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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.30 no.1 Rio de Janeiro 2018
https://doi.org/10.33208/PC1980-5438v0030n01Edt
EDITORIAL
O número 30.1 da Revista Psicologia Clínica tem como título "Temas sobre psicologia clínica" e reúne nove artigos, sendo um deles internacional. O primeiro artigo, Escrita de si e interioridade: deslocamentos na relação com o sofrimento na contemporaneidade, das autoras Mariama Augusto Furtado (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Ana Maria Szapiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro), busca compreender de que maneira se dá a relação consigo mesmo nos dias atuais, que lugar é conferido ao sofrimento e o que resta do Homo Psychologicus e de seus contornos voltados para sua interioridade, em vista da emergência de modos de ser que se distanciam do caráter interiorizado definido pela Modernidade.
O segundo artigo, intitulado Saúde mental de mulheres donas de casa: um olhar feminista-fenomenológico-existencial, das autoras Luciana da Silva Santos (Universidade de Brasília) e Gláucia Ribeiro Starling Diniz (Universidade de Brasília), reflete sobre o trabalho das donas de casa, realizado no espaço privado, visto como improdutivo e desvalorizado até por seus familiares, afetando a sua forma de ser e estar no mundo e potencializando o comprometimento de sua saúde mental.
Logique de la soumission et du commandement: de l'expérience de S. Milgram au slogan é o terceiro manuscrito, de autoria de dois autores franceses: Alexandre Lévy (Université Catholique de l'Ouest, France) e David Bernard (Université Rennes 2, France). Apoia-se em uma leitura psicanalítica para investigar a experiência de Stanley Milgram, destacando as funções de submissão e obediência e as condições consequentes para o estabelecimento de uma lógica de mandamento, baseada em conceitos lacanianos, para em torno dessas noções desdobrar os relatórios de um sujeito e sua divisão para as várias figuras que personificam um grande Outro. Nesse viés, examina os efeitos da subjetividade orientada por uma causa, o "fetichismo da mercadoria", compreensão inserida no discurso capitalista e suas promessas de prazeres como um ideal normativo da liberdade do sujeito.
O quarto artigo, A cidade dos homens: tragédia de um Édipo suspenso, dos autores Carlos Velázquez (Universidade de Fortaleza) e Marilia Romero Campos (Universidade de Fortaleza), introduz, sobre um substrato paradigmático junguiano, a hipótese de que a cidade, enquanto símbolo de proteção materna, abriga a cultura moderna como um filho que se apropria da potência criativa do pai, mas não reinvestiu essa potência na própria adaptação ao meio, concluindo que essa suspensão edípica tem perenizado, na cultura moderna, uma condição infantil, hoje insustentável tanto internamente quanto no meio natural.
Já em O Outro pluralizado no processo de constituição subjetiva as autoras, Viviane Marques Alvim Campi Barbosa (Univerdade Federal de Minas Gerais) e Nádia Laguárdia de Lima (Universidade Federal de Minas Gerais) discutem a função dos educadores de bebês e crianças pequenas na estruturação psíquica das crianças na atualidade, partindo da experiência de satisfação em Freud e buscando compreender a construção da realidade psíquica a partir do encontro com o Outro, acrescida da teoria lacaniana de constituição do sujeito através do processo que envolve a dialética entre a alienação e a separação, segundo a premissa de que as marcas inaugurais que o Outro inscreve no corpo do bebê possibilitam a sua constituição subjetiva, uma vez que é o encontro com o Outro que introduz o sujeito na linguagem e desperta nele o gozo. O trabalho conclui que, na atualidade, o Outro na vida da pequena criança encontra-se pluralizado, incluindo, além das figuras parentais, os educadores, que participam dos tempos precoces desse processo.
O sexto artigo, Um comentário sobre a "experiência" na objetividade científica e no sintoma psicanalítico, de autoria de Amandio J. Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), destaca a noção de "experiência" no pensamento filosófico e científico moderno, partindo de sua análise da Crítica da razão pura de Kant e a "experiência" em questão na psicanálise, visando enfim articular essa discussão com a elaboração lacaniana do sintoma psicanalítico. Da "Coisa-em-si" na Crítica da razão pura enquanto algo de real que cede seu lugar à "Ideia da Razão" e vai finalmente garantir a orientação em jogo no progresso infinito da ciência, chega-se à "orientação do real" em Lacan, a qual conduz a uma abordagem do sintoma que permite discernir o campo próprio da psicanálise no mundo da ciência. Destaca, finalmente, as conferências de Lacan sobre James Joyce e o seminário Le sinthome, para realizar uma aproximação com a experiência do sintoma a que uma análise conduz, enquanto modo de "amarração" ou "escrita" do real.
A melancolia em Lars Von Trier e a psicanálise, das autoras Thais Klein (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Regina Herzog (Universidade Federal do Rio de Janeiro), aborda a noção de melancolia em psicanálise a partir de considerações tecidas sobre o filme "Melancolia", de Lars Von Trier, que através de imagens descreve a condição de desamparo, cujo discurso melancólico, segundo Freud, está 'mais próximo da verdade' e propenso a um desenlace trágico.
O oitavo manuscrito, A valorização da obediência infantil como meta de socialização em diferentes configurações familiares, das autoras Luciana Fontes Pessôa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Dandara de Oliveira Ramos (Instituto Gonçalo Moniz, Bahia), Maria Lucia Seidl-de-Moura (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Leticia Oliveira da Silva (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), tem por objetivo investigar as metas de socialização da obediência infantil em famílias nucleares, mononucleares e reconstituídas, uma vez que pesquisas anteriores, em sua maioria, detiveram seu foco de investigação em mães de famílias nucleares, não considerando a pluralidade de configurações familiares do contexto atual. Entende-se que a aprendizagem da obediência aparece, de fato, como uma das mais importantes metas de socialização, na medida em que consiste em uma característica priorizada desde os primeiros anos de vida.
O nono artigo, Coping e coping diádico: uma análise qualitativa das estratégias de coping de casais, de autoria de Aline Amaral Mussumeci (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Edna Lúcia Tinoco Ponciano (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), analisa os conceitos de coping e coping diádico, trazendo trechos de entrevistas de uma pesquisa qualitativa com casais heterossexuais de famílias da classe média do Rio de Janeiro e de Curitiba. Conclui que os casais elegem determinados padrões de coping e os utilizam conjuntamente, o que aponta para a importância de se analisar a forma como os cônjuges estabelecem as estratégias de coping diádico, pois estas são o fundamento da dinâmica do casal para o enfrentamento dos estresses e dos conflitos cotidianos.
Finalmente, a revista apresenta "Ser feliz é simples - mas não é fácil". Sobre alimentação baseada em plantas, da Professora Esther Arantes, resenha do livro Cirurgia verde: conquiste a saúde pela alimentação à base de plantas, de Alberto Peribanez Gonzalez. São Paulo: Editora Alaúde, 2017, 508 páginas.
Isabel Fortes
Esther Arantes