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Psicologia da Educação
versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520
Psicol. educ. no.42 São Paulo jun. 2016
https://doi.org/10.5935/2175-3520.20150023
ARTIGOS
Adaptação à universidade em estudantes ingressantes na graduação em psicologia1
University adjustment of freshmen in undergraduate psychology
Adaptación a la universidad de estudiantes novatos en el curso de psicología
Luciana Karine de SouzaI; Erika LourençoII; Mariana Rúbia Gonçalves dos SantosIII
IPrograma de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IIDepartamento de Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais. erikalourenco.mail@gmail.com
IIICurso de Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais
RESUMO
Pesquisas sobre vivências acadêmicas têm se apresentado como resposta ao aumento da evasão e troca de cursos. Identificar os fatores que facilitam e que dificultam a continuidade dos estudos universitários pode colaborar para intervenções psicoeducativas e psicológicas, bem como para a prevenção ao surgimento desses problemas. A presente pesquisa teve por objetivo investigar o processo de adaptação à Universidade em estudantes ingressantes no curso de Psicologia. Para isto, foram analisados os conteúdos de 18 registros em diários de bordo produzidos por estudantes do primeiro e segundo períodos de um curso de Psicologia. Nesses, buscou-se identificar indicadores de adaptação e de desajuste ao ingresso na Universidade por meio da escrita dos estudantes. A categorização gerou 11 temas que tanto vão ao encontro da literatura recente, como mostram novos temas ainda não aprofundados nessa linha de pesquisa. No primeiro grupo, destacaram-se questões como grupos de pares e administração do tempo. No segundo, itens como ambientes e aulas virtuais, que têm exigido habilidades específicas dos alunos. A Psicologia da Educação, no âmbito do ensino superior, pode dar conta dessas questões e colaborar para reduzir um problema que aflige muitos jovens brasileiros.
Palavras-chave: estudantes universitários; adaptação; formação em Psicologia; desenvolvimento profissional.
ABSTRACT
Research on academic experiences have been presented as a reply to the increase in dropout and career re-choice. Identifying the factors that foster as well as hinder the path of higher education may help psycho-educational and psychological interventions, as well as to prevent these issues. This research aimed to investigate the process of adaptation to the University by freshmen in the course of Psychology. For this, the contents of 18 logbooks produced by students in the first and second semesters of a Psychology course were analyzed. In these, we sought to identify indicators of adaptation and maladjustment to entering the University through writing students. The categorization process yielded 11themes consonant to previous research findings and new themes yet in need for further studies in this line of research. In the first group, they stood out issues such as peer groups and time management. In the second, items such as on-line classes and experiences alike, demanding specific skills from the students. Educational Psychology, in university contexts, can deal with these factors and help solve a problem that upsets many university students.
Keywords: university students; adaptation; Psychology training; career development.
RESUMEN
Investigaciones sobre las experiencias académicas se han presentado como una respuesta a la evasión y cambio de carrera en el ámbito universitario. Identificar los hechos que facilitan y dificultan la continuidad de los estudios universitarios puede contribuir para las intervenciones psicoeducativas y psicológicas, así como para prevenir la aparición de problemas. Esta investigación tuvo como objetivo estudiar el proceso de adaptación a la Universidad de estudiantes de primer año de la carrera de Psicología. Para eso, se analizaron los contenidos de 18 registros espontáneos en diarios producidos por estudiantes del primer y segundo períodos de un curso de Psicología. En estos, se buscó identificar indicadores de adaptación y de inadaptación en el ingreso en la Universidad por medio de la escrita de los estudiantes. La categorización identificó 11 puntos que se corresponden con la literatura reciente y otros puntos, que no fueran estudiados en esta investigación. El primer grupo, se han destacado temas como grupos de pares y la gestión del tiempo. En el segundo, temas como ambientes virtuales y la educación a distancia, que han requerido nuevas habilidades de los estudiantes. La Psicología de la Educación, inserida en la enseñanza superior, puede manejar estos problemas y contribuir para reducir una situación que afecta a muchos jóvenes brasileños.
Palabras clave: estudiantes universitarios; adaptación; capacitación en Psicología; desarrollo profesional.
O aumento do contingente universitário registrado no Brasil nos últimos dez anos pode ser atribuído a um conjunto de fatores. Dentre esses, destacam-se o aumento da quantidade de instituições e oferta de cursos e a ampliação do poder aquisitivo da população, tornando mais viável o acesso ao ensino superior. Nesse cenário, um fator que tende a despertar o interesse da Psicologia, diz respeito ao crescimento dos níveis de evasão e trocas de cursos registrados durante o mesmo período. Essa situação é atribuída, em estudos recentes, a dificuldades na adaptação à instituição ou no relacionamento com a comunidade acadêmica em geral (Diniz & Almeida, 2006; Mercuri & Polydoro, 2003).
Diante desse quadro, o estudo dos fatores associados à vivência acadêmica e à adaptação universitária facilitaria ações preventivas quanto à insatisfação com o curso escolhido ou às dificuldades de adaptação ou vivência universitária. A identificação de fatores facilitadores colaboraria para a oferta de ações direcionadas ao calouro (o estudante recém-ingressante no sistema do ensino superior) que o auxiliassem na vivência acadêmica e sociale na adaptação à universidade.
A adaptação à universidade tem uma abordagem empírica bastante presente na literatura especializada dos últimos 15 anos, especialmente com dados brasileiros e portugueses. O constructo de vivência acadêmica vem sendo estudado através do Questionário de Vivências Acadêmicas (QVA) elaborado por pesquisadores portugueses em 1999 e desde então aprimorado. Essa literatura aponta que a adaptação à universidade envolve os seguintes aspectos: estudo (hábitos de estudo, administração do tempo, uso de recursos de aprendizagem na universidade e preparação para avaliações), carreira (sentimentos quanto ao curso, perspectivas de projetos e de carreira), pessoal (bem-estar físico, estabilidade emocional, otimismo e autoconfiança), interpessoal (interações com colegas, formação de amizades, estratégias para lidar com situações de proximidade relacional e busca por auxílio) e institucional (conhecimento sobre a instituição e pensamentos, sentimentos e avaliações sobre a mesma) (Almeida, Soares & Ferreira, 2002). Os autores citados, bem como outros autores mencionados mais adiante, parecem equiparar os conceitos de vivência acadêmica e adaptação à universidade. De fato, o ingresso em uma instituição de ensino superior específica e o ingresso no nível universitário são ambas vivências acadêmicas que requerem adaptações. Contudo, logicamente, nem toda vivência nesses contextos se relaciona com o processo de adaptação. O presente trabalho focalizará, portanto, a vivência acadêmica específica decorrente da entrada na universidade, ou seja, este momento de adaptação à vida universitária.
