembranças e projetos, entre nostalgia e esperança. (p.27)
Segundo Lebrun (2004) e Melman (2003) uma nova economia psíquica, pautada numa lógica imediatista, flexível e aberta, se constituiu na contemporaneidade em rela-ção a lógica pai-orientada vigente da modernidade. O gozo supostamente interditado pela castração simbólica teria encontrado, na contemporaneidade, cada vez mais meios de apresentação e circulação.
Nesta nova economia psíquica, o gozo teria capacidades ilimitáveis de satisfação, devido a grande oferta de objetos que o discurso capitalista produz e coloca à disposição dos sujeitos para sua satisfação.
O efeito mais imediato e visível é a implosão simbólica do lugar de exceção ou do terceiro social, antes ocupado pelas figuras subjetivas do chefe na estrutura das orga-nizações; o pai no seio familiar; o comandante na instituição militar e o sacerdote nas instituições religiosas, que representavam, simbolicamente, uma herança e um lugar privilegiado de poder e exceção sustentados por grandes narrativas simbólicas também denominadas de lógica pai-orientada, por indicação da sua hierarquia (Lebrun, 2008b).
Segundo Dufour (2005), esse lugar é ocupado cada vez mais pelo discurso eco-nômico ou capitalista, que aliado à ciência se tornou difuso, fragmentado ou líquido para usarmos uma expressão de Bauman (2007a).
Maffesoli (2013) contesta essa tese afirmando que o neoliberalismo é um projeto focado, especificado e com regras claras e definidas. A pós-modernidade engendraria novas formas de viver, dentre elas, o tribalismo dos pequenos grupos, ainda em consti-tuição na contemporaneidade que desenvolvem seu próprio modo de vida social.
As novas modalidades de autoridade legitimam-se por meio de relações demo-cráticas, participativas e horizontais, produzindo novas formas de liderar e de ocupa -se com o outro. Haveria, com o exercício desses novos modos de autoridade, um declínio dos processos sociais mecanizados e hierárquicos e o surgimento de um regime "dado pela intersubjetividade e que tem como tema central o estar-juntos, o encontro.” (Bour-riaud, 2009, p.21).
Esse encontro só é possível porque este lugar de autoridade encontra-se vazio, precisando ser reinventado cotidianamente, na maioria dos casos, nas intensidades dos encontros intersubjetivos. Assim Lebrun (2008b) vai argumentar que "o sujeito que emerge é um sujeito radicalmente construtivista, preso em jogos práticos e discursivos." (p.116).
Isso ocorre porque tal discurso identifica as relações de trocas dos neosujeitos no plano do consumo de objetos descartáveis, inclusive às relações ditas humanas, consa-grando a vida para o consumo (Bauman, 2007b). Essa crítica põe em circulação a ideia de desconstrução contínua, quando um objeto, numa cadeia sequencial, é rapidamente substituído por outro.
Sobre esse jogo de contínua disrupção, as subjetividades contemporâneas per-dem referências e ancoramentos fixos identitários universais, por isso os encontros estão sempre recomeçando.
Melman (2003) acrescenta dizendo que atualmente "constatamos as dificuldades dos sujeitos de hoje em dia de dispor de balizas tanto para tornar mais claras as tomadas de decisão quanto para analisar as situações das quais se defrontam." (p.10).
Essa dificuldade vai sendo resolvida nos encontros formais e informais em torno das próprias questões que mobilizam o enredamento e construção de soluções em parce-rias. Essa tônica, inscrita numa estética "procuram constituir modos de existência ou modelos de ação dentro de realidades existentes." (Bourriaud, 2009, p. 18)
Não é mais em nome de uma causa ou ideal, mas do próprio bem estar, da satis-fação imediata de necessidades que as subjetividades estariam se constituindo, princi-palmente nos espaços privados. Se a tomada de decisão sobre o coletivo se torna cada dia mais difícil e imprevisível, o que resta no plano do cotidiano é decidir sobre si e a partir de si mesmo.
