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Revista Polis e Psique

versão On-line ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.6 no.2 Porto Alegre jul. 2016

 

EDITORIAL

 

 

Em sua segunda edição de 2016, a Revista Polis e Psique tem a grata satisfação de informar que este número será o seu terceiro a estar indexado no Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PePsic. Neste número apresentamos artigos que dão segmento ao compromisso de constituir um espaço de problematização e reflexão para o campo da produção de conhecimento. Para isso, precisamos, antes de tudo, localizar nossas publicações em uma sociedade que traz os mais diversos paradoxos em torno da produção de subjetividades, cognições e tecnologias sociais contemporâneas. Os artigos desta edição, resultados de pesquisas que se utilização de diferentes modos de intervenções, discutem os temas: políticas públicas, tecnologias sociais e produções teóricas. Iniciamos assim, apresentando cinco artigos que tratam, especialmente sobre estes temas, mas mais especificamente sobre direitos sociais e populações vulneráveis.
Em uma interlocução com o cenário acadêmico internacional, o primeiro artigo é a pesquisa de Jorge Chavez, Cecilia Hontou e Pablo Piquinela - La proximidad en las políticas públicas: tensiones entre el abordaje de la vulnerabilidad social y la evidencia científica, onde os autores discutem as políticas de proximidade destinadas a populações vulneráveis que estão sendo implementadas no Uruguai. Sob uma abordagem etnográfica, descrevem o que é prescrito pela política, caracterizando o surgimento da figura do operador de proximidade, para pensar a construção de ações que operem de forma coesa as condições de vida da população a qual se destinam.
Também abordando as práticas no campo das políticas públicas, o segundo artigo, trata da Violação de direitos no SUAS - a precarização da vida e propõe, como exercício ético, colocar em discussão os paradoxos em torno da noção de direitos dentro do contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), analisando tanto a privação cotidiana do acesso à cidadania com a qual convivem os usuários, como também a precarização do trabalho vivenciada pelos profissionais. Para tal discussão, os autores, Vinicius Tonollier Pereira, Cristiane Redin Freitas e Daniela Duarte Dias trazem histórias que ilustram a precariedade de vida dos usuários e de trabalho dos profissionais, assim como colocam em questionamento a própria garantia de direitos proposta pelo SUAS.
Situações de populações vulneráveis, também são discutidas por outros dois artigos, abordando a experiência feminina em contextos de privação de direitos e violência. Em um dos artigos, Sem Lugar: A experiência de remoção de mulheres faveladas, os autores Lucas Furiati e Claudia Mayorga apresentam vozes de mulheres residentes no Aglomerado Santa Lúcia (BH-MG), que estão vivenciando o processo de remoção de suas casas devido à intervenção de reurbanização de vilas e favelas. Através da reflexão crítica sobre o Programa Vila Viva, discutem os paradoxos em torno da exclusão das teorizações de gênero no pensamento e nas práticas urbanísticas, subalternização e exclusão na experiência de mulheres faveladas. No outro artigo, Rota crítica: a trajetória de uma mulher para romper o ciclo da violência doméstica, a experiência feminina é tomada como foco de análise para a produção de um conhecimento reflexivo, buscando analisar o trajeto percorrido por uma mulher para romper com a violência doméstica. Por meio de uma análise de discurso do prontuário de uma usuária de um serviço de abrigagem, as autoras Marília Meneghetti Bruhn e Lutiane de Lara investigam os fatores impulsores e inibidores envolvidos no processo de superar a ocorrência de violência doméstica.
No último artigo deste bloco temático, Burocracia: a política da indiferença, os autores Luciane Gheller Veronese e Edson Luiz André de Sousa fazem uso da crítica sobre a temática da burocracia, pensando-a como política da indiferença a partir da metáfora da máquina e do anonimato como referentes do laço social nesse discurso. Enfatizando as formas burocráticas contemporâneas, típicas dos Estados capitalistas atuais, apontam para a necessidade de profanar a burocracia, atentando aos restos não burocratizáveis, ou seja, realçam a importância de um trabalho singularizado, artesanal, que não suspenda a capacidade de pensar e fortaleça o espaço público. 
