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Revista da ABOP
versão impressa ISSN 1414-8889
Rev. ABOP v.3 n.1 Porto Alegre jun. 1999
A formação do orientador profissional e a utilização de técnicas em O.P6
Marilu Diez Lisboa7
Instituto do Ser
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar a formação do orientador profissional através do relato de uma experiência que vem crescendo com sucesso, realizada pelo INSTITUTO DO SER Psicologia e Psicopedagogia de São Paulo: “Curso de Formação em Orientação Profisonal: a facilitação da escolha”. A experiência na criação e desenvolvimento deste curso será comentada assim como a criação do Curso de Especialização em Orientação Profissional.
Palavras-chave: Orientação profissional, Formação, Facilitação da escolha.
ABSTRACT
The objective of this paper is to comment on the matter of the Formation of Professional Guidance Specialists in Brazil through brief considerations and also to give an account of an experience which has been increasing with success, achieved by the Course of Formation in Professional Guidance - 'The facility of the choice' - organised by theThe 'Being Institute' - Psychology and Psychopedagogy of São Paulo. The experience with the creation and development of the Course of Formation will be exposed as well as its unfold, the Course Specialising in Professional Guidance - accomplished by ex-students of the Formation Course.
Keywords: Vocational guidance, Vocational guidance formation, Facility of the choice.
Considerações Iniciais
Quando fui convidada a participar da Mesa Redonda intitulada “A formação do Orientador Profissional e a utilização de técnicas em O.P.”, além da satisfação de poder colocar em pauta o tema, ocorreu-me a oportunidade de sistematizá-lo.
Aprofundarei aqui, a questão da formação do Orientador Profissional, dada a sua importância, a sua inscipiência, enquanto uma preocupação com uma especificidade e, ao mesmo tempo, a urgência de seu aperfeiçoamento frente a todas as particularidades e dificuldades advindas da complexidade do mundo do trabalho atual.
A Orientação Profissional é uma área do conhecimento que merece estudo aprofundado e específico. O número de teorias que embasam a O.P. não é pequeno, embora no Brasil haja a incidência maior da utilização de algumas linhas, como: as teorias psicodinâmicas, as teorias desenvolvimentistas e a abordagem sócio-cognitiva.
Tanto no caso da Psicologia como da Pedagogia, faculdades onde o assunto faz parte do currículum, a disciplina de Orientação Profissional pode ser obrigatória ou opcional. No caso da formação em Psicologia, mesmo não havendo a opção por O.P. o profissional está habilitado a trabalhar na área. Nesta medida, tornam-se necessários os cursos livres em Orientação Profissional, que dão subsídios teórico/práticos para quem não fez a opção por O.P. durante a formação universitária. No entanto, mesmo para quem fez a opção, torna-se interessante aprofundar conhecimentos ou conhecer novas teorias e técnicas através dos cursos livres.
Assim, o papel dos formadores em O.P. se faz muito importante. Há que zelar, no entanto, pela qualificação destes profissionais, a abrangência e o aprofundamento de conhecimentos teórico/práticos na área, a experiência acumulada e a questão da ética.
Até o presente momento, nem todos os cursos de terceiro grau e os cursos livres em O.P., nos seus mais variados níveis, são ministrados por profissionais com Mestrado ou Doutorado. Menos ainda com dissertações ou teses em Orientação Profissional. Este seria um dos cuidados a serem tomados, principalmente no que se refere à titulação em Mestrado ou Doutorado.
Outra questão a ser observada diz respeito ao grau de importância que é dado à O.P. pela sociedade, a começar pelas escolas - públicas e particulares, no seu papel de formadores das gerações mais novas. Trata-se de uma importância ainda muito inscipiente, na melhor das hipóteses, ou, o que é mais grave, em muitos casos há a realização de um trabalho parcial ou muito limitado em nome da O.P. Mais presentemente também os profissionais de Recursos Humanos das empresas têm se alertado para a função da O.P. em consequência dos altos índices de desligamento dos funcionários e o complexo contexto do mundo do trabalho que os profissionais demitidos irão enfrentar em busca de novos postos. A questão da empregabilidade está imbricada com a re-escolha profissional, colocando-se assim a O.P. num lugar de importância no contexto empresarial privado e no setor público. No entanto, um longo caminho ainda há a percorrer pelos Orientadores Profissionais, na ocupação dos espaços que, podemos constatar, estão presentes. A obtenção de um lugar no contexto atual dependerá do empenho e da qualificação dos Orientadores. Neste momento também faz-se de fundamental importância a formação de Orientadores, alicerce que assegurará um trabalho de qualidade e excelência.