O simbólico é subtraído gradativamente do campo do Outro enquanto instância coletiva, reguladora e representante da lei, pelo contato com o outro através da empatia, da identificação, do cuidado e da vida em comunidades, inclusive as viruais (Lebrun, 2004; Cruglack, 2001; Rassial, 2000; Martins, 2009; Figueiredo, 2009; Maffesoli, 2013).
Haveria neste tipo de cenário uma “política do objeto” que privilegia a transpa-rência e a exatidão nos processos subjetivos. O lugar de autoridade é esvaziado de sen-tido, se este for identificado apenas por acúmulo de histórias que preservam uma memó-ria. A tônica recorrente é a substituição gradativa da história pela performance e cons-trução contínua de si mesmo no aqui e agora. Por isso Lebrun (2008a) vai afirmar que:
Para esses sujeitos, não há história, talvez até não haja anamnese, em outras palavras, não há dívida que eles consintam em assumir em relação ao passado, aos avós, à genealogia. Congruente com ar ambiente, o neo-sujeito reivindica poder escolher a partir de si mesmo. Assim, por exemplo, será bem fácil hoje escolher o nome, o do pai ou da mãe. E soberanamente decidir atribuir um prenome original, prenome de flor ou até de marca de carro, ao filho. Nenhuma excentricidade pode ser rejeitada, já que cada uma delas mostra, à sua maneira, a criatividade do sujeito e atesta a autonomia a que ele de imediato pretende ter acesso (p.218).
Nesta perspectiva, só há sentido no trabalho para o neo-sujeito se ele for capaz de satisfazer uma pulsão. O trabalho não é mais uma atividade em prol da civilização ou um processo constitutivo de identidade, mas um meio para se conseguir bem estar ime-diato e acesso aos objetos de consumo, dentre eles uma carreira de sucesso.
Em síntese, o efeito dessa nova economia psíquica remete a construção de uma subjetividade vinculada aos espectros do Imaginário e enfretamento do Real, em substi-tuição gradativa aos espectros Simbólicos.
Pensando nesta questão, elegemos o ternário lacaniano do Real, Simbólico e Imaginário para refletir sobre as possibilidades da aplicação para construção de uma nova estética subjetiva, mediada por uma analítica do corpo e dos afetos para compre-ender o processo de subjetivação no trabalho dos neo-sujeitos Leclaire (1979), Simão (2010), Cukiert (2004), Martins (2014), Fortes (2012), Fleig (2009), Aragon (2007), Coutinho (2008), Mendes e Prochno (2004), Lebrun (2004; 2008a; 2008b; 2009), Li-berman (2010) e Melman (2003).
Processos subjetivos marcados pelo corpo vivido
O corpo sempre ocupou na psicanálise um lugar de destaque. Freud fundou sua clínica escutando e decifrando as mensagens cifradas nos sintomas-corpo das histéricas, um corpo pulsional “que é falado antes de falar, atravessado pelo investimento libidinal do outro, condição para sua erogeneização” (Coutinho, 2008, p.307).
Esse corpo muitas vezes tomado apenas na sua bidimensionalidade, ou seja, nos afetos ou na anatomia, cria rupturas insolúveis. Considerando-o um paradigma subjeti-vante vamos "privilegiar o diálogo entre diferentes registros: o afetivo, o mental, o gra-vitacional, o pulsátil." (Liberman, 2010, p.118).
Acompanhar e escutar esse corpo, que na contemporaneidade recebe novos con-tornos, é potencializar a capacidade de “captar a atmosfera e viver as intensidades que o encontro analítico engendra.” (p.307)
Contudo, é essa intensidade dos encontros que desponta como o primeiro espaço de produção de sentido no trabalho para o neosujeito, pois é preciso ressoar e fazer co-nexão (Maffesoli, 2013).
Portanto, pensar o corpo na clínica significa tocá-lo em suas mais diferentes dimensões e enten-dê-lo como processos que procuram dar formas (sempre transitórias) às intensidades e experiên-cias vividas. Integra-se assim o estudo do corpo-matéria às questões da vida, às afetações, àquilo que nos mobiliza e produz marcas (Liberman, 2010, p.118).
Coutinho (2008) apresenta o corpo como um campo de inscrições de fantasias, que também é representado pelo outro e afetado pelo jogo de intensidades que ele pode capturar, considerando dessa maneira a possibilidade de sofrer impactos e excessos, que por sua vez podem não se inscrever no psiquismo, ficando restrito ao próprio corpo.
