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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.9 no.2 São João del-Rei dez. 2014

 

ARTIGO

 

Impasses gerados pelo trabalho imaterial na vida privada: um estudo sobre os profissionais do esporte

 

Impasses generated by the immaterial work in private life: a study about sports professionals

 

 

Talita Machado VieiraI; Sonia Regina Vargas MansanoII

IMestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UNESP de Assis
IIProfessora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina

 

 


RESUMO

O presente estudo buscou compreender as relações existentes entre o trabalho imaterial afetivo e a vida privada. Para tanto, discorreu-se sobre o que é o trabalho afetivo e como este está relacionado à produção de subjetividade. Em seguida, buscou-se compreender como os afetos produzidos na atividade profissional de atletas profissionais podem relacionar-se com a vida privada. Para atingir tal finalidade, a metodologia adotada envolveu três momentos: primeiramente, foi realizado um levantamento bibliográfico pertinente ao tema nas áreas da Psicologia e da Educação Física; em um segundo momento, buscou-se selecionar depoimentos de atletas profissionais em documentos de domínio público que relatavam suas dificuldades em separar o tempo de trabalho da vida pessoal; por fim, procedeu-se à análise das reportagens com vistas a identificar elementos que evidenciassem o rompimento dessa fronteira entre trabalho e vida privada. Como resultado, pode-se constatar que alguns atletas estão constantemente sujeitos a julgamentos morais por parte da população e que são submetidos a uma série de normas legais que tendem a transformar seu corpo em um objeto a ser administrado pelos clubes e/ou patrocinadores. Como conclusão, foi possível perceber que apesar dos efeitos produzidos na vida privada pelas relações de trabalho, existe, por parte dos atletas trabalhadores, ensaios de resistência aos processos de sujeição tão frequentes nessa profissão.

Palavras-chave: trabalho imaterial, corpo, subjetividade, esporte.


ABSTRACT

This study sought to understand the relationships between the affective immaterial work and private life. For that, the discussion was on what affective work is and how it is related to the production of subjectivity. Subsequently, we sought to understand how the affections produced at the professional activity of professional athletes could be related to their private lives. To achieve this purpose, the adopted methodology involved three moments: first, we made a bibliography survey about the theme in the fields of Psychology and Physical Education; after that, testimonies of professional athletes were selected from public documents which reported their difficulties in separating the working time from their private lives. Last, we proceeded to the analysis of the reports, with the intention of identifying the elements which could demonstrate the rupture of this border between work and private life. As a result, it could be noticed that some athletes are constantly submitted to moral judgments by the population and that they are submitted to a series of legal rules which tend to transform their body in an object to be managed by the clubs and/or sponsors. In conclusion, it was possible to realize that, in spite of the effects produced in private life by the working relations, there are, on the part of the professional athletes, trials of resistance to the submission processes which are so frequent in this job.

Keywords: immaterial work, body, subjectivity, sport.


RESUMEN

El presente estudio busca entender la relación entre el trabajo inmaterial afectivo y la vida privada. Con este fin, habló sobre lo que es trabajo afectivo y cómo esto se relaciona con la producción de subjetividad. Luego trató de comprender como los efectos producidos en la actividad profesional de los atletas profesionales pueden afectar la vida privada. Para lograr este propósito, la metodología adoptada implicó tres fases; En primer lugar, fue realizado un estudio bibliográfico referente al tema en las áreas de Psicología y Educación Física; en un segundo momento, se intentó seleccionar testimonios de deportistas profesionales en documentos de dominio público que reportaran a dificultades en separar el tiempo de trabajo de la vida Personal. Finalmente, se procedió al examen de los informes con el fin de identificar los elementos que muestran la ruptura de la frontera entre trabajo y vida privada. Como resultado, uno puede ver que algunos atletas son constantemente sometidos a juicios morales por parte de la población y que están sometido a una serie de disposiciones legales que tienden a transformar su cuerpo en un objeto que será administrado por patrocinadores y clubes. Como conclusión, se pudo notar que a pesar de los efectos producidos por las relaciones laborales en la vida privada, hay, por parte de los atletas, las pruebas de resistencia a procesos de sujeción tan recuente en esta profesión.

Palabras clave: trabajo inmaterial, cuerpo, deporte, subjetividad.


