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versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso vol.35 no.66 Belo Horizonte dez. 2013

 

ARTIGO

 

Sonhe, acredite, realize: clínica de psicanálise do CPMG1

 

Dream, believe, realize: psychoanalysis clinical of the CPMG

 

 

Maria Mazzarello Cotta Ribeiro

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este texto é uma pesquisa sobre a história do desejo, no CPMG, de desenvolver uma Clínica de Psicanálise que funcionasse como um dispositivo de qualidade à formação psicanalítica e tivesse também a função social de estender o atendimento a toda a sociedade. O trabalho mostra a pertinência desse investimento ao trazer à tona as bases de uma formação psicanalítica concernentes à análise pessoal, estudo teórico e supervisão, preparando o novo analista para a prática em psicanálise.

Palavras-chave: Instituição, Clínica de psicanálise, Anteprojeto, Projeto, Regimento interno, Formação psicanalítica, Análise pessoal, Teoria, Supervisão, Tornar-se psicanalista.


ABSTRACT

This paper is a survey about the history of the desire, into CPMG, to develop a Psychoanalysis Clinical that had operated as an apparatus of quality for psychoanalytic training, and also as a social work that could be extended to the whole society. The study shows the relevance of this investment in bringing to light the foundations of a psychoanalytic training concerning personal analysis, theoretical study and supervision while preparing the new analyst to psychoanalysis practice.

Keywords: Institution, Clinical psychoanalysis, Preliminary project, Project, Internal rules, Psychoanalytic training, Personal analysis, Theory, Supervision, Become a psychoanalyst.


 

 

Houve um tempo em que alguns colegas, nos primórdios do CPMG, sonharam com uma clínica psicanalítica diferente, que levasse a psicanálise para além das paredes da instituição e dos consultórios, até então, reservados a um público específico. Específico poderia ser para o grupo daqueles que já tinham certo conhecimento sobre a efetividade de uma psicanálise ou daqueles, já em formação psicanalítica, interessados em se tornar psicanalistas, e ainda daqueles que, reconhecendo em si mesmos, dificuldades psicológicas e o sofrimento psíquico, tinham possibilidades de acesso ao tratamento psicanalítico. Queriam, então, estender o alcance da psicanálise.

Nos anos 1969-1975, na gestão presidida por Djalma Teixeira de Oliveira, surgiu a primeira ideia no Círculo de uma Clínica Psicanalítica de Atendimento Social (CLIPAS), atendendo pessoas a baixo custo em psicoterapia de grupo.

Naquela época, os sócios do CPMG envolvidos na formação se preocupavam em encaminhar aos então alunos em formação psicanalítica no CPMG alguns pacientes para que tivessem os primeiros atendimentos clínicos e, de preferência, atendimento em grupo. Segundo relato de Arlindo Carlos Pimenta numa carta aos sócios, de 08/08/2011, Carlos Navarro, "foi o primeiro coordenador deste projeto que durou poucos anos".

Alguns anos se passaram. O CPMG investiu em outras propostas e esta ideia de uma clínica que atendesse a necessidade de prática dos alunos, retornou dez anos mais tarde.

Em 1983-1985, gestão de Arlindo Carlos Pimenta, outro grupo formado pelos colegas Neide Garcia de Lima, Johannes Hubertus Dousi, Maria Sylvia Machado, Rinnamaria Bonato Alves de Souza e Rosa Maria Gouvêa Abras, fez uma tentativa de engendrar a ideia de uma clínica social, que fez parte, inclusive, das propostas da gestão da diretoria dessa época. Foi escrito um anteprojeto, nomeado Clínica Social, cujas ideias consistiam em ter por finalidade a filantropia, a assistência social e cultural, sem fins lucrativos, por meio de cursos para diversos profissionais que pudessem se beneficiar dos conhecimentos de psicanálise e psicologia no desempenho de suas atividades. E, ainda, criar condições para o atendimento à comunidade carente através de alunos principiantes na psicanálise, interessados em aprimorar seus conhecimentos; estender o benefício do conhecimento da prática psicanalítica aos profissionais de poucos recursos econômicos que não tinham acesso a outra formação e oferecer assistência a instituições que solicitassem um acompanhamento de suas necessidades, condizentes com a prontidão dos profissionais da Clínica Social para atender. Propunha também manter intercâmbio científico e cultural com sociedades congêneres e desenvolver projetos e atividades que se enquadrassem em suas atividades sociais. Dados obtidos da citada correspondência acima.

