Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.29 no.2 Rio de Janeiro 2017
EDITORIAL
Editorial
O número 29.2 da Revista Psicologia Clínica aborda o tema "Maternidade, clínica e relações familiares". Reúne nove artigos, sendo dois deles internacionais, e uma resenha. A seção temática agrupa trabalhos que apresentam resultados de investigações que contribuem para a problemática da maternidade e da clínica das relações familiares, levantando questões cruciais para a atualidade da psicologia clínica.
O artigo que inicia a seção temática, Abrindo espaço para um segundo bebê: impacto na constelação da maternidade, das autoras Fernanda Schmitt Ribeiro (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marilia Reginato Gabriel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rita de Cássia Sobreira Lopes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Aline Groff Vivian (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), busca compreender a Constelação da Maternidade à luz da análise das entrevistas de 21 gestantes de segundo filho, tendo sido constatada maior segurança e disponibilidade por parte das mães quanto ao investimento materno e à criação de um espaço emocional para o segundo filho.
O segundo artigo, intitulado Medeia: o amor que devasta, das autoras Valesca do Rosário Campista (Universidade Estácio de Sá) e Heloisa Fernandes Caldas (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), reflete sobre problemas que concernem ao feminino e ao narcisismo, estabelecendo conexões com o amor e a posição do sujeito feminino diante da perda do objeto amoroso, recorrendo à heroína euripidiana e sua voracidade pulsional para ilustrar articulações teóricas que visam contribuir para a compreensão da posição feminina, crítica nos tempos atuais.
A seguir, temos o trabalho de Milena da Rosa Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Paula Gruman Martins (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Sthefan dos Santos Krinski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rose Gurski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Andrea Gabriela Ferrari (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), intitulado Sobre a transferência na clínica psicanalítica pais-bebê, que investiga a composição do campo transferencial nos tratamentos psicanalíticos pais-bebê e o lugar da transferência no setting analítico. Apesar de não poder expressar verbalmente seu sofrimento psíquico, muitos bebês encontram maneiras de comunicar-se com o terapeuta, asseveram os autores, a partir de seu embasamento teórico e experiência clínica, colocando em questão a escolha, por parte do terapeuta, da transferência mais adequada à condução do tratamento.
O quarto artigo da seção temática, Diferencias socioculturales en la terapia de pareja: la perspectiva de terapeutas y parejas consultantes, dos autores Valentina Ulloa (Universidad del Desarrollo, Chile), Sofía de la Puerta, (Universidad del Desarrollo, Chile) e Pablo Fossa (Universidad del Desarrollo,Chile) procura compreender como o processo de terapia de casal é afetado pelas diferenças socioculturais quando os terapeutas se encontram em nível socioeconômico (NSE) diferente daquele dos casais. A investigação faz recurso à análise das entrevistas com nove terapeutas de NSE alto e médio-alto e cinco casais de NSE baixo e médio-baixo de Santiago do Chile. Foi utilizada uma metodologia qualitativa com um desenho analítico-relacional. Apurou-se que as diferenças socioeconômicas e socioculturais não são percebidas como prejudiciais para o tratamento, quando há uma aliança terapêutica e simetria na relação, evidenciando-se a competência do terapeuta ad hoc e assinalando-se a relevância dos resultados da pesquisa para a formação e prática de terapeutas de casais.
Finalizando a seção temática, o ensaio Assim como nossos pais? Conjugalidade: repetição, transformação e criatividade, das autoras Eunides Almeida (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e Roberta Carvalho Romagnoli (Universidade Federal de Minas Gerais) discute a influência das identificações de cada um dos parceiros com a dinâmica relacional que se estabelece entre o casal parental, problematizando a repetição dos dilemas vividos pelos pais do casal atual, considerando o contexto histórico, político, social, cultural e econômico na qual tal dinâmica se forja, mas sinalizando a possibilidade de desconstrução e reconstrução de um novo sentido para a relação amorosa. Apesar da transmissão psíquica, a apropriação da herança familiar envolve uma margem de liberdade e criatividade no processo de autoformação individual e na dinâmica do novo casal.