Na abordagem avaliativa das cinco dimensões da vivência acadêmica (Almeida et al., 2002), os resultados com dados brasileiros têm mostrado que a dimensão carreira é a mais saliente nas respostas ao QVA-Revisado. Isso tem sido notado tanto em estudantes ingressantes como naqueles em outros períodos do curso. A seguir são apresentados três estudos com o QVA-r.
Teixeira, Castro e Piccolo (2007) avaliaram a vivência acadêmica de 342 estudantes de três cursos de graduação da Universidade Federal de Santa Maria. Foram observadas médias mais altas nas dimensões carreira (4,11) e relações interpessoais (3,80), o que foi interpretado como indício do papel positivo das relações de amizade no período universitário. Ainda que de posse de dados significativos e relevantes à prática profissional, os autores ponderaram que "as cinco dimensões do QVA-r, embora abrangentes, com certeza não cobrem todo o espectro de experiências relacionadas à vida universitária" (Teixeira et al., 2007, p.219). Há oportunidade, portanto, para estudos exploratórios qualitativos que possam apontar novas dimensões dessa experiência; em especial, aqueles dedicados aos calouros. De todo modo, carreira e relações interpessoais se destacam na investigação via QVA-r.
Soares, Francischetto, Peçanha, Miranda e Dutra (2013) encontraram uma correlação positiva entre habilidades sociais e vivência acadêmica, via QVA-r, em 393 universitários (r = 0,47; p < 0,001), especialmente na dimensão interpessoal (r = 0,40; p < 0,001). A maior média foi na dimensão carreira (4,09 para homens e 4,18 para mulheres), e a menor, na dimensão pessoal (3,42 nos homens e 3,45 nas mulheres). A dimensão interpessoal ocupou a terceira maior média, atrás da dimensão institucional. Este estudo, no entanto, assim como o de Teixeira et al. (2007), também não focalizou alunos ingressantes.
Com dados de 103 alunos ingressantes no curso de Psicologia, o estudo de Igue, Bariani e Milanesi (2008) revelou maiores médias na dimensão carreira (4,25). Já a segunda dimensão com maior média foi a interpessoal (3,98). A dimensão pessoal foi a de menor média (3,26). O que se pode observar, portanto, é que dados acerca da vivência acadêmica, obtidos via QVA-r, mostram destaque às dimensões carreira e interpessoal também em amostra com calouros.
De posse dessa conclusão da parte de investigações de cunho quantitativo, são descritos a seguir três trabalhos qualitativos que podem auxiliar na compreensão da linha de pesquisa da vivência acadêmica.
Em uma abordagem qualitativa, Teixeira, Dias, Wottrich e Oliveira (2008) conduziram um estudo fenomenológico sobre a experiência de ingresso na universidade em 14 calouros de 18 a 22 anos de idade. Nesse trabalho, uma entrevista semiestruturada individual abordou tópicos como a experiência da escolha de curso, da entrada na universidade, pontos marcantes do primeiro ano na instituição, como lidou com dificuldades, percepção de mudanças em si, e se/como a universidade poderia auxiliar os calouros na adaptação ao ensino superior. Os resultados foram agrupados em quatro temas: saindo de casa; primeiras impressões (alívio, surpresa e desamparo); mudanças em si (responsabilidade, independência e seriedade); e adaptação ao curso (vínculos afetivos, atividades extraclasse e estratégias para lidar com dificuldades). Os autores não encontraram dificuldades marcantes na adaptação à universidade. Interessante foi a menção dos estudantes sobre o incremento no senso de responsabilidade e de autonomia advindos da entrada na universidade, mais ainda para aqueles que nela ingressaram após a saída da casa dos pais. Também o grupo de colegas foi associado como responsável pela satisfação com a vida acadêmica. O que o estudo de Teixeira et al. (2008) aponta, por conseguinte, é a importância das relações interpessoais no processo de adaptação à universidade.
Outro estudo qualitativo nessa mesma linha de investigação foi desenvolvido por Wiles, Chechi e Dias (2010). Os autores entrevistaram 28 estudantes de graduação calouros e veteranos de dois cursos distintos. Perguntaram aos participantes sobre sua relação com colegas, com professores, com a família, com a mudança de cidade (se foi o caso), sobre o curso escolhido e a universidade. A dimensão que mais trouxe conteúdos nas respostas dos estudantes foi quanto às relações humanas, mostrando, mais uma vez, o importante papel do fator humano na adaptação à universidade e trajetória acadêmica, seja pela relação com colegas, seja pelo vínculo gratificante com familiares e professores.
Em estudo qualitativo subsequente, Oliveira e Dias (2014) abordaram 24 alunos dos cursos de psicologia e de economia: 11 calouros e 13 formandos. Foram investigadas, mediante entrevistas individuais, as dificuldades durante a graduação, a rede de apoio ["a quem os estudantes universitários recorrem para lidar com as situações problema e de que forma o auxílio é prestado"(Oliveira & Dias, 2014, p.189)] e as mudanças nas relações familiares (especialmente pais). As dificuldades abrangeram aspectos como o grau de exigência acadêmica, a didática dos professores, a burocracia institucional, a timidez e a saída da casa dos pais. Na rede de apoio, fez diferença a presença de pais interessados e envolvidos com a vida universitária dos filhos, assim como as amizades mais próximas ao estudante, em termos relacionais. Os aspectos interpessoais, foco da pesquisa de Oliveira e Dias (2014), permearam quase todas as falas dos estudantes calouros no trato com a vivência acadêmica, em situações positivas ou negativas.