Embora ainda muito distante do dispositivo que temos hoje, esses primeiros projetos guardam um germe do que veio a se constituir, anos depois, na Clínica de Psicanálise.

A partir daí, entre 1987-1989, o CPMG mergulhou intensamente num outro projeto de vida: o estudo, a pesquisa e a reestruturação da modalidade praticada, de ensino seriado pelo Instituto de Psicanálise, para um novo desafio: a estrutura de um Fórum de Psicanálise para a transmissão e ensino. Estávamos na gestão do Presidente Javert Rodrigues. O Fórum de Psicanálise do CPMG foi implantado, e teve início um novo tempo. Adelson de Souza Pires assumiu a presidência no biênio 1989-1991. O coordenador da Comissão de Formação Permanente, que depois veio a se chamar Comissão de Formação Psicanalítica Permanente, nessa gestão, foi Johannes Hubertus Dousi. Ele recebeu uma carta de um grupo de participantes do Fórum de Psicanálise do CPMG, solicitando estudos de um projeto para a implantação de uma Clínica Social. Esta, por sua vez, foi respondida na gestão seguinte, de Clovis Figueiredo Sette Bicalho nos anos 1991-1993, pedindo aos interessados a elaboração e justificativas de um anteprojeto para a Clínica. Foi, então, elaborado o anteprojeto do Centro de Atendimento do CPMG (CATE). Entre suas várias propostas, se destacam prestação de serviços à sociedade, atendimento a baixo custo, contribuição para a formação permanente, divulgação da psicanálise e interlocução com outros discursos. Surgiu a ideia de o CATE funcionar junto aos serviços sociais já existentes em Belo Horizonte, talvez uma proposta de uma clínica do social. Algumas experiências dessa forma de funcionamento foram relatadas, mas não se firmaram nesse projeto.

Em 1993-1995, Vanessa Campos Santoro, na sua presidência, retomou a ideia da clínica no CPMG. Contou com o apoio dos colegas José Domingues de Oliveira, vice-presidente, Marisa Decat de Moura na Comissão de Formação Permanente e Nina Rosa Artuzo Sanches na coordenação da clínica. Como participantes do Fórum participaram Angela Lucena de Souza Pires, Eliana Monteiro de Moura Vergara, Leila Marquez Lopes de Oliveira, Maria do Carmo Barbosa Mendes e Nadja Ribeiro Laender. Estabeleceu-se como clínica no social. Desde seu início em 1995, funcionou como um dos setores da Comissão de Formação Psicanalítica Permanente do CPMG. Apoiada no tripé formação, pesquisa e transmissão, tinha como objetivo complementar a formação psicanalítica. Praticava o atendimento psicanalítico às camadas sociais de baixos recursos financeiros, mas o assistencialismo não era a sua proposta. Os obstáculos foram muitos!... mas a Clínica continuava se firmando e redigiu o primeiro projeto de funcionamento. Leila Marquez Lopes de Oliveira e Nadja Ribeiro Laender apresentaram na XIII Jornada do Fórum de Psicanálise do CPMG, em novembro de 1996, um trabalho sobre seu funcionamento.

Na gestão seguinte, de José Domingues de Oliveira, 1995-1997, a clínica foi renomeada como Clínica Social. Manteve a coordenação de Nina Rosa A. Sanches, com participação de Angela Lucena de Souza Pires e Eliana Monteiro de Moura Vergara e do Fórum participaram Leila Marquez Lopes de Oliveira, Maria do Carmo Barbosa Mendes e Nadja Ribeiro Laender. O projeto anterior de atendimento na clínica foi aprimorado e atualizado. Além de ser um espaço de prática, aprendizagem e atendimento social, a clínica tinha a função de ser um "aferidor da formação oferecida pela Instituição". Nessa época, uma comissão foi formada com a intenção de estudar as questões problemáticas de seu funcionamento. Esse levantamento levou seus resultados à gestão seguinte.

No biênio 1997-1999, Eliana Rodrigues Pereira Mendes assumiu a presidência do Círculo, e a Clínica ficou sob a coordenação de Maria Angela Assis Dayrell, que contou com a colaboração de Leila Marquez Lopes de Oliveira, Nadja Ribeiro Laender e Sônia Cury da Silva Campos, sócias do Círculo, e Maria do Carmo Barbosa Mendes, participante do Fórum. Nessa época eram vinte e quatro integrantes da Clínica, segundo um trabalho de pesquisa apresentado por Maria Angela Assis Dayrell na XVII Jornada do Fórum de Psicanálise do CPMG, em jun. 1999.

