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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  n.22 Canoas dez. 2005

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Exploração vocacional e informação profissional percebida em estudantes carentes*

 

Vocational exploration and perceived career information in low-income students

 

 

Mônica Sparta 1, I, II ; Marúcia P. Bardagi 2, II ; Ana Maria Jung de Andrade 3, II

I Universidade Estácio de Sá (RJ)
II Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho investigou características sócio-demográficas e vocacionais em 59 alunos de baixa renda, de ambos os sexos, com idades entre 16 e 48 anos. A maioria já prestou vestibular e tem escolha profissional definida. Os alunos relatam possuir pouca informação sobre profissões, processo de escolha, ensino superior, vida universitária e mercado de trabalho. O grupo se mostrou heterogêneo em relação ao nível de exploração vocacional. Observou-se neste estudo a importância da exploração vocacional para a escolha de carreira, bem como a carência de trabalhos de orientação e informação profissional com esse público, que busca a universidade mas não possui uma rede de apoio à construção de um projeto profissional consistente.

Palavras-chave: Escolha profissional, Exploração vocacional, Orientação profissional.


ABSTRACT

This study investigated demographic data and vocational aspects in 59 low-income students, of both sexes, with ages between 16 and 48 years. Most participants had taken the university entry exams before and have a defined career choice. Most of them have insufficient perceived information about careers, career choice process, higher education, college student’s life, and labor market. Heterogeneity was observed in the vocational exploration levels. The results show the importance of vocational exploration in career choice process, as well as the lack of vocational guidance and information interventions with this population, people who want to go to the university but have no support for constructing a consistent career project.

Keywords: Career choice, Vocational exploration, Vocational guidance.


 

 

Introdução

O presente trabalho teve origem a partir de uma demanda de Orientação profissional surgida do Projeto Educacional Alternativa Cidadã (curso pré-vestibular criado para pessoas carentes por estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Seus objetivos foram investigar características sócio-econômicas e vocacionais dessa população específica, a fim de fornecer subsídios para a construção de um programa de Orientação profissional a esses estudantes. Para esse fim, optou-se por avaliar dois aspectos fundamentais do comportamento vocacional: a exploração de carreira e a quantidade de informação profissional percebida.

A escolha profissional não é um fato que ocorre em um determinado momento da vida (a adolescência, na percepção do senso comum), mas um processo que percorre todo o ciclo vital e que envolve a realização de uma série de tarefas evolutivas (Super, 1957; Super, Savickas & Super, 1996). A exploração vocacional é uma dessas tarefas, definida como um comportamento proposital e voluntário que visa ao autoconhecimento e ao conhecimento sobre o mundo do trabalho (Jordaan, 1963). Apesar de especialmente característico da adolescência, é considerado fundamental em todas as fases do desenvolvimento vocacional (Flum & Blustein, 2000; Jordaan, 1963).

Em função da importância da exploração vocacional para a realização de escolhas profissionais maduras e realistas, investigações nessa área têm sido realizadas de forma constante no ambiente internacional. De maneira geral, os resultados apontam um maior nível de exploração por parte das mulheres e um crescimento da exploração com a idade (Bartley & Robitschek, 2000; Taveira, Silva, Rodrigues & Maia, 1998). Também são consistentes os achados que correlacionam positivamente a exploração com a decisão profissional e o desenvolvimento de expectativas realistas; correlações negativas, por sua vez, costumam ser encontradas com precipitação na escolha (Amundson & Penner, 1998; Bartley & Robitschek, 2000; Blustein, Pauling, DeMania & Faye, 1994; Kracke, 2002; Robitschek & Cook, 1999; Werbel, 2000).

No Brasil, entretanto, a preocupação com a exploração vocacional ainda é incipiente, havendo poucos estudos sobre o tema (Frischenbruder, 1999; Frischenbruder, Teixeira, Sparta & Sarriera, 2002; Sparta, 2003a). Os estudos nacionais têm confirmado as relações entre exploração e decisão de carreira e têm mostrado, de forma geral, um padrão de exploração pobre entre os participantes, com busca pouco sistemática de informações sobre si mesmos e o mundo do trabalho. Os resultados desses estudos também apontam uma tendência das mulheres apresentarem maior exploração vocacional do que os homens, dado consistente com os achados internacionais.

