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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas
versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746
Rev. bras.ter. cogn. vol.14 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2018
https://doi.org/10.5935/1808-5687.20180006
RELATOS DE PESQUISAS
Habilidade social empática em idosos: revisão sistemática no contexto brasileiro
Empathic social skill in elderly: systematic: a brazilian review
Jose Antonio Spencer Hartmann JuniorI; Carlos Augusto Carvalho de VasconcelosII; Antônio Gabriel Araújo Pimentel de MedeirosIII; Modesto Leite Rolim NetoIV
IDoutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco - (Professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.) - Recife - SP - Brasil
IIDoutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco - (Professor do departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco)
IIIGraduação em Psicologia. - (Psicoterapeuta.)
IVLivre-Docência pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. - (Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - FMABC.)
RESUMO
Em idosos, a habilidade empática proporciona benefícios como o a manutenção das redes de apoio e dos processos de aprendizagem. O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão sistemática da literatura de estudos sobre Habilidade Empática e idosos no contexto brasileiro. Bancos de dados foram consultados para trabalhos realizados nos últimos dez anos. Apenas três atenderam todos os critérios de inclusão. Visando o envelhecimento populacional, mais trabalhos necessários a fim de estabelecer uma prática científica calcada em métodos consistentes.
Palavras-chave: Habilidades Sociais; Empatia; Idoso.
ABSTRACT
In the elderly, empathic ability provides benefits such as the maintenance of support networks and learning processes. The objective of this work was to carry out a systematic review of the literature on Empathic Ability and elderly studies in the Brazilian context. Some databases were consulted for works in the last ten years. Only three meeting the established criteria. Aiming at the aging of the population, more works developed and published in this area are necessary in order to establish a scientific practice based on consistent and effective methods.
Keywords: Social skills; Empathy; Elderly.
INTRODUÇÃO
É chamada Empatia a capacidade de compreensão, compartilhamento e consideração à sentimentos, necessidades e perspectivas de terceiros (Falcone et al., 2008). A mesma mostra-se geralmente em situações de conflito, quando é dada mais importância ao que diz o outro, buscando compreendê-lo antes de externar o próprio ponto de vista (Falcone, 1999).
A Psicologia Positiva, vertente da Psicologia que estuda os aspectos positivos do sujeito,relaciona a Empatia com outros construtos, como Resiliência e Esperança, e afirma sua interdependência. A Empatia auxilia no processo de promoção de tolerância, compartilhamento de sentimentos e responsabilidade pelos próprios sentimentos (Yunes, 2003; Masten, 2001).
Antigos paradigmas do envelhecimento relacionavam essa fase do desenvolvimento a perdas neurológicas, físicas, cognitivas e afetivas irreparáveis, levando o sujeito a um estado de dependência e perda do Eu. Com o desenvolvimento do modelo life-span, proposto por Baltes (1997), A aprendizagem passou a ser considerada como um processo ativo também na velhice. Esse modelo vem se desenvolvendo e foi importantíssimo para o desenvolvimento de novas práticas e intervenções (Neri & Yassuda, 2004). Essa mudança de visão se deu principalmente após a descoberta da plasticidade neuronal, que comprovou a capacidade de novas conexões neuronais, possibilitando novas aprendizagens(Hartmann Júnior, Medeiros, Vasconcelos, Rolim Neto, & Gomes, 2017).
Apesar disso, o declínio cognitivo de nível leve ocorre com frequência na população idosa, o que não significa necessariamente a invalidez dessa população. Doenças crônicas, acidentes, falta de suporte social e institucionalização são agravantes desse mesmo declínio, aumentando sua intensidade (Charles & Carstensen, 2010; Gauthier et al., 2006). Déficits cognitivos de qualquer magnitude comprometem o reconhecimento do afeto, e com isso a capacidade de percepção e resposta afetiva, imprescindíveis à Empatia (O'callaghan et al., 2016; Engel, Reiter-Jachke, & Hofner, 2016).