CURSO DE FORMAÇÃO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL - A FACILITAÇÃO DA ESCOLHA: Uma experiência em crescimento
A partir das constatações até aqui referidas, gostaria de expor uma proposta de formação em Orientação Profissional, que hoje é uma realidade e, pode-se dizer, eficaz. Trata-se dos cursos planejados e ministrados pelo INSTITUTO DO SER - Psicologia e Psicopedagogia, sendo: Curso de Formação em Orientação Profissional - A facilitação da escolha e Curso de Especialização em Orientação Profissional.
Meu intuito é tecer algumas considerações gerais, que vão da concepção filosófica, traduzida aqui através dos objetivos expostos, à didática de ambos os cursos, passando pelos motivos de criação deste trabalho e concluindo com os resultados até agora obtidos.
O Curso de Formação em Orientação Profissional nasceu da constatação de uma necessidade baseada, fundamentalmente, na necessidade de uma apropriação, por parte dos profissionais da área de O.P., dos conhecimentos até então disponíveis - teorias e práticas - uma vez que os cursos de formação universitária, Pedagogia e Psicologia, tratam esta área do conhecimento da forma como foi relatada acima. Estando trabalhando como Orientadora Profissional desde 1990; tendo concluído o Mestrado em Psicologia Social pela PUCSP com dissertação em Orientação Profissional; e, ainda, estabelecendo estreito e fraterno contato com a Prof. Dulce Helena Soares Lucchiari, que na época concluía seu Doutorado em O.P. na França, fui gestando e sedimentanto a idéia de criar um Curso de Formação em O.P. que pudesse se firmar com base em quatro pilares, aqui chamados de Objetivos.
1º) Formar profissionais com um bom nível de conhecimento das principais teorias da Psicologia Vocacional bem como de um número significativo de técnicas que propiciassem a efetivação de um trabalho eficaz junto à população. Fundamentando esta idéia residia a constatação de que, não necessariamente, os estudantes de Psicologia e Pedagogia saíam de suas Faculdades com o conhecimento mínimo necessário das teorias e técnicas mais atuais em O.P. e, mesmo que o obtivessem, estavam dissociados enquanto grupo. A existência da ABOP, hoje, se justifica como agregadora dos profissionais, mas não especificamente como um fórum de discussão sistemática de formação.
2º) Formar profissionais preocupados com a questão do papel social da Orientação Profissional, até então vista primordialmente como uma prática dirigida a estudantes de classes média, média alta e alta que escolhem passar por um curso universitário como requisito para o ingresso no mundo do trabalho. Ampliar a visão da O.P. principalmente considerando o contexto econômico e social brasileiro, enquanto país subdesenvolvido, em desenvolvimento ou emergente, conforme queiram. Mas, fundamentalmente, como um país dependente da economia mundial numa dimensão muito maior que os países desenvolvidos, cujos governantes não têm como prioridade as áreas humanas como saúde e educação. Assim, ao falarmos de adolescentes brasileiros, sem nos darmos conta, tendemos a nos referir ao jovem que pode estudar e ingressar numa Universidade, deixando de lado a grande maioria que necessita ingressar no mundo do trabalho ainda criança ou adolescente.
3º) Formar Orientadores Profissionais conscientes, críticos e criativos, que possam desenvolver a área da O.P. tanto no aprofundamento científico como na abrangência de sua ação. Dentro desta concepção, buscar com os alunos Orientadores a reflexão de propostas e, ao mesmo tempo, incentivar à reflexão e à pesquisa de novos caminhos dentro da Orientação Profissional, de forma que possam se constituir como agentes transformadores da realidade problemática que vivemos, no seu papel profissional.
4º) Formar Orientadores Profissionais comprometidos eticamente com o seu papel profissional, postura minimamente imprescindível para cumprir com os ítens anteriormente citados.
A metodologia escolhida para a realização do Curso foi baseada na Andragogia (ensino para adultos). Dentro desta linha os alunos participam ativamente interagindo com os professores, trazendo suas experiências, associando, em todos os momentos, a aprendizagem de novas teorias e técnicas com a sua prática atual, passada e futura.