Fortes (2012), através de uma cartografia conceitual sobre o lugar do corpo na psicanálise, vai sustentar a tese de que o mesmo é constituído por uma anatomia fan-tasmática, diferenciando-se de um corpo anatômico e clínico, filiando-se a tese freudiana da histeria e do corpo erógeno como paradigma da clínica psicanalítica.
Mendes e Prochno (2004), numa perspectiva mais próxima de Lebrun (2008a), e das nossas reflexões, esboçam uma preocupação com o declínio do simbólico, especi-almente devido as mudanças socioeconômicas e ideológicas da pós-modernidade, em detrimento de uma "autovalorização do mundo das imagens e do individualismo, aliada ao volume de informações, substitui a troca de experiências, causando empobrecimento progressivo da vida interior.” (p.147).
Suas preocupações incidem sobre o jogo de causalidade do sofrimento inscrita no corpo, devido a falhas no aparelho de linguagem, que constituiria o modo tradicional de analisar sintomas, se constituindo por sua vez um desafio contemporâneo para psica-nálise lidar com essas novas elaborações. O corpo, em primeira instância, se colocaria para os autores como um problema ao processo analítico e um desafio clínico para os psicanalistas.
Aragon (2007) vai numa perspectiva de “corpo-acontecimento” atravessado pela ideia de corpo-passagem, corpo-estranho e corpo-melodia. Portanto, movimento e ex-pressão de sentidos numa contraposição a ideia de corpo-objetificado que é “acompa-nhado por um conjunto de ideias, historicamente determinadas, que também o ajudam a ganhar forma" (p.41).
Frente a estas questões, uma se impõe: o que seria então considerar o corpo no espaço das organizações quando pensamos em processos subjetivos? Sobre essa tarefa adotaremos o corpo como intensidades afetivas e somáticas em processo de constituição de formas transitórias para dar destino ao seu vivido. Simão (2010), assim como os de-mais autores citados nesta breve construção, sintetiza esta visada afirmando que:
lidar com o corpo que somos; é o nosso vivido. Corpo carnal que não é apenas um instrumento, mas também um lugar. Lugar pelo qual o mundo atinge um mistério; aquilo que cada um de nós é. Não é um corpo que pede prótese, mas que pede significação e sentido. Corpo que habita a linguagem; lugar do desejo e lugar do gozo (p.1).
Como possibilidade de um modelo aplicado as organizações, tentaremos apro-ximá-los e relacioná-los ao nosso campo de pesquisa a partir de uma proposta articulada a topologia lacaniana pelos registros do Real, Simbólico e Imaginário.
Corpo simbólico, imaginário e real nas organizações
Lacan forneceu novos subsídios para pensarmos uma analítica do corpo pelo viés renovado da psicanálise, quando apresentou a topologia dos registros Simbólico, Imaginário e Real como planos originais de habitação dos seres falantes.
Uma maneira de iniciar uma apresentação sobre a tríade lacaniana é adotar a perspectiva de Vieira (2009) quando ele diz que o real não é a realidade, o simbólico não é o simbolismo e o imaginário não é a imaginação. Mas, pensá-los como Lacan, os definiu em que o "imaginário é consistência, o simbólico é o furo e o real é a ex-sistência." (p.6-7)
Não há originalmente uma organização desses registros na obra de Lacan, mas alguns pesquisadores distribuíram em três períodos. Segundo Cukiert (2004) entre 1936 e 1953 Lacan estava as voltas com suas pesquisas sobre o Imaginário; entre 1953 e 1976 foi seu período de maior produção sobre o Simbólico, marcado pela tese do inconsciente estruturado como uma linguagem e entre 1976 e 1981 foi seu período de elaboração sobre o Real.
Mas, encontramos no Seminário 22 RSI (1972), ainda inédito no Brasil, um tra-balho de formalização da topologia e numa conferência de 1952, quando Lacan ainda usava o SIR para designar os registros. Na conferência de 1952, ele estava mais preocu-pado em diferir o Simbólico do Imaginário, apresentando pouca elaboração sobre o Real. O importante é que esses registros devem ser pensados de forma articulada, mesmo que sua formalização continue sendo um desafio para os psicanalistas.