Medidas de exploração vocacional identificam o quanto cada indivíduo realiza comportamentos capazes de fornecer informações sobre si mesmo e sobre o mundo do trabalho. Por outro lado, outro fator importante de investigação na esfera da Orientação profissional é o quanto cada indivíduo acredita possuir informações sobre essas questões. Essa crença pode influenciar de forma determinante o nível de comportamento exploratório realizado. Informações realistas sobre o mundo profissional costumam estar relacionadas a escolhas mais consistentes e seguras. A deficiência de informação profissional pode ser vista como uma das principais causas de dificuldade no momento de realizar escolhas profissionais (Lima, 1999). Entre os fatores que podem contribuir para que o nível e o conteúdo das informações adquiridas sejam parciais ou incompletos estão as características e valores de cada indivíduo, os meios familiar e social e os estereótipos e preconceitos, denominados por Bohoslavsky (1977), respectivamente, de fatores intra, inter e transpessoais.

A assimilação de informações equivocadas e insuficientes sobre o mundo profissional é um problema social generalizado no âmbito ocupacional, que leva à construção de projetos profissionais estereotipados e inconsistentes. Um dos principais objetivos do orientador profissional, então, além de transmitir informações, é também corrigir as imagens distorcidas que o indivíduo já possui sobre as profissões, favorecendo a análise de estereótipos e representações sociais (Bohoslavsky, 1977; Ferretti, 1997; Lima, 1999).

O presente estudo teve como objetivos avaliar características sócio-demográficas e vocacionais dos alunos do Projeto Educacional Alternativa Cidadã, particularmente seu nível de comportamento exploratório e a quantidade de informação profissional percebida. Outras três variáveis foram escolhidas para investigação por serem de grande valor para a construção do processo de intervenção pretendido: os critérios utilizados para a realização de escolhas profissionais; as dificuldades percebidas para a realização dessas escolhas; e as percepções acerca da Orientação profissional como um possível veículo de auxílio na escolha de uma profissão. Como os participantes eram alunos de um curso pré-vestibular, as escolhas profissionais estão ligadas a cursos universitários. Sendo assim, questões relativas ao vestibular e ao ensino superior foram o foco deste trabalho.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 59 alunos (sendo 69,5% mulheres), com idades entre 16 e 48 anos (M= 23 anos; DP= 7 anos). Aproximadamente metade (49,2%) dos alunos possui atividade profissional no momento; a maioria (94,8%) estuda ou estudou em escolas públicas, já prestou vestibular anteriormente (59,3%) e possui escolha profissional definida (76,3%).

Instrumentos

Os participantes responderam a dois instrumentos. O primeiro, um questionário elaborado para o estudo, investigou aspectos como sexo, idade, tipo de escola em que estuda ou estudou (pública ou privada), se possui alguma atividade profissional no momento, se já prestou vestibular alguma vez, se já fez a escolha do curso para o qual vai prestar o vestibular. Ainda, investigou aspectos vocacionais como a quantidade de informação profissional percebida, os critérios utilizados na escolha do curso, as dificuldades percebidas para a escolha e as percepções sobre o papel da Orientação profissional. No que se refere à quantidade de informação percebida, os alunos poderiam escolher entre as categorias ‘nenhuma’, ‘pouca’, ‘suficiente’ e ‘muita’ informação.

O segundo instrumento, A Escala de Exploração Vocacional (Teixeira, 2001), é um instrumento que mede o nível global de exploração vocacional. Desenvolvida, inicialmente, para alunos da terceira série do ensino médio, possui 30 itens, do tipo Likert de 5 pontos, com amplitude de 30 a 150 pontos, na qual os participantes indicam a freqüência em que realizam o comportamento descrito. O instrumento avalia as dimensões de autoconhecimento e conhecimento do mundo do trabalho e foi criado tendo como base alguns itens do Career Exploration Survey (CES; Stumpf, Colarelli & Hartman, 1983) acrescido de outros itens derivados da literatura na área de exploração vocacional. Neste estudo, a escala demonstrou qualidades psicométricas, com índice de consistência interna (Alpha de Cronbach) de 0,92.

Procedimentos

A aplicação dos instrumentos foi feita de forma coletiva no mesmo local da Universidade onde as aulas eram ministradas e durante um período de aula previamente cedido pelos professores do curso pré-vestibular. Antes da aplicação, os participantes receberam explicações sobre os objetivos e considerações éticas do estudo. De forma geral, o presente estudo caracterizou-se como de risco mínimo aos participantes. Após a conclusão do estudo, o projeto educacional foi informado de seus resultados e um processo de Orientação profissional foi iniciado com os alunos.