Com referência à aprendizagem de técnicas, trabalha-se com vivências, ocasião em que cada um se percebe com relação a cada técnica que futuramente utilizará com os seus orientandos. Isto propicia o contato intelectual e afetivo com as técnicas, enriquecendo a aprendizagem no seu sentido mais completo.
Ao final do Curso os alunos apresentam um Trabalho de Conclusão, cujo conteúdo é por eles escolhido, de acordo com suas preferências, seu momento no trabalho e seus projetos em O.P. Pode ser desde uma reflexão acerca desta área do conhecimento - desde que implique em uma nova proposta ou constatação que possa contribuir com novas posturas - até um planejamento de O.P. grupal ou individual, ou relato de experiência, desenvolvidos durante o período do curso ou em desenvolvimento. O referido trabalho é supervisionado pelas professoras que ministram o curso e se constitui como requisito básico para a aprovação e recebimento do Certificado de Conclusão. Temos como proposta em estudo a escolha dos melhores trabalhos para uma publicação que está em fase de planejamento, dada a excelência de alguns trabalhos realizados.
A população alvo é formada por Psicólogos, Pedagogos, alunos de último ano das referidas Faculdades e profissionais de Faculdades afins que têm interesse em trabalhar ou já trabalham com Orientação Profissional. De acordo com a competência de cada aluno em termos de formação universitária, é ministrado o conteúdo. Por exemplo, testes projetivos são ministrados a Psicólogos, somente.
O período do curso foi estabelecido em 110 horas/aula e, atualmente, devido à experiência e quantidade de conteúdos, será de 120 horas/aula. Este é, em nossa avaliação, um tempo mínimo para o aprofundamento que almejamos, justificado pelos objetivos expostos.
Até o momento, desde abril de 1996, concluíram o curso quatro turmas e duas estão em andamento. Iniciam-se duas turmas por ano, em abril e agosto. Presentemente, com o aumento de horas/aula, a primeira de 1999, Sétima Turma, iniciará no mês de março.
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: Uma nova experiência
O Curso de Especialização em Orientação Profissional foi demandado por um número significativo de alunos da Segunda Turma do Curso de Formação, que gostaria de dar continuidade aos encontros, às trocas de experiências e ao acesso a novos conhecimentos. Foi, então, constituído um grupo que, hoje, está composto também por alunas da Quarta Turma.
Embora tenha os mesmos objetivos advindos da filosofia que alicerça o Curso de Formação, no caso da Especialização acrescenta-se:
1º) A busca de um maior aprofundamento da compreensão do que venha a ser a O.P. na complexa realidade que vivemos, ao mesmo tempo que a reflexão e discussão sobre a abrangência e o significado desta área do conhecimento no mundo contemporâneo, nas suas diversas abordagens: clínica, educacional, empresarial, informação e pesquisa.
2º) A capacitação dos alunos ao pleno exercício do seu papel de Orientadores Profissionais bem como da preparação para a docência e da pesquisa na área.
3º) O estímulo à produção teórica e técnica dos alunos em Orientação Profissional, com o objetivo da publicação de artigos em revistas científicas e apresentações de trabalhos em congressos.
A metodologia escolhida para a realização do Curso foi baseada na Andragogia (ensino para adultos). Além do estímulo à interação dos alunos com os professores no âmbito das reflexões e debates, é aprofundada a questão da produção científica de artigos e trabalhos escritos comentando os conteúdos propostos para leitura e apresentação de Seminários.
É exigido um estágio supervisionado (que pode se constituir nas práticas de trabalho atual dos alunos).
Ao final do Curso os alunos apresentarão um Trabalho de Conclusão, cuja fundamentação teórica terá que contemplar toda a bibliografia disponível sobre o assunto escolhido. Este será supervisionado pelas professoras que ministram o curso. Se constituirá como requisito básico para a aprovação e recebimento do Certificado de Conclusão. Atualmente está em andamento a pesquisa junto ao MEC para o registro do referido curso.
A população alvo é constituída por alunos que cursaram o Curso de Formação em Orientação Profissional - A facilitação da escolha.
O período do curso foi estabelecido em 210 horas/aula, sendo 130 h/a teórico/práticas e 80 h/a de estágio supervisionado.
Até o momento está em andamento a primeira turma. Com o tempo, outras turmas poderão ser formadas.
