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Pesquisas e Práticas Psicossociais
versão On-line ISSN 1809-8908
Pesqui. prát. psicossociais vol.11 no.3 São João del-Rei set./dez. 2016
O debate sobre álcool, crack e outras drogas na formação universitária e o papel dos profissionais da rede intersetorial em uma ação de educação em saúde1
The debate on alcohol, crack and other drugs in the education and the role of the professionals of the intersectoral network in a health education action
El debate sobre alcohol, crack y otras drogas en la educación y el papel de los profesionales de la red intersectorial en una acción de educación para la salud
Andrea Donatti GallassiI; Camila Isabel Cruz SouzaII; Maria de Nazareth Rodrigues Malcher de Oliveira SilvaIII
IMestre e Doutora em Ciências da Saúde. Pós-Doutora pelo Centre for Addictionand Mental Health (CAMH), Universidade de Toronto (2015). Professora Adjunta III do curso de Terapia Ocupacional e do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), campus Ceilândia. Esteve cedida por dois anos (2010 a 2012) para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), do Ministério da Justiça, como Coordenadora-Geral de Capacitação. Foi consultora técnica da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, do Ministério da Saúde (06/2012 a 12/2012), colaborando com a execução das ações do Programa Crack, É Possível Vencer. É coordenadora-geral do Programa de Extensão Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas (CRR/FCE/UnB) da UnB, campus Ceilândia, e líder do Grupo de Pesquisa CNPq de mesmo nome. Tem experiência na área de saúde mental e saúde pública, com ênfase em intervenção psicossocial para pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas, e políticas de álcool e outras drogas, incluindo grupos específicos, como menores de idade em conflito com a lei. E-mail: andrea.gallassi@gmail.com
IIEstudante de graduação em Terapia Ocupacional pela Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília (FCE/UnB) e Bolsista de Extensão do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da FCE/UnB. E-mail: camilaisa.95@gmail.com
IIIGraduada em Terapia Ocupacional pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Especialista em Saúde Mental, Mestre e Doutora em Psicologia Clinica pela Universidade de Brasília com ênfase em redes sociais na saúde mental, educação permanente em saúde, práticas terapêuticas e competências dos profissionais dos CAPS AD. Professora Adjunta do curso de Terapia Ocupacional da UnB, campus Ceilândia. É coordenadora adjunta e pesquisadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da UnB, Faculdade Ceilândia (CRR/FCE/UnB), desenvolvendo pesquisa na temática de saúde mental, dependência química, relacionando as politicas públicas, a rede social, a funcionalidade e saúde e a formação e competência dos profissionais em serviço. E-mail: mnmalcher_to@yahoo.com.br
RESUMO
INTRODUÇÃO: O processo histórico das políticas públicas em saúde promoveu um avanço na forma de produzir o cuidado e como consequência a necessidade de associação entre ensino, pesquisa e extensão, requerendo novos investimentos formativos em temas contemporâneos, como a educação permanente sobre drogas e suas vulnerabilidades associadas.
OBJETIVO: Apresentar o projeto de extensão Roda de Debate sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas como uma ação de educação permanente para o fortalecimento da interação de atores intersetoriais e a comunidade acadêmica.
MÉTODO: Estudo do tipo misto sequencial utilizando dados quantitativos e qualitativos, realizado por meio da aplicação de questionários e entrevistas. Os dados quantitativos foram analisados utilizando o software SPSS e os dados qualitativos a análise de conteúdo categorial. Resultados e Discussão: Os resultados mostraram um espaço relevante de educação permanente aos profissionais e mudanças importantes na percepção dos participantes sobre o tema drogas. Observa-se a necessidade de ampliar e qualificar a extensão universitária oferecendo alternativas de aprendizado, especialmente sobre temas permeados por mitos e pouco abordados nos currículos dos cursos de graduação.
Palavras-chave: Extensão universitária; Álcool e outras drogas; Educação permanente.