As Habilidades Sociais compreendem as classes de comportamentos sociais que compõem o repertório de um indivíduo. Esses comportamentos favorecem relacionamentos saudáveis, adaptação às demandas do ambiente e competência social para lidar com problemas interpessoais (Del Prette & Del Prette, 2005). Esses comportamentos podem ser aprendidos e desenvolvidos para uma melhor adaptação ao meio. O desenvolvimento natural dessas habilidades depende de variáveis situacionais e culturais ao decorrer da vida, principalmente na infância e adolescência e englobam aspectos comportamentais, afetivos e cognitivos (Del Prette & Del Prette, 2011; Del Prette & Del Prette, 2005).
A Empatia é uma habilidade social responsável pela expressão afetiva de compreensão e a negociação de interesses e necessidades pessoais. A Empatia, assim como outras habilidades, complementa a assertividade, que é responsável pela competência social e o equilibro nas relações. A realização de treinamentos em Habilidades Sociais auxilia na manutenção e desenvolvimento das habilidades empáticas em idosos(Braz & Del Prette, 2011).
O treinamento da Habilidade Empática envolve treinos de assertividade e manejo da raiva, além de intervenções pensadas para cada caso, considerando suas especificidades. Qualquer treinamento em Habilidades Sociais se dá após avaliações que se são realizadas por meio de entrevistas, questionários, escalas, auto-registro e observação (Caballo, 2008).
Diante disso, é importante a produção de artigos para desenvolvimento de instrumentos e intervenções focando essa temática no Brasil. O objetivo desse trabalho é a realização de uma revisão sistemática da literatura sobre a produção científica de artigos no campo da habilidade empática em idosos no contexto brasileiro.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura. As bases de dados LILACS, Scielo e Medline foram consultadas a fim de que pudessem ser encontrados estudos sobre Habilidades Sociais e Empatia em idosos no contexto brasileiro nos últimos dez anos. As palavras-chave "Habilidades Sociais", "Habilidade Empática" e "Empatia" foram utilizadas para a realização da busca. A palavra-chave Habilidade Social foi pesquisada junto às palavras Habilidade Empática e Empatia, Idosos e logo após com cada uma separadamente.
Os critérios de inclusão foram: Estudos de campo realizados no Brasil com população idosa, mesmo que não seja exclusivamente com, e terem sido publicados apenas em periódicos nos últimos dez anos. Por se tratar de um artigo construído para o banco de dados do programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina do ABC Paulista - FMABC, o corte temporal de dez anos se deu a fim de se criar um banco de dados atualizado para o mesmo. Artigos em qualquer idioma foram aceitos, bem como apenas artigos já publicados. A decisão de considerar apenas artigos publicados em periódicos se apresenta como uma forma de refinar os resultados com o objetivo inicial desse trabalho, de compreender o estado de publicações em revistas da temática aqui trabalhada.
Os critérios de exclusão incluíram artigos teóricos, pesquisas de autoria brasileira realizadas em outros países e não apresentar relação com a teoria das Habilidades Sociais. A exclusão de artigos de revisão se deu pelo fato do presente artigo buscar intervenções e instrumentos que vem sendo utilizados em campo e compreender suas dinâmicas de forma detalhada.
O fluxograma abaixo ilustra o processo de busca e seleção dos artigos que serão aqui apresentados (figura 1):
RESULTADOS
Após a realização da busca e refinamento dos resultados, serão aqui apresentados os três artigos resultantes que cumpriram todos os critérios estabelecidos (Tabela 1):
Artigos resultantes da revisão de literatura.
Os três estudos envolvem Empatia, esta aparecendo como foco principal em apenas um.
O primeiro artigo (Carneiro, Falcone, Clarka, Del Prette, & Del Prette, 2007) tratou de uma pesquisa experimental com três populações de idosos diferentes divididos em grupos, a saber: frequentadores de uma universidade aberta à terceira idade; que residem com familiares; e em situação de abrigamento. As variáveis desse trabalho foram: Habilidades Sociais; apoio social; qualidade de vida; e depressão. Este buscou comparar os resultados dos três grupos, que foram submetidos aos mesmos instrumentos, o que lhe deu caráter comparativo (Hochman, Nahas, Oliveira Filho, & Ferreira, 2005).
Os instrumentos utilizados foram o WHOQOL Abreviado (Fleck et al., 2000),Inventário de Habilidade Sociais (Del Prette & Del Prette, 2001), a Medida de Apoio Social (Chor, Griep, Lopes, & Faerstein, 2001), e a GDS-15 (Almeida & Almeida, 1999).