A diretoria seguinte (1999-2001) foi presidida por José Sebastião Menezes Fernandes, tendo Maria Mazzarello Cotta Ribeiro como coordenadora da Clínica. Nessa ocasião o funcionamento da Clínica já havia caminhado bastante. Surgiram novos questionamentos, e novos estudos se fizeram necessários. Os colegas Angela Lucena de Souza Pires e Paulo Sérgio Dias Araújo foram por mim convidados a integrar a comissão da Clínica assim como os participantes do Fórum: Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, Maria Emília Oliveira Maia e Marisa de Lima Rodrigues. Seria necessário, agora, a partir dos projetos já escritos, construir o Regimento Interno da Clínica, estabelecendo sua definição e constituição, seu objetivo, finalidade, atribuições, modo de funcionamento, estrutura de coordenação, de secretaria, de triagem, de atendimento, de supervisão e de sua fundamentação teórica, norteando a entrada dos candidatos, alunos na época, do 2º Tempo da Formação Psicanalítica do CPMG no atendimento na Clínica, que foi assinado em 05 mar. 2001.

Firmou-se, por essa ocasião, como um dos dispositivos da formação, espaço do qual todos os participantes em formação, que quisessem exercer a psicanálise, deveriam fazer parte. Uma significativa mudança de enfoque ocorreu: continuou a ser um dos pilares da formação psicanalítica em sua prática supervisionada, mas se direcionou para o atendimento a todo cidadão que procurasse o atendimento psicanalítico via CPMG, não mais focado na comunidade carente, mas aberto a qualquer pessoa. Nesse momento passou a ser Clínica de Psicanálise do CPMG, proposta votada na Assembleia Geral em 16 nov. 2000. Seria doravante um atendimento psicanalítico oferecido pelos alunos do 2º Tempo da Formação Psicanalítica do CPMG através da Clínica. Nisso, o CPMG também foi pioneiro: oferecer aos candidatos a analista, a oportunidade de uma prática dentro da instituição, por nós orientada e acompanhada de perto. Os coordenadores da Clínica, em todos os tempos, têm se mostrado incansáveis em sua dedicação para sustentar o desejo de analista dos colegas iniciantes, mantendo o grupo coeso, motivado e produtivo, de acordo com as propostas, hoje, da Diretoria Científica, antes, da Comissão de Formação Psicanalítica Permanente do CPMG.

Entre suas atividades têm sido privilegiadas a teorização e a discussão de casos através de grupos de estudo e produção e oficinas clínicas. A apresentação de pacientes foi outra conquista importante, prática iniciada na coordenação de Arlindo Carlos Pimenta e viabilizada por Eliane Mussel da Silva, que desde então contou com a colaboração de muitos sócios como André Faria D'Azevedo Carneiro, José Sebastião Menezes Fernandes e atualmente Breno Ferreira Pena nas discussões clínicas realizadas mensalmente, no Auditório do Hospital Galba Velloso. Também foi criada a Jornada da Clínica, que permanece ainda hoje. As três primeiras sob a coordenação de Arlindo Carlos Pimenta e Vanessa Campos Santoro na Comissão de Formação Psicanalítica Permanente, tendo sido a primeira realizada em 22 nov. 2008, a segunda em 29 maio 2010, e a terceira em 02 jul. 2011. A IV Jornada, sob a coordenação de Breno Ferreira Pena na Clínica e Maria Mazzarello Cotta Ribeiro na Diretoria Científica, realizou-se em 18 ago. 2012, e a V Jornada é a que realizamos hoje, 24 ago. 2013, sob a mesma coordenação da anterior.

Voltando à sucessão das diretorias, os biênios 2001-2003 e 2003-2005 de Clovis Figueiredo Sette Bicalho, tiveram Vanessa Campos Santoro coordenando a Clínica. A seguinte, presidida por Maria Mazzarello Cotta Ribeiro, 2005-2007, contou com a coordenação de Marisa de Lima Rodrigues na Clínica. Ana Cristina Teixeira da Costa Salles, presidindo os biênios 2007-2009 e 2009-2011, convidou Arlindo Carlos Pimenta para o cargo de coordenador da Clínica. A atual Diretoria do CPMG, gestão 2011-2013 tem Eliana Rodrigues Pereira Mendes na presidência e Breno Ferreira Pena na coordenação da Clínica. Todas elas mantiveram as premissas principais que norteiam o funcionamento da Clínica de Psicanálise, porém atualizando e criando sempre novas maneiras de reinventá-la.

