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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.32 no.2 Rio de Janeiro maio/ago. 2020
https://doi.org/10.33208/PC1980-5438v0032n02A06
SEÇÃO TEMÁTICA - CONFLITOS E DESAFIOS EM FAMÍLIAS E CASAIS
Uso de álcool e outras drogas por adolescentes: associações com problemas emocionais e comportamentais e o funcionamento familiar
Use of alcohol and other drugs by adolescents: associations with emotional and behavioral problems and family functioning
Uso de alcohol y otras drogas por adolescentes: asociaciones con problemas emocionales y comportamentales y el funcionamiento familiar
Ana Carolina Wolf PeukerI; Joici Demetrio CaovillaII; Crístofer Batista da CostaIII; Clarisse Pereira MosmannIV
IPsicóloga com Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Laboratório de Psicologia Experimental, Neurociências e Comportamento (LPNeC/UFRGS) e Pós-doutorado no Grupo de Estudos Avançados em Psicologia da Saúde (GEAPSA) do PPG em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); Pesquisadora do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (CPAD) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Diretora Executiva da Bee Touch. Porto Alegre, RS, Brasil. email: ana@beetouch.com.br
IIPsicóloga, Mestre em Prevenção e Assistência a Usuários de Drogas pelo Programa de Mestrado Profissional em Prevenção e Assistência a Usuários de Álcool e Outras Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), RS; Secretária de Assistência Social e da Saúde de Chapadão do Lajeado, SC, Brasil. email: joicidemetrio@hotmail.com
IIIPsicólogo, Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); Pesquisador colaborador no Núcleo de Estudos em Casais e Famílias (NECAF, Unisinos) e Coordenador do Curso de Psicologia da FACEFI, Faculdade do CEFI, Porto Alegre, RS, Brasil. email: cristoferbatistadacosta@gmail.com
IVPsicóloga, Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); Professora do Curso de Psicologia, Coordenadora Executiva do Programa de Pós-Graduação e Coordenadora do Núcleo de Estudos em Casais e Famílias (NECAF) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), São Leopoldo, RS, Brasil. email: clarissemosmann@gmail.com
RESUMO
O consumo de álcool, tabaco e de drogas ilícitas na adolescência pode aumentar o risco de dependência futura, associar-se a uma série de comportamentos de risco e levar ao desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento. O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil de consumo de álcool e outras drogas por adolescentes oriundos de uma amostra rural e analisar possíveis associações entre o consumo, as variáveis cooperação, conflito e triangulação coparental, coesão familiar, conflito pais-filhos e problemas emocionais e de comportamento. Trata-se de uma pesquisa descritiva com 126 adolescentes de escolas municipais e estaduais do Sul do Brasil. Utilizou-se um questionário sociodemográfico e as escalas Faces III, ECPF, CIPA, YSR e ASSIST. Análises descritivas e inferenciais apontaram que 49,2% dos adolescentes já haviam usado álcool e 8,7%, tabaco. O uso de álcool correlacionou-se aos conflitos com a mãe e o de maconha aos conflitos com o pai. Cooperação coparental (pai) foi fator de proteção para uso de álcool, enquanto a intensidade do conflito adolescente-pai e o conflito coparental pai-mãe foram fatores de risco. Os dados são discutidos à luz da literatura científica considerando sua relevância social e clínica. Direções em que podem seguir investigações futuras são sugeridas.
Palavras-chave: drogas; adolescência; sintomas; relações familiares; relações pais-filhos.
ABSTRACT
Consumption of alcohol, tobacco, and illicit drugs in adolescence may increase the risk of future dependence, be associated with a range of risk behaviors, and lead to the development of emotional and behavioral problems. The objective of this study was to characterize the profile of use of alcohol and other drugs by adolescents from a rural sample and to analyze possible associations between consumption, the variables cooperation, co-parental conflict and triangulation, family cohesion, parent-child conflict, and emotional and behavioral problems. It is a descriptive study with 126 adolescents of municipal and state schools in Southern Brazil. A sociodemographic survey was employed, as well as Faces III, ECPF, CIPA, YSR and ASSIST scales. Inferential and descriptive analyses found that 49.2% of the adolescents had used alcohol, and 8.7%, tobacco. Alcohol use was correlated to conflicts with the mother, and marijuana use to those with the father. The father's co-parental cooperation was a protection factor for alcohol consumption, whereas the intensity of an adolescent's conflict with the father and the parents' co-parental conflict were risk factors. The data are discussed in view of the scientific literature and taking into account its social and clinical relevance. Directions for further investigation are suggested.
Keywords: drugs; adolescence; symptoms; family relations; parent-child relations.