 

 

Introdução

O trabalho é, talvez, a maneira mais antiga que o homem encontrou para intervir sobre a natureza, modificando-a segundo suas necessidades e desejos. Os modos de organizá-lo diferiram no decorrer da história, respondendo às necessidades sociais, aos avanços tecnológicos e aos impasses econômicos. Ocorre que, desde a segunda metade do século XX, novas relações de trabalho vêm-se configurando de modo a distanciar-se do modelo industrial, no que diz respeito aos produtos gerados e serviços prestados. Trata-se do chamado "trabalho imaterial", que consiste na atividade produtiva e cujos resultados são intangíveis: um sentimento de tranquilidade, o conhecimento ou mesmo a comunicação entre os diversos seguimentos da sociedade são apenas alguns exemplos do que é produzido nessa modalidade laboral (Hardt, 2003). As mudanças, no entanto, não incidem apenas sobre o produto, mas difundem-se por todo o processo produtivo, atingindo o próprio profissional, as habilidades que dele são requeridas, bem como a organização temporal e espacial do trabalho. É nesse sentido que o capitalismo avançado tem provocado efeitos diversos no cotidiano da população. Quais seriam esses efeitos e quais seus impactos, especificamente, sobre a qualidade de vida do profissional que se dedica às atividades do trabalho imaterial?

Para ensaiar respostas a essa questão, cabe, inicialmente, compreender as características dessa modalidade de trabalho. De acordo com Hardt (2003), o trabalho imaterial pode ser dividido em três ramificações: a primeira envolve o setor industrial, a segunda diz respeito a tarefas simbólicas e analíticas e a terceira envolve a dimensão afetiva. Na primeira ramificação, Hardt descreve o processo de incorporação, realizado pelo setor industrial, de novas tecnologias e estratégias para estabelecer uma comunicação efetiva entre o setor produtivo e o mercado consumidor. Afirma Hardt que "o planejamento da produção estaria em comunicação constante e imediata com o mercado" (Hardt, 2003, p. 149). Essa aproximação proporcionou maior flexibilidade ao setor produtivo, que mudou não apenas a maneira de fabricar seus produtos, mas também os próprios produtos fabricados, conforme os índices de preferência ou rejeição do mercado. Tal flexibilidade corresponde àquilo que Sennett (2007, p. 59) denominou "especialização flexível da produção". Segundo o autor, em um regime produtivo desse tipo, as atividades que o operário deve cumprir podem mudar semanalmente e, às vezes, até diariamente. É basicamente o que ocorre com a indústria automobilística: em um determinado mês, a fábrica pode montar e colocar no mercado três mil unidades de um mesmo modelo automotivo, no caso de sua demanda apontar nesse sentido; já no mês seguinte, a mesma fábrica pode dedicar-se à montagem de cinco mil unidades de outro modelo, acompanhando igualmente a mutação das demandas do mercado.

A segunda ramificação do trabalho imaterial encontra-se centrada nas tarefas de cunho criativo e diz respeito aos profissionais que trabalham na elaboração de sistemas de informação, bem como na resolução de problemas. Essa categoria talvez seja a que mais exige capacitação formal do trabalhador. Nela, o profissional é amplamente solicitado a detectar e intervir quando há um problema no sistema operacional que interrompe ou diminui a produção. A busca de resolução de problemas não se limita aos problemas emergentes no interior das fábricas, mas envolve também o contato direto com o consumidor em decorrência de suas demandas, expectativas e problemas a serem analisados pelos profissionais e empresas.

Na terceira ramificação apresentada por Hardt, encontram-se aqueles trabalhadores que operam junto à "criação e manipulação de afetos" (Hardt, 2003, p 152). Todas as atividades que têm como objetivo direto de trabalho a relação com o outro (cliente) podem ser incluídas nesta categoria. Aqui, não há uma distinção baseada no nível de conhecimento formal, de modo que, desde o porteiro de um prédio (que é responsável por anunciar os visitantes, identificar as pessoas, esclarecer dúvidas dos moradores e solucionar alguns problemas simples nos condomínios, transmitindo aos moradores a sensação de segurança), até o médico (que analisa as queixas físicas dos pacientes, interpreta exames, diagnostica doenças e propõe o tratamento que considera adequado a cada caso e que, de certa forma, também transmite a sensação de segurança), todas têm seu trabalho pautado na relação que estabelecem com o outro.

Gorz (2005) assinala, então, uma transformação fundamental entre o tipo de trabalhador que se torna necessário à economia atual e aquele que servia à economia industrial. O autor afirma que o trabalhador da indústria só se tornava "funcional" depois de ter sido destituído de seus saberes cotidianos. Naquele modo de produção, a técnica e a operacionalização a serem empregadas em cada atividade eram prescritas, cabendo ao trabalhador segui-las sem maiores questionamentos.

Em contrapartida, na produção imaterial, algo diferente acontece: ganham relevância os saberes elaborados nas relações do trabalhador com o contexto social. Se antes, as diferenças individuais deveriam ser minimizadas por atrapalhar o processo de produção, nesse novo modo de organização do trabalho são elas que ganham relevância: a capacidade para resolver problemas em uma situação inesperada, o jeito único de desempenhar uma tarefa ou a habilidade para receber os clientes são as características que conferem ao trabalho imaterial sua particularidade. Fica claro, então, que no trabalho imaterial a matéria-prima mais valiosa é a própria vida do sujeito trabalhador, ou seja, as dimensões subjetivas das quais Guattari e Rolnik (1996) falam. Para esses autores, "a subjetividade é essencialmente fabricada e modelada no registro social" (Guattari & Rolnik, 1996, p. 31). Assim, o sujeito está constantemente produzindo, absorvendo e disseminando componentes de subjetivação. Pode-se dizer que se trata de uma existência em movimento, em transformação. Nesse sentido, a preparação de um trabalhador para atuar no campo imaterial já não acontece apenas nos cursos profissionalizantes, mas envolve também a história relacional desse sujeito ou, como assinalado por Gorz (2005), sua bagagem cultural, social e afetiva.