ABSTRACT
INTRODUCTION: The historical process in public policies promoted a breakthrough in the form of care delivery in health and, as a consequence, the need for associating teaching, research and extension, resulting in the necessity for new training investments, such as continuing education on current issues as the problem of drugs and the associated vulnerabilities.
OBJECTIVE: Present the extension project Debate Round on Drugs and Associated Vulnerabilities as a continuing education action to strengthen the interaction between intersectoral actors and academic community.
METHOD: Study of sequential mixed type using quantitative and qualitative data, conducted through questionnaires and interviews. Quantitative data were analyzed using the SPSS software and qualitative datausing the categorical content analysis. Results and discussion: The results showed the significant opportunity of continuing education to professionals and major changes in the perception of the participants on the drugs topic.It is necessary to expand and qualify the university extension programs offering learning alternatives especially on issues permeated by myths and little addressed in the curricula of undergraduate courses.
Keywords: University extension; Alcohol and other drugs; Continuing education
RESUMEN
INTRODUCCIÓN: El proceso histórico en las políticas públicas promovió un gran avance en la forma de prestación de la atención en salud y como resultado la importancia de la asociación entre la enseñanza, la investigación y la extensión, dando como resultado la necesidad de nuevas inversiones en formación, como la formación continua sobre temas de actualidad, como el problema de las drogas y las vulnerabilidades asociadas.
OBJETIVO: Presentar el proyecto Rueda de Debate sobre Drogas y Vulnerabilidades Asociadas como una acción de educación continuada para fortalecer la interacción de los actores intersectoriales y la comunidad académica.
MÉTODO: Estudio de tipo mixto secuencial a partir de datos cuantitativos y cualitativos, llevado a cabo con cuestionarios y entrevistas. Los datos cuantitativos se analizaron utilizando SPSS y los cualitativos usando el análisis de contenido categorial. Resultados y Discusión: Los resultados mostraron una importante oportunidad de educación continua de los profesionales y grandes cambios en la percepción de los participantes sobre el tema de las drogas. Se señala la necesidad de ampliar las alternativas que ofrece la extensión universitaria sobre temas permeados por mitos y poco abordados en la formación universitaria.
Palabras claves: Extensión universitaria; Alcohol y otras drogas; Educación continuada.
Introdução
No início do século XIX, surgiram as primeiras Escolas de Ensino Superior no Brasil com a chegada da família real portuguesa e da necessidade de profissionais qualificados, principalmente nas áreas de Medicina, Engenharia e Direito. Posteriormente, entre a Revolução Industrial de 1930 e o Golpe Militar de 1964, surgiram várias universidades públicas no Brasil que, a princípio, eram orientadas a dar mais ênfase ao ensino do que à pesquisa, e eram instituições isoladas, voltadas para uma minoria da população (Martins, 2002; Stallivieri, 2009).
No entanto, com o movimento da reforma universitária de 1968, fixaram-se algumas normas de organização e funcionamento do ensino superior, como a relação entre ensino, pesquisa e extensão, deixando de ser apenas uma instituição de ensino e passando a ser centro do saber, necessitando, com isso, transformar-se com uma formação acadêmica humanista, crítica e reflexiva, estimulando a vivência de distintas formas de pensar e, assim, produzir e socializar o saber (Fraga &Siano, 1991). A partir dessas reformulações, as universidades passaram a acompanhar aspectos relacionados às transformações sociais, como no caso do campo da saúde mental, modelando-se para atender as diretrizes da área.
Uma dessas transformações foi a Reforma Psiquiátrica, amparada pela Lei nº 10.216/01, que instituiu profundas mudanças no modelo de cuidado em saúde mental, álcool e outras drogas, e segue avançando para a consolidação de políticas públicas nesse campo, por meio de ações de prevenção, cuidado e formação.