RESUMEN
El consumo de alcohol, tabaco y drogas ilícitas en la adolescencia puede aumentar el riesgo de dependencia futura, asociarse a una serie de comportamientos de riesgo y conducir al desarrollo de problemas emocionales y de comportamiento. El objetivo de este estudio ha sido caracterizar el perfil del consumo de alcohol y otras drogas en adolescentes de una muestra rural y analizar posibles asociaciones entre el consumo, las variables cooperación, conflicto y triangulación coparental, cohesión familiar, conflicto entre padres e hijos y los problemas emocionales y de comportamiento. Se trata de una investigación descriptiva con 126 adolescentes de escuelas municipales y estatales del Sur de Brasil. Se utilizó un cuestionario sociodemográfico y las escalas Faces III, ECPF, CIPA, YSR y ASSIST. Análisis descriptivas e inferenciales fueran llevado a cabo y apuntaron que el 49,2% de los adolescentes usaron alcohol y el 8,7%, tabaco. El uso de alcohol se correlacionó con los conflictos con la madre y la marihuana a los conflictos con el padre. La cooperación coparental (padre) ha sido factor de protección para el uso de alcohol, y la intensidad del conflicto adolescente-padre y el conflicto coparental padre-madre fueron factores de riesgo. Los datos son discutidos de acuerdo con la literatura científica considerando su relevancia social y clínica. Direcciones en las que pueden seguir investigaciones futuras se sugieren.
Palabras clave: drogas; adolescencia; síntomas; relaciones familiares; relaciones padres-hijos.
Introdução
O consumo de álcool, tabaco e de drogas ilícitas na adolescência pode aumentar o risco de dependência futura, associar-se a uma série de comportamentos de risco e ao desenvolvimento de sintomas emocionais e de comportamento (Chaplin et al., 2014). Trata-se de um problema de saúde pública em diversos países, especialmente entre os jovens (UNODC, 2015). No Brasil, um número significativo de adolescentes entre 12 e 18 anos já fizeram uso de álcool e outras drogas (Andrade et al., 2017; Elicker et al., 2015; Laranjeira et al., 2014; Sanchez et al., 2013).
Os principais fatores de risco para o consumo de álcool e outras drogas são vulnerabilidade socioeconômica, características do funcionamento familiar, ser do gênero masculino e estar na fase da adolescência, especificamente na faixa etária entre 12 e 18 anos de idade (Andrade et al., 2017; Cerutti et al., 2015; Noto et al., 2003; Rocha, 2012; Vargas et al., 2015). Quanto ao funcionamento familiar, os estudos indicam risco aumentado se há elevados níveis de conflito, deficiência na comunicação intrafamiliar, distanciamento emocional entre pais e filhos, pais/cuidadores usuários de álcool e/ou outras drogas (Broecker & Jou, 2007; Costa et al., 2014), estratégias ineficazes de enfrentamento das adversidades e falta de suporte religioso (Andrade et al., 2017; Broecker & Jou, 2007), estilo parental negligente e permissivo (Cerutti & Argimon, 2015; Cerutti et al., 2015), exposição e ocorrência de violência física e sexual (Fosco & Feinberg, 2018; Noto et al., 2003).
Tais fatores geralmente se sobrepõem e desencadeiam problemas de comportamento externalizantes e internalizantes nos adolescentes. Os primeiros se expressam em relação a outras pessoas e envolvem dificuldade de controlar impulsos, hiperatividade, agressividade física ou verbal, raiva, delinquência e uso de drogas (Achenbach & Rescorla, 2001). Os internalizantes se expressam por meio de comportamentos introspectivos e em relação ao próprio indivíduo e envolvem tristeza, isolamento, queixas somáticas e medo, entre outros sintomas (Cerutti & Argimon, 2015; Hess & Falcke, 2013).
Por outro lado, controle e monitoramento parental, proximidade emocional, orientações sobre uso de álcool e outras drogas e valores familiares adaptativos são considerados fatores de proteção (Cerutti & Argimon, 2015; Chaplin et al., 2014; Hess & Falcke, 2013). Ainda, são considerados prognóstico favorável em situações de tratamento e fator de proteção aspectos como coesão familiar (Mosmann et al., 2017; Mosmann, Costa et al., 2018) residir com ambos os pais (Andrade et al., 2017; Noto et al., 2003) e receber demonstrações de apoio pelos cuidadores (Cerutti & Argimon, 2015; Chaplin et al., 2014).
Além disso, um dos subsistemas cada vez mais estudado devido a sua importância para a funcionalidade familiar é o subsistema coparental, que tem sido apontado como mediador entre as características da conjugalidade e da parentalidade e o desenvolvimento dos filhos. A coparentalidade ocorre quando dois adultos compartilham os cuidados referentes à prole, dividindo a liderança e as responsabilidades pelos papéis parentais. Envolve as interações do grupo familiar, que podem se caracterizar como cooperação ou antagonismo, apoio ou oposição entre os cuidadores frente à intervenção um do outro enquanto subsistema parental (Mosmann et al., 2017; Mosmann, Costa et al., 2018).