No contexto internacional de pesquisas qualitativas sobre adaptação à universidade, uma busca no Periódicos CAPES com a expressão "college adjustment qualitative study" gerou 358 resultados. A leitura dos títulos e resumos permitiu notar a prevalência de pesquisas com métodos qualitativos dedicadas à adaptação universitária em estudantes de diferentes países. Desse montante, três estudos investigaram aspectos facilitadores e estressores para calouros em sua entrada na instituição. Dois desses estudos são relatados a seguir, posto que o terceiro focaliza sobremaneira nos aspectos da saúde mental e bem-estar dos estudantes na entrada na universidade. Como se tem visto, no entanto, esse é um dos aspectos a serem contemplados quando se trata da adaptação à universidade.
Clark (2005) conduziu um estudo qualitativo com oito calouros com idades entre 18 e 19 anos. A investigação tinha como foco as estratégias utilizadas pelos estudantes no primeiro ano universitário para lidar com desafios em experiências positivas e negativas nesse período. Dez entrevistas foram realizadas com cada participante. Os desafios enfrentados se encontraram em diferentes contextos, como nas aulas, na relação com os professores, responsabilidades acadêmicas, notas e conceitos, atividades extracurriculares, estudo e relações com familiares e amigos. De fato, são aspectos detectados nos estudos referidos anteriormente, tanto nas abordagens qualitativas como quantitativas. Clark (2005) elaborou quatro grandes temas para tratar das estratégias dos alunos: superar um obstáculo (com exemplos de questões como timidez e reprovação em alguma avaliação), aproveitar uma oportunidade (como engajar-se em atividades extracurriculares), adaptar-se a mudanças (horários mais flexíveis de aulas, expectativas de professores universitários, que são diferentes das de professores do ensino médio) e perseguir um objetivo (obter melhores notas escrevendo bem ou sabendo lidar com cada professor).
O segundo estudo internacional que focalizou a adaptação à universidade em calouros foi o de Denovan e Macaskill (2013). Nesse trabalho, de cunho fenomenológico, os autores entrevistaram dez calouros, pedindo a eles que pensassem sobre sua entrada na universidade no semestre anterior, e como responderiam a um amigo que pedisse conselhos sobre entrar no ensino superior. A análise possibilitou a criação de cinco temas: mudança total (de vida), expectativas sobre a universidade, foco acadêmico (autodisciplina, motivação e aprendizagem pela experiência), rede de apoio (fazer amizades na universidade, contato com a família e ter boas relações com funcionários da instituição) e dificuldades (desentendimentos com colegas de moradia, preocupações financeiras e de emprego, e dificuldades relativas aos estudos).
Ambos os estudos de Clark (2005) e de Denovan e Macaskill (2013) relatam, em seus resultados, aspectos já identificados tanto nas pesquisas de abordagem qualitativa como quantitativa no contexto da adaptação à universidade e vivência acadêmica. Diferem, no entanto, em dois aspectos: metodologia e implicações profissionais. Enquanto Clark (2005) recorreu à análise temática com foco equilibrado em categorias emergentes e categorias baseadas no modelo conceitual que elegeu para o estudo, bem como à participação dos próprios entrevistados na revisão das categorias, Denovan e Macaskill (2013) escolheram a fenomenologia hermenêutica para fundamentar a coleta e a análise dos dados. A outra diferença, mais aplicada, diz respeito às implicações para profissionais que trabalham com estudantes universitários, por exemplo, no caso do psicólogo educacional ou conselheiro de carreira que atuam em instituições de ensino superior. O trabalho de Denovan e Macaskill (2013) não demonstra ter avançado nesse sentido, ao passo que Clark (2005) discute, com profundidade, como os resultados da pesquisa podem ser utilizados para melhorar a adaptação e a vivência universitárias dos calouros.
De forma complementar aos estudos já existentes, a presente pesquisa teve por objetivo investigar dimensões importantes à adaptação à universidade em estudantes calouros do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Entende-se que este tipo de pesquisa é relevante por se dedicar a investigar a saúde psicológica e social dos estudantes universitários diante da inserção em um novo contexto físico e social de interação e de experiências. Ademais, a literatura nacional ainda não abordou o tema com o uso de diários de bordo; pretende-se, portanto, contribuir nessa direção.
MÉTODO
A presente pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (CAAE 21367913.1.0000.5149).
Procedimento
Para alcançar o objetivo proposto, buscou-se identificar os temas tratados nas dimensões mais pesquisadas sobre o ingresso na universidade (carreira, estudo, institucional, pessoal e interpessoal) na escrita espontânea dos estudantes em diários de bordo. Os diários analisados foram produzidos por estudantes do primeiro e segundo períodos do Curso de Graduação em Psicologia da UFMG, durante os semestres 2011/2, 2012/1 e 2012/2, como atividade didática-avaliativa de duas disciplinas introdutórias obrigatórias do curso. Na ocasião, foi solicitado aos estudantes que fizessem o registro livre semanal, de comportamentos, pensamentos e sentimentos relacionados às disciplinas em curso, à chegada e ao processo de adaptação ao curso de Psicologia e à universidade. Os estudantes, portanto, não foram diretamente abordados para o estudo das variáveis em tela. Foi apenas posteriormente, a partir dos conteúdos que se destacaram em alguns dos diários de bordo ao longo dos três semestres em que foram solicitados aos estudantes, que estes se configuraram como unidade de análise do presente estudo.
O estudo foi conduzido em uma abordagem predominantemente qualitativa. Adotou-se a concepção de Gibbs (2009, p. 16) de pesquisa qualitativa:
[...] a pesquisa qualitativa usa o texto como material empírico (em vez de número), parte da noção de construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo.
O delineamento da pesquisa foi retrospectivo, exploratório e descritivo, uma vez que, respectivamente, partiu de dados coletados via diários de bordo, os quais haviam sido produzidos em um momento anterior ao da pesquisa; visou uma primeira aproximação das autoras com o tema da adaptação à universidade, sem a intenção de esgotar o assunto; e buscou descrever os elementos de adaptação dos estudantes à universidade a partir dos relatos em diários de bordo sem, no entanto, proceder a uma análise do mérito do seu conteúdo.