Dessa maneira, o enlaçamento dos três registros lacanianos segue a trilha freudi-ana de que o eu é corporal, ou seja, um conjunto de ideias, representações e sentidos que antes de se tornar uma representação passou pelo corpo. Então "o corpo é eu, isto é, o que o sujeito do organismo interpretou; é, pois aquilo que serve de apoio à estruturação da subjetividade, sem que esta se restrinja jamais" (Correia, 2005, p. 97).
Simão (2010) e Cukiert (2004) vão pensar e ampliar a ideia de corpo numa arti-culação topológica entre o corpo simbólico, produzido pela cultura e marcado pelo sig-nificante; o corpo imaginário, constituído pela série de significantes vindas do outro que dão sustentação ao eu, ou seja, a matriz do que se convencionou chamar de identidade e por fim o corpo real, lugar do gozo, da dor, do desgaste, gasto e exigência.
Essa perspectiva, emprestada da topologia lacaniana não é fechada, é um es-quema que se entrelaça visando a construção de posições subjetivas. Neste artigo, usa-remos esta compreensão para exercitar uma hipótese de trabalho que articule tal topolo-gia a produção de uma posição subjetiva nos neosujeitos, quando estes, percorrem um trajeto para ocupar um lugar de gestor nas empresas.
Articulando esses três conceitos-ferramentas na construção da subjetividade do futuro gerente, podemos pensar em sustentar três hipóteses de trabalho na construção da posi-ção gerencial.
1. A primeira hipótese é que, na lógica do corpo simbólico, o neosujeito constrói, reconstrói e modifica o sistema lógico-discursivo sobre si mesmo e sobre a or-ganização;
2. A segunda hipótese é que, na lógica do corpo imaginário, o neosujeito se identi-fica ou não com as propostas de imagens gerenciais e aguarda suportes e reco-nhecimento dos principais agentes organizacionais;
3. Finalmente, a hipótese do corpo real, orientado por uma lógica da contingência, em que o sujeito luta contra a possibilidade de paralisação frente ao imprevisto, através de uma postura de enfrentamento diante do desafio que lhe convoca a inventar e responsabilizar-se frente ao real, adquirindo sobre esse corpo marcas do vivido, propiciadoras ou não de sentidos para si mesmo. Sobre o real, só ha-veria uma saída, que é a invenção e a responsabilidade. (Forbes, 2012).
Tais premissas nos fazem pensar sobre a possibilidade de aplicação desses regis-tros na elaboração de uma estética dos processos de subjetivação para compreensão dos processos de subjetivação daqueles sujeitos que ocuparão posições gerenciais nas orga-nizações. Segundo Albuquerque (2006) no registro:
Simbólico está a linguagem e ela precede o indivíduo. O significante o precede e o determina. O grande Outro, tesouro dos significantes, espera o sujeito ainda que não tenha nascido, já que há, por parte dos pais uma expectativa com relação à criança que nascerá (p.64).
Segundo Simão (2010), o corpo simbólico insere o sujeito numa ordem pré-estabelecida e instituída na linguagem. Transposta para o campo organizacional, o sim-bólico se materializaria na cultura da empresa, o que está lá antes do neosujeito ser con-tratado.
Essa materialização, previamente dada e estabelecida, com pouca possibilidade de desconstrução, se converterá numa série de empréstimos de significantes para que o neosujeito possa se “aculturar” no novo ambiente. Tais empréstimos são subjetivados pelos movimentos, passagens e construções, mediados pelos jogos de linguagem de cada organização.