O primeiro trata-se de um questionário composto por 26 itens que medem o fator qualidade de vida, numa escala que vai de 1 a 5 (Fleck et al., 2000). O segundo é indispensável na avaliação de Habilidades Sociais em qualquer população. Ele avalia, em 38 itens, organizados em cinco subescalas: Enfrentamento com risco (11 itens); Auto-afirmação na expressão de afeto positivo (7 itens); Conversação e desenvoltura social (7 itens); Auto-exposição a desconhecidos ou a situações novas (4 itens); e Autocontrole da agressividade a situações aversivas (3 itens) (Del Prette & Del Prette, 2001).
Já a Medida de Apoio Social é dividida em 19 itens em 5 dimensões: Material (4 itens); Afetiva (3 itens); Emocional (4 itens); Informação (4 itens); Interação Social Positiva (4 itens) (Chor et al., 2001). A GDS-15 é composta por 15 itens que possibilitam detectar sintomatologia depressiva em idosos, com respostas simples de "sim" e "não" (Almeida & Almeida, 1999).
Os instrumentos utilizados correspondem as variáveis propostas no estudo. O WHOQOL em sua versão abreviada, apesar de simples, é um instrumento focado na variável qualidade de vida e limita-se a isso, qualquer uso deste para outro objetivo não possui eficácia comprovada por estudos de validação.
O IHS é um instrumento consolidado e comumente utilizado dentro da área das Habilidades Sociais. Amplo, mede de forma precisa as categorias propostas e possibilita levantar hipóteses sobre relação entre suas categorias.
A Medida de Apoio Social mede o apoio recebido em diferentes âmbitos, desde o material ao afetivo, podendo compreender todo o espectro de apoio recebido por quem o preenche, além de cada um de forma separada.
Por último, a GDS é outro instrumento de simples preenchimento, o que facilita sua aplicação para os idosos. Suas perguntas sucintas o torna de fácil correção.
A diferença entre os grupo foi calculada por análise da variância simples. Já a relação entre os instrumentos se deu através do cálculo de correlação, por se tratar de instrumentos com diferentes níveis de mensuração. O nível de significância adotado foi de 5% (Carneiro et al., 2007).
Por se tratar de um estudo amplo que vai além da avaliação da Empatia, focaremos apenas nesta. Os resultados apontam que idosos habilidosos socialmente tendem a manter suas redes de apoio social e possuem maiores índices de qualidade de vida. Comparando os três grupos, constatou-se que os idosos institucionalizados tem um nível maior de comprometimento nas Habilidades Sociais. Isolamento e pouca comunicação podem agravar essa situação. Idosos inábeis socialmente tendem a ter relações sociais restritas e conflitivas. A Empatia só pode ser estimulada no convívio com outros (Carneiro et al., 2007).
Apesar de não apresentarem pontuações altas, os idosos não institucionalizados que não participam de uma Universidade Aberta à Terceira Idade se mostraram mais capazes de demonstrar auto-eficácia. O grupo que participa de uma Universidade Aberta à Terceira Idade apresentou os maiores índices nesse quesito, apresentando respostas adequadas para se recusar um pedido, por exemplo. A Empatia não envolve aceitar todo pedido realizado por terceiros. Não aceitar um pedido qualquer também pode ser uma ação tomada com a ajuda da Habilidade Empática (Carneiro et al., 2007).
Um achado importante nessa pesquisa é a tendência à auto-afirmação na expressão dos sentimentos positivos nos idosos, independente da situação em que vivem, além do autocontrole da agressividade, apesar desse último poder estar comprometido em idosos que residem em abrigos (Carneiro et al., 2007).
Em contrapartida, as situações em que envolvem auto-afirmação com risco se apresentaram um repertório de respostas pobre. Devolver uma mercadoria defeituosa ou discordar do grupo são atividades que requerem um nível maior de habilidade social para a expansão desse repertório. A falta de interação social influi diretamente no desenvolvimento de respostas adaptativas, o que fundamenta os baixos escores do grupo institucionalizado (Carneiro et al., 2007). Isso pode ser visto como um espaço a ser preenchido com investigações futuras.