No modelo de Margolin et al. (2001), as dimensões que compõem o subsistema coparental são cooperação, conflito e triangulação. A cooperação avalia as trocas entre os cuidadores referentes aos cuidados com o filho, apoio e respeito mútuos e a expressão à prole de que há um clima de lealdade entre eles. O conflito coparental refere-se às brigas e discussões sobre questões relacionadas à parentalidade, e envolve sabotar o companheiro por críticas, acusação e afastamento. A triangulação é a coalizão formada pelo filho com um dos pais e o envolvimento deste no conflito coparental (Margolin et al., 2001; Riina & McHale, 2014).
Evidências provenientes de estudos nacionais e internacionais confirmam que as características das relações familiares impactam o desenvolvimento emocional e comportamental dos filhos (Fosco & Feinberg, 2018; Hess & Falcke, 2013; Mosmann et al., 2017; Mosmann, Costa et al., 2018). Também indicam que conflitos parentais e variáveis pessoais, como idade e sexo do adolescente, aumentam as chances de a prole se envolver no consumo de álcool e outras drogas (Cerutti & Argimon, 2015; Samek et al., 2014) e desenvolver sintomas e transtornos emocionais e de comportamento (Noto et al., 2003; Rocha, 2012; Vargas et al., 2015).
Embora esteja evidente a relação entre as características do relacionamento entre pais e filhos adolescentes, uso de álcool e outras drogas e o surgimento de problemas externalizantes e internalizantes (Samek et al., 2014), a influência mútua entre essas variáveis e o quanto cada uma contribui para a ocorrência do fenômeno necessitam ser investigadas. Para tanto, devem ser consideradas as características das relações familiares como fator de risco, proteção e/ou prevenção ao consumo de álcool e outras drogas, os reflexos na saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes e a necessidade de se desvelar este complexo sistema de interações (Cerutti et al., 2015; Hess & Falcke, 2013; Mosmann et al., 2017; Mosmann, Costa et al., 2018; Riina & McHale, 2014).
Ademais, considerar somente a visão dos pais sobre esses fenômenos limita as possibilidades de ampliar e aprofundar o conhecimento, já que evidências apontam que os adolescentes tendem a dar respostas mais fidedignas (Teubert & Pinquart, 2011). Por isso, este estudo foi desenvolvido com o objetivo de caracterizar o perfil de consumo de álcool e outras drogas em adolescentes oriundos de uma amostra rural e analisar possíveis associações entre o consumo, as variáveis cooperação, conflito e triangulação coparental, coesão familiar, conflito pais-filhos e os problemas emocionais e de comportamento.
Método
Delineamento e participantes
Trata-se de um estudo descritivo e correlacional, de caráter quantitativo e de corte transversal. Participaram do estudo 126 adolescentes com idades entre 12 a 18 anos incompletos (M=14,21; DP=1,603), sendo 46,4% (n=58) do sexo masculino e 53,3% (n=67) do sexo feminino. Desses adolescentes, 36,5% eram estudantes do ensino médio (n=45) e 63,7% (n=79) do ensino fundamental da rede pública de ensino. Em relação à variável "acompanhamento psicológico ao longo da vida", 20,5% (n=25) informaram já ter realizado. Quanto à classe social, 59% (n=69) indicaram pertencer à classe média, 20,5% (n=24) à classe média baixa, 12,8% (n=15) à classe média alta, 2,6% (n=3) à classe muito alta, 2,6% (n=3) à classe baixa, 1,7% (n=2) à classe alta e 0,9% (n=1) à classe muito baixa. Oito participantes não responderam à questão. Em relação à condição laboral dos pais, os adolescentes indicaram que 88,3% (n=91) das mães tinham um trabalho, 2,9% (n=3) estavam aposentadas e 8,7% (n=9) estavam desempregadas; com relação ao pai, 89,9% (n=89) tinham um trabalho, 3% (n=3) estavam aposentados e 7,1% (n=7) estavam desempregados. Quanto à configuração familiar, 85% dos participantes morava com o pai e a mãe e 15% tinham pais separados, embora ambos os cuidadores exercessem as funções coparentais.
Instrumentos
(a) Questionário sócio demográfico: Trata-se de uma medida constituída por 25 perguntas que permitem levantar dados sócio demográficos dos participantes da pesquisa, por meio de informações como sexo, idade, escolaridade, cidade, número de irmãos e outras.
