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Psicologia da Educação
versão impressa ISSN 1414-6975
Psicol. educ. no.33 São Paulo dez. 2011
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40 anos de PED*
40 years of PED
40 años de PED
Abigail Alvarenga Mahoney
Professora aposentada pela PUC-SP abigailmah@gmail.com
Fui convidada a lhes dar algumas informações sobre a história do Programa, tendo como referência minha própria experiência como professora, orientadora e coordenadora do Programa.
São experiências enriquecedoras, bem diferentes, bem estimulantes - umas mais, outras menos -, mas que passam a fazer parte intrínseca da nossa vivência e formação profissional.
Claro que não é fácil separar dados objetivos do Programa das lembranças de minha trajetória nesse longo período de 37 anos. Mas, vamos lá.
O Programa está completando 40 anos e tem uma história para contar. Trago uma parte dela.
O convite a mim feito deu-se pelo simples fato de ter sido, por um conjunto de circunstâncias, a primeira professora convidada pelo professor Joel Martins para integrar o Programa.
Eu aportei na PUC em 1969, mais ou menos seis meses depois da Fundação do Programa. Eu tinha acabado de chegar do exterior, depois de sete anos de ausência.
Através de bolsa de estudo da OEA, bastante estimulada pelo professor Joel, fiz o mestrado e iniciei o doutorado na Indiana University, que foi terminado aqui no Brasil, sob a orientação do professor Joel.
Conheci o professor Joel na USP, quando lá fazia graduação em Pedagogia (1948-1951). Ele foi meu professor de Psicologia, e o que mais me lembro daquela época, além de suas aulas vivas e estimulantes, que revelavam grande conhecimento de Psicologia, foi sua disponibilidade em relação aos alunos que o procuravam para qualquer dúvida ou dificuldade, mesmo durante os intervalos.
Ele era um dos assistentes da professora Noemy Silveira Rudolfer e um dos poucos professores que dava atenção a alunas e, ainda mais, a alunas do curso de Pedagogia.
Naquele tempo, dentro do contexto acadêmico da USP, o curso de Pedagogia era o menos valorizado e nós sentíamos isso na pele.
O professor Joel havia estudado nos Estados Unidos e nos incentivava a fazer o mesmo, como uma forma de nos desenvolvermos intelectualmente, não só pelos estudos em si, como pelo contato com outra cultura - no caso, a norte-americana - que, naquela época, era considerada o máximo.
Depois de muita hesitação da minha parte, entre pressões contrárias externas - família, amigos - e internas - medo, saudade... - acabei embarcando no entusiasmo do professor Joel. Fui chorando porque a bolsa era de um ano e eu não aguentaria mais de seis meses. Voltei chorando porque fiquei sete anos e queria ficar mais.
Ao voltar, em 1969, fui ao encontro do professor Joel que estava contente por ter estimulado a titulação de mais uma professora no exterior.
O Programa de Mestrado estava se estruturando e, para ter mais firmeza em relação às exigências da Capes, precisava de professores titulados no mínimo como mestres.
Fui convidada e aceitei o desafio. Não foi fácil enfrentá-lo! O professor Joel me tomou pela mão, encorajando-me a substituí-lo nos primeiros seis meses na graduação, como uma forma de tomar pé da situação. Eu assistia a uma aula dada por ele e, na semana seguinte, assumia o curso. Só mesmo com muito apoio, paciência e confiança da parte dele, consegui sobreviver a esse período. Vocês podem imaginar!
Em 1970, comecei a dar aulas na Pós-Graduação. O professor adotou aqui o mesmo sistema adotado em relação à graduação: assistia a uma aula dada por ele e, na semana seguinte, passava a substituí-lo, especialmente em cursos de teorias da aprendizagem, teorias de desenvolvimento e psicologia da educação.
Uma grande aflição! Não só por substituí-lo, por substituir um professor de tal competência, mas, também, pelo contexto político em que vivíamos.
Saí do Brasil em 1963, quando o Presidente Jânio Quadros estava renunciando e voltei em um período de ditadura feroz. E isso significava o que na Universidade? "Cuidado com o que você fala nas aulas! Há militares disfarçados de alunos." Significava chegar à Universidade e saber que um colega havia desaparecido e nunca mais se saber dele. Enfim, um clima de medo, apreensão e cautela. Eu havia estudado na USP e nunca tinha visto um clima desses.
Depois de sete anos fora do Brasil, fui diretamente para o Programa completamente atordoada porque não reconhecia e não entendia mais o país em que nasci e vivi; não reconhecia a vida universitária brasileira, não reconhecia a estrutura das relações familiares, etc...