A passagem do simbólico só é possível, porque ao se defrontar com a cultura or-ganizacional, o neosujeito faz uma checagem sobre o que ele imaginou e encontrou na empresa. Ao perceber que o Outro organizacional não é completo, como imaginado, e que algo lhe falta, o neosjueito pode fazer o movimento de prestar ajuda e suporte na resolução dos problemas. Muitos desistem, quando estas expectativas não são corres-pondidas, ilustrando a tese que os neosujeitos funcionam num regime completo e parti-cular. (Lebrun, 2008a)
O jovem, que ao concluir a universidade, se candidata aos programas de seleção das empresas em busca de uma carreira gerencial, é denominado trainee. Seu principal desafio após a contratação é encarnar dois significantes: eficiência, para resolver pro-blemas em curto prazo e trabalhar com projetos de média e alta complexidade para de-senvolver competências para o cargo de gestor.
O conflito se instala quando a empresa não planeja adequadamente o ambiente para receber esses jovens. Pesquisas indicam que cerca de 50% dos trainees desistem desses programas no início ou na metade, geralmente eles tem duração de 12 ou 18 me-ses.
Nosso ensaio, através de uma reflexão teórica sobre a tríade lacaniana dos regis-tros Real, Simbólico e Imaginário, propõe uma estética para pensar esse processo de subjetivação, aproximando estes conceitos psicanalíticos a ferramentas de trabalho (Vi-eira, 2009).
Não identificamos na literatura nenhum trabalho com esta proposta teórica, mas incluímos pesquisas de autores que adotam conceitos psicanalíticos para compreender os processos de liderança, tais como: narcisismo, reconhecimento, cultura e identificação.
Uma das estratégias para analisar essa questão é refletir com esses jovens sobre seu processo de amadurecimento profissional de maneira exponencial e não cronológica. Tanure, Evans e Pucik (2007) nos oferecem um recurso de quatro lógicas para orientar o processo de enfrentamento dos conflitos, advindo da ansiedade e imediatez dos jovens no desenvolvimento profissional.
Numa perspectiva Simbólica, podemos pensar que os autores nos apresentam re-cursos formais para rediscutir essas posições quando confere:
1) lógica baseada em pesquisa, que envolveria uma busca e oferta de modelos simbólicos eficientes e apropriados na organização. Isso seria possível com a identifica-ção daqueles profissionais que são referências em desempenho e solicitar que eles com-partilhassem suas experiências com os neosujeitos;
2) lógica baseada em estratégias é voltada para o desenvolvimento de pessoas a longo prazo, pois, antecipa competências para o negócio com base em especulação futu-ra. Esse modelo é bastante criticado porque não oferece evidências concretas de com-portamento, apenas antecipa supostas características que a empresa poderá usar ou não no futuro;
3) lógica baseada em valores, implica num processo de socialização organizaci-onal mais lento, tendo em vista um mergulho maior no núcleo filosófico da empresa através da internalização dos valores que fundaram, nortearam e vão continuar condu-zindo o negócio;
4) lógica baseada em aprendizagens, estimula o neosujeito a se desafiar e enfren-tar problemas, por isso:
está relacionada com a discussão de que os desafios são oportunidades de aprendizagens. Se isso é verdadeiro, então duas qualidades são importantes para o desenvolvimento: primeiro, a predisposição para enfrentar novos desafios; segundo, a competência de aprender bem e rapidamente com experiências positivas e negativas (p. 148).
A lógica baseada em aprendizagem talvez se constitua na mais adequada para preparar o ambiente para o neosujeito, pela flexibilidade que ela apresenta sobre as for-mas e estratégias que deverão ser usadas para resolver os problemas e projetá-los orga-nizacionalmente, vinculando assim a "maior propriedade do simbólico que é - marcar e diferenciar" (Vieira, 2009, p.9).
Por outro lado, o registro Imaginário forneceria novos problemas, aqueles vincu-lados a ordem do reconhecimento e do narcisismo, pois nele estaria instalado:
O lugar da relações amorosas, e das rivalidades, um lugar que envolve enganos e decepção. É diante do espelho, que o olhar do Outro reflete, que o sujeito se identifica a uma imagem, pas-sando a ser aquilo que o Outro diz que ele é (Albuquerque, 2006, p.62).
Aqui, encontramos o registro das relações baseadas em reconhecimento. Neste campo é forjada a futura identidade do gerente, que para sua sustentação implica um conjunto de tensões, rivalidades, cobranças e reconhecimento que perpassam pelo olhar do outro. A armadilha aqui são as certezas que engendram esse registro.