O sexto artigo da seção temática, Papel do ambiente familiar no desenvolvimento de sintomatologia psicopatológica em jovens adultos, das autoras Filipa Correia (UTAD, Portugal) e Catarina Mota (UTAD, Portugal), tem como principal objetivo analisar o efeito do ambiente familiar no desenvolvimento da sintomatologia psicopatológica dos jovens adultos. Uma amostra constituída por 432 jovens adultos, com idades compreendidas entre 18 e 30 anos, foi recolhida através do Family Environment Scale, o Inventário de Sintomas Psicopatológicos, e de um questionário sociodemográfico, mostrando que a percepção do ambiente familiar assume um papel preditor no desenvolvimento de sintomatologia psicopatológica nos jovens adultos. Os resultados são analisados à luz da perspectiva ecológica de Bronfenbrenner, visando examinar a problemática apresentada no estudo.
O primeiro artigo da seção livre, intitulado Psicodinamismos da tendência antissocial: um estudo transgeracional, dos autores Ana Paula Medeiros (FFCLRP-USP), Manoel Antônio dos Santos (FFCLRP-USP) e Valéria Barbieri (FFCLRP-USP), investiga a partir de uma perspectiva transgeracional a forma como ocorrem a transmissão psíquica, o processo estruturante da organização familiar e a tendência antissocial na criança, manifestada por diversos sintomas. Esse estudo visa compreender através de entrevistas técnicas projetivas os psicodinamismos familiares envolvidos no surgimento desses fenômenos numa criança do sexo feminino de cinco anos, apontando a necessidade da intervenção junto à família para a eficácia do tratamento.
O segundo trabalho da seção livre, Rede e apoio social voltados para adolescentes e jovens homossexuais no enfrentamento à violência, dos autores Iara Falleiros Braga (EERP/USP), Jorge Luiz da Silva (EERP/USP),Yurín Garcêz de Souza Santos (EERP/USP), Manoel Antônio dos Santos (FFCLRP/USP) e Marta Angélica Iossi Silva (EERP/USP), descreve uma revisão integrativa da literatura acerca da rede e do apoio social voltados para adolescentes e jovens homossexuais, no enfrentamento à violência, considerando publicações de 2010 a 2015. Os resultados, a partir de nove artigos, evidenciam que a rede social, por meio de sua estrutura, composição e características funcionais, mediante o apoio social, está associada à diminuição do comportamento sexual de risco, do consumo de substâncias psicoativas e da exposição ao assédio sexual, assim como contribui para o aumento da resiliência no enfrentamento de situações de estigma e discriminação. O manuscrito sinaliza também a carência de estudos brasileiros e de estudos acerca da homossexualidade feminina, mostrando a necessidade de incrementar novas reflexões teóricas para a contribuição no campo de políticas públicas favoráveis.
Por fim, o artigo Espiritualidade e brasilidade na clínica etnopsicológica de autoria de Fabio Scorsolini-Comin (UFTM) aborda o modo como a espiritualidade e a brasilidade podem ser incorporadas na clínica etnopsicológica, através de um estudo de caso amparado na abordagem qualitativa de pesquisa, a partir do processo psicoterápico realizado com um idoso em um espaço terapêutico construído em um terreiro de umbanda. O corpus de análise é formado por transcrições das sessões e por relatos elaborados após os atendimentos. A clínica etnopsicológica atravessa mitos, crenças e aspectos da espiritualidade mestiça que constituem o povo brasileiro e pode ser a base para compreender o pedido de ajuda e acompanhar o participante no decurso de seu processo psicoterápico.
Finalizamos esta edição com a resenha elaborada por Julio Sergio Verztman do livro Ferenczi, de Teresa Pinheiro, publicado em 2016.
Isabel Fortes
Esther Arantes