 

Resultados

Os dados coletados através das questões fechadas do Questionário e da Escala de Exploração Vocacional (Teixeira, 2001) foram analisados através de técnicas estatísticas não-paramétricas. Os dados coletados através das questões abertas do Questionário foram submetidos à análise de conteúdo (Bardin, 1977), através da qual foram extraídas categorias emergentes a partir das respostas, sendo que o estabelecimento das categorias foi feito a partir de um critério de consenso entre quatro juízes.

Em relação aos resultados obtidos através da Escala de Exploração Vocacional, o grupo mostrou-se heterogêneo com relação a essa medida, havendo uma grande variância entre os escores (M=87,4; DP=20,76). Houve correlação positiva entre idade e exploração vocacional (r=0,25). Testes Mann-Whitney de comparação de médias apontaram que os participantes com escolha profissional definida apresentaram nível significativamente maior de exploração (p<0,01). Não houve diferenças entre os sexos e o nível de exploração. Quanto à informação percebida, analisando-se o grupo como um todo, a maioria relatou possuir ‘pouca’ quantidade de informações sobre ‘Processo de Escolha’ (46,7%), ‘Profissões’ (46,7%), ‘Vida Universitária’ (51,7%), ‘Ensino Superior’ (51,7%) e ‘Mercado de Trabalho’ (43,3%). Em relação ao ‘Vestibular’, o maior percentual foi de ‘suficiente’ quantidade de informação (41,7%) e houve o maior percentual de ‘muita’ informação percebida (18,3%) entre os aspectos avaliados. A maior freqüência de ‘nenhuma’ informação foi quanto ao Ensino Superior (5%).

A Tabela 1 mostra a quantidade de informação percebida entre alunos que possuem e não possuem uma escolha definida. Enquanto os últimos indicaram com maior freqüência possuir pouca informação profissional sobre os cinco pontos avaliados (Processo de Escolha, Profissões, Mercado de Trabalho, Vestibular e Vida Universitária), os participantes com escolhas definidas indicaram com maior freqüência ter pouca informação sobre apenas dois desses pontos (Processo de Escolha e Vida Universitária) e ter informação suficiente sobre três deles (Profissões, Mercado de Trabalho e Vestibular). No entanto, essas diferenças são estatisticamente significativas apenas em relação aos aspectos Vida Universitária (÷²= 9,98; gl=3; p<0,05) e Profissões (÷²= 9,32; gl=3; p<0,05). Testes Qui-quadrado não mostraram diferenças entre os sexos em relação à quantidade de informação percebida em nenhuma das áreas investigadas.

 

 

Em relação aos critérios de escolha, a análise de conteúdo indicou seis categorias distintas (Figura 1). Mais da metade dos participantes relatou ter baseado suas escolhas em experiências profissionais prévias. Quanto às dificuldades na escolha, os resultados indicaram sete categorias (Figura 2). Mais da metade dos participantes não conseguiu identificar dificuldades específicas, tendo dito apenas, de forma vaga, ter dúvidas quanto à escolha a ser feita. As respostas sobre Orientação profissional geraram seis categorias (Figura 3). Os resultados apontaram que mais de 30% dos participantes espera da Orientação profissional a confirmação de escolhas já feitas, enquanto 25% não conseguiram definir especificamente no que a Orientação profissional poderia ajudá-los, tendo mencionado, de forma vaga, que a ajuda seria ‘no processo’ de escolha. Testes de associação Qui-quadrado não mostraram diferenças de sexo com relação a nenhuma destas categorias.

 

 

 

 

Discussão

Os resultados indicaram grande heterogeneidade no nível de exploração vocacional entre os participantes do estudo. Este resultado pode estar ligado à heterogeneidade geral entre os alunos, principalmente com relação à idade. Esta interpretação é corroborada pela literatura internacional (Taveira & cols., 2000) e pelo resultado deste estudo que indica a idade como uma variável de influência sobre a exploração vocacional, ao demonstrar que os alunos mais velhos apresentaram níveis significativamente mais elevados de exploração. Os estudos nacionais não costumam indicar a idade como fator de influência sobre a exploração (Frischenbruder, 1999; Sparta, 2003a); no entanto, estes estudos têm como amostra estudantes da terceira série do ensino médio regular brasileiro, em que a variação da idade entre os participantes é mínima.

A definição da escolha por um curso superior foi um fator de influência sobre o nível de exploração vocacional. Este dado corrobora o pressuposto teórico de que a exploração é um comportamento indispensável para a realização de escolhas no âmbito do trabalho; quanto mais conhecimento o indivíduo tem de si e do mundo que o cerca, mais capaz ele se torna de tomar decisões realistas e maduras (Flum & Blustein, 2000; Jordaan, 1963; Super, 1957; Super, Savickas & Super, 1996). No entanto, não se pode descartar a hipótese de que o estabelecimento de uma meta profissional leve a maior comportamento exploratório posterior, voltado para a busca de informações que auxiliem na execução e implementação da escolha realizada.