(b) Escala de avaliação da coesão familiar (Faces III): É uma escala com vinte itens pontuados numa escala likert de cinco pontos (quase nunca, alguma vez, às vezes, com frequência, quase sempre) para avaliar a coesão e a adaptabilidade familiar (Olson et al., 1979, validado por Falceto, 1997). Neste estudo foi utilizada somente a dimensão de coesão.
(c) Escala de conflito pais-filho (ECPF): Esta escala tem nove itens, apresentados separadamente devido ao enunciado, e está dividida em duas subescalas denominadas de "conflito-desentendimentos" e "conflito-agressão". A primeira tem seis itens que se referem à frequência com que os indivíduos experimentaram desentendimentos com seu pai e mãe no último ano e são medidos numa escala likert de seis pontos. A segunda subescala tem três itens, pontuados numa escala likert de cinco pontos. Um item mede a frequência com que se lida de forma calma com os conflitos (codificado invertido) e os outros dois avaliam a frequência das discussões e agressões (Buehler & Gerard, 2002, adaptado por Terres-Trindade & Mosmann, 2015).
(d) Escala de coparentalidade para pais e adolescentes - The Coparenting Inventory for Parents and Adolescents (CIPA) (Teubert & Pinquart, 2011; evidências de validade por Mosmann, Machado et al., 2018): Por meio deste instrumento, os filhos realizam uma avaliação em nível diádico, ao investigar a coparentalidade dos pais de forma conjunta (meus pais concordam se atendem ou não a meus desejos e demandas), e individual, ao contemplar a avaliação das características tanto da mãe quanto do pai no desempenho da coparentalidade (antes da minha mãe/pai me permitir fazer algo, ela/ele conversa sobre isso com o meu pai/mãe). A escala tem três partes: (1) díade coparental; (2) contribuições da mãe; e (3) contribuições do pai, cada uma com três subescalas, cooperação, conflito e triangulação, com quatro itens cada uma. Os itens são pontuados numa escala likert de quatro pontos.
(e) Inventário de autoavaliação de jovens de 11 a 18 anos - Youth Self-Report (YSR) (Rocha, 2012): Este instrumento faz parte do Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado (Achenbach System of Empirically Based Assessment, ASEBA), desenvolvido por Achenbach e Rescorla (2001). É uma variação do Children Behavior Checklist - CBCL, no qual o respondente é o próprio adolescente (Achenbach & Rescorla, 2001). O YSR é composto por oito escalas de problemas de comportamento (ansiedade/depressão, isolamento/depressão, queixas somáticas, problemas sociais, problemas de pensamento, problemas de atenção, comportamento de violação de regras, comportamento agressivo) e pela dimensão "outros problemas", com itens que não se encaixaram em nenhuma das outras subescalas. O YSR permite a classificação em três níveis: problemas internalizantes (as três primeiras subescalas), problemas externalizantes (as duas últimas subescalas) e problemas totais (todas as subescalas).
(f) Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test - ASSIST (Humeniuk et al., 2010) validado para a população brasileira por Henrique et al. (2004): Trata-se de um questionário estruturado formulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) contendo oito questões sobre o uso de nove classes de drogas lícitas e ilícitas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes, sedativos, inalantes, alucinógenos e opiáceos). As questões abordam a frequência de uso, na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso, preocupações a respeito do uso por parte de pessoas próximas ao usuário, prejuízos na execução de tarefas, tentativas malsucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento de compulsão ou uso de injetável. Cada resposta corresponde a um escore que varia de 0 a 4, cuja soma total pode variar de 0 a 20. Considera-se a faixa de escore de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional, de 4 a 15 como indicativa de abuso e 16 ou mais como sugestiva de dependência. Segundo o manual do instrumento, um escore de 27 pontos ou mais para qualquer substância sugere que o indivíduo corre alto risco para dependência ou é dependente da substância e, provavelmente, tem problemas de relacionamento, legais, financeiros, sociais e de saúde como consequência do consumo. Neste estudo serão utilizadas as faixas de risco para dependência conforme o manual do instrumento, quais sejam: álcool (baixo risco: 0-10; risco moderado: 11-26, alto risco: ≥27), e outras substâncias (baixo risco: 0-3; risco moderado: 4-26, alto risco: ≥27).
Procedimentos
Foram acessados todos os estudantes de ensino fundamental e médio matriculados regularmente nas escolas municipais e estaduais do município de Chapadão do Lajeado (SC) (N=278). Inicialmente, foi feito contato com a direção das escolas, apresentados os objetivos da pesquisa e solicitada anuência para a realização da coleta de dados. Com vistas a formalizar o trabalho de coleta, foi entregue uma carta de apresentação juntamente com o projeto de pesquisa e uma cópia do instrumento. A partir da autorização da direção, realizou-se uma palestra para professores e equipe diretiva sobre uso de drogas na adolescência e relações familiares. Na ocasião, foi apresentada também a proposta de pesquisa, os objetivos e criado um espaço de discussão para esclarecer dúvidas.