Sennett (2007) mostra que as mudanças nas relações de trabalho, em alguma medida, serviram para combater os males causados pela rotina entediante e fatigante da atividade laboral. Tais mudanças ocorreram mais acentuadamente na segunda metade do século XX, período em que a crise dos mercados exigiu uma transformação nas formas de produção e, consequentemente, nas próprias relações laborais. Este também pode ser compreendido como o período de intensificação da passagem do que Foucault chamou de sociedade disciplinar para aquilo que Deleuze denominou sociedade de controle. Diz Deleuze: "Estamos entrando nas sociedades de controle, que não funcionam mais por confinamento, mas por controle contínuo e comunicação instantânea" (Deleuze, 2007, p. 216). Segundo Pelbart (2000), quando ocorre a crise das instituições de confinamento, sua lógica se dissemina pelo campo social, assumindo formas mais flexíveis. Assim, nota-se que, nesse novo arranjo social do trabalho, eliminaram-se as fronteiras entre os espaços institucionais, favorecendo-se a criação de um espaço laboral mais aberto e diversificado.

Com a diluição das paredes que limitavam as instituições disciplinares, uma atividade, antes restrita a um espaço fechado, estende-se, agora, por diversos campos da vida e das cidades. Assim, em qualquer espaço, podem-se assumir funções distintas e concomitantes, ou seja, "tudo é escola, e tudo é empresa, e tudo é família e tudo é caserna..." (Pelbart, 2000, p. 30). A sucessão ininterrupta da passagem pelas instituições (família, escola, fábrica) é substituída por coexistências: o trabalhador, por exemplo, não está limitado ao cumprimento de uma tarefa dentro da fábrica. Sua atividade se estende para além dos limites da empresa, adentrando em sua vida privada e nos momentos de lazer. Em alguma medida, o tempo livre deixa de ser destinado ao descanso e às atividades de entretenimento para se tornar uma oportunidade de aumentar a produção. Conforme nos esclarece Pelbart: "as fronteiras entre as esferas produtiva e reprodutiva, antes demarcadas, tornaram-se nebulosas. Por exemplo, a produção não fica mais restrita à fábrica, ela invade o tecido urbano, os domicílios, se pulveriza e se mistura com o tempo livre" (Pelbart, 2000, p. 32).

Foi pautado nesse cenário contemporâneo do trabalho que o presente estudo sobre os profissionais do esporte ganhou contornos. Os esportes coletivos podem ser tomados como exemplos de trabalho imaterial, uma vez que as habilidades físicas e relacionais desses trabalhadores vêm sendo cada vez mais requisitadas pela produção capitalista, de modo particular pela denominada indústria do entretenimento. Para Hardt e Negri:

a indústria do entretenimento está, da mesma forma, centrada na criação e manipulação do afeto. Esse trabalho é imaterial, mesmo quando físico e afetivo, no sentido de que seus produtos são intangíveis, um sentido de conforto, bem estar, satisfação, excitação, ou paixão (Hardt & Negri, 2001, p. 313).

Os resultados gerados pelo trabalho imaterial dos profissionais que se dedicam ao entretenimento por meio dos esportes envolvem uma gama de habilidades que vão desde o preparo físico até a desenvoltura para relacionar-se e interagir com os torcedores, fãs e com a equipe. Nessa última, a prescrição tende a perder espaço para a integração, já que cada membro do time tem abertura para cobrar ações e bom desempenho do outro. Assim, os membros de um time tendem a trocar informações entre si e cooperar, visto que todos trabalham por um objetivo comum. Podemos notar, então, que em uma equipe desportiva, existe um elo entre seus membros, destes com a meta a ser alcançada bem como com o público que acompanha as competições. Essa mesma conduta dos esportes coletivos vem sendo disseminada nas empresas em geral. A formação de "times" ou grupos de trabalho com objetivos comuns é considerada, pelo mercado, algo que aumenta a eficiência do controle sobre os trabalhadores e melhora seu desempenho para atingir as metas estabelecidas, eliminando o inconveniente da responsabilização individual pelo fracasso.

