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Aletheia
versão impressa ISSN 1413-0394
Aletheia no.37 Canoas abr. 2012
RESENHA
Saúde Comunitária: conhecimentos e experiências na América Latina
Anamélia Lins e Silva Franco
Instituto de Humanidade, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Universidade Federal da Bahia
O livro Saúde Comunitária: Conhecimentos e Experiências na América Latina, organizado por Jorge Castellá Sarriera e com a participação de vinte coautores de diversos países como Argentina, Brasil, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela, é, em primeiro lugar, um registro das conferências proferidas no IV Congresso Multidisciplinar de Saúde Comunitária do Mercosul ocorrido em Gramado (RS) em Outubro de 2009. A Introdução, de autoria de Jorge Sarriera e Enrique Saforcada, historia todos os encontros de Saúde Comunitária do Mercosul, o que vem a demonstrar a construção desse movimento no qual participam profissionais e estudantes do campo da Saúde.
O livro é composto por 11 capítulos. O primeiro, de autoria de Francisco Morales Catalayud, é intitulado: ''A psicologia e a promoção da saúde. Do que necessitamos, o que temos e o que podemos fazer". Ele apresenta um breve histórico entre os projetos de prevenção e os de promoção, distingue o papel da comunicação para o exercício da promoção em saúde, como também o lugar diferenciado da psicologia, e propõe a elaboração de ações comuns para enfrentamento de problemas globais.
O capítulo seguinte, ''Mudança organizacional para o bem-estar da comunidade", é um relato de atividades em curso na Universidade de Miami, especialmente o projeto SPEC – sigla relacionada aos termos da língua inglesa strengths, prevention, empowerment e change. A autoria deste capítulo conta com a participação de sete profissionais, entre eles Ora e Isaac Prilleltensky. Os autores destacam que organizações sociais têm, em geral, trabalhado em uma perspectiva paliativa, e propõem que seja desenvolvido um trabalho transformador. Também apresentam os pressupostos, os passos e os exemplos do trabalho realizado em algumas organizações.
O capítulo três, de autoria de Maritza Monteiro, foi intitulado ''Uma psicologia clínica-comunitária construída a partir da comunidade: práxis latino-americana". A profa. Maritza apresenta um histórico das ações clínicas na comunidade, o processo de desospitalização até o que vem chamar de ''A experiência do nosso tempo". A Psicologia Clínica Comunitária que tem como objeto de interesse a compreensão e a intervenção do vínculo-relação pessoa-comunidade, compreensão que conta com conceitos-chave, os conceitos de apoio social e rede. Por fim, apresenta o relato de uma intervenção em várias zonas de baixa renda de Caracas e o trabalho com famílias vitimadas pela violência urbana.
O livro, como um todo, aproxima as semelhanças presentes na realidade latino-americana e possibilidades comuns de ação da saúde comunitária. No capítulo quatro, a vida da população caraquenha faz uma ponte com a vida da população brasileira, especialmente o relato dos estudos e ações coordenadas pela Profa. Silvia Koller, uma das autoras do capítulo quatro junto com Débora Dalbosco Dell'Aglio. As autoras retomam a realidade da psicologia brasileira, apresentam o CEP-RUA (Centro de Estudos Psicológicos) e o NEPA (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência) vinculados ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS. Os trabalhos realizados são destinados à população em situação de vulnerabilidade pessoal e social, e têm a Psicologia Positiva e a Abordagem Ecológica do Desenvolvimento Humano como suas bases teóricas. Essa trajetória tem propiciado a formação de ''psicólogos ecológicos".
O quinto capítulo relata um trabalho em desenvolvimento na Universidade da República em Montevidéu, Uruguai. Esse capítulo, de autoria da Profa. Susana R. Macció, foi intitulado ''A construção da saúde segundo a perspectiva da relação universidade-comunidade. A figura do 'operador de bairro', como articuladora das atividades". Trata-se de um trabalho de extensão no qual se busca a promoção de hábitos de vida saudáveis. Este trabalho possibilita a inserção de estudantes em uma prática alternativa aos modelos hegemônicos de saúde e de aprendizagem.