Seguindo a proposta de colocar racionalidades de práticas em análise, dois artigos abordam a produção de subjetividades a partir de estratégias contemporâneas de intervenção. No primieiro artigo, Humanização, psicologia e riso: produção de liberdade e processos de subjetivação, o autor Tiago Cassoli problematiza a produção de processos de subjetivação que permeiam programas de intervenções em hospitais com palhaços. Nele, o autor questiona o papel do palhaço como agente tático das políticas de humanização e sua relação com a expressão de sentimentos e risos. No outro artigo, Dançar a visualidade de um poema e a eclosão de propriedades corporais, a emergência de novas formas de narrativas tomam corpo na discussão em que as autoras Danielle Milioli e Dolores Galindo narram como foram se produzindo as propriedades do corpo por meio do processo de invenção de um trabalho de dança-pesquisa. Procurando tornar visíveis arranjos mínimos e talvez desprezíveis se vistos num plano panorâmico, o artigo discorre sobre as propriedades corporais que foram produzidas num experimento de dança-pesquisa, criado a partir de um poema visual escrito por Silva Freire.
Com o objetivo de pensar teorias de conhecimento mais contemporâneas, dois artigos se dedicam a pesquisas sobre produções de saberes. No artigo Foucault e a Psicologia no Brasil: interlocuções e novas perspectivas, as autoras discutem sobre como a Psicologia no Brasil tem se aproximado do pensamento de Michel Foucault em produções acadêmicas publicadas em periódicos eletrônicos indexados. Por uma pesquisa de levantamento bibliográfico, Simone Huning, Carlysson Alexandre Rangel Gomes, Aline Kelly da Silva e Larissa de Moura Cavalcante apontam elementos em relação ao uso do autor para a ampliação e aprofundamento da interlocução entre Foucault e a Psicologia, tanto na construção de campos teóricos e políticos, como na emergência de novos objetos, perspectivas, visões de sujeito e, consequentemente, de práticas psicológicas.
No outro artigo, Novos dispositivos de subjetivação - o mal estar na cultura contemporânea, as autoras Mariama Augusto Furtado e Ana Maria Szapiro apresentam um estudo teórico que tem como objetivo interrogar sobre os deslocamentos no lugar do mal estar no contexto da pós-modernidade. Explorando as nuances que marcam novos arranjos no cenário pós-moderno, se perguntam sobre o lugar do mal estar como indicativo da subjetividade de uma época, questionando: “numa cultura cujos valores giram em torno da velocidade, do desempenho, da produtividade, da eficiência, da utilidade, qual seria o lugar do sofrimento?”.
Fechando nossa apresentação dos artigos desta edição, Flavia Cristina Silveira Lemos, Camila de Almeida Ferreira, Leila Cristina da Conceição Santos Almeida e  Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira abordam o direito ao esporte, lazer e cultura de crianças e adolescentes, no Brasil. Tendo como diretriz as políticas da UNESCO e as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente, problematizam as práticas da UNESCO por meio da descrição e análise de seus relatórios no artigo intitulado Pesquisa documental com relatórios da UNESCO, de 1990 a 2010, sobre os direitos ao esporte, ao lazer e à cultura de crianças e adolescentes, no Brasil
Na seção Resenha deste número da Polis e Psique, Renata Fischer da Silveira Kroeff, Poti Quartiero Gavillon e Cleci Maraschin nos apresentam a resenha do livro: “Enactive Cognition at the edge of sense-making: making sense of non-sense” organizado por Massimiliano Cappucino e Tom Froese. Buscando discutir a Cognição a partir da teoria enativa, os autores deste livro trazem uma coletânea de estudos sobresituações nas quais ocorrem falhas no processo cognitivo de produção de sentidos  discutindo temas como: saúde mental, linguagem, percepção, processos de aprendizagem e relações de gênero.
Desejamos a todos os leitores e a todas as leitoras uma ótima leitura e que os artigos e a resenha aqui apresentados nesta edição possam contribuir para um exercício de reflexão e construção de práticas implicadas com os efeitos que os embates em torno da pesquisa e produção de conhecimento produzem ao envolverem processos de subjetivação. Deste modo, gostaríamos de agradecer aos autores e pareceristas que participaram da elaboração desta edição da Polis e Psique esperando contar sempre com vocês nas próximas edições.
Boa leitura!

Neuza M. de F. Guareschi - Editora Gerente
Daniel Dall’Igna Ecker - Editor Assistente
Renata Kroeff - Editora Assistente

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