Existe ainda outro aspecto a ser analisado nessa relação entre a vida privada e o trabalho imaterial. Até aqui, pode parecer que falamos de uma via de mão única: as experiências vividas "fora" do trabalho que afetam e transformam as maneiras de desempenhar a atividade laboral. No entanto, há que se ressaltar que as experiências ocorridas na esfera do trabalho também produzem diferentes efeitos na vida privada do sujeito. Afinal, se falamos da subjetividade como meio de produção, as experiências de trabalho afetam os corpos e neles repercutem para além da jornada de trabalho.

Para ilustrar isso, podemos recorrer a uma pesquisa recentemente divulgada na mídia. O estudo mostrou quão grandes danos podem causar ao cérebro os esportes de alto impacto, devido às fortes pancadas que os atletas recebem na cabeça; eles podem favorecer o desenvolvimento de agressividade, perda de memória, tremores, paranoia e depressão (Frazão, 2012). A referida pesquisa aborda apenas o aspecto biológico das lesões, deixando de lado as experiências afetivas de trabalho vividas por esses profissionais (marcadas pela pressão e competitividade) e que também podem ter sua parcela de contribuição no agravamento desses quadros.

Diante desse novo cenário, a presente pesquisa levou-nos a questionar: qual é o limite entre vida privada e atividade profissional quando o instrumento de trabalho, no caso dos esportes, é o próprio corpo? O trabalho do esportista permite dar mais visibilidade à maneira como vida privada e trabalho se entrecruzam na atualidade. Afinal, como os acontecimentos da vida privada do esportista podem interferir na sua imagem profissional? Como se dá a adesão dos atletas a um regime intenso de controle sobre o próprio corpo e o desenvolvimento de cuidados constantes? Quais podem ser os efeitos produzidos sobre a vida privada por causa das relações de trabalho? Essas são algumas das questões colocadas para o desenvolvimento deste estudo. Buscaremos responder a elas, ainda que parcialmente, considerando, desde já, a impossibilidade de generalizações rápidas, dados os aspectos singulares que envolvem cada sujeito em suas relações de trabalho.

 

Percurso metodológico

Para a realização da presente pesquisa, optamos pela metodologia qualitativa. Nessa perspectiva, o pesquisador preocupa-se com a problematização do fato social situado no contexto em que foi vivido, dando ênfase aos sentidos que são atribuídos à experiência pelos sujeitos. Recorrendo a esse método, tomamos os depoimentos dos participantes como um dos principais instrumentos de coleta de dados, a fim de compreender os significados que os participantes atribuem ao fato social investigado, considerando seu contexto, sua história e seus efeitos subjetivos. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa busca muito mais que a mera descrição dos dados, posto que tanto o pesquisador quanto o participante atuam no delineamento do problema investigado, expressando suas sensações e elaborando suas análises (Passos, Kastrup e Escóssia, 2010).

Adotando essa perspectiva qualitativa, dividimos a pesquisa em três momentos. No primeiro, fizemos uma investigação teórica sobre o conceito de trabalho imaterial, consultando diversas áreas do conhecimento, como Sociologia, Filosofia e Psicologia. Cada uma dessas áreas contribuiu para circunscrever suas principais características. Em seguida, realizamos leituras especificamente ligadas à área de Educação Física, que auxiliaram no entendimento do esporte como profissão. Além disso, consultamos bibliografias específicas que permitiram analisar o esporte como profissão juridicamente estabelecida e reconhecida.

No segundo momento, analisamos documentos que são considerados de domínio público, como blogs, jornais e revistas na busca por relatos de atletas profissionais que evidenciassem as articulações entre vida privada e trabalho. As entrevistas e reportagens publicadas foram selecionadas a partir da presença de elementos que permitissem compreender as relações subjetivas experimentadas nesse tipo de atividade profissional, o que nos facultou examinar o quanto estes dois contextos afetam-se mutuamente. A opção pelos documentos de domínio público deveu-se ao fato de que, nos veículos de comunicação, o sujeito é exposto e/ou expõe sua vida a um público amplo, precisando arcar com as diferentes repercussões dessa exposição.

Por fim, o terceiro momento caracterizou-se pela organização e análise de dados, de modo que as questões propostas pela pesquisa foram analisadas sob a perspectiva do trabalho imaterial; isso possibilitou cruzar as informações obtidas pelas leituras teóricas com os relatos dos atletas profissionais. Analisamos os depoimentos adotando uma perspectiva historicamente situada, como a desenvolvida nos estudos de Passos et al. (2010), buscando compreender os modos de vida que são produzidos na relação do sujeito com a atividade profissional.

 

Resultados e discussão: sobre o trabalho imaterial do esportista

Discutimos, na introdução deste artigo, como a vida privada do trabalhador está implicada no seu desempenho profissional, uma vez que ele se vale de recursos subjetivos para executar as atividades laborais, especialmente no âmbito do trabalho imaterial. Descrevemos também algumas transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir do avanço do capitalismo. Cabe-nos, agora, compreender como a atividade esportiva configurou-se em uma prática profissional.