No caso do cuidado das pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas, a abordagem transformou-se ao longo do tempo, deixando de ser a abstinência a única forma possível de tratamento e cuidado, passando a considerar outras relações com o uso de drogas que não exigem, necessariamente, a interrupção do consumo, como as estratégias de redução de danos. Os anos 2000 foram significativos para o campo, com a implementação da Política Nacional sobre Drogas (PND) e seus pressupostos baseados no cuidado integral e intersetorial, nos direitos humanos e nas abordagens de redução de danos, além da ampliação na oferta de serviços de saúde e de assistência social (Alves, 2009; Sodelli, 2010; Machado & Boarini, 2013).
Nesse processo, em 2011 foi implantando pelo Governo Federal o que mais tarde se denominou Programa Crack, É Possível Vencer, com investimentos em três eixos de atuação - cuidado, autoridade e prevenção -, objetivando estruturar a rede de atenção às pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas e seus familiares; reprimir o tráfico, o crime organizado e garantir a segurança pública; fortalecer o vínculo familiar e comunitário; reduzir os fatores de risco associados ao uso problemático de drogas; e capacitar os profissionais para oferecer um melhor cuidado àqueles que dele necessitam (Brasil, 2013).
Dentre as estratégias normatizadas pelo eixo prevenção, encontram-se os Centros Regionais de Referências (CRR) em parcerias com as instituições públicas de ensino superior, que têm por objetivo desenvolver ações presenciais de educação permanente sobre drogas para os profissionais que integram os dispositivos de saúde, assistência social, de educação, segurança pública, Ministério Público, Poder Judiciário, instituições do Sistema Nacional de Socioeducação - que atendem adolescentes em conflito com a lei -, como também ações para mapear e articular os diferentes setores que atuam na abordagem dessa população (Brasil, 2012).
A educação permanente proposta pelos CRRs busca promover possibilidades reflexivas, participativas e de autocrítica sobre a organização do cuidado desenvolvida pelos profissionais junto das pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas, seus familiares e a própria comunidade, podendo ampliar conhecimentos e saberes, e desenvolver uma postura ativa que possibilite transformações nas práticas e na rede de serviços, tornando-se, portanto, um processo descentralizado, ascendente e transdisciplinar (Ceccim, 2005).
Portanto, os CRRs se mostram como oportunidades para as instituições de ensino superior desenvolver estratégias de educação, extensão e pesquisa sobre drogas e, assim, atuar tanto na aprendizagem do próprio ensino superior quanto para a educação permanente. Para Rodrigues (2011), quando a associação entre ensino, pesquisa e extensão é bem articulada, pode promover mudanças relevantes nos processos de ensino e aprendizagem; diz, ainda, que isso contribui de forma ativa para a formação profissional de discentes e docentes, fortalecendo o processo pedagógico de formar um profissional e um cidadão.
Nesse cenário, este estudo objetiva descrever e analisar uma experiência de extensão universitária associada a um espaço de educação permanente para os profissionais participantes das atividades de um CRR, e para os discentes da universidade a qual este CRR está vinculado, compreendendo a experiência da educação permanente e da extensão universitária nos processos formativos sobre a temática drogas e suas vulnerabilidades associadas.
Material e Método
O local e os sujeitos do estudo foram o projeto de extensão denominado Roda de Debate sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas e seus participantes. Este projeto pertence a um dos eixos de educação permanente que compõem o Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Faculdade Ceilândia, Universidade de Brasília (CRR/FCE/UnB), onde é realizado um espaço dialógico entre os profissionais da rede intersetorial e a comunidade acadêmica, por meio de debates sobre temas transversais à discussão sobre drogas.