Após essa etapa, as turmas foram selecionadas de acordo com a idade mínima para inclusão no estudo (12 anos). Participaram quatro turmas de ensino fundamental da escola municipal, e sete turmas do ensino fundamental e seis do ensino médio da escola estadual, totalizando 278 alunos. Antes do agendamento da coleta, os estudantes receberam em sala de aula um convite impresso para a participação na pesquisa, dirigido a eles e aos seus pais/cuidadores. Receberam também duas cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que deveria ser assinado pelos pais/responsáveis, assim como um Termo de Assentimento (TA), a ser assinado pelos próprios jovens, que declaravam consentir em participar. Na ocasião da entrega, foram prestados os esclarecimentos sobre a participação na pesquisa, a assinatura e devolução dos termos e a data da coleta de dados.
Nas datas e horários agendados, três manhãs, duas tardes e uma noite, numa sala indicada pela direção de cada escola, foram recolhidas as vias assinadas do TCLE e do TA, pré-requisitos para inclusão do aluno no estudo, e realizada a coleta de dados, sempre de forma coletiva, em grupos de no máximo 20 adolescentes. Os protocolos foram distribuídos em envelopes codificados, a fim de garantir o sigilo e a confiabilidade dos dados. A coleta ocorreu no período de fevereiro a abril de 2016, no horário de aula, e o tempo de preenchimento do instrumento variou de 40 a 45 minutos.
Considerações éticas
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), processo nº 14/152 (CAAE: 36888214.0.0000.5344). Os procedimentos para coleta de dados seguiram as normas estabelecidas para a realização de pesquisa com seres humanos, conforme previsto na Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, atendendo aos fundamentos éticos e científicos pertinentes. O TCLE e o TA citavam objetivos, caráter voluntário da participação, procedimentos, possíveis riscos e benefícios, anonimato, proteção e cuidado na divulgação das informações.
Análise dos dados
Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS (versão 20), considerando o nível de significância de 5% (p≤0,05). Inicialmente foram avaliadas as propriedades psicométricas (confiabilidade e validade convergente) de cada escala e realizadas análises descritivas (médias, desvio-padrão, porcentagens) dos resultados em geral. Para analisar as associações entre variáveis, realizaram-se correlações (Pearson) entre as variáveis de interesse (uso de álcool e outras drogas, problemas de comportamento e variáveis familiares) e comparação de médias (T de Student) para o pai e a mãe na ECPF. Para a estatística inferencial, foram testados previamente os critérios de pressupostos paramétricos (tipo de variável, tamanho da amostra, normalidade) para a eleição dos testes estatísticos apropriados e então realizada análise de regressão linear para estabelecer um modelo preditivo do consumo de álcool e outras drogas. Conforme indicado por Hair et al. (2009), para realização de análise de regressão múltipla, estudos contendo cinco construtos ou menos, cada um com mais de três itens (condição atendida neste estudo), com um poder de probabilidade de 0,80, o tamanho mínimo exigido da amostra é entre 50 e 100 respondentes para obter um R2 mínimo de 10%.
Resultados
Perfil de consumo de álcool e outras drogas
Para caracterizar o perfil de consumo de álcool e outras drogas, consideraram-se os marcadores de "uso na vida" e "uso atual" (últimos três meses) de tabaco, álcool e maconha. Para caracterizar o perfil de consumo de risco para dependência de álcool e outras drogas, empregou-se a classificação: baixo, moderado e alto risco, conforme as orientações contidas no manual do instrumento ASSIST, da OMS (Henrique et al., 2004; Humeniuk et al., 2010).
No que se refere ao uso na vida de tabaco, 8,7% (n=11) dos adolescentes afirmaram já ter experimentado, 86,5% (n=109) relataram não ter feito uso na vida e 4,8% (n=6) não responderam. Quanto ao uso de álcool, 49,2% (n=62) indicaram já ter bebido alguma vez na vida e 50,8% (n=64) relataram não ter feito uso. Quanto ao uso na vida de maconha, 93,7% (n=118) indicaram nunca ter usado, 2,4% (n=3) fizeram uso de maconha na vida e 4% (n=5) não responderam à questão.
Em relação ao uso atual de tabaco, 38,9% (n=49) relataram nunca ter feito uso, 2,4% (n=3) indicaram fazer uso diário ou quase todos os dias e 58,7% (n=74) não responderam. Sobre o uso atual de bebida alcoólica, 21,4% (n=27) indicaram nunca ter bebido, 28,6% (n=36) afirmaram ter bebido uma ou duas vezes nos últimos três meses, 7,9% (n=10) indicaram ter bebido mensalmente, 4,8% (n=6) relataram beber semanalmente e 37,3% (n=47) não responderam à pergunta. Quanto ao uso atual de maconha, 39,7% (n=50) citaram nunca ter feito uso, 0,8% (n=1) indicaram fazer uso mensal de maconha e 59,5% (n=75) não responderam.