Os estudos relatados anteriormente são significativos não apenas por seus resultados em comum e suas peculiaridades na originalidade e sugestões para futuras pesquisas, mas também por terem utilizado meios distintos de acesso ao objeto da pesquisa. No Brasil, nota-se que a aplicação do QVA-r é recorrente, também no contato com outras variáveis de interesse científico à linha de pesquisa. Nas abordagens qualitativas, prefere-se a entrevista individual em profundidade, mediante técnicas metodológicas fenomenológicas, ou entrevistas semiestruturadas seguidas de análise temática. Nesse sentido, procurar abordar o tema de interesse e suas variáveis associadas mediante uma nova forma de coleta de dados, a saber, o diário de bordo, tem o potencial para contribuir com a literatura com novos insights à área de pesquisa.
O diário de bordo tem sido bastante utilizado no campo da educação para o registro individual dos professores e educadores acerca de suas práticas e reflexões a elas associadas. É um esforço de prática reflexiva registrada que, a posteriori consultada, pode proporcionar novas aprendizagens ao docente, em especial aquele no início de sua prática profissional. O diário de bordo "ultrapassa a escrita burocrática e tem a intenção de registrar a prática pedagógica do professor e possibilita (re)pensá-la" (Cañete, 2010, p. 61). Alves (2004) elucida que o diário de bordo serve ao registro espontâneo de pensamentos, sentimentos, comportamentos, ambientes, atividades, atitudes, intenções, propostas, reflexões e ações alternativas. O uso do diário contribui para uma formação mais crítica da prática pedagógica, retroalimentando-a (Cañete, 2010), bem como servindo a um autoconhecimento nunca desatrelado da ação profissional.
Portanto, dada a característica intimista do diário de bordo, posto que em muito lembra o diário pessoal e as agendas adolescentes, com seu registro pessoal e detalhado das vivências dessa etapa da vida, entende-se que o diário de bordo pode ser considerado uma ferramenta significativa e útil ao registro das experiências do calouro ao ingresso na universidade.
Obtida a aprovação ética para a pesquisa, os estudantes que cursaram qualquer das duas disciplinas introdutórias obrigatórias nos três semestres acima mencionados foram contatados individualmente e convidados a colaborar com a pesquisa mediante o empréstimo do diário de bordo. Foram obtidas permissões e recolhidos 200 diários, os quais foram lidos a fim de identificar aqueles que seguiram em todas as inserções semanais no diário, a instrução dada para o registro de pensamentos, sentimentos e comportamentos associados à universidade e ao curso. Essa primeira leitura gerou a exclusão de 182 diários da amostra. Uma segunda leitura, mais atenta e detalhada, foi efetuada em 18 diários, destinada à seleção dos trechos relevantes à temática da pesquisa. Uma vez selecionados aqueles que continham conteúdos com indicadores de aspectos positivos ou negativos associados à adaptação, os trechos foram transcritos, encerrando, assim, o trabalho de coleta de dados nos diários em si. Em seguida, os diários coletados para a pesquisa foram devolvidos aos seus autores.
Procedimento de análise
Após a transcrição dos trechos para um arquivo digital, esses foram codificados (a codificação variou de DB01 a DB18), isto é, a fala de cada aluno recebeu um códigoalfa numérico, de modo que não fossem mais associadas ao nome do aluno. Este procedimento teve por objetivo facilitar a identificação e o manuseio dos dados, além de preservar a identidade dos estudantes.
Os trechos foram lidos com a meta de localizar elementos das dimensões da adaptação à universidade, segundo a literatura empírica específica do QVA-r e os estudos qualitativos mencionados na introdução, o de Clark (2005) e de Denovan e Macaskill (2013). A análise foi empreendida tendo-se em perspectiva as dimensões referidas. Todavia não foi traçada a expectativa de encontrá-las nos diários de bordo tal qual o foram nas pesquisas descritas, uma vez que os conteúdos que os alunos registraram no diário de bordo foi por via espontânea, e, como tal, por si só significativos para o aluno, posto que foram dignos de registro. Não foi pedido aos estudantes que refletissem e emitissem sua opinião ou experiência sobre um dado conjunto de aspectos. O que eles registraram no diário foi o mais importante para eles, seja de valência positiva ou negativa. Essa é uma diferença importante deste estudo com relação aos demais estudos empreendidos sobre adaptação à universidade.
Dando prosseguimento à análise dos dados, palavras, frases e/ou conceitos-chave dos trechos selecionados foram sublinhados e organizados por semelhança em conteúdo. Os passos sugeridos por Bardin (2011) foram seguidos. Segundo esses, a etapa de pré-análise resulta de leituras de familiarização com os dados (realizadas já na seleção dos diários), a criação de categorias semelhantes em conteúdo foi empreendida mediante aproximações de temas sublinhados, e o refinamento e fechamento das categorias, com sua nomeação, encerraram a análise. A categorização teve como inspiração tanto as dimensões indicadas na literatura quanto temas identificados nos diários. A terceira autora do estudo realizou a análise dos dados e, diante de dúvidas na categorização, as demais autoras foram individualmente consultadas para dirimir ambiguidades no trato com os conteúdos.
Não foram coletadas informações demográficas dos estudantes. Embora em alguns dos diários tenham aparecido relatos que remetem a tais dados, não se trabalhou com as variáveis idade, gênero, nível socioeconômico, situação de moradia (se com a família ou em repúblicas), etc.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de categorização originou 11 grandes temas. Optou-se aqui por descrever os conteúdos de todos os temas, mas ilustrar, com excertos dos textos dos alunos, apenas aqueles que se destacaram, na visão das pesquisadoras, segundo a análise realizada. A escrita dos estudantes não foi alterada, sendo apenas suprimidos dados que pudessem levar à quebra do sigilo ético. Eventuais erros, como falta de acentos em algumas palavras, foram corrigidos. Os temas construídos a partir dos dados foram interpretados à luz da literatura estudada e deoutras pesquisas que tratam de assuntos com eles relacionados.