No CRR/FCE/UnB a formação/capacitação profissional acontece por meio de cursos temáticos no formato de aulas teóricas, como também atividades de matriciamento in loco, proporcionando espaços de troca do conhecimento aprendido na teoria articulado com a discussão prática sobre o cotidiano dos serviços com profissionais e seus usuários. O matriciamento ou apoio matricial surge na perspectiva de proporcionar retaguarda especializada aos profissionais não especialistas em saúde mental. Sendo assim, uma metodologia de trabalho compartilhado para enriquecer as práticas de saúde mental promovendo a horizontalidade entre as equipes de saúde e a rede intersetorial (Campos, 2009; Campos & Domitti, 2007). Além disso, o CRR/FCE/UnB coordena projetos de pesquisa e extensão relacionados ao tema drogas numa perspectiva de saúde pública.
Os encontros da Roda de Debate sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas ocorrem quinzenalmente na FCE/UnB e cada um deles busca explorar um tema específico dentro do tema maior "drogas". O cronograma do semestre com os temas e seus respectivos debatedores é divulgado com antecedência, favorecendo o planejamento para a participação da comunidade acadêmica da UnB. Os profissionais da rede intersetorial participantes das atividades do CRR/FCE/UnB são convidados para mediarem cada debate, trazendo sua experiência desenvolvida no serviço em que atua.
A abordagem do estudo ora apresentado foi do tipo misto sequencial, utilizando estratégias de pesquisa exploratória, descritiva, quantitativas e qualitativas (Creswell, 2011). Em cada Roda de Debate foi realizado o levantamento de dados de pesquisa por meio de dois instrumentos: 1. aplicação, em uma amostra de 10 participantes, de um protocolo dividido em duas partes; uma com 10 questões abertas e fechadas sobre dados sociodemográficos, formação realizada e avaliação sobre o debate; e a segunda parte contendo 15 afirmativas para o participante escolher as cinco concordantes em relação à autopercepção sobre contextos relacionados ao consumo de drogas e suas vulnerabilidades; e 2. entrevista com cinco debatedores, por meio de quatro questões abertas, para levantar a percepção deles em relação ao projeto como espaço formativo.
A descrição do projeto de extensão e os dados coletados na Roda de Debate referiram-se ao período de maio de 2013 a junho de 2015, no qual participaram 38 mediadores convidados de diversas áreas, como do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Tribunal de Justiça, Ministério Público, Educação e Organizações não Governamentais, como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e o Coletivo da Cidade Estrutural de Brasília, com uma média de 40 participantes por encontro. No total foram analisados 331 protocolos dos participantes e cinco entrevistas dos debatedores.
A caracterização do projeto foi organizada por meio dos registros sobre os temas de cada encontro ao longo do período. Os dados coletados do protocolo respondido pelos participantes foram tratados utilizando o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 21, e analisados por meio da frequência das variáveis, observando o predomínio apresentado em cada uma delas.
Os dados das entrevistas realizadas com os profissionais debatedores foram organizados por meio de planilha categorial, considerando a autopercepção na participação da atividade, o investimento na formação universitária, e os benefícios e dificuldades desse tipo de ação. Posteriormente, foram analisados os conteúdos de cada variável e extraídas palavras-chaves que foram utilizadas neste estudo apenas de forma ilustrativa por meio de vinhetas.
Esse procedimento possibilitou descrever e analisar uma experiência em educação permanente sobre a temática drogas e suas vulnerabilidades associadas e observar aspectos processuais quanto à aprendizagem, por meio da promoção de um espaço reflexivo e de relação entre ensino e serviços da rede intersetorial oportunizado pelos profissionais participantes dos debates. O estudo seguiu os parâmetros da Resolução CONEP nº 466/12, sobre ética em pesquisas com seres humanos, recebendo aprovação de nº 353.571 do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília.
Resultados e Discussão
Os resultados do estudo serão apresentados em duas seções: 1. o desenvolvimento do projeto no período de 2013 a 2015, a descrição dos temas abordados e os aspectos relevantes sobre os debates; 2. a caracterização dos participantes e mediadores e suas percepções sobre esse espaço formativo.