Na sociedade moderna, o esporte consolidou-se como atividade relacionada fundamentalmente ao lazer e ao tempo livre. Originalmente associada ao trabalho do corpo, a prática esportiva era vista como um fim em si mesma; havia preocupação com a execução precisa dos movimentos bem como com o processo de formação da desenvoltura esportiva, independentemente dos resultados que essa prática traria. No entanto, conforme os benefícios da atividade esportiva eram descobertos e disseminados, buscou-se incorporá-la ao sistema produtivo. Essa "capitalização" não atingiu apenas o esporte, mas estendeu-se também por diversos momentos do tempo livre. Nas palavras de Rifkin: "Na economia ciberespacial emergente, as forças de rede deslocam todo o tempo livre remanescente para a órbita comercial tornando cada instituição e indivíduo cativo de uma 'comercialidade' disseminada" (Rifkin, 2001, p. 79).

A associação entre esporte e trabalho para atender a fins comerciais começou cedo. Segundo Rubio (2002), durante a Revolução Industrial, dentro das fábricas, o esporte foi utilizado como técnica de controle dos operários, uma vez que a prática desportiva contribuía para atender interesses econômicos (gerar trabalhadores sãos e mais "resistentes"), militares (esportistas são potenciais soldados fortes) e sociais (a educação do corpo contribuía para a prevenção e controle de doenças).

Rubio (2002) assinala ainda que, a partir da década de 70 do século XX, com o estabelecimento de uma relação mais próxima entre desempenho esportivo e dinheiro, a atividade esportiva passou a se configurar como carreira profissional. Alguns dos fatores que contribuíram para estreitar essa ligação foram o avanço tecnológico da mídia, seu papel nas transmissões de competições e o investimento da iniciativa privada em campeonatos, clubes e atletas. Ora, se algumas habilidades desenvolvidas dentro de um contexto esportivo já foram requisitadas pelo capital, como falamos anteriormente, por que não demarcar todo esse território como uma possibilidade de exploração econômica? Ao tornar o esporte uma carreira profissional legalizada e reconhecida socialmente, muitas foram as experiências acumuladas por esses trabalhadores. Passamos a analisar a partir de agora três histórias que evidenciam a quebra de fronteiras entre a vida privada e o trabalho.

No primeiro caso, temos Michael Phelps, um ícone da natação mundial, que teve sua imagem amplamente divulgada na mídia em uma foto na qual fazia uso de canabis sativa (maconha) durante uma festa. O atleta foi punido pela Federação Americana de Natação com a suspensão de quaisquer competições pelo período de três meses. Além disso, também perdeu o patrocínio sob o argumento de que seu comportamento não condizia com a imagem da empresa patrocinadora. É interessante ressaltar que as consequências geradas pela atitude de Phelps derivaram quase exclusivamente do seu status de atleta e figura pública, já que a própria Federação de Natação disse que o uso da substância não viola a regra antidoping (Michael, 2009; Suspenso, 2009). Esse caso permite compreender a tendência de reduzir ao campo do julgamento moral as ações que ocorrem na vida privada de atletas, mas que, uma vez trazidas a público pelos meios de comunicação, causam incômodo ao coletivo. Ao entrar em contato com um modo de existência que coloca em xeque os valores vigentes, a tendência social é proteger-se dele, julgando-o como errado ou imoral. As raízes desta intolerância à diferença podem ser encontradas na análise feita por Sennett (1988) sobre as mudanças sofridas na vida pública: por não conseguirmos conviver com a diferença, elegemos um modo de vida, que passa a ser considerado como o modo correto, saudável e dominante, e tendemos a afastar todas as variações possíveis, julgando-as como incorretas.

Temos aqui o caso de um trabalhador cuja imagem é conhecida e divulgada mundialmente. No entanto, é frequente depararmo-nos com situações cotidianas e distantes da mídia em que um trabalhador é dispensado (ou deixa de ser contratado) pela empresa por não corresponder ao "perfil" dele exigido. É nesse sentido que, cada vez mais, as ações do sujeito fora do contexto de trabalho interferem na sua imagem e desempenho profissionais.