O sexo não apareceu como uma variável de influência sobre a exploração vocacional. Neste sentido, os resultados encontrados na literatura também não são consistentes e a relação entre sexo e exploração costuma variar conforme a idade média da amostra e o contexto sócio-cultural da qual esta faz parte (Frischenbruder, 1999; Sparta, 2003a; Stumpf & cols., 1983; Taveira & cols., 1998). Ainda, nesta amostra também não se observou diferença de sexo entre os níveis de informação percebida, tipos de critérios de escolha, dificuldades de decisão ou avaliação da pertinência de processos de orientação. Este dado aponta uma certa homogeneidade com relação tanto ao comportamento vocacional quanto às dificuldades enfrentadas para a escolha, dado que corrobora outros estudos nacionais e demonstra que as diferenças relacionadas ao sexo tendem a ser mais relacionadas às áreas de interesse profissional e a fatores como presença de ansiedade (Bardagi, 2002; Nachtigall, Bardagi & Sparta, 2003).

Não foi detectada influência de estar trabalhando ou já ter prestado vestibular anteriormente sobre o nível de exploração vocacional. Esses resultados causam certa surpresa, já que a experiência profissional e a escolha anterior por um curso superior são situações que costumam dar ensejo ao comportamento exploratório (Brooks, Cornelius, Greenfield & Joseph, 1995; Göks & Lassance, 1997). Os alunos que trabalham costumam estabelecer uma visão mais realista (embora também mais pessimista) do mercado de trabalho e das possibilidades profissionais em relação aos alunos que só estudam. Os achados deste estudo podem estar indicando que os participantes engajados em uma atividade profissional podem não estar sendo capazes de tirar dela informações relevantes para a realização de escolhas profissionais, dissociando o contexto de trabalho do contexto da escolha. Por outro lado, os participantes que já realizaram um concurso vestibular parecem não ter feito a escolha por um curso superior pautada no comportamento exploratório, nem tomado consciência da necessidade de busca de informações como forma de reestruturar e melhor subsidiar um novo processo decisório.

Ainda, pode-se pensar que a necessidade de trabalho faz com que estes alunos executem atividades distantes daquelas que almejam, não utilizando o trabalho como fonte de exploração. Nesse sentido, a literatura salienta que as atividades de trabalho favoráveis são aquelas de certa forma relacionadas ao curso ou à profissão e que não interferem nas rotinas acadêmicas dos alunos (Bardagi & cols., 2003; Fior & Mercuri, 2004). O trabalho integral ou parcial que não está associado à formação tende a ter um impacto negativo sobre o aluno, o comprometimento com a escolha e a satisfação. Como o percentual de alunos que, em função de necessidades financeiras, exerce outras atividades remuneradas sem ligação com o curso costuma ser elevado (Bardagi & cols., 2003), é preciso atenção especial à trajetória vocacional e escolha de carreira destes estudantes.

Quando analisamos a quantidade de informação percebida, os resultados indicam que a maior parte dos participantes do estudo acredita ter pouca informação sobre o processo de escolha, as profissões, a vida universitária, o ensino superior e o mercado de trabalho e quantidade de informação suficiente sobre o vestibular. Estes resultados são preocupantes e sugerem que a escolha de ingressar no ensino superior dos participantes da pesquisa pode não estar pautada em um projeto profissional consistente. Estes resultados parecem servir como ilustração para um fato que vem sendo observado e discutido pela literatura nacional, qual seja, de que, no Brasil, o ingresso no ensino superior tem sido visto como uma continuidade natural dos estudos e forma privilegiada de ingresso no mundo do trabalho e de ascensão social (Bardagi, Lassance & Paradiso, 2003; Filmus, Kaplan, Miranda & Moragues, 1996,2002; Hotza & Lucchiari, 1998; Lassance & Grocks, 1998; Ramos & Lima, 1996; Sarriera, Chies, Falck, Giacomolli & Silva, 1994; Schiesse & Sarriera, 2000; Sparta, 2003a). Essa crença tem feito com que a preparação para o vestibular torne-se mais importante do que a construção do projeto profissional, o que, muitas vezes, gera escolhas pouco consistentes, realizadas sem um processo adequado de exploração vocacional e baseadas fundamentalmente em informações estereotipadas e de senso comum.