Ambiente da universidade
Este tema surgiu de trechos encontrados em 16 dos 18 diários. Os estudantes relataram suas primeiras impressões acerca da universidade, do curso e do campus de forma geral, incluindo trechos referentes à recepção dos calouros e opiniões acerca do trote. O seguinte trecho ilustra bem essa categoria:
A primeira aula de [nome da disciplina] foi, de fato, uma luz para mim. Meu primeiro dia na federal tinha sido horrível, com direito a ficar perdida no campus e no centro, e foi ótimo encontrar uma professora que finalmente nos explicou alguma coisa. (DB10)
O trabalho de Teixeira et al. (2008) identificou conteúdos semelhantes, que foram inseridos no tema primeiras impressões (alívio, surpresa e desamparo). A transcrição recém-apresentada exibe o sentimento de desamparo advindo do desconhecimento do ambiente institucional. Sugere também um dado alívio com os esclarecimentos obtidos com a professora, mas não é o mesmo sentido de alívio descrito no estudo de Teixeira et al., que associou esse sentimento ao desligamento da preocupação com o exame vestibular. Já no estudo de Oliveira e Dias (2014) uma das dificuldades citadas foi a burocracia institucional, um elemento novo que pode ser de difícil compreensão e gerador de ansiedades ao calouro.
Avaliação da nova experiência universitária
Esse tema reuniu o balanço feito pelos estudantes acerca dos primeiros meses da experiência universitária. Nele estão incluídas facilidades e dificuldades encontradas, e uma espécie de conclusão ou lição obtida com o resultado vivenciado. Três depoimentos foram selecionados dentre 16 diários, nos quais se localizou este tema, para exemplificar os relatos:
Enfim, nos encaminhamos para a reta final desse primeiro período, de criação de novos laços de amizades, festas, pequenas reuniões e também momentos de aperto com algum dos conteúdos. Foi uma experiência completamente nova pra mim, a qual eu gostei e aproveitei bastante. Foi um período relativamente tranquilo, com exceção da matéria que eu já sabia que teria maior dificuldade, que é Anatomia. (DB07)
Nesse momento diferente e de adaptações na minha vida, aprendi a lidar com sentimentos, com saudades, com as novidades que aparecem, aprendi que isso é só o começo e que, por mais difícil e doloroso que seja viver tão distante assim, está sendo fundamental e gosto cada vez mais do que conquistei. (DB14)
Hoje foi um dia tranquilo na Universidade, adiantei meus trabalhos e agora é só estudar para as provas finais e curtir os feriados de fim de ano. Quase terminando o primeiro período em Psicologia, ainda não tenho certeza se é isso que quero pra mim, mas vou seguindo o meu caminho e vendo aonde a Psicologia vai me levar. (DB06)
Os conteúdos abordados nestes trechos em destaque se aproximam daqueles encontrados por Teixeira et al. (2008) no tema adaptação ao curso, especialmente com relação às questões de vínculos afetivos e estratégias para lidar com dificuldades. Ao mesmo tempo, parecem indicar a descoberta de mudanças em si, ainda que não exatamente ligadas à responsabilidade e à seriedade relatados naquela pesquisa. Aqui, as mudanças pessoais são de aprendizagem para lidar com as próprias emoções diante das novas situações vividas a partir da entrada na instituição, como no caso do participante 14. O participante 7 destaca bastante a dimensão interpessoal, salientada nos estudos qualitativos de Wiles et al. (2010) e de Teixeira et al. (2008).
Administração do tempo
Presente em 14 diários, esse tema foi um dos três mais importantes do estudo, junto com os dois anteriormente citados. Envolveu trechos referentes às estratégias utilizadas pelos estudantes para a distribuição do tempo, tanto entre as diferentes atividades desenvolvidas na graduação, quanto entre as atividades acadêmicas, profissionais e de lazer. A categoria incluiu também trechos referentes a estratégias de estudo descritas pelos estudantes, muitas delas desenvolvidas e utilizadas visando um melhor aproveitamento do tempo, como é possível observar nos seguintes trechos:
Hoje eu estava na faculdade, mas não pude comparecer à aula de [nome da disciplina] devido a um trabalho de [nome de outra disciplina] que deveríamos fazer, para o qual tínhamos pouquíssimo tempo. (DB05)
As provas estão começando a acumular e está ficando mais difícil conciliar os estudos com a vida social. Estou tendo que abrir mão de vários encontros com meus amigos e com a minha família pra fazer os trabalhos e as provas com um pouco de tranquilidade. Apesar de achar que às vezes não é o suficiente. (DB08)
Resolvi começar a fazer aulas de francês esse semestre e estava cheia de coisas para estudar para o dia seguinte (as aulas são no sábado). Fico pensando se fiz a coisa certa, estou com uma imensa dificuldade em administrar meu tempo. (DB11)
Os três trechos são exemplares de distintas experiências com o uso do tempo, em geral, negativas. Um deles é o investimento em um trabalho acadêmico à custa de uma aula de outra disciplina. Em outro trecho, o prejuízo apontado é social, com a sensação de falta de tempo para os amigos e familiares. No terceiro, há a tentativa de realizar atividades extracurriculares que tomam tempo extra. Tanto no segundo como no terceiro trecho são explícitas as reflexões sobre como usar o tempo em favor dos estudos e, também, de outras dimensões da vida. A administração do tempo é, portanto, um aspecto bastante presente na experiência do calouro: como reorganizar o uso do tempo com o ingresso na universidade. Na literatura consultada, o aspecto temporal está incluído em temas como organização e compromisso com estudos, participação em atividades extracurriculares, e estratégias para lidar com dificuldades acadêmicas ou sociais.
Não se trata de um tema original. A administração do tempo é considerada uma estratégia para lidar com um tipo específico de dificuldade, inserida no tema adaptação ao curso no trabalho de Teixeira et al. (2008). Nas pesquisas com o QVA-r, lidar com o tempo é uma questão abordada na dimensão estudo. É, portanto, um tema que não pode faltar em pesquisas sobre a vivência universitária.