Porém, a exposição dos valores e hábitos pessoais não parece suficiente para esgotar a questão da ligação entre trabalho e vida privada. Também a aparência do corpo e seu desempenho físico comparecem nessa problemática. O caso do jogador de futebol Ronaldo Luís Nazário de Lima serve de exemplo para dar visibilidade a essa questão. O ex-atleta de futebol, contundido em um campeonato, passou por diversas cirurgias no joelho e, após um ano sem jogar, retornou ao futebol em 2009, atuando até início de 2011. Esse retorno foi marcado por muita desconfiança por parte da imprensa e do público em geral, visto estar o atleta visivelmente acima do peso. Apesar disso, ele recuperou a forma e conseguiu bons resultados nesse período. No início de 2011, a polêmica que envolvia seu peso retornou. Mesmo submetendo-se a exercícios e dietas, a recuperação da "forma física ideal", esperada de um atleta, não aconteceu; foi quando o jogador decidiu aposentar-se. Em entrevista, declarou: "Eu queria continuar, mas não consigo. Penso uma jogada, mas não executo como quero. Tá na hora" (Ronaldo, 2011). Esse caso também permite assinalar a frágil fronteira entre trabalho e vida privada, por colocar em evidência algo que não pode ser escondido: o corpo em sua condição física. De acordo com os contratos (alguns formais, mas muitos deles informais) assinados pelos esportistas profissionais, deve haver um comprometimento intenso do profissional para manter sua forma física, e esse comprometimento não se limita ao ambiente de trabalho. Assim, é-lhes exigido que sigam dietas e rotinas de exercícios físicos fora do local de treinamento e também no período de férias. Nesse sentido, podemos levantar a seguinte questão: qual é a duração da jornada de trabalho destinada a um atleta?

Além de todo glamour que é posto em evidência na vida do atleta pela mídia (que destaca as festas, os bens/lucros acumulados e as viagens), esse profissional submete-se a um regime de trabalho intenso e constante. Gorz (2005) destaca a gama de recursos (físicos e subjetivos) utilizados pelo trabalhador para atender os objetivos colocados pelo mercado de trabalho contemporâneo e salienta:

A fronteira entre o que se passa fora do trabalho e o que ocorre na esfera do trabalho, apaga-se, não porque as atividades do trabalho e as de fora mobilizem as mesmas competências, mas porque o tempo da vida se reduz inteiramente sob a influência do cálculo econômico e do valor (Gorz, 2005, p. 25).

No caso do atleta, especificamente, essa exigência é percebida no que tange à necessidade de cuidados com o corpo: manutenção do peso, da forma e do condicionamento físico. Na impossibilidade de atingir tais fins apenas durante o expediente de trabalho, a atividade laboral estende-se até os limites da vida privada que se desdobra, então, num regime de trabalho contínuo. Além disso, o foco desse tipo de trabalho está na competição, na superação dos próprios limites e na conquista de resultados precisos.

Nota-se que o corpo é o elemento central em torno do qual se encontram as principais obrigações, limitações e comprometimentos típicos da profissão de atleta. Sobre o corpo, em seus diversos aspectos, incidem as regras jurídicas de contrato de trabalho cujo objetivo é a regulamentação profissional e a definição dos papéis, bem como o estabelecimento das obrigações das partes envolvidas. No Brasil, a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 (também conhecida como Lei Pelé) dispõe sobre as normas a serem seguidas pelos clubes das diversas modalidades desportivas, bem como pelos atletas profissionais, semiprofissionais e amadores. A referida lei descreve os princípios que devem nortear a formulação do contrato de trabalho do atleta profissional.

Em consulta ao modelo de contrato de jogadores de futebol, que se encontra de acordo com as orientações da Lei Pelé e está disponível no site da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), é possível identificar, na cláusula segunda, que dispõe sobre as obrigações dos jogadores, elementos que contemplam a problemática aqui discutida, a saber, as fronteiras entre vida profissional e vida privada. A alínea "i", da referida cláusula, por exemplo, orienta de forma explícita que o atleta guie sua vida extraprofissional de modo a preservar sua condição física e seu rendimento. Além disso, essa cláusula traz uma série de restrições e orientações ao profissional que, ao assinar o documento, concorda em submeter-se integralmente às diretrizes do clube. Com isso, percebemos o uso dos dispositivos jurídicos como meio de estender o controle sobre o profissional, de modo que "... os atletas são objetos dos clubes, controlados dentro e fora do futebol. Muitos atletas têm sua vida social totalmente organizada em função dos interesses dos clubes, o que muitas vezes implica prejuízos para a vida pessoal" (Rodrigues, 2004, p. 289).

É notável como os contratos extrapolam seus objetivos primeiros de regular as condições de execução do trabalho e acabam transformando o corpo desses atletas em uma espécie de objeto que, sob o ponto de vista capitalista, está sujeito às relações de mercado e suas sanções. Em diversos momentos do contrato utilizam-se expressões como: "compra", "venda", "troca", "empréstimo", referentes ao futuro dos atletas, tal qual destacado por Favero (2010):

Ele mesmo tornou-se uma mercadoria... O jogador pode ser trocado, vendido, comprado e emprestado, como qualquer outra mercadoria. Tem um contrato de dedicação exclusiva e, enquanto estiver contratado por um clube, só pode atuar por outro mediante uma compensação financeira. Ele não é negociado apenas pelo que vale, mas pelo que pode valer e render pelo clube (Favero, 2010, p. 73).

