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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687

Rev. bras.ter. cogn. vol.5 no.2 Rio de Janeiro nov. 2009

 

ARTIGO

 

Intervenção no Ensino Superior: promoção de competências com jovens adultos

 

Higher Education intervention: promoting competences with young adults

 

 

M.ª Isabel Pinto Simões Dias

Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (IPL-ESECS)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo tem como objectivo apresentar o Programa de Promoção de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância – PPCppEi  e os resultados da sua avaliação. Enquadrando-se numa perspectiva sócio-construtivista da aprendizagem, o PPCppEi assume-se como uma ferramenta educativa na promoção de competências no Ensino Superior. Visa o desenvolvimento do auto-conhecimento/auto-conceito/auto-estima; da comunicação interpessoal; da gestão da agenda pessoal; do trabalho em equipa; da resolução de problemas; da observação/avaliação; da planificação e da reflexão. O PPCppEi foi implementado junto de 39 estudantes do sexo feminino do curso de formação inicial em Educação de Infância do Instituto Politécnico de Leiria no ano lectivo 2004/2005. Os dados da sua avaliação revelaram que os participantes desenvolveram competências pessoais e profissionais, o que confirma a utilidade deste instrumento na promoção das competências que se propõe trabalhar.

Palavras-Chave: Jovens adultos, Educação, Competência(s).


ABSTRACT

This article aims to present the Programme towards the Promotion of personal and professional Competences in Childhood Education – PPppCCE (Dias & Pereira, 2005), and the results of its evaluation. Entering into a social-constructivist view of learning, the PPCppCCE is defined as an educational tool in the promotion of competences in higher education. It aims the development of self-knowledge/self-concept/self-esteem, interpersonal communication, management of personal agenda, team work, problem solving, observation/evaluation, planning and reflection.
The PPppCCE was implemented with 39 female students from initial training course in Childhood Education of the Polytechnic Institute of Leiria in the academic year 2004/2005. Evaluation data revealed competence development and points towards the usefulness of this tool in the promotion of the competences that they work.

Keywords: Young adulthood, Education, Competence.


 

 

Introdução

O desenvolvimento de programas de competências tem sido um desafio à formação e inovação no Ensino Superior, funcionando como estratégia de desenvolvimento e aprendizagem e/ou de combate ao insucesso escolar (Tavares, 2003; Jardim & Pereira, 2006).

No âmbito da Educação, as competências pessoais e profissionais podem ser promovidas através de programas estruturados e sistematizados de modo formal. Nesse sentido o Programa de Promoção de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância – PPCppEi (Dias & Pereira, 2005) surge como uma proposta psicopedagógica de desenvolvimento de competências no Ensino Superior, nomeadamente em estudantes do curso de formação inicial em Educação de Infância.

Globalmente, o PPCppEi tem como objectivo activar competências em estudantes do Ensino Superior e promover o bem-estar pessoal e a eficácia profissional de futuros profissionais de Educação. Fomenta a autonomia cognitiva, afectiva e social e defende o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais no âmbito da Educação, incentivando os participantes a sentirem-se bem consigo mesmo e a desenvolverem a sua acção educativa de forma eficiente.

Focalizado nos sujeitos aprendentes, o PPCppEi conduz os participantes à: (1) identificação de aspectos positivos e menos positivos em si próprios; (2) valorização dos aspectos pessoais positivos; (3) escuta activa; (4) assertividade; (5) organização do tempo e espaço de acordo com as exigências pessoais e académicas; (6) participação em grupos de trabalho; (7) valorização do trabalho cooperativo; (8) identificação e implementação de estratégias de resolução de problemas/conflitos interpessoais; (9) ao desenvolvimento de estratégias de coping face a situações adversas; (10) reflexão sobre si e sobre o meio circundante; (11) observação/avaliação e planificação; (12) organização da acção educativa de forma reflexiva.

Procurando a prossecução destes objectivos, o programa visa promover oito competências, nomeadamente: o auto-conhecimento/auto-conceito/auto-estima, a comunicação interpessoal, a gestão da agenda pessoal, o trabalho em equipa, a resolução de problemas, a observação/avaliação, a planificação e a reflexão. Estas competências são referidas como fundamentais para o profissional de Educação de Infância (Dias & Pereira, 2005; Dias, 2006, 2008).