Além dos sócios, alguns integrantes da formação, vindos do Fórum de Psicanálise do CPMG, trabalharam na comissão de apoio à coordenação e eventos da Clínica. Aos já citados, anteriormente, acrescentamos: Maria Isabel Sá e Ferreira de Souza, Délia Rodrigues Frazão, Selma Gonçalves Mendes, Yvonne Louise Coulaud Coelho da Rocha Muzzi e Guiomar Antonieta Lage.

Com o decorrer do tempo a proposta da formação Psicanalítica do Círculo foi se firmando e se esclarecendo, de modo que o ingresso na Clínica, atualmente, ocorre através de alguns requisitos necessários a esse momento. Hoje seus participantes advêm diretamente dessa formação e ingressam na Clínica, um a um. Neste ano 2013 participam Dimas Barreira Furtado, Edson Santos de Oliveira, Maria Beatriz Lino de Freitas Pádua, Carlos de Brito e Mello, Mônica Spotorno Moreira, Priscila de Lima Catão, Sinei Fátima Secco Rezende, Otacílio José Ribeiro e Paulo Roberto dos Santos. Fazem-se presentes e engajados em todos os eventos propostos pela Clínica.

Em todos esses anos, muitos trabalhos foram escritos e apresentados nas jornadas do CPMG, nas Jornadas da Clínica, publicados nos Cadernos das Jornadas e na revista Reverso mostrando os resultados e o manejo da triagem, dos atendimentos e das supervisões. Na instalação e no desenvolvimento da Clínica, muitos impasses e problemas ocorreram, mas muito progresso foi feito na pesquisa, no estudo, no trato clínico e na transmissão psicanalítica. É um espaço dinâmico, que está sempre se renovando e se reinventando.

Um desejo expresso dos componentes da Clínica na gestão passada, veiculado por Arlindo Carlos Pimenta, de editar um caderno com os escritos da Clínica, o Entre nós, por enquanto permanece um sonho!... Poderá, quem sabe, um dia ser realizado! Outros projetos saíram do papel e foram em frente, porém sabemos que todo avanço se vale das experiências e do legado dos que fizeram antes. Do passo anterior nasce o seguinte... Assim é a ciência... progresso. Terminando esta gestão estamos entregando ao corpo societário do Círculo o Regimento Interno da Clínica, atualizado. Nele foi transcrito o modo de funcionamento atual, que preservou o trabalho de triagem, o encaminhamento cuidadoso dos pacientes a seus futuros analistas, a importante questão da supervisão, a organização e função da secretaria. As oficinas clínicas foram mantidas, cada vez mais ricas e interessantes, contando com a participação, a cada mês, de um sócio como debatedor do caso a ser apresentado. Esse dispositivo, tornando-a mais transparente e aberta, tem o objetivo de envolver mais sócios no trabalho com os integrantes da Clínica. Foram também mantidos o delicado trabalho das Apresentações de Pacientes no Hospital Galba Velloso e a realização da Jornada da Clínica, reunindo todo esse investimento pulsional na escrita, sem esquecer que a análise pessoal é um dos pré-requisitos para o atendimento psicanalítico, também exigido para participar da Clínica de Psicanálise do CPMG.

A possibilidade de uma prática oferecida pela instituição corrobora a proposta de uma formação que desde meados do século XX elegeu, com mais firmeza, o tripé: análise pessoal, estudo teórico e supervisão.

Freud, em A questão da análise leiga (1926), imaginava para o principiante em psicanálise uma instrução preliminar mais ampla e melhor, uma "faculdade especial". Nisto insistimos, que ao analista cabe uma formação teórica a mais ampla e consistente possível. Um aparato de cursos e de sócios se encontra disponível à formação do candidato a psicanalista no CPMG.