Cabe ressaltar que, em virtude de todo prestígio associado a essa profissão, a entrada no mercado de trabalho começa cedo: garotos de 13 e 14 anos já começam a incorporar, em seu cotidiano, essas prerrogativas de mercado. A transformação dos atletas em "objeto de negociação financeira" fica ainda mais clara por meio dos seguros que eles próprios fazem de partes dos seus corpos, reconhecendo a dependência que têm em relação a certa composição física necessária para a execução de seu trabalho.Desse modo, percebemos que a atenção e preocupação com o corpo são muito mais acentuadas entre os atletas profissionais, visto ser ele a sua própria ferramenta de trabalho. O corpo é profundamente marcado ao longo dessa carreira por diferentes vias. Tais marcas - que se estendem para fora dos gramados, das pistas, das quadras ou piscinas - produzem efeitos em seu encontro com outro (seja esse outro o adversário, um companheiro de equipe, a torcida, o fã, a opinião pública). Os encontros vão tecendo modos de viver, constituindo aquilo que Rolnik (1995) denomina como uma subjetividade processual, uma subjetividade que não se encontra nunca pronta, mas se produz diferentemente em meio aos encontros.

Nesse sentido, analisamos outro caso amplamente divulgado pela mídia: o do goleiro Júlio César. Na copa do mundo de 2010, o Brasil foi derrotado pelo time da Holanda com um placar de 2x1, o que acarretou a eliminação do time brasileiro, nas oitavas de final. O goleiro falhou em um dos lances que resultou em gol do adversário e sentiu-se especialmente culpado pela situação de eliminação. Várias imagens que registraram a chegada de Júlio no Brasil mostraram seu corpo marcado pela frustração decorrente do jogo e, principalmente, por seu desempenho individual. Passados três meses da eliminação, Júlio deu uma entrevista na qual relatou:

Eu ainda lembro quando deito, quando boto a cabeça no travesseiro, eu ainda me lamento, ainda me emociono, eu fico triste realmente... Sair de casa foi o mais difícil, só saí de casa porque o Lúcio me ajudou... Depois de oito dias eu saí de casa... Não saía pra nada, não queria ver ninguém (Espíndola, 2010).

Os efeitos da experiência ainda são sentidos pelo goleiro que, em entrevista à Rádio Fox Esportes em maio de 2013, afirmou que a falha até aquele momento incomodava, mas que isso o ajudou a amadurecer profissionalmente:

Eu ainda carrego isso... Às vezes a vida vai te botar de joelho, né? Então, você vai ficar de joelho se você quiser... Foi um baque, realmente, pra me levantar demorou um pouco, porque Copa do Mundo é uma coisa que mexe com mundo, mexe... É uma coisa incrível (Espíndola, 2013).

Nota-se como uma única situação de trabalho produziu efeitos que repercutiram, por um período considerável, no corpo e na vida desse trabalhador. Sendo o corpo a própria condição da vida, como poderia o sujeito distanciar-se ou mesmo desvencilhar-se das relações de trabalho e das marcas que elas produzem? Como poderia o trabalhador dar conta de analisar, sustentar e elaborar a cobrança social, a fadiga emocional e até mesmo a culpa, que são produzidas nas relações de trabalho?

Essas questões ajudam a pensar que o impacto incessante dos afetos na vida do atleta desdobra-se em outra exigência: a do alto rendimento em competições. Percebemos, nos dois últimos casos analisados, a preocupação com relação ao desempenho e como a distância em relação ao "ideal de herói" produz culpa e descontentamento. Isso parece, em alguma medida, ir ao encontro da expectativa socialmente compartilhada na atualidade sobre a necessidade de alcançar bons resultados, que é colocada acima de toda e qualquer experimentação do sujeito em relação ao seu corpo e ao seu trabalho.

Os efeitos disso são sentidos pelos atletas que se cobram desempenho perfeito a fim de corresponder a esses ideais estereotipados, que são socialmente construídos e sustentados pela produção de publicidade, pelos clubes e pelos lucros gerados no esporte. Assim, o atleta profissional é praticamente convocado a ocupar esse lugar de herói de maneira absoluta. No entanto, quando o encontro com o real promove a dissolução dessa imagem, o trabalhador percebe-se diante de um abismo difícil de ser enfrentado.

Notam-se, então, diversas situações em que o profissional do esporte se vê envolvido em imagens e discursos idealizados que reproduzem a ideia do campeão eterno, o que abre espaço para conflitos e polêmicas, assim como para críticas e juízos de valor, que atingem também sua vida privada. Esta, que foi sendo sutilmente incorporada pelo trabalho (com os regimes de horário flexíveis, como vimos), acaba tornando-se sua extensão. Com isso, o sujeito transforma-se integralmente em trabalhador, abrindo mão de determinadas experimentações, que são tidas como "contrárias" à sua prática profissional, e revelando uma espécie de sujeição às cláusulas contratuais de trabalho.