No que concerne ao consumo de risco para dependência de tabaco, 1,6% (n=2) dos adolescentes apresentaram risco alto para dependência, 4,0% (n=5) apresentaram risco moderado e 21,4% (n=27), risco baixo. No entanto, 73,0% (n=92) dos participantes não respondeu a essa questão. No que se refere ao risco para dependência do álcool, 4,0% (n=5) dos adolescentes apresentaram risco alto, 11,1% (n=14), risco moderado e 31,7% (n=40), risco baixo. Essa questão não foi respondida por 53,2% (n=67) dos participantes. Quanto ao risco de dependência de maconha, 1,6% (n=2) dos adolescentes apresentaram risco moderado, 23,0% (n=29), risco baixo e 75,4% (n=95) dos participantes não responderam ao questionamento.
Variáveis familiares
O exercício da coparentalidade, considerando as contribuições da mãe, do pai e de ambos, foi avaliado pelos adolescentes de acordo com as médias apresentadas na Tabela 1. Considerando a escala de conflito pais-filho (ECPF), realizou-se um teste T de Student para comparação de médias das respostas relativas aos motivos de desentendimentos com o pai e com a mãe. Constatou-se que as médias para conflitos relacionados com o uso de internet, tarefas domésticas e maior intensidade da discussão (gritos) foram significativamente maiores para a mãe do que para o pai (p<0,001), conforme a Tabela 1.
Foi realizado teste de correlação de Pearson considerando a ECPF, a CIPA, a coesão familiar, os sintomas internalizantes e externalizantes e os itens do YSR relacionados ao uso de álcool e outras drogas. Na ECPF constatou-se que o uso de maconha se correlacionou com conflito com o pai relacionado ao "uso de drogas", o uso de maconha pelo adolescente se correlacionou à maior intensidade de conflito com o pai, caracterizado por "discutir intensamente ou gritar" e "bater ou atirar coisas um no outro", e o uso de álcool se correlacionou com conflitos com a mãe relacionados a "sair à noite".
Também se observou, conforme a Tabela 2, que o consumo de bebida alcoólica se correlacionou positivamente de forma significativa com sintomas externalizantes e internalizantes, intensidade do conflito coparental do pai, conflito coparental do pai e da mãe e triangulação do pai e da mãe. Ainda, beber álcool com aprovação dos pais se correlacionou positivamente de forma significativa com sintomas externalizantes e internalizantes; fumar cigarro se correlacionou positivamente de forma significativa com sintomas externalizantes e usar maconha se correlacionou negativamente de forma significativa com a coesão familiar.
A partir das correlações, identificou-se que a variável "consumir bebidas alcoólicas" apresentou associações de fracas a moderadas, porém significativas, com as variáveis familiares investigadas. Por isso, foi realizada análise de regressão linear múltipla com o objetivo de analisar o conflito pais-filhos, as dimensões da coparentalidade do pai e da mãe, e os sintomas internalizantes e externalizantes como conjunto de variáveis preditoras para o consumo de bebidas alcoólicas. Para isso, foram inseridas como variáveis independentes apenas aquelas que apresentaram correlações significativas com o consumo de álcool (p<0,005).
A Tabela 3 apresenta o modelo significativo (p=0,001), indicando que apenas duas variáveis preditoras foram significativas: "intensidade do conflito com o pai" (p=0,005) e "conflito coparental do pai" (p=0,050), e explicaram 15,7% do consumo de bebidas alcoólicas para os participantes do estudo. As outras variáveis independentes não foram significativas e foram excluídas do modelo final.
Discussão
A partir desta investigação foi atingido o objetivo de caracterizar o perfil de consumo de álcool e outras drogas em adolescentes oriundos de uma amostra rural e analisar possíveis associações entre o consumo, as variáveis cooperação, conflito e triangulação coparental, coesão familiar, conflito pais-filhos e os problemas emocionais e de comportamento. Em relação ao perfil de consumo de álcool e outras drogas, os resultados deste estudo mostraram que as drogas legais como o álcool e o tabaco são mais comuns no uso, corroborando outras pesquisas com a população adolescente no Brasil (Andrade et al., 2017; Cerutti et al., 2015). Os resultados encontrados estão de acordo com uma noção já estabelecida na literatura de que o álcool é a substância mais consumida entre os jovens (Cerutti et al., 2015; Fosco & Feinberg, 2018).
