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Reverso

versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso v.26 n.51 Belo Horizonte dez. 2004

 

EDITORIAL

 

Os caminhos para o desenvolvimento da sexualidade humana passam por estradas longas, difíceis, muito variadas e, com freqüência, todos nós pagamos pedágios caros para chegar ao seu final. Alguns são tão expendiosos que, sem possibilidade de pagamento, deixamos penhorada parte de nossa libido na esperança de um dia voltar para resgatá-la. Às vezes essas rotas, ao contrário, são tão prazerosas que deixamos parte da libido fixada nelas, e sempre que possível voltamos, fenômenos psíquicos que Freud chamou de viscosidade e fixação da libido.

Nesta metáfora freudiana gostaria de acrescentar uma terceira hipótese. Ela é constituída daqueles que imaginam que as cancelas da vida, representadas pelos limites que esta nos impõe, significam que é a hora de eles receberem o que, aos olhos do Outro, do mundo e da realidade objetiva, não têm direito. Habitualmente são pessoas que levam a vida de forma comum, freqüentam shopping centers, cinemas, igrejas, galerias de arte, e levam seus filhos à escola. Mas há neles um dispositivo interno, um gatilho, um trigger-point que, por causa de uma individual cadeia associativa, ativada por um desconhecido detalhe crítico, os faz se transformar em perversos, criaturas malvistas pela sociedade pelos atos que praticam, com freqüência, tipificados em códigos penais. As múltiplas faces dessas criaturas é o tema do XIII Congresso Internacional de Psicanálise da International Federation of Psychoanalytic Societies-IFPS, organizado pelo Círculo Psicanalítico de Minas Gerais-CPMG em Belo Horizonte (MG) neste mês de agosto de 2004. Os textos contidos neste número são as contribuições de vários estudiosos na tentativa de formular hipóteses teóricas para compreendê-las ou explicá-las.

Dois agradecimentos especiais são registrados. O primeiro é a Miguel Gontijo, pintor, desenhista, aquarelista, escultor, um artista completo, que colaborou conosco permitindo a reprodução na capa de um quadro a óleo pintado especialmente para este número, juntamente com as onze ilustrações. Gontijo buscou inspiração delas no livro De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, anatomista belga, que o editou em 1543 em Bruxelas. Vesalius, por certo, se surpreenderia em saber que os seus realistas desenhos poderiam ser classificados na escola surrealista fundada por André Breton no século XX. Vesalius fez nascer a anatomia científica, tal como Freud fez nascer a psicanálise. Miguel é o artista que, nos seus desenhos, mescla a realidade com o fantástico. Tal como é a vida do perverso. Um segundo registro de gratidão é dirigido a Berenicy Raelmy Silva, guerreira da revisão, sem a qual este número não teria o brilho que tem.

O Editor

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