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Reverso

versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso vol.36 no.67 Belo Horizonte jun. 2014

 

EDITORIAL

 

Esta edição n. 67 da Reverso trouxe uma dupla responsabilidade. De um lado, neste semestre dar continuidade à qualidade do trabalho de Juliana Marques Caldeira Borges na edição; de outro, tentar fazer bonito depois da excelência da edição anterior, comemorativa dos cinquenta anos do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. O desafio se revelou um trabalho mais prazeroso do que árduo, pela parceria que o caracterizou.

Agradeço à Comissão de Publicação, neste número integrada pelos psicanalistas Alberto Henrique Soares de Azeredo Coutinho, Ana Boczar, Carlos Antônio Andrade Mello e Paulo Roberto Ceccarelli, colegas do CPMG, pela disponibilidade e leitura criteriosa dos trabalhos. De maneira especial agradeço a Marco Antônio Coutinho Jorge (Corpo Freudiano/RJ) pela tradução da conferência de Alain Didier-Weill e a Carlos Antônio Andrade Mello pela revisão da tradução do texto de Monique David-Ménard e por sua dedicação à Reverso.

Nosso agradecimento, last but not least, aos autores que nos enviaram artigos de qualidade notável, contribuindo com sua inquietação produtiva para despertar novas questões, novas inquietações que levam a mais produções, nesse movimento incansável próprio da psicanálise.

Trazemos neste número dez trabalhos: oito de autores brasileiros e dois de estrangeiros, Alain Didier-Weill e Monique David-Ménard, ambos psicanalistas franceses com experiência clínica e produção teórica importantes. E para não levar a vida a sério demais, incluímos a entrevista Psicanálise e Humor, na qual Juliana Marques Caldeira Borges conversa com Pacha Urbano, criador das saborosas tirinhas As fantásticas traumáticas aventuras do filho de Freud.

Na capa, uma escultura de Gustav Vigeland, escultor norueguês contemporâneo de Freud, nos remete a um possível momento de separação entre a mulher madura, talvez a mãe, e o homem jovem, talvez o filho. A primeira, prenhe de passado, olha para o jovem que, desejoso de espaço, mira o futuro. Para além das imagens contrastantes dos corpos esculpidos em granito bruto, a obra expressa a metáfora do impossível encontro amoroso, que porta sempre uma falta. Apesar da concretude da pedra, é no inapreensível do olhar que o estranhamento – Unheimlich –, pode ser percebido naquilo que parece familiar.

Revirando o fraseado, como diria Guimarães Rosa, lembramos que Freud dava grande importância ao humor na clínica e na vida, e que Lacan considerava a alegria, causada por um gaio saber, uma virtude ética. Assim, fechamos esse editorial com um poema, uma vez que a poesia nos traz a arte do bem dizer. Bem dizer que pode fazer efeito de traduzir dor de existir por alegria de viver. Viver, simplesmente.

Balanço

A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.

Antônio Cícero.
In: ______. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.


De minha parte, é com alegria que desejo que nossos leitores tenham um tempo rico de boas leituras dos artigos contidos aqui nesse espaço de estudos e produções. Concluo, assim, meu trabalho de editoração da Reverso n. 67.


Olímpia Helena Costa Couto
Editora