As limitações da pesquisa referem-se ao baixo número da amostra, impossibilitando generalizações. Um melhor controle das variáveis sociodemográficas é sugerido e apontado como um fator motivador para futuros estudos, bem como o impacto das Habilidades Sociais e do apoio social na remissão da sintomatologia depressiva, possibilitando maior qualidade de vida (Carneiro et al., 2007). O método foi considerado adequado para o que a pesquisa se propõe, pois uma comparação direta entre os grupos ajuda a identificar de forma eficaz suas diferenças.
Já o estudo de Carneiro & Falcone (2013) consistiu em um programa de treinamento de Habilidades Sociais no qual a Empatia foi uma das habilidades abordadas. A pesquisa envolveu um grupo experimental e outro controle. O método experimental possibilita identificar a capacidade de uma variável independente influenciar na modificação da variável dependente (Cozby, 2006). Além disso, a pesquisa apresentou um corte transversal (Jekel, Kats, & Elmore, 2005), por ocorrerem testagens antes e depois de um programa de treinamento. Os instrumentos utilizados para avaliar os critérios de inclusão/exclusão da pesquisa foram a GDS-15 (Almeida & Almeida, 1999) e o MEEM (Brucki, Nitrini, Caramelli, Ertolucci, & Okamoto, 2003). O MEEM é um breve questionário com pontuações que variam de 0 a 30 e rastreia déficits cognitivos, sendo utilizado para o diagnóstico diferencial de demências. Os itens incluem, por exemplo, orientação espacial, temporal, cálculos e memória de evocação Brucki et al., 2003). Por se tratar de um instrumento resumido e inespecífico, são resultados são comumente utilizados como critério de inclusão. Dos 71 participantes inscritos, apenas 40 apresentaram condições de seguir para os treinamentos (Carneiro & Falcone, 2013). Dos 14 encontros, 12 foram de treinamento de Habilidades Sociais e os dois últimos para coleta de dados dos participantes, que consistiu na realização do jogo de papéis, que também foi realizado antes do início dos encontros, o que comprova seu corte transversal. O 13º encontro ocorreu uma semana depois, e o 14º e último após um mês, ambos com caráter de follow-up.
Os jogos de papéis foram aplicados nos dois grupos, experimental e controle. As situações apresentadas foram: iniciar conversação; recusar pedido; expressar opinião pessoal; cobrar dívida; defender os próprios direitos em situações nas quais são oferecidos serviços insatisfatórios; lidar com pessoas com atitudes grosseiras; e fazer pedido com conflito de interesses. Durante os encontros foram utilizadas técnicas como roleplay, debate de filmes, reforçamento e vivências de grupo (Carneiro & Falcone, 2013).
Para a avaliação verbal das situações dos jogos de papéis, juízes foram designados entre os pesquisadores para avaliação, que foram calculadas com base no índice de concordância através do teste de Kappa. As categorias da avaliação (respostas sociais inadequadas, das respostas sociais parcialmente adequadas e respostas sociais adequadas) foram submetidas ao teste qui-quadrado de contingência, assim como as possíveis diferenças entre os grupos experimental e controle. Para a avaliação global do jogo de papéis entre os grupos, foi utilizado o teste de Wilcoxon. 5% foi o nível de significância adotado (Carneiro & Falcone, 2013).
Os resultados apontam que após os encontros, foram detectadas diferenças significativas em situações como: iniciar conversação, recusa de pedidos, cobrança de dívidas, defesa dos próprios direitos, lidar com pessoas grosseiras e fazer pedidos com conflito de interesses. As diferenças nas Habilidades Sociais do grupo experimental e do grupo controle foram ainda mais significativas, provando a eficácia do programa.
A Empatia foi uma dos pontos de melhoria mais sentidos pelos próprios participantes que a colocaram, através de relatos dos mesmos, ao lado da assertividade como os maiores benefícios adquiridos após os encontros. Vale destacar que a terceira coleta, que ocorreu após um mês do fim do treinamento, apresentou resultados semelhantes, evidenciando a manutenção dessas habilidades nos idosos do grupo experimental. O grupo controle apresentou níveis semelhantes, não havendo mudanças efetivas durante o período de realização da pesquisa (Carneiro & Falcone, 2013).