Comentários Finais
A realização do Curso de Formação em Orientação Profissional - A facilitação da escolha tem se constituído numa experiência extremamente rica e interessante. Segundo as avaliações dos alunos o curso tem primado pelo cumprimento do que se propõe, propiciando a aquisição e aprofundamento dos conhecimentos teórico/prático na área da O.P., bem como a efetiva troca de experiências que tanto enriquece e incrementa a inovação e o re-criar do trabalho.
Tem-se observado que a grande maioria dos alunos se envolve profundamente com o curso, sendo raros aqueles que não o fazem. Os que assim procedem acabam por se desligar. Este procedimento tem sido de exceção e, quando ocorreu, os alunos demonstraram compromisso com o contrato estabelecido, tendo o cuidado de justificar sua saída.
Tem sido possível acompanhar o efetivo crescimento dos alunos, tanto quanto aos conhecimentos teórico/práticos quanto ao amadurecimento do papel de Orientadores Profissionais. Não tem sido raro acompanhar a trajetória dos alunos na busca de um lugar como Orientador, trabalhar-se este momento no curso, e compartilhar a satisfação da obtenção deste lugar. Ou, ainda, a afirmação como Orientador Profissional em locais onde já trabalhavam, incrementando a atividade com novas propostas e obtendo êxito.
Tem chamado a atenção, igualmente, o despertar de muitos quanto a importância social do trabalho em Orientação Profissional. A ampliação da consciência do papel da O.P. na sociedade atual, com suas características e idiossincrasias tem tomado um lugar de destaque no curso e no desempenho dos alunos.
O clima que procuramos cultivar no curso, no que se refere à abertura, a franqueza, ao estabelecimento de vínculos baseados nas relações autênticas, ao contrário de competitivas, tem propiciado o cultivo de afetos e amizades se constituem com freqüência. Assim, a colaboração tem se feito presente e o compartilhar, que tanto julgamos necessário, vai além de relações superficiais e limitadas. É possível sentir-se o crescimento de relações construtivas, cujo produto torna-se palpável durante o próprio curso. O desejo de muitos no sentido da continuidade do Curso, que se transformou na Especialização, pode ser uma prova disto.
Coloco-me à disposição dos colegas para responder a perguntas que julguem pertinentes.
Antes, porém gostaria de agradecer à ABOP, que apoia os dois cursos realizados pelo INSTITUTO DO SER, pela oportunidade de compartilhar essa experiência que tem sido tão gratificante. Também, pela oportunidade de estar presente neste evento trazendo essas considerações e experiências. Assim como a formação de profissionais em O.P. via cursos, universitários ou livres, é de fundamental importância, encontros como este são também muito importantes no sentido de congregar colegas Orientadores Profissionais e aspirantes a esse lugar, na troca de experiências e de afetos, que levam a vínculos que fazem tão bem tanto profissional como pessoalmente.
Gostaria, ainda, de agradecer de público aos professores e palestrantes convidados dos cursos aqui citados, pelo brilhante trabalho que têm oferecido aos alunos. São eles: como professores: Prof. Dulce Helena Soares - UFSC, Prof. Misgley de Paula Barreto Garcia - Instituto do Ser, Prof. Lucy Leal Melo Silva - USP Ribeirão Preto, Prof. Maria Célia Pacheco Lassance - UFRGS e Prof. Selena Maria Garcia Greca - Curitiba. E como palestrantes: Prof. Tabajara Dias de Andrade - CLADE Campinas, Prof. Roberto Carlos Miguel - UNESP Araraquara, Prof. Paulo Mota - UNESP Assis, e Psicóloga Claudia Maria Carvalho - Secretaria do Trabalho do Estado de São Paulo.
Aproveito para dar, de público, os parabéns à ABOP e a todos os que se envolveram, pela iniciativa deste evento. Muito obrigada pela honra de estar aqui com vocês.
6 III ENCONTRO DA ABOP SC - I ENCONTRO DE PROFESSORES DE ORIENTADORES PROFISSIONAIS - II WORKSHOP DE TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL - II SEMINÁRIO DE INFORMAÇÃO E ORIENTAÇÃO DO LIOP Florianópolis, outubro de 1998.
7 Psicóloga. Diretora do INSTITUTO DO SER - Psicologia e Psicopedagogia. instser@zaz.com.br Prof. Coordenadora dos Cursos de Formação e Especialização em Orientação Profissional. Mestre em Psicologia Social pela PUCSP. Doutoranda em Psicologia Social pela PUCSP.