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Reverso

versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso v.29 n.54 Belo Horizonte set. 2007

 

HOMENAGEM

 

 

Ana Cristina Teixeira da Costa Salles

 

 

Este número da Reverso ainda não estava concluído quando recebemos a trágica notícia da morte do nosso colega e amigo José Tiago dos Reis Filho, membro do Conselho Editorial desta revista.

O choque de sua morte ocorrida tão prematuramente num momento em que suas conquistas profissionais e pessoais estavam no auge e que os frutos de seu trabalho desabrochavam em várias áreas nos fez recordar um texto em que Freud nos fala sobre a transitoriedade.

Discorrendo sobre a transitoriedade de todas as experiências da vida e a propensão de que tudo que é belo e perfeito, seja na natureza, seja nas obras criadas pelo homem, esteja fadado à decadência e à destruição, Freud nos alerta que isto não implica uma perda de seu valor mas ao contrário um aumento.

Diz ele: "O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição".

Foi assim o convívio e a participação do colega José Tiago no Conselho Editorial da Reverso. Participação breve mas profícua em seu trabalho criterioso na seleção dos textos, nas opiniões sobre a linha editorial da revista, na seleção da capa; com suas ponderações inteligentes e oportunas, suas críticas construtivas, sua presença calma e amiga.

Esta edição da Reverso marca sua última contribuição profissional ao Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.

Os colegas do Conselho Editorial – Ana Cristina Teixeira da Costa Salles, Carlos Antônio Andrade Mello, Flávio José de Lima Neves e Suzanne Beaudette Drummond – agradecem a oportunidade de ter usufruído do seu trabalho e da sua companhia nesses meses de convívio breve mas intenso.

Em sua memória publicamos um poema de Carlos Drummond de Andrade pois só os poetas com sua palavra mágica conseguem bordejar esta inominável janela para o real que é a morte.

 

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

 

Referência

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Memória. In: Claro Enigma. 10 ed. Rio de Janeiro: Record, 1995, p.27.

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