O imaginário, ao contrário, vai se definir como tudo aquilo que faz corpo, que faz um, que eu vejo começo, meio e fim, que não é nebuloso, manchado ou confuso. Não é tanto o fato de ser uma imagem, apesar delas geralmente serem assim. Na análise, tudo que for nítido e fizer sentido é corpo e, consequentemente, imaginário (Vieira, 2009, p.7).
Correia (2005) diz que o
corpo imaginário, relativo ao sentido (que é o entrelaçamento do imaginário com o simbólico). Este equivale ao que Freud diz do corpo como sendo o eu. O campo do sentido é um campo fe-chado, das certezas, da busca de coerência de pensamentos (p.98).
Haveria duas problemáticas envolvidas neste registro. A primeira recai sobre as certezas fechadas que o neosujeito traz para a empresa, construídas pelos reforços posi-tivos fornecidos pelos pais, dificultaria a acolhida de críticas advindas dos outros Taps-cott (2010). A segunda, refere-se ao fechamento e recusa ao inconsciente, onde encon-tramos as possibilidades de desamarração e produção do novo (Correia, 2005).
Cardoso, Carneiro & Cunha (2001) vão pontuar alguns aspectos importantes para refletirmos sobre o uso do imaginário nas organizações. Identificamos que um dos primeiros efeitos é a busca do sujeito "para corresponder, na integra, às expectativas do outro" (p.1), porque o que está em jogo é o desejo de ser reconhecido.
Esse outro pode ser o chefe, os colegas de trabalhos e aquelas pessoas que eles podem desenvolver laços de confiança. Enquanto no simbólico, o objetivo do sujeito é corresponder às expectativas do grande Outro, ou seja, daquilo que está pré-estabelecido na cultura, no imaginário, é o laço de sentido e pertencimento com o outro, semelhante, que se impõe como desafio.
O narcisismo então recobre o corpo imaginário, aqui abordado como o investi-mento amoroso sobre si mesmo. Segundo Lapierre (1995) o desejo de atuar como gestor ou líder, produz inconscientemente "um amor em uma imagem idealizada de si mesmo (dos outros e do mundo), construída para não ver a realidade em si (dos outros e do mundo), necessariamente defeituosa." (p.207).
O autor observou três tipos básicos de narcisismo nos estudos sobre os líderes carismáticos: o reativo, no qual os líderes atuam a partir de uma imagem de si de que não foram suficientemente amados, portanto, persiste nas suas fantasias um desejo sempre pulsante de fraqueza; o autoilusório, no qual a imagem investida de si é que foi sempre muito amado e perfeito. A dificuldade nesta modalidade é conciliar a imagem de si com a realidade e talvez seja a problemática no corpo imaginário mais comum nos neo-sujeitos.
Por último, o construtivo, no qual o sujeito não tem necessidade em deformar a realidade para lidar com as frustrações da vida. O sujeito, nestes casos, "emite uma sen-sação de vitalidade positiva, derivada da confiança que tem de seu próprio valor. De-monstra ambição, coragem, senso de humor, criatividade, tenacidade e orgulho (p.208)."
O sentido de dever no trabalho vai sendo substituído gradativamente pelas satis-fações pulsionais ancoradas no corpo. Nem a felicidade é mais vista como objetivo-fetiche-alvo pelas novas gerações. Segundo Calligaris (2014), no século XXI, a sensação ou reconhecimento pela sua competência tem se tornado mais importante que a remuneração.
Pensando nesta travessia, Cardoso, Carneiro & Cunha (2001) descrevem algumas estratégias que a empresa poderia desenvolver para auxiliá-los neste processo que atravessa o narcisismo e o reconhecimento:
1. Ajudar o futuro gerente a se dar conta da constante contradição entre imagem e realidade, trabalhando tais expectativas através de diálogos e orientações pontu-ais por gerentes mais experientes;
2. Ajudar o futuro gerente a suportar as desilusões, desmontando as imagens idea-lizadas e resignificar os erros como oportunidades de se inventar algo novo;
3. Cuidar para que as imagens oferecidas pela empresa sejam subjetivadas pelo fu-turo gerente, para evitar colagens e identificações diretas, sem mediação e dife-renciação;
4. Estimular a capacidade do futuro gerente em projetar o futuro desejado com base no seu desenvolvimento profissional na empresa.