Em seguida, o capítulo ''Políticas públicas, qualidade de vida e saúde", de autoria da Profa. Graciela Tomon, faz uma apresentação crítica do conceito de qualidade de vida justificando os diversos modos que este é empregado e acrescenta considerações em torno do debate sobre políticas de saúde, desde aspectos considerados pela Organização Mundial da Saúde, e por fim apresenta um estudo quantitativo e outro qualitativo que analisam a realidade à luz do referido conceito.
O capítulo de autoria de Martin de Lellis é intitulado ''Saúde Mental Comunitária ou o Mental na Saúde Comunitária? Alternativas de Política Pública. A Crítica do Papel do Profissional". O autor retoma as origens da psicologia comunitária e analisa as pretensões de trabalho que buscavam superar modelos que se centravam em práticas individuais e descontextualizadas, com ênfase na necessidade de reformas.
O enfoque do capítulo oito se centra no debate da psicologia na atenção primária a partir da experiência pioneira de Cuba. O Prof. Francisco Morales Calatayud retoma a história cubana e apresenta as condições que resultaram no modelo atual, pressupostos e algumas experiências.
O capítulo nove se distingue dos anteriores por relatar uma experiência em torno da Saúde Ambiental ocorrida na Argentina. Os autores, Oscar Alberto Fariña, Beatriz Mendoza e Walter Capote, apresentam as condições e a situação de saúde de uma área industrial nas proximidades de Buenos Aires, e a partir de vários diagnósticos descrevem as decisões tomadas para atender à situação de saúde da população e relatam resultados obtidos a partir de processos psicodiagnósticos com crianças.
Os últimos dois capítulos do livro apresentam semelhanças. O Prof. Enrique Saforcada reflete sobre as condições de ampliação do trabalho em saúde comunitária na Argentina e o Prof. Jorge Sarriera faz o mesmo com relação ao Brasil. A realidade Argentina é marcada por uma condição profissional que propicia o desenvolvimento das ações em psicologia comunitária e em saúde comunitária. Há algumas décadas profissionais trabalham em comunidades, mas expressam dificuldades para a articulação dos arcabouços teóricos, que subsidiaram suas formações, na sua maioria fundamentadas na teoria psicanalítica e na prática comunitária.
A análise do Prof. Jorge considera que o Brasil, desde os grupos de conscientização de Paulo Freire (década de 60), vem construindo uma realidade favorável, apesar de várias interrupções e distanciamentos. O fato da compreensão da saúde enquanto um direito constitucional, o crescimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o fortalecimento da democracia repercutem favoravelmente para a implementação de ações comunitárias. São identificados quatro desafios: i) melhora das condições de vida da população; ii) melhora na qualidade e avaliação de programas de projetos; iii) fortalecimento das redes comunitárias; iv) a ética na intervenção e pesquisa em Saúde.
Por fim, as últimas palavras do Prof. Saforcada são significativas para consolidação da saúde comunitária como em discussão no Mercosul: ''a comunidade é o componente e o ator principal de qualquer projeto de ação que se desenvolva enquadrado neste paradigma (da saúde comunitária) e a equipe profissional ocupa um papel complementar de colaboração ou participativo, mas entendendo que o poder de decisão está na comunidade (2011, p. 243)".
Referências
Sarriera, J. C. (org.). (2011). Saúde Comunitária: Conhecimentos e experiências na America Latina. Porto Alegre: Sulina. [ Links ]
Endereço para contato
E-mail: anamelialins@gmail.com
Recebido em julho de 2012
Aceito em agosto de 2012
Anamélia Lins e Silva Franco – Doutora em Saúde Pública, Professora do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, Instituto de Humanidade, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Universidade Federal da Bahia.