Além disso, chama atenção o número expressivo de adolescentes que não respondeu às questões sobre o consumo na vida ou no momento atual e, principalmente, sobre o uso de maconha, droga menos usual, se comparada ao álcool e ao tabaco. Da mesma forma, tanto o índice de resposta quanto o índice de consumo de álcool e outras drogas diminuiu de acordo com o tipo de droga: álcool, tabaco e maconha, conforme encontrado também no estudo de Cerutti et al. (2015). Esse resultado pode estar demonstrando o que, segundo a percepção dos adolescentes, é mais aceito socialmente e até menos prejudicial. Essa perspectiva também pode explicar o índice de risco maior para o álcool em comparação aos outros tipos de drogas, já que é mais aceito, usual e considerado menos prejudicial, o que o torna potencialmente perigoso na adolescência pelos efeitos diretos do uso e indiretos, como porta de entrada para outras drogas.
Constatou-se que as médias para conflitos relacionados com uso de internet, tarefas domésticas e maior intensidade da discussão (gritos) foram significativamente maiores para a mãe do que para o pai, conforme a Tabela 1. Ainda, foi encontrado associação entre os conflitos com a mãe e o uso de álcool pelo adolescente na variável "sair à noite". Esses resultados reportam à configuração e aos papéis tradicionais que ainda predominam nas famílias nucleares (caso de 85% da amostra deste estudo), em que a mãe é a principal responsável pelo cuidado e disciplina dos filhos. Esse papel sugere maior envolvimento, monitoramento e controle das atividades e rotina da prole, repercutindo em mais conflitos, já que mãe-adolescente estão mais implicados nesse aspecto do que pai-adolescente (Cerutti & Argimon, 2015; Cerutti et al., 2015).
Por outro lado, foi encontrada associação entre o uso de maconha e o conflito com o pai sobre o uso de drogas e o uso de maconha e a maior intensidade de conflito com o pai. Esse resultado, se comparado ao dado anterior sobre os conflitos entre a mãe e o adolescente, pode sugerir que a presença do pai ocorre se, na percepção do adolescente, trata-se de uma situação mais grave, envolvendo maiores níveis de intensidade durante o conflito e uso de droga ilícita. Segundo os estudos pesquisados, a parentalidade negativa caracterizada por crítica, hostilidade e interações conflituosas entre pais e filhos pode aumentar o risco de consumo de álcool e outras drogas, já que reduz a proximidade emocional entre pais e adolescentes (Broecker & Jou, 2007; Cerutti & Argimon, 2015; Chaplin et al., 2014).
Foram encontradas associações entre problemas de comportamento, conflitos familiares e uso de álcool e outras drogas, corroborando as pesquisas que apontam baixos níveis de funcionalidade familiar, caracterizados por interações predominantemente conflitivas e hostis e o acúmulo de tensões como fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas (Cerutti & Argimon, 2015; Samek et al., 2014). O consumo de bebida alcoólica se correlacionou positivamente de forma significativa com intensidade do conflito coparental do pai, conflito coparental do pai, triangulação da mãe, triangulação do pai e conflito coparental da mãe.
Esses resultados sugerem que o conflito no exercício da coparentalidade e a triangulação (envolvimento da prole no conflito coparental) repercutem negativamente nos filhos adolescentes. Esses resultados podem indicar que os conflitos familiares excessivos, aqui expressos pelas dimensões da coparentalidade, inibem o adolescente de levar a cabo suas próprias necessidades de expor sentimentos e contestar as figuras parentais, evitando as discussões inerentes ao processo de desenvolvimento (Chaplin et al., 2014). Pode ocorrer também a diminuição do monitoramento parental, já que os cuidadores estão imersos no conflito coparental, e o aumento da suscetibilidade do adolescente a envolver-se em grupos com condutas de risco ao uso de álcool e outras drogas (Cerutti & Argimon, 2015; Chaplin et al., 2014).
A associação entre consumo de bebida alcoólica e tabaco e os sintomas externalizantes, e entre beber álcool com aprovação dos pais e os sintomas externalizantes e internalizantes pode ser indicativo de que o álcool é a droga lícita mais consumida e, consequentemente, causadora de mais prejuízos ao público adolescente (Andrade et al., 2017; Chaplin et al., 2014). Uma hipótese é que se trata de uma droga lícita, socialmente aceita, inclusive com consentimento da família, presente nos rituais comemorativos e festivos.