 

Considerações finais

No decorrer desta pesquisa, discutimos questões que envolvem o esportista profissional em sua condição de trabalhador imaterial. Resgatando a definição de trabalho imaterial aqui utilizada, pudemos compreender que o produto final gerado por essa atividade são os afetos e sensações que, pela via do entretenimento, atingem tanto os esportistas quanto os espectadores e torcedores. Além disso, vimos que os atletas experimentam os afetos produzidos pelas relações de trabalho de distintas maneiras, por vezes, estendendo-os à vida privada. Assim, o resultado do trabalho do esportista é, em parte, a experimentação e a produção do próprio corpo e das imagens por ele veiculadas. Em outro sentido, os efeitos das relações pessoais também se fazem presentes no expediente de trabalho, seja por meio de julgamento sobre sua competência profissional, seja por sua disposição física para trabalhar.

Neste trabalho de pesquisa, pudemos desenvolver também a noção de que é o corpo deste profissional o elo que possibilita os atravessamentos entre as vidas privada e profissional. Atravessamentos esses que promovem uma verdadeira formatação do corpo, interferindo mutuamente em sua disponibilidade, física ou afetiva, para as experimentações em cada um desses seguimentos da vida. Como foi abordado, é ele, o corpo, o alvo dos dispositivos legais dos contratos de trabalho, das disciplinas de treinamento e das restrições (tanto físicas quanto afetivas) que visam à objetificação e submissão desse substrato vivo, na tentativa de reduzi-lo a um produto (Rodrigues, 2004; Favero, 2010).

Foucault (1988) demonstra que uma norma instituída não existe em absoluto, mas abriga também estratégias de resistências que se lhe opõem ou criam modos distintos de conexão com o mundo. Essas resistências não se dão, necessariamente, de forma direta por meio da negação da norma, mas podem ser muito mais sutis e diversificadas, atualizando inversões de poder nem sempre fáceis de serem localizadas. Os atletas profissionais encontram-se, por uma série de dispositivos legais, vinculados a seus clubes numa relação que comporta formas de sujeição. Mas, será que essa relação é tão unilateral? Será que o corpo é passível de transformar-se em um objeto tão passivo, como preconizam os dispositivos legais existentes no meio desportivo?

Para elucidar alguns indícios dessas resistências no meio esportivo, podemos citar movimentos como o da Democracia Corintiana, na década de 1980, bem como o atual Bom Senso Futebol Clube. No entanto, isso não é tudo. É curioso o fato de que ambos foram relacionados, inclusive por aqueles que deles participaram (e participam), com os momentos de insatisfação mais ampla no país (em 1980 a luta pela democratização e fim da ditadura militar, em 2013 as manifestações populares de junho), mostrando a ligação que parece haver entre o futebol e a vida cotidiana da sociedade brasileira (Sócrates & Gozzi, 2011; Benini, 2013). É importante destacar aqui que não se trata de discutir se o futebol é reflexo da sociedade ou vice-versa, mas é inegável a extrema cumplicidade existente entre ambos.

Entendemos que essas manifestações e reivindicações configuram uma ação politizada que denuncia a insatisfação desses profissionais e luta pela melhoria de sua condição de trabalho. Mas, além do movimento coletivo, existem ações pontuais que envolvem o uso da imagem fora do que se encontra estabelecido no contrato, ações privadas que não podem ser facilmente controladas, como: o consumo de substâncias (alimentares inclusive) que podem comprometer o condicionamento físico do atleta e as frequentes "escapadas" durante o período de concentração do time ou delegação; ações essas que são delatadas pela mídia e apresentadas ao público como contrárias à "essência" do esporte.

As diversas normas estabelecidas para tentar controlar o corpo dos atletas, bem como a relação direta entre atividade esportiva profissional e produção de lucro produzem efeitos significativos nas experimentações que os atletas fazem do corpo e do esporte, como expusemos ao longo deste trabalho. Notamos que essas questões ganham força de expressão na atualidade e, sem dúvidas, articulam-se à produção de subjetividades. E isso se estende a outras categorias esportivas, como as dos semiprofissionais e amadores.

Poderia a confluência desses fatores econômicos, normativos e idealizados estar contribuindo para a restrição da prática esportiva a uma lógica de competitividade, na qual o que realmente importa é a obtenção de resultados e lucros? E, além disso, qual seria o custo afetivo para que esses trabalhadores mantenham uma prática esportiva pautada exclusivamente nesses preceitos? Como constatado no decorrer deste estudo, os impasses produzidos pela confluência entre vida profissional e privada são diversos e, por vezes, podem culminar no adoecimento, na exclusão social e nas perdas de contratos de trabalho. Entretanto, o debate dessas questões serve como uma espécie de alerta para dar visibilidade às novas configurações que o trabalho imaterial ganha na contemporaneidade e, em especial, nessa categoria profissional.

 

Referências

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Recebido em: 13/03/2014
Reformulado em: 20/10/2014
Aceito em: 07/11/2014

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