A análise pessoal é responsabilidade de cada um na sua formação e uma exigência para se tornar um psicanalista. No texto citado, Freud foi categórico: "Eles devem aprender a análise da única maneira possível — submetendo-se eles próprios a uma análise". Também Lacan, na Proposição de 09 de outubro de 1967 disse que "O analista não se autoriza senão por si mesmo", acrescentando mais tarde, "e por alguns outros", no Seminário 21, Les non-dupes errent, (1973-1974). A primeira parte dessa afirmação nos leva a pensar num determinado efeito que uma análise pode ter sobre o analisando, isto é, de gerar um analista. Porém, há um acréscimo: ser reconhecido como tal pelos demais analistas. Isso indica sua apresentação no meio institucional, sair do individual para o coletivo, apresentar-se como clínico entre seus pares através, por exemplo, de discussão de casos. Roberto Harari (2009) é bem claro:

[...] para ele se sustentar neste lugar é necessário trabalhar com outros analistas para não cair no mencionado defeito profissional de nossa práxis: o refúgio narcísico da solidão. Assim, o fantasma de autogeração é varrido, dando lugar à instituição (HARARI, 2009).

Uma análise chegada a bom termo deve gerar uma mudança subjetiva no analisando. Ele abriria mão do gozo do sintoma e do sofrimento para, aos poucos, construir um questionamento sobre o que lhe acontece e não mais se consumir em argumentações intermináveis sobre o que o outro quer dele. Por muito tempo se debateu se o caminho de uma análise levaria a uma identificação com o analista. Hoje pensamos que alguma identificação deve ocorrer sim, mas, com o trabalho de investigação apreendido na própria experiência analítica. Ressalto Maria Rita Kehl no livro Sobre ética e psicanálise, (2002), onde diz que a ética da psicanálise consiste na ética da investigação que balança as certezas que nosso pensamento construiu e que povoam nossa realidade psíquica. Esse sujeito, contaminado pelo desejo de analista, pelo desejo de investigação que lhe permitiu lidar com seu próprio inconsciente e se reposicionar no mundo, chega à Clínica de Psicanálise do CPMG, portando também uma bagagem de estudos da teoria psicanalítica. Ele não precisa estar pronto. Tudo é um processo. Leva tempo... Por isso, os devidos cuidados de encaminhamentos dos pacientes, os debates clínicos promovidos pela coordenação da Clínica e a supervisão têm sido primorosamente realizados.

A supervisão, praticada desde Freud, tem sido amplamente discutida, e seus fundamentos buscados no sentido de entender sua eficácia. Com o avançar dos estudos sobre a formação do novo analista, a supervisão alcançou uma estrutura mais livre, onde o candidato a analista deve buscá-la, não como um protocolo rígido a ser cumprido, mas como um dispositivo que lhe permita elaborar um saber sobre sua prática clínica onde ele tem a possibilidade de "articular o saber ao não saber, o universal da teoria ao particular da clínica e reabrir o lugar de escuta, isto é, o lugar do analista, para a subjetividade em questão", segundo Marco Antonio Coutinho Jorge (2006).

Para a construção desta história contei com o registro em arquivos pessoais e no arquivo institucional, além da colaboração, da experiência e das lembranças daqueles que em algum momento trabalharam na Clínica e pela Clínica, em suas diversas versões ao longo dos 50 anos de transmissão e ensino da psicanálise no CPMG.

Sabemos que muito desgaste e muitas reuniões e debates foram necessários a essa construção. Os alunos do Fórum de Psicanálise do CPMG, junto com os sócios, foram os primeiros a lutar por essa conquista e deixaram um legado importante para os que chegaram depois, os candidatos em formação do 2º Tempo da Formação Psicanalítica do CPMG. Cada um sabe da importância que teve, do reconhecimento do seu trabalho e do investimento que fez para termos a Clínica funcionando e viva como está hoje.

Penso que posso, em nome dos colegas da nossa instituição, agradecer todo o empenho investido nesse trabalho, que é motivo de orgulho e engrandecimento da causa analítica: a investigação do inconsciente! Estamos juntos!

Parabéns a todos que sonharam, acreditaram e realizaram a Clínica de Psicanálise do CPMG!

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Rua Tomé de Souza, 860/806 – Savassi
30140-909 – BELO HORIZONTE /MG
E-mail: mazzarellocotta@yahoo.com.br

Recebido em: 20/11/2013
Aprovado em: 25/11/2013

 

 

Sobre a Autora

Maria Mazzarello Cotta Ribeiro
Psicóloga. Psicanalista. Presidente do CPMG no biênio 2005/2007. Diretora Científica do CPMG no biênio 2011/2013.

 

 

1 Texto apresentado na V Jornada da Clínica de Psicanálise do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, 24/08/2013.