O desenvolvimento do projeto de extensão Roda de Debate sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas no período de 2013 a 2015: descrição dos temas abordados e os aspectos relevantes sobre os debates
A Roda de Debate é uma ação de extensão que compõe o rol de atividades desenvolvidas pelo Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Faculdade Ceilândia, um campus descentralizado da Universidade de Brasília (FCE/UnB) que foi planejado para ampliar a oferta de ensino superior à população residente do Distrito Federal e dos municípios que compõem a Rede Integrada de Desenvolvimento do Entorno do Distrito Federal (RIDE/DF). Todos os cursos oferecidos pela FCE/UnB são voltados para a área de saúde (Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Saúde Coletiva, Enfermagem, Farmácia e Fonoaudiologia), com enfoque interdisciplinar, reforçando a capacidade técnica e a necessidade de articulação e diálogo constantes com o Sistema Único de Saúde (SUS) e suas redes correlatas (De Paula et al., 2014).
As temáticas da Roda são voltadas às vulnerabilidades associadas ao uso problemático de drogas, as quais incluem questões sociais e econômicas, de gênero, raça, violência, dentre outras. Tal enfoque se justifica tendo em vista que tais temas representam grandes desafios sociais e de saúde pública, além de serem anteriormente pouco ou não abordados nos currículos acadêmicos. Além disso, com relação ao campo da saúde, a compreensão desse fenômeno complexo vem desafiando os profissionais a adotarem condutas capazes de abordar de forma dinâmica e integral os diferentes aspectos constituintes do uso problemático de álcool e outras drogas. Isso esbarra, muitas vezes, na formação majoritariamente tradicional durante seu processo de profissionalização (Barros, 2008; Gallassi & Dos Santos, 2013).
Nesse contexto, a extensão universitária caracterizou-se como um espaço relevante para a abordagem desse tema, e no caso da Roda de Debate, tornou-se estratégico, na medida em que se integra aos objetivos do CRR/FCE/UnB, uma vez que desenvolve, na perspectiva da educação permanente, a participação dos atores intersetoriais - profissionais participantes da formação realizada pelo CRR/FCE/UnB - como mediadores do debate na comunidade acadêmica, oportunizando espaços de socialização das experiências dos profissionais da rede intersetorial e fortalecendo a construção de uma postura crítica na formação acadêmica dos discentes.
A contribuição da Roda de Debate na criação, aperfeiçoamento e constituição de uma comunicação constante e vinculada entre a universidade e a comunidade sobre o tema drogas na forma de debates, mostra-se como uma forma de explorar limites práticos e teóricos sobre os diferentes aspectos que permeiam esse tema, permitindo um espaço reflexivo e relevante para todos os envolvidos e, consequentemente, à formação acadêmica e à educação permanente dos profissionais.
A Roda se inicia com uma breve contextualização sobre o tema do dia e o debate é disparado a partir do recurso proposto pelo mediador, podendo ser um filme curto, uma dinâmica ou uma apresentação dialogada. Durante o desenvolvimento do debate, os estudantes bolsistas auxiliam em tarefas administrativas, como a organização da lista de frequência, auxiliando o mediador, bem como aplicando os protocolos de pesquisa e construindo o diário da atividade, dentre outras.
No período considerado para o presente estudo, foram debatidos temas diversos, dentre os quais: 1. políticas públicas qualificadas e estrategicamente eficazes; 2. contextualização do universo da juventude e a complexidade do uso de droga; 3. atuação dos profissionais de saúde em grupos vulneráveis; 4. trabalho interdisciplinar dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS ad); 5. o meio sociocultural como influência na formação de conceitos sobre usuários problemáticos de drogas; 6. Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) como recursos de ajuda para pessoas em uso problemático de álcool e outras drogas; 7. os diferentes processos clínicos do uso problemático de álcool e outras drogas e possibilidades de intervenção; 8. a singularidade no cuidado do usuário com direitos e escolhas; 9. vivência das pessoas em situação de rua e as possibilidades para o cuidado; 10. perfil da juventude em medida socioeducativa e análise de vulnerabilidades da juventude negra do Distrito Federal.