Quanto às limitações, os autores reconhecem a necessidade de estudos com populações maiores, destacando a necessidade do próprio estudo como um importante primeiro passo. A ausência de follow-up com o grupo controle também foi sentida, assim como follow-up na avaliação da satisfação com a vida, afetos positivos e negativos com o grupo experimental. Com isso, os autores se questionam se o grupo experimental teve tempo suficiente para perceberem os efeitos do programa de Habilidades Sociais, em sua totalidade de variáveis, em suas vidas (Carneiro & Falcone, 2013).
Pinho, Falcone & Sardinha (2016) abordam diretamente a Habilidade Empática e o perdão interpessoal através de instrumentos de autorrelato próprios para esse fim. A pesquisa possui método descritivo, pois busca revelar a existência de relação entre dois fenômenos (Gil, 1994).
O Inventário de Empatia (IE) (Falcone et al., 2008) se caracteriza como uma medida de autorrelato, composta por 40 itens divididos em quatro fatores empáticos: Tomada de Perspectiva; Flexibilidade Interpessoal; Altruísmo; e Sensibilidade Afetiva. A respostas variam de 1 - nunca a 5 - sempre. Já o The Enright Forgiveness Inventory (Aalvarenga, Oliveira, Amendola, & Faccenda, 2011; Enright & Rique, 2007) também é de autorrelato e avalia o perdão intepessoal em suas dimensões afetiva, cognitiva e comportamental. São 60 itens, com 20 para cada dimensão. As respostas vão de 1 - discordo fortemente a 6 - concordo fortemente.
Apesar dos instrumentos não serem parametrizados entre si, puderam ser pareados através de cálculo de correlação. Por terem como finalidade a Empatia e o perdão, respectivamente, o IE e o c Inventory foram escolhas acertadas.
A população pesquisada não era toda formada por idosos, contando com participantes entre 18 e 76 anos. O tratamento dos dados se deu através da análise de variância, para verificação de diferenças entre fatores como sexo e estado civil, e a análise de correlação, para investigar idade e escolaridade. O estudo também contou com uma análise de regressão múltipla, para avaliar a predição da Empatia sobre o perdão (Pinho et al., 2016).
Os principais achados nesse estudo, quanto à população idosa, que a escolaridade não possui relação com os níveis de Empatia e perdão interpessoal, assim como o sexo. A Empatia foi detectada como fator preditivo do perdão interpessoal, o que corrobora com a literatura, independente de qualquer variável utilizada na pesquisa (Pinho et al., 2016).
Os autores reforçam a importância da estimulação da Habilidade Empática, como um modo de não guardar mágoas do ofensor, promovendo perdão. O perdão interpessoal gera não só em que perdoa, mas em quem é perdoado, sentimentos positivos (Pinho et al., 2016).
As limitações do estudo, admitidas pelas autoras, se dão pelo fato dos instrumentos apresentarem níveis específicos de medição, o que pode ocasionar uma riqueza menor de achados. Elas apontam para a necessidade de desenvolvimento de avaliações em que os avaliadores, e não apenas os participantes, possam participar das avaliações. Mais estudos são necessários, principalmente com populações maiores, além de pesquisas experimentais, já que se tratou de uma pesquisa de natureza correlacional e de autorrelato (Pinho et al., 2016).
DISCUSSÃO
A pouca produção na área das Habilidades Sociais com a população idosa, visto o aumento populacional desta, causa preocupação. O número de artigos publicados no contexto brasileiro não faz jus à necessidade vigente. Dos três encontrados, apenas um relata um programa de treinamento e seus benefícios, percebidos não só através de instrumentos de mensuração, mas também do autorrelato dos participantes. Os outros dois trabalhos trataram de investigar níveis de diferentes construtos e relacioná-los, tendo a Empatia como uma de suas variáveis, que também é de grande valia. A relação existente entre Habilidades Sociais, depressão, satisfação com a vida e outras variáreis, em idosos, denuncia a necessidade de um olhar mais cuidadoso voltado a essa população. As limitações apresentadas pelos próprios autores mostram a necessidade de produção.
Os programas de treinamento em Habilidades Sociais promovem o desenvolvimento da autonomia, independência, melhora qualitativa e quantitativa nas relações, menor dependência das redes de apoio e sua ampliação (Braz & Del Prette, 2011; Del Prette & Del Prette, 2011; Caballo, 2008). A Habilidade Empática entra aí fator de construção de novas relações e motivadora para a manutenção destas (Del Prette & Del Prette, 2001).