O professor Joel conseguia manter um certo clima de calma que servia de apoio para nós e transmitia segurança para nosso trabalho. Ele sabia como enfrentar as situações.
Toda e qualquer dúvida que tinha em relação às minhas aulas, recorria diretamente a ele. Eram muitas e ele mostrava sempre disponibilidade para me ouvir, trocar idéias, sugerir caminhos, leituras, etc. ... Saía sempre animada desses encontros.
Depois, quando me sentava para preparar minhas aulas, meus trabalhos, via que ele não tinha me dado as respostas diretas solicitadas. Ficava com muita raiva, mas continuava a procurá-lo. Com o tempo, aprendi com ele que esse é o papel de um bom orientador: ouvir, trocar idéias, sugerir leituras, abrir novos caminhos; enfim, oferecer recursos para que você mesmo encontre as respostas para suas questões. Ele era um estimulador para que déssemos saltos para um futuro que pessoalmente não ousávamos considerar.
O professor Joel vinha de uma longa experiência acadêmica (nacional e estrangeira) e educacional, como professor, diretor de escolas de diferentes níveis, de pesquisador em vários centros de pesquisa. Atuou como especialista na Unesco e na OEA e, na PUC, foi professor de várias disciplinas, orientador de muitas pesquisas. Foi presidente da Comissão Geral de Pós-Graduação, Coordenador do Programa e Reitor. Em todas as posições que ocupou, sempre revelou envolvimento completo nas tarefas para alcançar suas metas e espírito combativo para criar as circunstâncias que promovessem as transformações necessárias.
Falar do professor Joel Martins, fundador do Programa de Psicologia da Educação, é falar da criação da Pós-Graduação na PUC-SP. Falar da Pós-Graduação na PUC-SP e do professor Joel é falar da Pós-Graduação no Brasil.
O objetivo da sua criação era, e ainda é, o aprofundamento e a ampliação da qualificação de educadores, garantindo que, dessa formação, faça parte também, entre as várias competências necessárias, a de um bom pesquisador.
O Programa foi criado no contexto de uma reforma geral para transformar a PUC-SP numa Universidade. Para ajustar-se à nova legislação do Ensino Superior, deveria reunir os vários centros e faculdades numa única estrutura: a Faculdade Paulista de Direito, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, a Faculdade de Economia Sagrado Coração de Jesus, Sedes Sapientiae e a Escola de Serviço Social.
Para essa reestruturação, era preciso qualificar professores para a docência e a pesquisa, nas diferentes áreas, e a solução proposta foi estabelecer cursos de Pós-Graduação. Foram convidados para essa tarefa:
o professor Joel Martins, para Psicologia da Educação;
a professora Maria Antonieta Alba Celani, para Língua e Literatura Inglesa;
a professora Lucrécia D'Alessio Ferrara, para Teoria Literária;
o professor José Pastore, para Sociologia.
O grupo - sob a liderança do professor Joel Martins - estabeleceu critérios para a criação de novos Programas e instalaram a Comissão Geral de Pós-Graduação.
Assim, surgiu o Setor de Pós-Graduação da PUC-SP e, em 1976, o professor Joel foi nomeado seu Presidente.
Dentro dessas circunstâncias, o Programa de Psicologia da Educação foi se firmando com características que permitem o desenvolvimento profissional de seus professores e alunos:
a) convivência de diferentes abordagens teóricas que enriquecem e atualizam o Programa;
b) abordagens teóricas que são escolhidas pelos próprios professores;
c) o que importa é a competência e a dedicação de cada um como docente e pesquisador, qualquer que seja a linha adotada.
Isso permitiu que, durante minha passagem pelo Programa, como professora e orientadora, eu assumisse, primeiro, cursos de psicologia da educação e, depois, cursos de desenvolvimento.
Nesse percurso, identifiquei-me com diferentes teóricos: David Ausubel, Carl R. Rogers, Thomas Gordon e Henri Wallon. Em diferentes épocas, essas abordagens respondiam a questionamentos meus e dos alunos, e o foco central desses estudos era sempre a questão do entendimento, da compreensão do papel da afetividade na relação ensino-aprendizagem. Essa acabou sendo a linha central das pesquisas que orientei e dos trabalhos que publiquei.
Que o Programa conserve essas características, essas marcas, são os meus votos.
* Este texto é a comunicação apresentada no evento comemorativo dos 40 anos do PED - Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação, da PUC-SP.