Os trechos remetem à necessidade de organizar o tempo, à decisão por atividades extras, e à experimentação de estratégias para lidar com dificuldades, como foi o caso do investimento no trabalho de uma disciplina em detrimento da presença na aula de outra. Outra questão que distingue os três trechos destacados é o foco dado ao contexto: no primeiro e no terceiro, a dificuldade com o tempo está diretamente associada às atividades acadêmicas; no segundo, a queixa temporal é diretamente ligada às relações interpessoais (família e amigos). Dado que os aspectos interpessoais são fundamentais à saúde social em qualquer contexto, poder-se-ia argumentar por uma atenção diferenciada ao estudante com este tipo de queixa em seu primeiro semestre na universidade.
Dinâmica das aulas e avaliações
Presente em 13 diários, são conteúdos que demonstram a percepção dos estudantes acerca da dinâmica das aulas na universidade, assim como suas opiniões sobre os métodos de avaliação escolhidos pelos professores, tal como provas e trabalhos em grupo.
Só hoje fui me dar conta de que [...] os professores não escrevem quase nada durante as aulas. Eu aprendo mais com professores que escrevem esquemas ou definições no quadro. (DB03)
O interessante desses exercícios é que nos ajuda a fixar o conteúdo aprendido em sala, o que era comum no Ensino Médio, mas se tornou algo raro na faculdade. (DB05)
Oliveira e Dias (2014) também encontraram depoimentos nessa direção, embora de valência mais negativa. Foram apontados o grau de exigência aos estudos, as avaliações e a didática dos docentes como fatores que podem gerar dificuldades na adaptação.
Preferências por determinadas matérias/tópicos
Encontrados em 11 diários, foram agregados os relatos que demonstraram diferentes posturas diante do estudo de matérias/tópicos pelos quais já tinham preferência ou conhecimento prévio. Também foram mencionados o despertar de novas preferências.
O curso, de modo geral tem sido interessante. Uma única matéria que nunca me atraiu foi Sociologia [...]. A parte biológica do curso tem sido a mais difícil [...]. Também já citado anteriormente, me causa certa recusa o fato de não lidar com números, cálculos, certezas absolutas esse semestre, coisa que eu fiz, e muito bem, durante 12 anos da minha vida. Quanto a isso, creio eu que seja esse primeiro período uma fase adaptativa, onde é normal que ocorram tais angústias. (DB05)
O gosto pela matéria, segundo pesquisa realizada por Bariani e Pavani (2008), é considerado por professores como um dos principais fatores que levam os estudantes a se interessar pela aula, participar das atividades propostas e ter sucesso nos objetivos acadêmicos. De acordo com Denovan e Macaskill (2013), o foco acadêmico, expresso através da aprendizagem e da motivação, é um dos aspectos relacionados à adaptação à universidade.
Atitude proativa
Detectada em 11 diários, esse tema agrupou o registro de ações proativas diante da vida acadêmica. Foram incluídos indicadores do engajamento a atividades extraclasse, o envolvimento com projetos de pesquisa, laboratórios e monitorias, etc., e o engajamento em outras atividades no ambiente universitário, como eventos culturais.
Em relação à UFMG, a questão é outra. Muita coisa aconteceu em 4 meses [...]. Posso dizer que, academicamente, a melhor foi ter entrado na iniciação científica. Pode ter fechado um pouco minha visão em relação as outras abordagens psicológicas, mas me abriu muitas portas e as segundas feiras eram os melhores dias da semana. (DB04)
Hoje teve um piquenique organizado pelo projeto "um bocado de gentileza" encontrei amigos do COLTEC e foi muito bom relembrar os velhos tempos. (DB08)
No que tange ao engajamento dos alunos em atividades acadêmicas não obrigatórias - demonstração de atitude proativa - de modo geral, foi considerado positivo pelos estudantes envolvidos, bem como relevante para o processo de adaptação. Essas atitudes proativas propiciaram contato com a prática da profissão, com os laboratórios acadêmicos, com professores e colegas em diferentes estágios da graduação e pós-graduação, bem como o envolvimento com temas de interesse. Dentre os temas construídos por Teixeira et al. (2008), essa atitude proativa se aproxima das mudanças em si percebidas pelo calouro. De outro lado, Oliveira e Dias (2014) identificaram a timidez como aspecto saliente nos dados das entrevistas realizadas, citado como um empecilho, por exemplo, à atitude proativa necessária para buscar apoio social, instrumental ou emocional. Merecedora de maior investimento em pesquisa, a dimensão pessoal do QVA-r repetidamente apresenta menores médias na comparação com as demais, e inclui aspectos individuais como os recém-discutidos. Abordagens qualitativas podem colaborar na criação ou melhoria de itens desta dimensão.
Grupos de pares e construção de amizades
Dez diários apresentaram conteúdos sobre o relacionamento e a importância dos grupos de pares para a adaptação à vida acadêmica. Também foi mencionado o apoio recebido dos amigos, a receptividade e criação de vínculos com os veteranos.
A vida na universidade em si, posso dizer que está sendo bem animada, os novos amigos, a animação dos veteranos com a nossa chegada, foi muito bom ver e participar[...]. Eles sempre nos ajudando, demonstra uma relação muito boa entre calouros e veteranos, uma parceria de certa forma, a qual eu quero ter com meus calouros no próximo período. (DB06)
Acho que descobri quem serão minhas amigas pro resto do curso. Elas sempre se lembram de mim e todo grupo pra trabalho elas estão comigo. Nunca gostei de trabalho em grupo, mas dessa vez estou gostando de trabalhar. (DB13)
Domingo foi meu aniversário. Foi muito legal, e fiquei muito feliz de ter passado com meus novos amigos de BH. Fico tão feliz de em tão pouco tempo já ter feito tantas amizades verdadeiras! Saber que tenho com quem contar aqui. Todos os amigos são da faculdade. (DB18)
O QVA-r aborda esse mesmo tema na dimensão interpessoal ainda que ao lado de outros tipos de relacionamentos, como o com familiares. Sendo tão salientes aos calouros as relações interpessoais, cabe considerar a avaliação e investigação específicas para as relações com familiares e, em especial, com pais, e aquelas relações com pares, envolvendo amigos e colegas. Enquanto nas primeiras há um aspecto hierárquico importante que interfere nos processos sociais e educativos, no segundo ele está ausente. Ainda assim, a amizade envolve mais liberdade de escolha do que o coleguismo: esse é muitas vezes criado a partir de situações fortuitas como as avaliações em duplas ou grupos, geradoras nem sempre de boas interações.