Por sua vez, o Real neste processo de articulação subjetiva, irromperia através das situações inesperadas, contingenciais e não inscritas na linguagem. Nas palavras de Lacan, o real é aquilo que nos surpreende e que também nos traumatiza. E para se fazer alguma coisa é preciso o auxilio do Simbólico para fixar algo e o Imaginário para que lhe forneça um mínimo de sentido compartilhado (Vieira, 2009).
Há sempre um resto que escapa às palavras e para o qual não há nenhuma forma de resolução. Não tem imagens, não tem palavras e está sempre ai, porque sempre retorna. É da ordem do im-possível do real. Dele, nada se pode dizer, apenas sentir, como na angústia (Albuquerque, 2006, p.62)
A preocupação está ancorada no alerta de Lebrun (2008) sobre a constituição do neosujeito sobre as bases do gozo, ou da analítica do Real, afirmando que “esses sujeitos assim construídos são porosos, sem verdadeira coluna vertebral, flutuantes, inteiramente tributários do ambiente, muito influenciáveis” (p.214) e refratários ao registro simbólico e dos significantes.
Lebrun (2008a), refletindo sobre as razões pelas quais esse registro, passou a produzir essa nova subjetividade, culminando na sua categoria de neosujeito, afirma que na realidade se trata de uma nova “economia psíquica que privilegia uma relação de imediatismo, o que hoje se chama uma relação de adição ao objeto” (p.214).
Não é o trabalho que empresta sentido aos sujeitos, no que se refere a alguma coisa que deve ser encontrado pela transformação da realidade, mas o sujeitos que em-prestam conhecimentos as empresas, construindo sentido ao processo produtivo.
A carreira é experimentada e construída como uma sucessão de miniestádios ao longo da vida, sem fronteira e vínculos duradouros nas empresas (Hall, 1996). O que nesta posição, coloca o neosujeito num processo de retomada constante do seu fazer e de revalidação da posição subjetivada, que depois de ocupada não é garantida.
Como eles engendram um modus operandi com base no imediato, no aqui e ago-ra, sem estágios muitos longos de crescimento e promoção nas empresas, essa retomada e revalidação, são vivenciadas sempre como novos desafios. A função principal desses miniestágios é a busca de aperfeiçoamento das competências que os preparam para um estágio mais complexo na própria carreira.
O trabalho só faz sentido se eles tiverem liberdade para dar opinião, autonomia para desenvolver a própria atividade, criticar as coisas que interferem no seu bem estar, ter acesso contínuo a internet, redes sociais e serem consultados sobre qualquer decisão que impacte na sua área ou setor (Tapscott, 2010).
O trabalho passa a ter sentido se os estágios entre uma função e outra são curtos e movidos a desafios, pois o neo-sujeito “entende o trabalho como ação de transforma-ção da realidade interna do trabalhador e da realidade externa. Num processo de diálogo e aprendizagem constante.” (Gorzoni, 2010, p.33)
Entretanto, nesta demanda por autonomia para resolução de problemas, bem ar-ticulada a lógica de aprendizagem por problemas ou desafios, e que se instituiria a partir de um narcisismo construtivo, não é possível eliminar o Real, ou seja, a surpresa, o con-tingencial e aquilo que insiste em voltar ao mesmo lugar.
Dessa maneira, as experiências difíceis devem ser levadas adiante e enfrentadas pelos neosujeitos que aspiram ocupar uma posição gerencial, pois é possível:
Aprender a lidar cada vez melhor com essas experiências, e com fracassos e erros, e vencer os traumas emocionais. Assim, constrói-se a elasticidade emocional necessária para superar pro-blemas que ultrapassam nosso limite de conforto (Tanure, Evans e Pucik, 2007, p. 143).