Considera-se que estas competências são transversais/comuns a diversas e diferentes actividades, a vários contextos, sendo isentas de especificidade profissional e situacional. São adquiridas no âmbito de uma actividade e/ou disciplina, mas passíveis de serem exercidas espontaneamente num outro domínio diferente (Ceitil, 2006). Estão relacionadas com a capacidade de gestão de recursos pessoais, de relacionamentos interpessoais e com o desempenho de funções profissionais (Jardim, 2007; Jardim & Pereira, 2005abc, 2006).

As competências referidas são também consideradas específicas, uma vez que permitem actuar no quotidiano profissional, estando directamente relacionadas com o exercício de uma profissão (Comellas, 2000).

Com o intuito de promover as oito competências, o PPCppEi organiza-se à volta de dez sessões presenciais colectivas semanais, com a duração média de 2 horas cada, num total de 20 horas de formação. Privilegia uma metodologia activa, baseada na participação de todos os intervenientes. Deste modo, apela à experiência e conhecimentos de cada participante, à realização de trabalhos em pequeno e em grande grupo (plenário) e à resolução de situações problemas, com base em dinâmicas de grupo.

Cada uma das sessões propõe breves exposições sobre a competência a ser trabalhada na sessão, evoca situações significativas que ocorreram ao longo da semana, promove a reflexão individual e em grupo, o debate de ideias, a interacção e a participação. Através da criação de momentos de descontracção e de diversão o programa aposta na experiência individual e do grupo, procurando facultar oportunidades de reflexão, descrição, compreensão e demonstração da(s) competência(s) a trabalhar, numa associação entre pensamento e acção.

No sentido da avaliação desta proposta de intervenção, o PPCppEi foi implementado em Portugal, no Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, no ano lectivo 2004/2005 junto de 39 estudantes do 3.º e 4.º anos do curso de Educação de Infância.

Este estudo pré-experimental de grupo único com pré-teste e pós-teste pretende, assim, apresentar o PPCppEi e os resultados da sua avaliação.

 

Método

Participantes

O PPCppEi foi aplicado a 39 estudantes do curso de formação inicial em educação de infância do Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (IPL-ESECS), no ano lectivo 2004/2005. Decorreu entre Abril e Junho de 2005, no IPL-ESECS, em contexto de sala polivalente.

Os participantes eram todos do sexo feminino, sendo 20 do 3.º ano (51.3%) e 19 do 4.º ano (48.7%). As idades variavam entre os 20 e os 38 anos (M=22.23; DP=3,056).

Instrumentos e procedimentos

Para avaliar o Programa de Promoção de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância (PPCppEi) recorreu-se a três instrumentos construídos para o efeito, sendo os mesmos aplicados em momentos distintos. Relembramos que este programa de intervenção, através de tarefas contextualizadas, de situações de aprendizagem geridas de forma dinâmica e interactiva, promove o saber agir no âmbito da docência.

A avaliação pré e pós intervenção foi realizada pelos participantes através do Questionário de Avaliação de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância (QACppEi), um questionário em formato tipo Likert, numa escala de 5 pontos (1. Discordo totalmente; 2. Discordo; 3. Nem concordo nem discordo; 4. Concordo; 5. Concordo totalmente), de forma a proporcionar aos sujeitos uma situação de escolha confortável e pouco cansativa. Este questionário é constituído por três partes distintas: instruções para o seu preenchimento e levantamento das características sócio-demográficas dos sujeitos; auto-avaliação da percepção de saúde e de bem-estar académico (6 itens) e auto-avaliação da percepção de aquisição de competência. Esta última parte contém 31 itens distribuídos desigualmente por dois constructos: competências pessoais e profissionais. O estudo das características psicométricas deste instrumento revela um valor de alpha Cronbach de .74 e uma solução de 8 factores que explicam 57.064% da variância dos resultados (Dias & Pereira, 2008).

A avaliação final, após a intervenção, foi realizada através da ficha de avaliação do programa. Este instrumento procura recolher dados sobre aspectos relevantes do PPCppEi e sobre o seu contributo para a promoção do bem-estar. Apresenta, ainda, um espaço para sugestões.