A maior parte dos alunos não foi capaz de identificar de forma clara suas dificuldades frente à escolha profissional. Esse resultado pode ser interpretado como um reflexo do próprio comportamento exploratório insuficiente e da pouca informação profissional percebida, já que para se ter clareza sobre as próprias dificuldades de escolha é necessário níveis adequados de autoconhecimento e conhecimento sobre o mundo do trabalho. Essa interpretação é amparada por outros resultados encontrados neste estudo, que mostram influência positiva de ter uma escolha sobre o nível de exploração vocacional e sobre alguns aspectos da informação profissional percebida.

Com relação ao possível benefício de um processo de orientação profissional, os resultados indicam que um terço dos participantes relatou que um processo de Orientação profissional seria útil para a confirmação de suas escolhas, enquanto outro terço relatou acreditar nos benefícios da Orientação profissional, mas sem conseguir identificar aspectos específicos em que um processo de intervenção poderia auxiliá-los. Esses resultados estão diretamente de acordo com a crença tradicional de que a orientação profissional é um processo de intervenção diretiva, capaz de oferecer ao orientando uma resposta exata sobre a validade da escolha já feita ou de uma escolha a fazer. Essa idéia vem sendo substituída desde a década de 1950 com o surgimento do aconselhamento psicológico não-diretivo e das teorias evolutivas e psicodinâmicas da escolha profissional, que deram à Orientação profissional o caráter de intervenção mais compreensiva, de auxílio na aprendizagem da escolha e na construção de um projeto profissional (Bohoslavsky, 1977; Brown & Brooks, 1996; Sparta, 2003b; Super, 1957; Super, Savickas & Super, 1996). No entanto, o desconhecimento sobre as próprias possibilidades de atendimento faz com que estes alunos permaneçam afastados de serviços de apoio à escolha. Neste sentido, é tarefa também dos orientadores profissionais buscar uma maior aproximação com públicos diferenciados e mostrar a evolução dos processos de orientação na tentativa de ampliar o alcance da área.

Em síntese, o presente estudo objetivou investigar características sócio-demográficas e vocacionais dos alunos de um curso pré-vestibular para pessoas carentes com a intenção de angariar informações para a construção de um processo de Orientação profissional para os mesmos. Os resultados forneceram dados de grande valor para o desenvolvimento do projeto de intervenção e indicaram a real necessidade de sua realização. A falta de informações sócio-demográficas e vocacionais sobre a população brasileira é um problema real para a área da psicologia vocacional, principalmente quando são levadas em conta as diferenças atribuídas às fases de desenvolvimento e à diversidade sócio-cultural dos clientes da orientação profissional. Essa carência leva a um problema ainda mais delicado: a falta de informação adequada para a construção de processos de intervenção dirigidos à população brasileira, especialmente quando o público-alvo não é constituído por estudantes de escolas particulares e oriundos da classe média que tenham como objetivo ingressar no ensino superior.

Além de obter informações para a construção de um processo de intervenção específico, foi intenção deste estudo exploratório sensibilizar a comunidade acadêmica e os profissionais da orientação profissional para a necessidade de se construir um corpo de conhecimento específico sobre a população brasileira na área da psicologia vocacional, que inclua sua diversidade e avalie os construtos teóricos utilizados pelos profissionais para embasar a prática da orientação profissional no Brasil. Como resultado, confirmou-se a importância do comportamento exploratório para a construção do projeto profissional, e a necessidade de intervenções que contemplem o fornecimento e a discussão de informações profissionais, especialmente com alunos de baixa renda.

Por estar associado a uma demanda especifica de atendimento e ter contado com a participação de um número restrito de alunos, os resultados aqui obtidos não podem ser generalizados para a totalidade dos estudantes de baixa renda. No entanto, mesmo sendo um estudo de pequena dimensão, acredita-se que estes resultados fornecem boas indicações sobre as dificuldades encontradas por esses alunos para a realização de suas escolhas profissionais. Ainda, sinalizam, sobretudo, a importância de novos estudos que possam confirmar e especificar as relações aqui encontradas entre exploração vocacional e outras variáveis.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: msparta@uol.com.br

Recebido em abril de 2005
Aceito em julho de 2005

 

 

Autores. 1 Mônica Sparta - Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora de Psicologia na Universidade Estácio de Sá (RJ).
2 Marúcia Patta Bardagi - Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Docente dos cursos de Especialização em Orientação Profissional e Avaliação Psicológica da UFRGS.
3 Ana Maria Jung de Andrade - Graduanda em Psicologia na UFRGS. Bolsista CNPq.
* Pesquisa realizada na UFRGS.

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