Teixeira et al. (2008) salientam os vínculos afetivos, mencionando as amizades, bem como Wiles et al. (2010). Oliveira e Dias (2014) ressaltam bem esse aspecto, tanto na criação de amizades durante o período universitário, como no contato com as amizades fora desse contexto como rede de apoio importante ao calouro e ao veterano. Fior, Mercuri e Almeida (2011), por sua vez, apontam para os efeitos da dimensão interativa nos processos de adaptação à universidade e consequente permanência no ensino superior. Assim, a dimensão interpessoal, ainda que não seja pouco abordada nas pesquisas, poderia ser considerada em termos de distintos relacionamentos na vivência universitária. Unir amizade, coleguismo, relação com professores e relacionamento com pais e com outros familiares é temerário em termos de investigação científica e merecedor de esforço em como abordar tais variáveis na linha de pesquisa da vivência acadêmica. Na orientação profissional e de carreira, há trabalhos que já destacam a necessidade, por exemplo, de atenção diferenciada, em pesquisa e na prestação de serviços, para as relações de amizade no contexto universitário (Duarte & Souza, 2010; Souza, 2009; Souza & Lassance, 2010).
Ambientes e aulas virtuais
Esta categoria agrupou trechos referentes à opinião dos estudantes sobre a utilização dos recursos de aulas virtuais em substituição a algumas das aulas presenciais em determinadas disciplinas, bem como a opinião dos mesmos sobre o uso do ambiente virtual como recurso acadêmico complementar. Essa categoria incluiu citações de seis diários.
Achei legal que tenha disponível em ambiente virtual os slides utilizados na aula. Na verdade, por trabalhar com informática, prefiro que tudo seja digital. Este monte de papéis impressos me incomoda um pouco. E tenho mais tempo para ler quando estou no computador. (DB03)
Estou definitivamente apanhando do Moodle! Fico me questionando sobre a eficiência dessa ferramenta. Nem todos os professores parecem saber (ou se interessar) pela ferramenta e não só eu, mas outros colegas também não conseguem compreender como Moodle pode nos ajudar. Enfim, creio que uma boa opção de interação está sendo desperdiçada por descaso e ignorância. (DB17)
Os trechos sugerem duas experiências bem distintas com relação aos ambientes virtuais de aprendizagem. Em uma delas, positiva, é clara a influência da experiência prévia do estudante com o uso de ferramentas computacionais e ambientes virtuais. Já o relato negativo se compõe mais de uma queixa do que uma real reflexão de como traçar estratégia para lidar com o problema. Não há indícios de que o estudante tenha solicitado ajuda para aprender a utilizar a ferramenta. De todo modo, de todas as novidades advindas com a entrada no ensino superior, o uso de ferramentas virtuais pode ser uma das mais marcantes, especialmente quando não há experiência com este tipo de contexto de aprendizagem. Oficinas sobre como utilizar estas ferramentas poderiam ser ministradas presencialmente e nas unidades acadêmicas, dedicadas aos cursos específicos.
De fato, é ainda recente o uso dos contextos virtuais no ensino no país. É realidade a falta de experiência de alguns docentes com o mundo virtual, como bem percebeu o estudante em seu relato. Souza, McCarthy e Gauer (2012) discutem essa questão, destacando que, ainda que 20% das aulas possam ser ministradas à distância segundo a legislação brasileira, há resistências, de distintas naturezas, por parte de docentes. A expectativa, no entanto, é que tais resistências venham a perder força com a inserção cada vez maior de tecnologia no cotidiano das pessoas, por exemplo, no incremento de ferramentas para o telefone celular, internet e televisão juntas, livros eletrônicos, tablets, etc.
A literatura estudada sobre adaptação à universidade não indicou esse tema como presente nas preocupações dos universitários. Assim, dado que os relatos dos diários foram espontâneos, considera-se que este conteúdo indica uma nova contribuição via uso de diários de bordo, merecendo atenção por parte da universidade no auxílio aos calouros diante dessas ferramentas.
Impressões iniciais
Congregou trechos de seis diários, nos quais os estudantes abordaram o desejo, vontade e/ou o sentimento de realização por ter sido conseguida uma vaga em uma universidade federal e/ou no curso desejado. Contém também expectativas e sentimentos iniciais diante do ingresso na vida acadêmica. Trata-se de outro tema universal da linha de pesquisa, que nos estudos qualitativos se mostra associado às primeiras impressões do estudante no ambiente universitário (Teixeira et al., 2008). Das dimensões do QVA-r, a institucional integra itens associados às novidades trazidas pelo novo contexto da universidade. O trecho a seguir ilustra o desamparo advindo da saída da casa dos pais. Ao mesmo tempo, o relato demonstra que o autor do trecho consegue associar a saudade de casa como um possível elemento que pode estar interferindo negativamente na adaptação à universidade:
Não fui à aula de hoje. [...] Peguei no Moodle o exercício que foi dado em sala para responder em casa. Ainda não o fiz. Estou realmente muito desanimada com o curso, e sinto muita saudade de casa, o que está dificultando minha adaptação nessa nova cidade. (DB10)
Relação trabalho-estudo
Essa categoria foi criada com o objetivo de agrupar relatos dos estudantes que, além da graduação, exerciam atividade profissional. Reuniu trechos acerca da situação, dificuldades e estratégias adotadas por esses alunos para conciliar as atividades e exigências do emprego e da graduação. Foi composta por trechos de quatro dos 18 diários. Ainda que presente em poucos diários, considera-se um tema merecedor de mais investigação.
Niquini, Teixeira, Sousa, Manelli, Luz, Turte-Cavadinha e Fischer (2015) encontraram associação positiva entre jornada de trabalho e conflito entre trabalho e estudo e percepção de que o trabalho afeta de maneira negativa o progresso nos estudos. Denovan e Macaskill (2013) apontam as preocupações financeiras e com emprego como dificultadoras da adaptação do estudante à universidade. Há cada vez mais estudantes com o perfil de trabalhadores que buscam o estudo em nível superior. Novos cursos noturnos vêm sendo oferecidos em universidades públicas, ou mesmo novas turmas noturnas em cursos já existentes, mas nota-se que o sistema educacional superior federal no Brasil está estruturado muito mais para contemplar o estudante em tempo integral, do que o estudante que não tem essa disponibilidade de tempo (Vargas& Paula, 2013).