A avaliação retrospectiva, nove meses após a implementação da intervenção, foi efectuada a partir do Questionário de Avaliação do Programa de Promoção de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância (QAPPCppEi). Este questionário procura recolher dados sobre a utilidade e actualidade do programa, a dinâmica das sessões, os exercícios práticos desenvolvidos ao longo das sessões, as competências pedagógicas/científicas do formador, a qualidade da relação formador/formandos, a metodologia do programa, o material utilizado, o horário das sessões, a duração média das sessões, o período em que foi aplicado o programa, a quantidade de competências trabalhadas e as condições das salas de trabalho. Para estes referentes, a avaliação abrange um leque de cinco possibilidades que vai do Mau ao Muito Bom. Apresenta, também, um espaço para comentários, sugestões e críticas finais.

 

Resultados

Avaliação pré e pós intervenção

Os dados da estatística descritiva relativos ao QACppEi (auto-avaliação da percepção de aquisição de competências) revelaram, antes da intervenção, uma média de 113.91 (DP= 6.72). Depois da intervenção, a média obtida foi de 120.44 (DP= 7.43). Em ambos os momentos de avaliação responderam ao questionário 36 estudantes. A comparação dos dados entre os dois momentos de avaliação (inicial e final), obtidos através do teste não paramétrico de Wilcoxon revelaram diferenças estatisticamente significativas (Z=-4.185; p =.000).

Avaliação final

Após a conclusão do programa, os participantes avaliaram o PPCppEi no que concerne a aspectos mais e menos relevantes. Desta avaliação destacamos a dinâmica/ambiente das sessões (20,7% das respostas) no item dos aspectos mais relevantes. O horário das sessões (9,4%) foi o aspecto que se evidenciou como menos relevante (ver Quadro 1).

Quadro 1: aspectos mais e menos relevantes do PPCppEi

 

O Quadro 2 apresenta os contributos do PPCppEi para a promoção do bem-estar do grupo. Salientamos o auto-conhecimento como a dimensão mais valorizada (26%).

Quadro 2: contributos do PPCppEi para a promoção do bem-estar

 

O Quadro 3 revela as sugestões dos participantes para o aperfeiçoamento do PPCppEi. Destacamos o item mais sessões/mais carga horária para cada sessão (33,3%) como a sugestão mais frequente.

Quadro 3: sugestões apresentadas pelos participantes para aperfeiçoar o PPCppEi

 

Avaliação retrospectiva

Do universo de 39 sujeitos, 25 responderam ao desafio de realizar retrospectivamente a avaliação do PPCppEi (64, 1% do total dos participantes). Os resultados desta avaliação apresentam-se no Gráfico 1 e mostram uma avaliação que oscila entre o Bom e o Muito Bom.

Como sugestões, os participantes respondentes propuseram a realização da intervenção antes do 4.º ano do curso de formação inicial em educação de infância; uma sessão de esclarecimento sobre o conceito de competência(s); mais sessões para trabalhar outras competências que não as contempladas no programa; mais tempo para cada sessão e duração mais longa do programa de intervenção (pelo menos durante 6 meses).

Discussão

Comparando os dois momentos de avaliação, antes e depois do programa de intervenção, os resultados apontam para diferenças estatisticamente significativas. A intervenção terá sido profícua no desenvolvimento de competências pessoais e profissionais para estes participantes. Estes dados reforçam a importância de programas de intervenção ao nível das competências na promoção do desenvolvimento do sujeito (Almeida, 2002; Viguer, 2004; Guerra & Lima, 2005; Jardim & Pereira, 2005c; Matos, Branco, Carvalhosa, Silva & Carvalhosa, 2005; Larrauri, 2006; Jardim, 2007; Bilimória & Almeida, 2008).