Além disso, a Roda de Debate participou do itinerário nacional de divulgação e debate do filme brasileiro Ilegal, que retrata a luta de mães de crianças portadoras de crises convulsivas recorrentes para a aquisição do medicamento feito com um dos componentes da maconha, o canabidiol, além da discussão sobre a regulação da planta para fins medicinais, questionando a atual política de drogas com foco proibicionista no Brasil.
Caracterizando os participantes e mediadores e suas percepções sobre o espaço formativo da roda de debate
Os participantes são, em sua maioria, acadêmicos dos cursos da área da saúde existentes no campus UnB-Ceilândia, dos quais 44% eram de Terapia Ocupacional, 24% de Fisioterapia, 17% de Saúde Coletiva, 7% de Enfermagem, 5% de Fonoaudiologia e 3,5% de Farmácia. Embora a missão do campus Ceilândia seja a formação do profissional de saúde com vistas à inserção no SUS e à interlocução comunitária, observou-se a participação de um percentual reduzido de estudantes do curso de Farmácia e Fonoaudiologia, sendo a maioria do curso de Terapia Ocupacional. Essa participação distinta entre os discentes dos cursos pode estar associada ao enfoque psicossocial dado na formação dos cursos de maior participação - Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Saúde Coletiva -, que acabam dialogando mais estreitamente com as discussões propostas pela Roda de Debate, o que não ocorre nos cursos com enfoque maior em questões de ordem biomédica - Fonoaudiologia e Farmácia.
Esses resultados demonstram a relevância desse espaço na formação dos discentes, os quais confirmam achados em outros estudos, que discutem sobre a necessidade de preparar os estudantes para uma formação mais ampla e abrangente que proporcione o encontro de diferentes áreas do conhecimento, combinando saberes que permitam entender esse fenômeno sob diferentes perspectivas (Barros, 2008; Almeida, et al., 2011; Costa, 2012; Araujo, et al., 2013; Gallassi& Santos, 2013).
Com relação às características dos universitários participantes, observou-se que há uma distribuição homogênea com relação ao semestre que estão cursando: 14% são do segundo semestre, 15% do terceiro, 13% do quarto, 12% do quinto, e 12% do sexto; já os discentes do oitavo (2%) e do nono (2%) semestres tiveram uma participação menor, o que pode estar relacionado ao processo de finalização da graduação e a sobrecarga de atividades próprias desse período.
Como indicado no estudo de Asinelli-luz (2008), há aspectos motivacionais que estimulam o retorno dos discentes aos debates sobre o tema drogas. Na Roda de Debate, quando perguntado para os discentes sobre o papel desse espaço na sua formação, foram relatados: o aumento de conhecimentos específicos (58,5%); a promoção da reflexão sobre as temáticas (50%); complementação da formação (44%); estímulo no interesse pelo tema (30%); estímulo ao pensamento crítico (13%) e espaço para orientações sobre o tema (11%).
No tempo decorrido da Roda de Debate, foi observado o aumento de novas participações e assiduidade de 72% dos participantes, que retornaram uma média de duas a três vezes. O resultado do instrumento aplicado aos participantes sobre a autopercepção sobre drogas apresentou um ranking de prevalências (Tabela 1), no qual foi observada uma tendência positiva, ao longo do tempo de participação nos debates, quanto ao entendimento do uso problemático de drogas a partir de uma visão mais humanizada, corroborando com as diretrizes estabelecidas para o cuidado em saúde mental.
Das 15 afirmativas do checklist, as oito mais citadas apresentaram percepções mais positivas sobre o usuário problemático de drogas e que vão ao encontro dos pressupostos estabelecidos pelo modelo psicossocial de cuidado. A tendência positiva das percepções pode estar relacionada ao estímulo gradativo promovido pelos debates, com mudanças no discurso dos discentes participantes, os quais, inicialmente, apresentavam falas com conteúdo de juízo moral e uma postura mais introspectiva e pouco participativa.