A prática docente indica que aqueles estudantes que, mesmo calouros, estão em um momento de desenvolvimento distinto, envolvidos em relacionamento amoroso estável, com filhos, cuidando dos próprios pais ou sogros, e trabalhadores com carreira em andamento, apresentam estratégias distintas para lidar com as dificuldades da inserção na vida acadêmica, bem como percebem as situações de modo diferente de jovens na casa dos 20 anos, sem relação estável, nem filhos ou pais que necessitam de atenção. O apoio ofertado, portanto, a estes diferentes perfis de calouros, precisa ser diferenciado e, antes disso, investigado mais atentamente mediante novas pesquisas.
Relação professor-aluno
A relação professor-aluno foi referida em quatro diários, tanto dentro quanto fora de sala de aula, bem como a importância do contato extraclasse e eventuais conflitos com ou reclamações acerca dos docentes.
O estudo de Teixeira et al. (2008) aponta para a importância de uma boa relação professor-aluno para a manutenção e adaptação deste ao novo contexto. O tema adaptação ao curso incluiu a questão dos bons vínculos afetivos, não apenas com colegas, mas também com professores. Clark (2005) e Oliveira e Dias (2014) identificam a relação com os professores (incluindo a didática adotada e os vínculos estabelecidos com os alunos) como desafios importantes na adaptação à universidade. Bariani e Pavani (2008) notaram que, na visão dos estudantes, a relação professor-aluno é fator determinante no interesse pelas aulas e na participação dos alunos nas aulas. Veras e Ferreira (2010), bem como Gabrielli e Pelá (2004),apontam a afetividade na relação entre professor e aluno como relevante mediador para que ocorra o processo ensino-aprendizagem e para que se configure de maneira positiva a vivência acadêmica.
No presente estudo, embora os relatos identificados tenham sido positivos, sugerindo que a construção de uma boa relação com os professores pode contribuir para o processo de adaptação, apenas quatro diários mencionaram esse tema. Muito provavelmente isso ocorreu em virtude de os diários de bordo terem sido desenvolvidos como uma atividade acadêmica avaliativa e, portanto, lido por um(a) docente. No início da atividade, tivessem os diários sido apresentados como forma de coleta de dados, é possível que mais conteúdos sobre o relacionamento entre alunos e professores tivessem surgido na escrita dos participantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da literatura disponível sobre adaptação à universidade e vivência acadêmica com dados brasileiros e a análise de 18 diários de bordo conduziram para os seguintes temas como centrais à experiência de ingresso no ensino superior: ambiente da universidade, avaliação da nova experiência universitária, administração do tempo, dinâmica das aulas e avaliação, preferências por determinadas matérias/tópicos, atitude proativa, grupos de pares e construção de amizades, ambientes e aulas virtuais, impressões iniciais, relação trabalho-estudo e relação professor-aluno. Conquanto espontâneos, como argumentado na seção metodológica do trabalho, todos esses temas têm elevado valor para a vivência acadêmica.
De modo geral, os resultados obtidos parecem também acompanhar a literatura na conclusão de que o ingresso na vida universitária é percebido pelos estudantes ingressantes como um período de grandes e importantes mudanças pessoais, tal qual explicitado pelos excertos que compõem os temas ambiente universitário, impressões iniciais e avaliação da nova experiência universitária. Nesse sentido, o aumento da responsabilidade, os desafios de morar sem a família e a necessidade do desenvolvimento de uma postura proativa e autônoma, por exemplo, foram mudanças pessoais admitidas nos relatos.
O diálogo com a abordagem quantitativa via QVA-r nos mostrou, de um lado, aqueles temas que sem dúvida não devem faltar em qualquer avaliação ou abordagem à experiência de ingresso no ensino superior. De outro lado, fica evidente que estudos que abordem variáveis específicas contidas em cada uma das cinco dimensões do QVA-r contribuirão para a criação de estratégias mais específicas para problemas identificados em amostras ou contextos diferenciados. São exemplos o estudante que congrega, junto à faculdade, um emprego, e/ou cuidado da família, a questão das necessidades especiais, e os intercambistas de outros estados ou países.
Com o diário de bordo, o estudante tem a oportunidade de participar mais criticamente de seu próprio desenvolvimento pessoal e social no âmbito da universidade e no seu próprio processo de ensino-aprendizagem que se atualiza a cada aula, cada seminário, cada encontro com professor ou colega.
A pesquisa buscou contribuir com uma compreensão diferenciada do processo de adaptação à universidade. Valeu-se de uma estratégia de coleta de dados - o diário de bordo- ainda não adotada nos estudos sobre o assunto. O diário de bordo, enquanto ferramenta que desenvolve a capacidade de auto-reflexão e de análise crítica das vivências formativas, permite o registro de vivências e fatos importantes que, embora marquem a formação do estudante universitário, não aparecem nos trabalhos acadêmicos, como bem ressaltam Cechin (1999) e Castro (2016). Assim, seu uso possibilita aos alunos abordarem as mais diversas questões acerca do ingresso e adaptação na universidade de forma livre e espontânea, sem a presença de mediadores, como no caso de roteiros de entrevistas, e sem a restrição e/ou padronização do uso de questionários e escalas.
O desenho da presente pesquisa possibilitou tanto a descoberta de resultados que corroboraram aqueles descritos na literatura, como gerou dados úteis a outras investigações acerca da temática, como os referentes ao estudante universitário trabalhador e aqueles que tratam do impacto dos ambientes e aulas virtuais na vivência acadêmica. Sugerem-se futuros investimentos científicos com coleta de dados via diários de bordo, não apenas com calouros, mas com estudantes de outros semestres de curso e com necessidades educativas e de carreira diferenciadas.
REFERÊNCIAS
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1 Esta pesquisa envolveu bolsa de iniciação científica para a terceira autora, via Programa Jovens Talentos para a Ciência (CAPES/PJTC), sob orientação das duas primeiras autoras.