Tal como outros programas de intervenção já implementados em Portugal junto de estudantes do Ensino Superior (Rosário, Mourão, Núñez, Pienda, Solano, Valle, 2007; Jardim, 2007), também o PPCppEi é avaliado de forma positiva pelos participantes. Os estudantes valorizaram a dinâmica/ambiente das sessões, as estratégias/actividades utilizadas e/ou a partilha de ideias/experiências pessoais, considerando que esta intervenção foi um contributo importante para o seu auto-conhecimento e para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Mostrando capacidade reflexiva, sugeriram para o aperfeiçoamento do programa mais sessões/mais carga horária para cada sessão, o aprofundamento das competências abordadas e um maior dinamismo nas sessões. Retrospectivamente, os participantes avaliaram preponderantemente com a classificação de Muito Bom a utilidade e actualidade do programa, a dinâmica das sessões, os exercícios propostos, as competências do formador, a qualidade da relação formador/formandos e as condições da sala. Bom foi a classificação predominante para a metodologia utilizada ao longo do programa, o material utilizado nas sessões, a duração das sessões, o período de aplicação e a quantidade de competências trabalhadas. O horário das sessões foi avaliado com Razoável.

Perante os dados da avaliação do programa de intervenção, podemos afirmar que o PPCppEi alcançou os objectivos a que se propôs. Contribuiu para o desenvolvimento de acções coerentes num determinado quadro de referência, para o auto-conhecimento e auto-regulação do comportamento dos participantes. Promoveu o bem-estar, modificou percepções individuais e desenvolveu competências. Considera-se, pois, que terá fornecido aos estudantes ferramentas importantes para o ajustamento social, ajudando-os a determinar formas específicas de mudar os seus padrões de pensar, sentir e actuar. Terá concorrido para a motivação e satisfação pessoal e fomentado sentimentos de alegria e de competência. (Bennet & Murphy, 1999; Guerra & Lima, 2005; Larrauri, 2006; Matos & Albuquerque, 2006).

O PPCppEi contribuiu de forma positiva para a construção da autonomia, independência e profissionalidade dos participantes. Concedeu oportunidade aos participantes para (re)pensarem sobre si mesmos a partir da interacção em contexto, incrementando a sua competência reflexiva sobre os seus diferentes papéis (Formosinho, 2002; Cardona, 2006; Rosário et al., 2007).

Concordamos com Matos (1997) e Danish e colaboradores (1992ab) quando defendem que programas de intervenção conceptualmente bem fundamentados e estruturados podem levar os sujeitos a (re)aprender novos comportamentos, a enfrentar problemas e a encontrar soluções, ajustando-se à sociedade.

Encontrando-se numa fase de desenvolvimento de competências, de integração de emoções, de construção da identidade, de novas responsabilidades e relações interpessoais, de procura de um sentido de vida, estes estudantes do Ensino Superior beneficiaram com o seu envolvimento neste programa. Estes dados parecem revelar que programas de intervenção com uma componente reflexiva se constituem como instrumentos importantes para os estudantes do Ensino Superior (Chickering & Reisser, 1993; Pinheiro, 2003; Rosário et al., 2006, 2007).

O formato das discussões em grupo para promover a reflexão metacognitiva e as competências abordadas terão também contribuído para os resultados encontrados. A metodologia do PPCppEi terá permitido aos participantes reflectirem sobre as tarefas propostas e realizadas, sobre os sucessos alcançados e as dificuldades sentidas. Terá incentivado a procura de estratégias de resolução de problemas, a interacção constante entre todos os intervenientes e terá fomentado o sentido da responsabilidade, a autonomia e a auto-avaliação (Barreira, 2001).

 

Considerações finais

O presente estudo apresenta o Programa de Promoção de Competências pessoais e profissionais em Educação de infância(PPCppEi), implementado com estudantes do Curso de Formação Inicial em Educação de Infância do Instituto Politécnico de Leiria - Escola Superior de Educação e Ciências Sociais. Os participantes avaliaram-no de forma positiva, ressaltando a sua actualidade, a dinâmica/ambiente das sessões e a sua utilidade na promoção das competências que se propõe trabalhar.

Apesar das limitações que este tipo de estudo pode apresentar (por exemplo, a dificuldade em controlar as fontes que afectam a validade interna), acreditamos que se pode constituir como uma mais valia para o desenvolvimento do estudante do ensino superior, incentivando a promoção de competências pessoais e sociais necessárias ao exercício da profissão docente.

 

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