As três afirmativas mais votadas apresentam conteúdos sobre tratamento, acesso às drogas e inclusão do usuário problemático ao tratamento pelo viés da comunidade, percepções essas que se encontram presentes nas recomendações instituídas pela Política Nacional sobre Drogas. Em contrapartida, ainda foram apontadas afirmativas que representam o modelo de cuidado centrado no hospital e na abordagem repressora ao usuário, mostrando que, apesar das transformações nas políticas sobre droga e de saúde mental, ainda prevalece o paradigma de cuidado e abordagem da pessoa que faz uso problemático de drogas a partir de pressupostos advindos do modelo repressor e proibicionista, como uma sociedade sem drogas e o uso das forças policiais como estratégia de abordagem de usuários, como também observado em outros estudos (Alves, 2009; Sodelli, 2010; Garcia, Fabióla & Cassiane, 2008).
Quando perguntado sobre a percepção dos participantes com relação às pessoas em uso problemático de drogas, algumas respostas se apresentaram de forma ambivalente, conforme descritas na Tabela 2.
A maioria dos participantes considerou que a pessoa que faz uso problemático de drogas não é delinquente (100%), ao mesmo tempo em que não a considera um cidadão (64%); a maioria, ainda, acredita que essas pessoas não precisam de internação (95%), não são doentes (93%), não são um problema social (69%), mas precisam de ajuda (52,4%).
A partir desses dados, foi possível observar que essa atividade se mostrou relevante para o processo de formação dos acadêmicos e demais participantes sobre um tema bastante polêmico e pouco abordado de forma pragmática e baseado em evidências científicas. A Roda de Debate proporcionou a realização de um espaço de conhecimento informal, dialógico, atual, transversal e dinâmico, distinguindo-o do espaço e da estrutura das disciplinas desenvolvidas em contexto formal de ensino em sala de aula, conforme ilustrado na vinheta a seguir, a partir da fala de um dos mediadores sobre os projetos de extensão, como a Roda de Debate, e sua contribuição para a formação.
Auxilia... [pausa] auxilia, porque o conhecimento não pode ser monotemático, ele não está só na sala de aula, ele está muitas vezes em algo que não cabe na sala de aula, que é essa troca menos diretiva, né... O debate tem uma troca de impressões, de leituras, e é muito mais livre. Eu acho que auxilia sim (Mediador 3).
As limitações do modelo clássico de educação têm sido constantemente questionadas no âmbito acadêmico e representam um dos grandes desafios da universidade do futuro, conforme apresentado em diversos estudos (Wallerstein& Bernstein, 1998; Hmelo-Silver, 2004; Smith et al., 2005).
Nesse sentido, a Roda de Debate pode ser considerada como um espaço favorável para a discussão das dificuldades e construção de conhecimentos sobre o uso problemático de drogas e suas consequências, pautada na perspectiva de direitos humanos, de saúde e cidadania, desconstruindo a abordagem de cunho moral e repressivo, e reconhecendo que se trata de uma temática pouco presente nos currículos dos cursos da área de saúde (Barros, 2008). O tema "drogas" tem uma alta carga moral de concepções que influenciam desde a elaboração de políticas públicas até as práticas clínicas desenvolvidas ao longo da formação (Macgregor, 2013; Luoma, 2008).