Outro fato a ser pontuado tem relação com a autoria dos trabalhos aqui apresentados. Uma autora está presente em todos, e outra em dois. A restrita quantidade de autores também preocupa e aponta a necessidade de expansão de um campo fértil de pesquisa.
Os instrumentos básicos que norteiam a Habilidade Empática e algumas variáveis relacionadas à esta foram aqui apresentadas. O IHS e o IE são instrumentos consolidados e seu uso pode ser feito com a população idosa. Outros instrumentos visando a busca de relação entre Empatia e outras variáveis podem ser utilizadas em estudos comparativos, transversais, com ou sem programas de treinamento de Habilidades Sociais.
As implicações clínicas do aqui exposto podem ser relacionadas às práticas psicoterápicas. A estimulação da Habilidade Empática no consultório pode auxiliar no tratamento de idosos depressivos, com déficits cognitivos e conflitos familiares. Os resultados dos trabalhos resultantes da revisão sistemática mostram indícios animadores de se trabalhar tal habilidade. Roleplay e psicoeducação são algumas das técnicas normalmente utilizadas na Terapia Cognitivo-comportamental (Beck, 2013) e que também são encontradas em programas de Habilidades Sociais, o que abre espaço para sua utilização em sessão de terapia.
A necessidade de mais estudos se dá para que treinamentos das diversas Habilidades Sociais, incluindo a Empatia, com pessoas mais velhas possam ser legitimados. O treinamento da Habilidade Empática proporciona ao idoso estabelecer laços, ampliando suas redes de apoio, que é de suma importância para a manutenção de uma cognição saudável.
A literatura apresenta exaustivamente a importância das relações interpessoais para a autoestima de idosos, agindo como preventor e aliado no tratamento de quadros psiquiátricos. A Empatia desencadeia o desenvolvimento de vários outras habilidades, como assertividade, resiliência e esperança.
O aprendizado que o treinamento de Habilidades Sociais pode proporcionar auxilia também no fortalecimento da autonomia dessa população (Del Prette & Del Prette, 2011). Graças à descoberta da plasticidade neuronal, as intervenções a população idosa vai além dos aspectos afetivos, focando também na estimulação cognitiva (Malloy-Diniz, Fuentes, & Consenza, 2013). Idosos com a cognição saudável tendem a realizar a maior parte das atividades diárias sozinhas ou com pouca ajuda. Isso mostra que a Empatia está intimamente ligada com todos os aspectos do ser humano, inclusive atuando de modo a fortalecê-los (Taveira, Taveira, & Caixeta, 2014; Forstmeier & Maecker, 2008).
Os estudos discutidos abrem espaço para a discussão da Habilidade Empática a partir de outros pontos de vista. Além de perdão interpessoal, auto-afirmação, reconhecimento do afeto, capacidade de percepção e resposta afetiva, prevenção de sintomatologia depressiva, e outros aqui discutidos, tal habilidade pode ser investigada a fim de buscar relação entre seus níveis e outros fatores promotores de saúde mental. Corroborando com isso, a Psicologia Positiva nos coloca a Empatia como uma capacidade natural do ser humano, capaz de ser estimulada e que atua e influencia nos níveis cognitivos, afetivos, comportamentais e fisiológicos (Krznaric, 2015; Falcone et al., 2008).
A aparente falta de interesse em estudos com idosos deve ser combatida com um movimento cada vez maior visando despertar o interesse no campo ainda nos primeiros anos da academia. A teoria das Habilidades Sociais é rica e possibilita o desenvolvimento e adaptação de práticas calcadas em preceitos científicos previamente elaborados e comprovados mediante alto número de publicações nacionais e internacionais.
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Correspondência:
Jose Antonio Spencer Hartmann Junior
Instituição: Faculdade de Medicina do ABC Paulista - FMABC
Endereço: Av. Lauro Gomes, 2000 - Vila Sacadura Cabral
Santo André - SP. CEP: 09060-870
E-mail: jose_spencer@yahoo.com.br
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBTC em 06 de outubro de 2017. cod. 531.
Artigo aceito em 14 de abril de 2018.