Além disso, o fato de o álcool ser considerado pelos usuários uma droga que tende a provocar desinibição e condutas socialmente mais ativas na fase inicial da intoxicação pode explicar a ocorrência mais frequente de sintomas externalizantes, já que estes se expressam em relação às outras pessoas e se caracterizam predominantemente como dificuldade de controlar impulsos, hiperatividade, agressividade física e verbal, raiva e delinquência (Achenbach & Rescorla, 2001; Hess & Falcke, 2013). Ademais, o resultado aponta a necessidade de maior fiscalização e controle por parte dos órgãos reguladores com relação ao consumo de álcool e tabaco que, embora lícitos, podem ser um disparador para a iniciação em outros tipos de drogas que provocam prejuízos diretos aos adolescentes, como é o caso de maconha, cocaína, crack, entre outras drogas (UNODC, 2015).
O modelo preditivo para o consumo de bebidas alcoólicas para os participantes do estudo explicou 15,7% do fenômeno por meio das variáveis conflito coparental do pai e intensidade do conflito com o pai. O fato de o modelo conter somente variáveis do pai como preditoras do consumo de álcool sugere que este cuidador exerce um papel ativo sobre a prole, já que se trata de um resultado relacionado à percepção do próprio adolescente. Os resultados podem indicar que o adolescente reconhece a autoridade do pai como preponderante à da mãe, e remete à divisão de responsabilidades conforme o gênero, ou seja, o que se espera enquanto função materna e enquanto função paterna. Neste estudo, o conflito coparental do pai e a intensidade do conflito do pai foram fatores de risco para o consumo.
Em conjunto, esses resultados indicam que pode existir relações entre uso de álcool e outras drogas e problemas familiares, principalmente no que se refere aos conflitos do pai com a mãe (coparentalidade) e com os filhos (conflito pais-filho). Por outro lado, a coesão familiar foi um fator de proteção do uso de maconha, confirmando a existência de uma relação entre as características do ambiente familiar e o envolvimento com álcool e outras drogas, já que abertura e reciprocidade para expor sentimentos e pensamentos, proximidade afetiva e união entre os membros, aspectos que caracterizam a coesão familiar, é um modelo adaptativo e seguro que orienta o adolescente, ainda que surjam oportunidades sedutoras para uso de drogas por meio do grupo de iguais (Cerutti & Argimon, 2015; Chaplin et al., 2014; Hess & Falcke, 2013).
Considerações finais
Por meio dos resultados deste estudo, destaca-se a necessidade de atuar em prevenção, focada no uso de álcool e outras drogas por adolescentes e fornecendo subsídios e embasamento empírico para a prática dos profissionais que atuam com esse público. O papel relevante e decisivo das relações familiares resta evidenciado na mediação do funcionamento emocional de seus membros. Os resultados indicam a necessidade de se desenvolver outros trabalhos e aperfeiçoar os existentes na rede pública e privada no que se refere às práticas direcionadas às famílias, no sentido de que a orientação seja um fator de proteção e prevenção ao uso de álcool e outras drogas, principalmente na adolescência. Psicólogos podem orientar outros profissionais que atuam com famílias em diferentes contextos (escolas, instituições públicas, privadas, programas de prevenção e tratamento em saúde mental, etc.) no sentido de considerar em seu trabalho a importância da interação familiar, incluindo orientações sobre o exercício da coparentalidade de modo coerente e coeso e a participação ativa de ambos os progenitores/cuidadores nas intervenções preventivas e/ou terapêuticas.
São limitações deste estudo a impossibilidade de generalização dos resultados para outros contextos e o grupo etário adolescente e suas famílias, já que se trata de um estudo transversal com participantes selecionados por conveniência e de tamanho amostral não representativo da população. Por outro lado, os resultados podem ser compreendidos no contexto da realidade de adolescentes oriundos de áreas rurais, pouco estudadas no contexto brasileiro.
Além disso, o viés de desejabilidade social deve ser considerado no estudo, já que os dados indicaram índices de consumo de álcool e outras drogas inferiores ao esperado, se comparados a estudos de prevalência com adolescentes brasileiros, principalmente, quanto à prevalência do consumo de drogas ilícitas (maconha e cocaína, entre outras). A abstenção de respostas dos participantes também apoia essa hipótese e pode estar relacionada ao contexto dos respondentes, ou seja, adolescentes oriundos de uma comunidade de pequeno porte, receosos de que suas respostas os identificassem, resultando em consequências legais e/ou morais. Portanto, os aspectos discutidos podem ter resultado na subestimação dos percentuais de prevalência do uso de álcool e outras drogas na amostra avaliada, indicando que os dados precisam ser analisados e compreendidos com cautela. Além disso, estudos futuros podem utilizar o método da triangulação de dados incluindo outros informantes, como pais e profissionais da escola (professores, orientadores educacionais), por exemplo, para avaliar as associações entre características familiares, sintomas internalizantes e externalizantes e uso de álcool e outras drogas por adolescentes.
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Recebido em 19 de janeiro de 2019
Aceito para publicação em 29 de outubro de 2019