Além disso, mostrou-se, também, como um espaço reflexivo e crítico por tratar de temas que, muitas vezes, geram polêmica, como a legalização da maconha e a internação compulsória de usuários de drogas, ocorrendo uma diversidade de opiniões, sentimentos, moralidades expressas e concepções que são compartilhadas de forma horizontal, gerando um movimento de circularidade de opiniões, ideias e conceitos sobre o tema. Nesse sentido, complementa de forma ampla e qualificada a formação acadêmica, pois possibilita modificar as práticas pedagógicas atuais, conforme narrativa do mediador a seguir:
[...] a formação profissional e qualquer tipo de formação. Eu acho que tem até pouco, eu acho que... [pausa] os temas e a própria roda de debate, se elas fossem mais frequentes, se tivessem outras rodas de debates, eu acho que a formação dos alunos seria outra […] (Mediador 1)
Portanto, observou-se, adicionalmente, a necessidade de projetos de extensão voltados para o cotidiano universitário e sua relação com a rede intersetorial de serviços. Esse processo de aprendizado é destacado por Assis e Bonifácio (2011), que afirmam que o conteúdo assimilado na formação acadêmica não pode se resumir à sala de aula, mas em projetos de extensão com contato com a comunidade e a pesquisa científica.
A participação de estudantes de graduação em projetos de extensão, como a Roda de Debate, se mostra como um ponto de partida no incentivo para a discussão dessa temática na formação acadêmica e também profissional, desenvolvendo uma compreensão e, consequentemente, atuação de forma mais ampla, integrada e humanizada, uma vez que o aprendizado considera o contexto real das necessidades de saúde e se dá por meio de vivências sociais, culturais e educacionais com pessoas dentro de seus territórios, e não em ambientes controlados ou em intervenções simuladas. Pode significar, também, um espaço de socialização e troca de informações, configurando-se como um meio de se aprender de forma mais dinâmica, prazerosa e factível do que somente em salas de aula, laboratórios ou clínicas-escola.
Considerações Finais
O debate entre a comunidade acadêmica e os profissionais da rede intersetorial proporcionou a aplicabilidade do conhecimento apreendido na formação realizada pelo CRR/FCE/UnB e uma reflexão sobre as práticas desenvolvidas por parte dos profissionais, assim como por parte da comunidade acadêmica, promovendo uma reflexão sobre essas ações para uma formação crítica para além dos conteúdos curriculares dos cursos.
Os profissionais da rede intersetorial participantes do CRR/FCE/UnB têm a oportunidade de trazer para a comunidade acadêmica práticas significativas e temáticas diversas para uma discussão dialógica a partir da proposta da Roda de Debate. Além disso, observou-se que essa prática poderá possibilitar, ao longo do tempo, a criação de uma cultura desmitificada sobre o tema drogas, sobre o usuário problemático, as intervenções mais adequadas, a abordagem psicossocial, a rede intersetorial, entre outros, e que auxiliarão para uma formação acadêmica contextualizada com as políticas públicas e as evidências científicas.
Ao longo da realização dos encontros da Roda de Debate, da coleta dos dados, da análise dos resultados e da redação dos resultados, percebeu-se que é necessário seguir, ampliar e aprimorar a experiência da extensão universitária, oferecendo um caminho aberto para a circulação da comunidade e dos universitários nessa discussão.
Consideramos, finalmente, que há ainda grandes desafios a serem abordados diante de um tema de grande relevância social, permeado por mitos e desconhecimentos, e que tanto necessita de profissionais qualificados para atuarem, principalmente em um contexto de grande vulnerabilidade, como é o caso da região adjacente ao Distrito Federal. Sendo assim, trata-se de um dever da universidade cumprir com o papel político e pedagógico na formação de futuros profissionais, para que estes tenham ferramentas necessárias para abordar e intervir de maneira abrangente e consistente, considerando as necessidades das pessoas dentro de seus territórios no que se refere aos aspectos social, cultural e educacional.
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Recebido em: 30/03/2016
Aprovado em: 17/08/2016
1 As autoras agradecem a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, do Ministério da Justiça (SENAD/MJ), pelo financiamento do projeto, e toda a equipe do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília (CRR/FCE/UnB), pelo pleno envolvimento e apoio na execução de todas as atividades desenvolvidas.