No lugar de uma recusa, estabeleceremos o que Zimerman (2010) nomeou de re-siliência, como uma das formas de amor ao Real. Ele diz que a psicanálise vai se apro-priar desse vocábulo para definir "o fenômeno da resiliência com o significado de uma força interior do sujeito, uma espécie de 'garra' que contribui para que o indivíduo (ou grupo) não desista diante de situações difíceis e até desesperadoras." (p.78)
Em linhas gerais, o trabalho da empresa é estabelecer parâmetros viáveis para que o neosujeito não desista frente os acontecimentos do Real, pois a dificuldade de estabelecimento de vínculos com a organização se constitui, dentre os desafios apresen-tados neste artigo, um dos mais fundamentais que as empresas tenham que enfrentar junto aos neosujeitos.
Considerações finais
As mudanças ocorridas entre a modernidade e a pós-modernidade criou novos problemas e novos modos de estar no mundo. O gestor do século XX, por exemplo, ocupava essa posição por prestígio e autoridade simbólica, vinculado a um eixo vertical e hierárquico. No século XXI ocupar uma posição gerencial se tornou mais trabalhoso, porque o olhar subjetivante do outro passa a contemplar afirmativamente ou não as pes-soas que ocupam esse lugar, mudando a perspectiva de um registro hierárquico para outro horizontal.
Nossa proposta neste trabalho foi articular os registros do Real, Simbólico e Imaginário, tal qual apresentado por Lacan, como campo da falta e do significante no Simbólico, da consistência do eu no Imaginário e do gozo no Real para pensar o proces-so de subjetivação desse lugar de autoridade por jovens trainees.
Esses registros foram escolhidos por apresentarem uma configuração topológica, diferente de uma configuração hierárquica, que levados, a categoria de ferramentas (Vi-eira, 2009), podem auxiliar gestores e psicólogos organizacionais a prepararem o ambi-ente para receber os neosujeitos e permitir que eles experienciem o programa a partir da proposta de encontros intensivos ancorado em suportes emocionais.
Nas linhas finais deste artigo propomos uma articulação do corpo simbólico a uma produção de sentido através da oferta de significantes baseado numa estratégia de lógica da aprendizagem, em que o neosujeito pudesse ser desafiado e acompanhado, mesmo numa cultura em que a priori, uma série de comandos e significantes são prévios da sua chegada.
Sobre a proposta do corpo imaginário, haveria uma dupla tarefa da empresa, que seria lidar com o narcisismo desses jovens que na maioria das vezes chegam na empresa com uma imagem de si sobrevalorizada e potencializar a participação do outro nos pro-cessos de reconhecimento. Um trabalho de suporte, no sentido de ajudá-los a percebe-rem as contradições, suportarem pequenas desilusões como processo de aprendizado e principalmente possibilitar o diálogo e a mediação com as imagens de referência é apoiar seu desenvolvimento neste campo em que as relações são subjetivantes.
Finalmente o corpo real apresentou como proposta a possibilidade dos neosujei-tos colocarem em prática sua criatividade e inventividade nos microestágios do seu pro-cesso de formação, considerando que o enfrentamento das dificuldades provenientes do cotidiano, marcam definitivamente a lógica líquida e transitória dos mercados. A partir do conceito de narcisismo construtivo de Lapierre (1995), em que eles percebem a rea-lidade como um aliado, é possível incorrer na ideia de um amor ao real, nomeado por Zimerman (2010) como a capacidade de se inspirar e enfrentar as adversidades através de uma espécie de garra que contribui para que o neosujeito não desista.
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Data de submissão: 26/11/2014
Data de aceite: 14/07/2015
I Psicólogo; Doutorando em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP; Mestre em Psicologia Clínica pelo Laboratório de Psicopatologia Fundamental e Psicanálise da UNICAP; Professor Auxiliar do Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM-RJ. E-mails: jorgegomes@unisuamdoc.com.br e jorgegsobrinho@gmail.com
II Psicanalista; Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP (São Paulo, SP, Br); Pós-doutora pelo Laboratoire de Psychopathologie Clinique, Université de Aix-Marseille I (Aix Marseille, Fr); Professora Titular e membro do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade Católica de Pernambuco - Unicap (Recife, PE, Br); Coordenadora do Laboratório de Psicopathologia Fundamental e Psicanálise. E-mails: equeiroz@unicap.br e edilene-freiredequeiroz@gmail.com